sábado, 15 de dezembro de 2018

Fim!


"O show já terminou. Vamos voltar à realidade. Não precisamos usar aquela maquiagem...Não há mais nada. O nosso show já terminou".
Roberto Carlos é quem melhor embala os finais de ciclos que percorrem a vida.

Mauro Pandolfi

A vida é feita de ciclos. De começos e fins. Nem sempre permite retornos. Não sei como começa e porque começa. Só percebo o fim algum tempo depois de acontecer. Estou vivendo um fim de ciclo. Não estou falando do blog. Ainda não decidi - estou pensando nisto, para alegria geral de quem passa por aqui - se paro de escrever ou não. Preciso, também, ouvir Chiko Kuneski. O fim do ciclo, que me refiro, é o do encantamento do jogo. O que me dava prazer. O que trocava por tudo. Deixei de sair muitas vezes para ver, me emocionar, rir, sonhar, viver. O melhor Grêmio que vi jogar já é saudade. Imensa saudade. Aquele Grêmio que amava a bola, que tinha um relacionamento amoroso com ela, que brilhava naquela linda camisa tricolor não existe mais. Ficou na história. É lembrança, memória. Gravei alguns jogos que verei de tempos em tempos para reverenciar a paixão. Este Grêmio é eterno. Tenho ele tatuado na alma, armazenado na mente e chorando no coração. É a vida. Outro Grêmio virá. Afinal como canta o Rei, o show deve continuar. 
Não lembro bem como descobri o melhor Grêmio que vi jogar. Sei que foi com Roger Machado. Não foi em seu primeiro jogo, nem no segundo...no meio da temporada desconfiei que algo diferente surgia diante de meus olhos gremistas desacostumados com a poesia dos passes desenhados em planilhas. Contra o Atlético Mineiro entendi a magia. Aquele gol que começa com Galhardo e termina em Douglas. A bola passando de pé em pé, poética, suave, serena, bonita. Quase um minuto de posse. Numa dança, num bailado, no futebol estado puro, original, idêntico das histórias que os antigos contam. Aquele da beleza dos meninos  nas ruas, nos campinhos. O da luxúria, que importa não é a vitória, é o prazer de brincar. Começo de um paixão pelo jogo, pela ideia, pela alegria, pela festa.
Arthur foi uma amor à primeira vista. Lá por 2016, numa partida da Copa São Paulo. Surgiu, sumiu, não aparecia, esqueci. Assim como tantos guris promissores desaparecem. Renato o encontrou, treinou, burilou e deixou jogar. Entrava aos poucos, nos reservas, até ser titular, ídolo, virar referência. Iniesta, Xavi, Tadeu Ricci - prefiro Paulo César Carpegiani - foram revisitados. Arthur parece um físico. Entende de espaço e tempo. Não desperdiça nada. Tudo é exato. Os movimentos são retilíneos, quase, uniformes. Preciso, soberbo, soberano no campo. Todos os lugares, todo tempo. A partir de Arthur o Grêmio constrói um time inesquecível. Luan torna-se um meia atacante admirável, insinuante, inteligente, um craque. Maicon revelou ser o maestro da orquestra. Geromel, Kanemann, Cortez, Léo Moura, Jaílson,Marcelo Grhoe mostraram ser músicos refinados. Ramiro era a força motriz e Pedro Rocha (depois, Éverton) ariete fatal. O melhor Grêmio que vi jogar. Redescobri sonhos, tive esperança e, até, achei possível a utopia de ser campeão da Libertadores e do Mundial. Quase. Faltou pouco, quase nada, do outro lado havia Modric e Cristiano Ronaldo.
O Grêmio foi se desmontando aos poucos. Saiu Pedro Rocha, depois Arthur, foi Jaílson e agora, Ramiro. Neste ano ainda vi resquícios daquele Grêmio. Por momentos, por instantes, por poesia parecia que não terminaria nunca. Contra o River, não pela desclassificação, revelou que faria um outro jogo. Pragmático, prático, típico do jogado por aqui, espero que não o do 'Texas' (como o corneta do RW refere-se ao tosco futebol gaúcho). Renato Portaluppi renovou, esqueceu por uns tempos o Flamengo, e tem a chance de mostrar, enfim, ser um grande treinador. Terá que remontar o time. Reinventar conceitos, ideias e mostrar que o melhor Grêmio que vi jogar ainda não chegou. Mas, eu duvido!
2018 é quase passado. Um difícil e rigoroso passado. O Natal e suas boas histórias já batem na porta. Que traga bons presentes e alegria. Estou com receio de 2019. Tenho dúvida se o novo tempo chegará ou será somente um velho tempo, nem tão distante, reciclado. Desejo para todos que passaram por aqui, leram, curtiram, comentaram, compartilharam, ignoraram, um Feliz Natal e um Ano Novo suave, sereno e, conforme for, de resistência. Adeus a todos

