segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Cinco fases do 7 a 1



Mauro Pandolfi

Perdemos! Continuamos a perder! Perderemos sempre! O 7 a 1 é pouco mais que nada perto do Maracanazzo de 1950. É um pastiche de uma 'tragédia'. A humilhante derrota que tornou-se piada. Não é levado a sério. Nada provocou. Nem uma hecatombe. Muito menos, uma revolução no futebol brasileiro. Tudo ficou igual. Culpados são os de sempre. Ultrapassado era o técnico. Luís Felipe é mesmo a melhor expressão do anacrônico. O desastre foi provocado por um zagueiro que não sabe jogar de zagueiro. Thiago Silva é muito moderno para o Brasil, que adora um beque que dá chutão, berra, dá carrinho, arrepia, bate no peito, um 'bandido'. A imprensa esportiva brasileira bradou, chorou, xingou, exigiu transformações. O tempo passou. Outros gols da Alemanha 'foram marcados' e os jornalistas foram mudando de opinião. A crítica diminuiu, ficou restrita aos de sempre, desapareceu. O 7 a 1 virou um jogo de cinco fases: Humilhação, Depressão, Negação, Afirmação, Euforia.
Tragédia no futebol é parte do teatro de grama e paixão. É a dor da derrota que corrói a alma. Perpetuada feita uma tatuagem. O 7 a 1 tinha tudo para ser 50. Não foi. A Humilhação foi tratada pelo humor, pelo deboche. Doía, machucava. Mas, o riso era um alívio falso. A camisa amarela desapareceu da rua, virou sinônimo da corrupta CBF, envergonhada pela derrota. Jornalistas exigiam medidas drásticas, transformadoras. A primeira foi o anúncio de Gilmar Rinaldi e a volta de Dunga. A Humilhação não tinha fim. Mais um gol da Alemanha. Isto virou um clichê. Até que passou.
Perdido e sem saída. O futebol brasileiro morreu. E, agora? Surgiu o Bom Senso. Grupo de jogadores tentando pensar o futebol.  Não é ouvido como devia. Afinal, aqui, jogador tem que jogar. Uma medida provisória - o Profut - foi gestada nos laboratórios do Planalto Central para modernizar a gestão. Foi mutilada em outro, na Câmara. Dunga vai empilhando vitórias. Campeão Mundial de amistosos. O Brasil fracassa na Copa América. Jornalistas decretam que é 'a pior geração da história'. Marin é preso e Del Nero, foge. Coronéis disputam o butim. O do Pará é mais rápido do que o catarinense. Programas de televisão revelam o fundo do poço. Cavamos, cavamos, cavamos. E, só nos enterramos mais. A Depressão era aliviada com os gols de Neymar e Messi ou com a derrota do Bayern, numa pequena vingança bávara.
Mas, o tempo é gentil e generoso. A bola rola como a vida. Jornalistas esportivos percebem que nem tudo é ruim no futebol brasileiro. Há as arenas modernas, jogadores estrangeiros, partidas às 11 da manhã, bom público. O futebol vive! E, o jogo? Mudou? O gol de contra-ataque de time alemão do Grêmio contra o Atlético Mineiro virou uma tênue ilusão. A compactação de Tite, esperança. Estamos modernizando o jogo. Alguns jornalistas esportivos acreditam nisto. Não interessa os chutões, os toques laterais improdutivos, o pontinho fora, a retranca exacerbada, a zaga enterrada ao lado do goleiro, o 'pensador' e o mandioca, tão ao gosto daqui. Afinal, dizem que time tem de ter o 10 e o 9. Quem era, mesmo, o 10 ou 9, o 6 ou o 5, o 3 ou 2 da Alemanha? Quem defendia? Quem atacava? O futebol pede uma nova análise, uma outra linguagem, novas ideias, um outro jornalismo.
A imprensa esportiva começa a sorrir e acreditar que tudo foi um engano. A derrota do River, na final do Mundial, deixou-os mais otimistas. "Só os gigantes da Europa são melhores que nós. Somos páreos para o Hanover, o Aston Villa, o Sassuolo e o Apoel. Logo, voltaremos a ser os melhores", expressões de jornalistas após o Mundial. A Negação não teve hora. Foi bradada de manhã. à tarde e à  noite. Prá frente, Brasil!
Ah, a LIbertadores é do Brasil! O primeiro lugar nas eliminatórias serão a prova da Afirmação. Que 7 a 1 é este que tanto falam? Tudo foi um engano. Um mau dia. Acidente, desastre, apagão. Isto acontece!  Depois, o nosso campeão da Libertadores chega na final contra um grande Europeu. Vencemos! A Euforia! Esta geração é uma das melhores da história e vamos buscar o Hexa! Brasil!!

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