sábado, 30 de janeiro de 2016


Chiko kuneski
A chuva pesava a capa, mas a alma estava leve. Encharcava gramado, chuteiras e a camisa. Venerada camisa. Caia na face, mesmo com o transparente capuz tentando diluir as lágrimas. Apenas gotas. Apenas gostos.
A boca seca da ansiedade, mesmo com toda a água do céu, não parava o movimento. Gritos. Talvez soubesse que eram gritos que nunca seriam ouvidos, mas torcedor não se importa com o destinatário. É o remetente, ele, único, que precisa ouvir o grito.
Para a maioria do estádio mudo. No “tubo”, ainda mais mudo. A TV é pura imagem. Mas o grito crispado não precisava de especialista em leitura labial. “Faz. Faz. Faz.” Um grito mudo sonorizando o desejo do gol.
Para todos apenas mais uma cobrança de pênalti. Para o grito do fanático torcedor a única cobrança de pênalti. Essa é a paixão do futebol. O momento. A intensidade. O envolvimento. “Faz! Faz! Faz!”.

A molhada chuteira chutou o couro úmido da bola que deslizou na grama encharcada. Um segundo secular de silêncio e expectativa. Sacudiu as gotas da chuva presas na teia da rede. “Gollllllll”. O grito lavou a alma na chuva, molhando a garganta seca da ansiedade. O mais puro colírio diluindo às lágrimas, agora de êxtase.

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