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

A melancolia do exílio



"Devo tudo ao futebol. Joguei por 30 anos, nunca tive uma contusão. Deus só mandou a conta agora!"
O lamento do Deus Único, Pelé, em ter que conviver com as dores e a mortalidade de Édson Arantes do Nascimento.

Mauro Pandolfi

 O 'exílio' tem as suas vantagens. O silêncio, as reflexões, as leituras, os filmes, as músicas, as lembranças, a melancolia. Numa noite de insônia, vagando pela televisão, achei a entrega da Bola de Prata. Um fascínio que vem dos tempos de guri, leitor ávido de Placar, sonhador, amante da bola. Na Bola de Prata vivenciei  nomes que povoaram a minha infância. Onde estarão Aranha, Carlindo, Louro, Beto Bacamarte, Alberi e Osni? Ganhadores do troféu, figurinhas nos meus times de botão, que desapareceram sem deixar vestígios. O homenageado da Bola de Prata deste ano foi Pelé. Tudo girou em torno de Pelé. Histórias, entrevistas, imagens, feitos, fatos, magia do único Rei que a bola - e os homens do futebol - reconhece. Ele não pode aparecer ao vivo. Ao comentar o seu drama de saúde, Pelé não parecia Pelé.  Era o  Édson. Frágil, mortal, comum. Pelé não tem medo da morte. Édson, sim! Sabe que um dia vai embora. Ainda bem que Pelé é eterno!
Na manha seguinte a notícia que me deixou triste durante toda a semana. A morte de Tarciso. Ele era rápido. Muito rápido. O 'Flecha Negra', majestoso apelido dado pela voz do gol: Milton Ferreti Young. Tarciso foi o melhor homem a jogar com a sete do Grêmio. Renato não conta. Ele é uma espécie de Deus, um Zeus supremo na mitologia tricolor. José Tarciso de Souza foi o mais gremista de todos os jogadores que desfilaram com a linda camiseta tricolor. Sobreviveu aos anos vermelhos, do imenso time que teve Falcão e Carpegiani. Figueroa o parava com o cotovelo. Ele resistiu as críticas de uma torcida sufocada pelas derrotas. Gigante, Tarciso foi o emblemático craque de 1977 - perdeu pênalti no Grenal decisivo -, destruiu a defesa colorada e viu André alçar o voo da liberdade, orientou Baltazar e os meninos em 1981 e no sagrado ano de 1983 conduziu o Gêmio de Montevidéu até Tóquio. Tarciso era muito rápido no campo. Infelizmente, também, na vida.
Não vi a entrega da Bola de Ouro. Troféu justo para Luca Modric. O maestro de um novo jeito de brincar com bola. Sabe como poucos alternar o ritmo do jogo. Não vi Lionel entre os primeiros. Ficou em quinto. Pensei com os meus botões, chegou ao fim o tempo de Messi? Passei dois dias pensando em Messi. Escutei até alguns tangos para alimentar a melancolia e a tristeza da finitude de Messi. Mas, domingo de manha, no teipe da ESPN, vi Messi. De rosa, tão genial, tão inspirado, tão poético, tão prático, ele continua espetacular. Preciso, soberbo, soberano, genial. O mais Pelé depois de Pelé. Entendi a mortalidade de nós, os homens comuns, e imortalidade que gregos e romanos falavam de seus deuses. Sempre haverá um vídeo, uma história, uma lembrança, sobre Pelé e Messi. São para sempre.
O 'exílio' tem as suas desvantagens. A solidão, as ausências, a saudade, a melancolia, as lembranças.


sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O último tango da Libertadores



"O que a lagarta chama de fim de mundo, o homem chama de borboleta".
Nunca entendi muito bem o otimismo de Richard Bach em Fernão Capelo Gaivota, o livro que me perseguiu durante a adolescência e quase me pegou. Mas, gosto de suas frases.Tornei-me um cético, tentando ser saudável, que duvida que o futebol se reinvente após o caos de Boca e River. A paixão será morta a pauladas, pedradas, socos e pontapés. No futuro, futebol será tão anacrônico como as sessões de gladiadores no Coliseu.

