quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Carnaval, futebol e cinzas

 

"O povo toma pileques de ilusão com futebol e carnaval. São estas as suas duas fontes de sonho".
A festa acabou, o povo sumiu. Não há outro Garrincha. Será que serve Gabigol? O que será que Carlos Drummond de Andrade diria deste novo tempo de bola e do samba, neste Brasil que vive, quase, uma eterna quarta-feira de cinzas?

Mauro Pandolfi

Adoro Carnaval. Foi no Carnaval o meu primeiro baile noturno. Lá por 1973, verdes anos, a bela juventude iniciando, tudo parecia mágico. Pulei. cantei, beijei. Era o princípio do que me parecia a tal felicidade. Aguardava ansioso o Carnaval. Não sei o motivo, mas inibia a timidez nos três dias de 'sonho'. Andei pela rua, em blocos, nos clubes, cobri, como jornalista, os desfiles, os blocos de sujos, o Carnaval dito 'alternativo' do Roma e do Havana. O tempo voou e o Carnaval, assim como o futebol, virou uma festa vista do sofá da sala ou no quarto já de madrugada. Ainda me emociono. Os dedos sobem, balanco eles, faço um 'zirigidum', desajeitado, sambo e canto uma marchinha destas bem incorretas. Sem ninguém ver, é claro! Imagina se o André e o Pedro assistem esta cena. A zoeira não teria fim.
Nada, quase, pouca coisa, me encanta mais que um desfile de escola de samba. É a grande arte brasileira ao lado do futebol. Caminham juntos na ilusão e na poesia. Não é mais o sambar com devaneio e alívio da alma. É a história em movimento. O país sendo visto, analisado, criticado, descontruído, brincado pela sua gente. O que dizer da Mangueira e o seu Jesus humano, pobre, homem ou mulher, indígena ou gay, branco ou negro, que irritou os apóstolos da prosperidade, os milicianos da fé? Fiquei com vontade de voltar acreditar, de ter fé na fé. Ou a vitória da Águia de Ouro com sua crença na sabedoria e na bela homenagem ao grande Paulo Freire. Mas, nada me divertiu mais do que Marcelo Adnet fazendo flexão igual ao capitão. Sua escola mostrou a farsa, a mentira, o conto do vigário que sempre surpreende.. E o desfile maravilhoso da Viradouro, então?. Fantástica lavada de alma. Da história brasileira, das mulheres, do passado, do presente, de sempre.
E, para não dizer quer não falei de futebol, vi a bravura de quem nunca desiste. O controle remoto na mão, rodando os canais e encontro Paraná e Bahia de Feira. 45 minutos do segundo tempo. Dois a zero para o Bahia. Quando o dedo ia girar mais um canal, gol do Paraná. Parei, outro gol do Paraná. Espetacular! Quando me preparei para os pênaltis, adoro ver pênaltis menos quando o Grêmio não está envolvido, gol do Paraná. Sete minutos! Como foi dolorido os olhares daqueles rapazes baianos; como foi comovente a felicidade dos paranistas. Como é bela a poesia do futebol.
Quinta-feira de cinzas. Tristeza com a morte de Valdir Espinosa. O treinador que mudou o jeito rústico do Grêmio. Amava a bola, o ataque feito de passes e dribles, o jogo bem jogado e armou o histórico esquadrão de 1983. Espinosa inventou Renato e reinventou Paulo César Lima e Mário Sérgio. Foi o artesão que moldou a bola azul com tons de preto e branco. Auxiliou Renato na transformação do melhor Grêmio que vi jogar. Na minha alma tricolor, há sua imagem ao lado de Tarciso, Everaldo, Caio, Lara, Aírton, todos os gigantes que vestiram a mais bela camisa de futebol que um corpo pode usar. De Valdir Atahualpa Ramirez Espinosa fico com uma frase para embalar o tempo que resta da minha vida: 'Eu sou jovem, entende? Tudo depende de como a gente se olha...Eu olho para a minha juventude!"

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O Futebol