Mauro Pandolfi

Triste, dramático, melancólico este último tango da Libertadores. Exatamente igual ao mítico filme de Bernardo Bertolucci. Desesperado, insandecido, exagerado, doido, apaixonado. Lembro do meu amigo Alberto, 'hincha de River', como gostava de dizer, ao retornar de suas viagens de Buenos Aires, no inicio deste século, e declamar, feito um cantador de tango, escorado no balcão, olhar sério e dolorido: "Estão todos loucos na Argentina! Brigam, xingam nas ruas ou dentro de casa, nos cafés. Há uma intolerância absurda.Tem que andar com cuidado, com cautela, sem expressar as suas paixões. Descobertas, corre-se o risco de morrer, de tanto que vão te bater. Estão desesperado. Não há empregos, não há saúde, nem  escolas, não há mais diversão. Não há mais válvula de escape. O futebol entrou nesta loucura. Fugi dos clássicos. Destruiram a Argentina!". Ao ver as cenas de domingo quase desisti do futebol. Tenho medo quando a paixão aprisiona a lucidez, libera o ódio que se esconde ao lado do amor. Mas, cá estou, tentando escrever algo sobre a insanidade. Serei eu mais insano do que os loucos que atacaram o ônibus do Boca ao buscar uma explicação?
O futebol argentino é único. Original e fantasioso. É um jogo bailado. Um tango dançado individualmente no teatro de grama e paixão. Uma dança de negaceios, de voltas, de retornos, de passos trocados, de ginga, de dor, de extrema beleza.  O coletivo no futebol argentino é uma miragem, uma ilusão.  É um jogo solitário e ilusionista. Já foi mágico e encantador. Tempos de Lá Maquina do River. Também, brilhantes. Nos pés endriabrados  e na mão de Deus de Maradona.  Messi não conta. Ele é  'espanhol'!Assim como tudo na Argentina, a beleza, a grandeza, a eloquência, a elegância se perderam no passado. Hoje é um espectro do que foi. As cenas de domingo,  que impediram a final da Libertadores, é o resultado de seus podres poderes. Chore por você, Argentina!
A minha paixão pelo futebol argentino começa em Lages. Quase tudo na minha vida inicia em Lages. Vi o Huracan ganhar do Internacional na inauguração do Vermelhão de Copacabana. Imagens soltas do jogo, dos passes certos, dos dribles, da habilidade aparecem de tempos em tempos nas lembranças. Em algum lugar da casa da mãe tenho uma flâmula desta festa. Depois veio o Independiente de Bochini, a fúria de Kempes, a genialidade de Maradona, ao deslumbre de Messi. Hoje, não consigo ver um jogo do campeonato argentino. Não há mais a beleza do drible.  O bailado do tango é um engano. Não há a melancolia. Só a tristeza de um futebol que perdeu para a violência, a estupidez de seus 'ultras' - os bárbados torcedores que amam odiar os adversários.
Não há mais a Taça Libertadores da América. A Conmebol destruiu a mais importante competição do continente. Rendeu-se aos demandos de seus cartolas - alguns presos, destino que não será diferente para o atual presidente. Chiko Kuneski disse que 'viramos colônia' após a decisão de fazer a final em Madrid. De acordo! A Taça deveria mudar de nome. Respeitar os libertadores da América. Respeitar os sonhos, os desejos e a história. O mínimo que a Conmebol deveria fazer era alterar o nome da competição. Saem os libertadores e entram os conquistadores. Boca e River buscam o título da... Taça Conquistadores da América. E, Caetano continua atual. 'Será que America se livrará de seus ridículos tiranos...' Se depender das últimas eleições, parece que não.

sábado, 17 de novembro de 2018

14!

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O símbolo



"Uma vez, andando na rua, uma mulher puxou o seu filho pela mão e disse a ele, me encarando: este é o homem que fez o Brasil chorar.  Eu pago esta pena há muito tempo".
Os gremistas econtram o seu Barbosa moderno. Bressan será 'devorado' com a crueldade que o futebol oferece.

Mauro Pandolfi

"Bressan! Os gremistas nunca esquecerão este nome. Entrou para a história do Grêmio contra o River. Não como um herói ou mito, como os que pessoas veneram neste tempo. Como um símbolo de uma derrota. Um jovem que será execrado por uma péssima noite. Exatamente igual o que aconteceu com Cláudio Radar num grenal nos anos 70. Radar foi driblado à tarde inteira por Lula, que era um vértice agudo de um triângulo, mais do que amoroso, com Paulo César Carpegiani e Vacaria. Os gremistas 'caçaram' o infeliz Cláudio. Nunca mais vestiu a tricolor. Foi para o exílio em Lages, onde ficou até morrer no anonimato. Não tem os seus pés na Calçada da Fama e nem nas fotos que embelezam a Arena. Aquela tarde aniquilou a carreira promissora e ele se tornou um pária no mundo da bola. Bressan terá o mesmo destino. Como é cruel o futebol! Cada clube tem o seu Barbosa. O Grêmio moderno achou o seu. Bressan! Os gremista nunca esquecerão este nome
Eu gosto de Bressan. Gosto da bravura, da vontade, da vibração, do amor que veste a camisa do Grêmio. Parece um torcedor. Oferece a alma e a vida pelo time. Nunca se entrega. Talvez, seja o seu erro. Se expõe, se oferece, se humilha, perde quase sempre. Será devorado com muita crueldade. Inteiro ou em partes. O desespero ao perceber a expulsão é um momento grandioso de um homem aniquilado. Protestou, brigou, ficou enlouquecido, chorou. Viu a 'morte'. A saída de campo é igual a entrada em um matadouro. Foi o gesto final. Eu gosto de Bressan! Eu sou um Bressan na vida. A história cheia de derrotas (em três dias, duas derrotas fatais), de eternos recomeços, de 'exílios'' voluntários para se reconectar com a vida, de superação. História de muitos brasileiros. Não acredito que Bressan terá uma outra chance no Grêmio. Vai Bressan, ser um Claúdio Radar na vida!
Ficou fácil explicar a derrota. Tem Bressan e o Var. Erros que justificam a vitória do River. É a simplificação que o futebol aprecia. O erro do Grêmio foi onde o Grêmio é imenso. Renato Portaluppi é o criador de um time mágico, o melhor que vi. O mais encantador. Aquele que ama a bola. Que torna o jogo um momento poético. Renato desistiu daquele Grêmio. Nunca foi tão 'Gaúcho' como contra o River. Esqueceu de jogar. Deu a bola, o campo, ofereceu espaço, permitiu a movimentação, deixou o tempo livre e perdeu. Foram escolhas erradas na escalação e no banco. Não há motivo que explique Douglas e Marcelo Oliveira. Gratidão? Uma placa, um bônus, um desejo de boa sorte em outro clube. É o suficiente, justo!
Matheus Henrique e Jean Pyerre, os jovens cheios de talentos, ficaram esquecidos. Igual ao que aconteceu com Anderson e Lucas Leiva numa batalha histórica. Ficamos aflitos durante o jogo. Esta partida é uma lição para Renato. Ele não é Mano Menezes. Aquele que ama o regulamento, o pragmatismo, a sofrência e o resultado. Nunca mais tente ser Mano Menezes, Renato, e nem 'Gaúcho'. Seja Portaluppi, aquele que ama o futebol. Que sempre apostou na beleza do drible, do encantamento do passe e do prazer do gol.


quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Sócrates!

  

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Luka!

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Senhor Retranca

 

"Não temos nenhuma obrigação de atacar. Somos apenas o Juventus, o pequeno time da Mooca, então para que se preocupar?".
Era com esta maneira singela, simples, que Milton Buzetto explicava a sua ideía de futebol. Naqueles anos 70 era chamado de retranqueiro. Hoje, seria um treinador moderno no atual futebol brasileiro que adora atacar com covardia.

Mauro Pandolfi

O futebol é mais que a minha auto ajuda.  É a minha válvula de escape. O lugar onde recupero a sanidade quase perdida nestes tempos que flerta com obscurantismo. Mas, ando negligenciando com futebol. Deixei meio de lado neste setembro chuvoso. Tenho visto apenas os jogos do Grêmio. Quando penso que o belo futebol do Grêmio já é passado, Renato Portaluppi reinventa o jogo. Ele é um mago. Mas, o assunto não é a minha paixão. É a tristeza com a notícia da morte de Milton Buzzeto. O treinador que faz parte de minha infância, dos torneios de jogos de botões, da revista Placar, dos jogos ouvidos no rádio da sala. 'Parece o Juventus do Buzzeto. Sai da retranca!', era que se ouvia nos jogos do Vermelhão, nos botões, nas peladas de rua. Milton Buzzeto era sinônimo de futebol feio, mal jogado, de chutões, de vitórias impossíveis. Milton Buzzeto era o 'Senhor Retranca!'. Hoje, no futebol jogado no Brasil, seria um treinador moderno.
Duas linhas de quatro. Campo reduzido. Marcação individual que se tornava de zona. Rapidez nos contra- ataques. Bola aérea. Correria entendida como velocidade. Descrição de um time de hoje. Bem parecido com o Inter de Odair Hellman ou o Cruzeiro de Mano Menezes. Era assim que jogava o Juventus da Mooca. 'Amigo, meu time não joga na retranca, Apenas sei o que posso exigir de cada jogador', explicação que encontrei numa velha revista Placar, número 177 de agosto de 1973, uma bela matería de Michel Laurence. Há grandes achados na reportagem, como a explicação que irritava os craques da época. "Você viu, não tem mistério. O segredo é só marcar o homem e não a bola. Ali, antes de adversário receber, a gente mata a jogada. Isso irrita, não é?" Bem moderno, não acham?
Gosto do texto da revista. Michel Laurence é preciso na apresentação. "Com seu jeito de bandido de filme italiano, puxado para o mafioso; as calças sempre caídas na frente; um cigarro ou cigarrilha entre os dedos; olhos de um verde claro, que inspiram sinceridade,ninguém pode adivinhar que esse hoemem seja o responsável por tamanha revolução no futebol paulista". Fracassou no desesperado Corinthians na tentativa de ganhar um título. Virou 'cigano' da bola. Treinou em vários estados. Nunca mais se destacou. Deve ter descoberto que a retranca é só um engano. Ah, teve uma passagem meteórica no Marcílio Dias.
O tempo passou, o futebol mudou, Milton Buzzeto sumiu, desapareceu, nem lembrança virou. O redescobri com a sua morte, aos 80 anos, na segunda feira. Fiquei triste. Lembrei dos meus tempos de menino, dos jogos de botão, da Placar, de ouvir Mauro Pinheiro reclamando da retranca ('o anti futebol', dizia ele). E, num 'exercício' de imaginação, perguntei aos meus botões: quem seria Milton Buzzeto, hoje? Um respondeu. Mano Menezes. Outro, Odair Hellman. Um terceiro disse que não podemos esquecer Celso Roth. Mas, Celso Roth já não é um Milton Buzzeto? Está sumido, desaparecido, ausente...

sábado, 1 de setembro de 2018

Simbiose


Chiko Kuneski

Tentei tirar a camisa do time
Mas, teimosa, não me quis despir
Alegou o grude do suor
Do nosso suor
Apertou-me com o amargor da derrota
Aliviou-me no insosso empate
Desalinhou-se com a doçura da vitória
Sempre grudada
De nada isso lhe importava
No fundo, bem no fundo
Eremos um só nos poros de nossos tecidos
O suor da paixão nos unge
Adormeci com ela
Eu suado, ela suada
Sonhando com esse amor que molha a alma
Incondicional

domingo, 19 de agosto de 2018

A vitrine do futebol


"Somos o país do futebol, mas não somos os donos do futebol"
Daniel Alves entende o mecanismo do futebol, as suas variáveis, as transformações da bola, do jogo, do entretenimento. Já em final de carreira, recuperando-se de uma lesão, Daniel Alves percebeu que o tempo não para, nem o futebol é o mesmo de sempre, que não precisa de um evento para mudar.

Mauro Pandolfi

A Copa do Mundo é uma festa, mais do que uma competição. É quando 'os operários vão ao paraíso' (frase que 'plagiei' do grande Tim Vickery). Onde brilham os imigrantes, os sobreviventes de tragédias coletivas ou pessoais, os 'artistas', os milionários, os sonhadores. Ainda é grande vitrine do futebol. Onde é exposto o talento, a fantasia, a doce ilusão de desconhecidos que buscam o céu. Muitos sobrevivem a dor da derrota,  outros desistem, dias depois, de voltar a vestir a camisa de seu país. Mas, o fracasso não abala o mito. Lionel Messi e Cristiano Ronaldo continuam imensos sem uma copa em seus cartéis. Desconfio, neste tempos tecnólogicos, que a referência ao modelo de jogo é quase nula. Aliás, sempre foi desde 30. Não provoca grandes mudanças. Não inventa sistemas e nem destrói o que está consolidado. O tempo faz isto. Chiko Kuneski escreveu um texto preciso ('A Copa do mal') neste blog. Lúcido, bem argumentado, que por instantes, me convenceu. Danado, este Chiko! Os poetas esgrimam muito bem com as palavras.  Certeiros! Passado um tempo, longe da influência do texto, discordo do 'mal' da Copa.
A primeira copa que assisti foi a de 70. A extraordinária seleção de Pelé. Li muito sobre ela, revi seus jogos algumas vezes e sei a revolução que propôs. Movimentação articulada, jogo no espaço vazio, posse de bola, precisão. Um time mitológico. Nenhum time brasileiro jogou como a seleção pós-copa. A seleção de 74 negou todo a transformação proposta. 'Imitou' os times brasileiros. Estilo previsível, burocrático, sem movimentação, centrado no conceito pré-70. Quem entendeu a revolução foi Rinus Michels. O carrossel holandes foi um rápido sonho que durou apenas aquela copa. A única inovação adotada no futebol brasileiro foi a linha de impedimento usada pelo Inter de Figueroa. Uma plêiade de comentaristas esportivos consideraram a Holanda um 'tico-tico, uma pelada mais organizada'. Igual ao Brasil, a Holanda de 78 desceu do carrossel e foi um vice insípdo. E assim tem sido. A copa como balizador do futebol é só um equívoco de avaliação.
Só o Flamengo lembrou o timaço de Telê Santana de 82. O 'cattenaccio' italiano da gang de Paolo Rossi sempre foi praticado por estas bandas. É só olhar os técnicos brasileiros deste período. Quase todos defensivos. No salto do tempo, vou até 2010. O jogo bailado, tocado, retocado, brincado, fantasioso da Espanha não vingou por aqui. Este jeito 'guardiola' de jogar se restringiu ao Grêmio de Roger Machado em 2015 e de Renato Portallupi nos anos seguintes. Mais algum jogou feito o Barcelona? Nenhum! Todos, inclusive as seleções brasileiras de 14 e 18, herdaram o futebol da equipe de Dunga de 2006, que era o que se jogava no país. Também, ninguém usou a Alemanha de 14 como referência no Brasil. A copa deste ano não mudou nada no futebol brasileiro. Continua tão ruim como o do primeiro semestre. A convocação do Tite, dia 17, sua entrevista coletiva é a reafirmação de seus conceitos, de seu pensar, apenas mudou o nomes dos jogadores. As ideias, a tática, o sistemsa de jogo parece o mesmo. Tão antenado, 'o moderno' Tite 'minimiza' - para ser gentil - o título da França. Não sei se é convicção ou arrogância. O 'mal da copa' é feito o 'mal dos poetas' do século 19. É romantismo. A realidade é, que pena!, pragmática. Jogamos como sempre.  A fantasia do extraordinário futebol brasileiro é só uma quimera. Bela mitologia que sempre sobreviverá.
Perdi a ilusão da arte no futebol com Paolo Rossi. Entendi que o futebol é um teatro de grama e paixão. Há tantos sentimentos envolvidos.  A vitória, bravura, desespero, fé, crença. Nunca abandonei o olhar da beleza do jogo. Gosto de dribles, de passes, de movimentos e espaços, de uma organização tão bem executado que parece improviso de pelada.  O desejo do futebol arte é imortal. Sobrevive nos sonhos de poetas, como Chiko Kuneski, que criam as fantasias, as expressões, como a bela 'asas da chuteira', um devaneio que deixa o jogo lindo. Esteticamente admirável quando contados pelo lirismo de quem a ama a arte. É este sopro, como da verve de Chiko Kuneski, que justifica um blog como este.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

A Copa do mal



Chiko Kuneski

Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, é fazê-lo de uma vez só.” Maquiavel

Essa máxima de  “ O Príncipe” cai como uma luva para o futebol. O Jogo bem jogado, tático para o ataque, inteligente, com jogadores criativos em esquemas criativos, desmoronou em uma só competição. A Copa do Mundo da Rússia trouxe de volta o futebol belicista. A arte do jogo sucumbiu à “guerra” do jogo. O combate. O corpo a corpo. Os jogos ficaram defensivos, protegendo a retaguarda, aumentando a guarda. 

O balé das chuteiras aladas parado por uma artilharia de grosso calibre sempre com uma cobertura da cobertura. O futebol ficou destrutivo. É mais fácil fazer desmoronar. Como ensina Maquiavel para os governantes, o mal se faz de uma só vez de forma mais rápida. O veloz é esquecido; o lento é absorvido. O futebol é isso. O bom jogo leva anos, décadas até ser entendido e apreciado. O mal jogo com resultados é festejado com os títulos, sempre imediatos. A Copa mostrou isso. Nada foi construído. Ao contrário.

A Copa da Rússia chegou ao Brasil. Pelo menos nas competições com jogos eliminatórias, como os da Copa do Mundo. O futebol do “teatro de grama”, como define Mauro Pandolfi, já foi substituído pelo RPG. Os jogos viraram combates de defesas. O ataque é mero acaso.

Até times técnicos como Flamengo e Grêmio, ao meu ver os que tinham o futebol mais bonito de ser ver no primeiro sementes, antes da competição mundial, sucumbiram ao mal da Copa. Nos dois jogos “mata-mata” pela Copa do Brasil, com jogos eliminatórios, o bom jogo foi deletado. O teatro virou um o RPG de defesa para vencer a guerra. O mal da Copa da Rússia já foi feito e mais rápido que se esperava.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

O acaso

 

“As obras-primas devem ter sido geradas por acaso; a produção voluntária não vai além da mediocridade.”
Carlos Drumonnd de Andrade mirava na vida ao fazer poesia. E, tudo indica, sabia decifrar o futebol.

Mauro Pandolfi

O futebol é a minha janela para o mundo. Desde os tempos de Copacabana, em Lages, que ao olhar pela janela via um pedação de chão onde a bola corria mágica. O primeiro olhar do dia. Ou, nos desenhos, como lembrou-me estes dias a mais importante professora, a minha querida Leda, 'tudo o que Maurinho desenhava tinha o futebol como motivo'. As redações, também. Tanto encanto transformou-me em jornalista. Esportivo, na maior parte do tempo de uma curta e inexpressiva carreira. A vida tem as suas escolhas, caminhos, atalhos e o futebol sobreviveu como paixão. Nunca consegui decifrar esta paixão. Que fascínio exerce sobre mim o futebol? Por que dedico tanto tempo para ele? O que me leva a escrever sobre futebol? Nunca consegui responder estas perguntas. Ou, nunca quis? Sigo questionando o jogo, o espetáculo formado por um teatro de grama e paixão, por uma 'história' contada em prosa de dribles e em versos de passes desenhados numa prancheta. Este 'nariz de cera' - jargão jornalista, que significa encher linguiça - é para explicar que o futebol é, para mim, indecifrável, inexplicável, misterioso, complexo. Deveria apenas, como diz o meu filho André, torcer, vibrar, 'sem ficar comentando o jogo'.
Planejamento. A palavra que explica um grande time. Leva tempo, demanda esforço, paciência, treinamento. Alemanha do 7 a 1 foi construída assim. 12 anos de um trabalho persisitente, duradouro. Exemplo para o futebol brasileiro, mundial. Escuto, e defendo, isto há muito tempo. Não há vitória, títulos sem 'um projeto' - não é a vigarice luxemburguiana -, mas,.algo sério, moderno, pensado.  Há vitórias construídas assim. Alemanha, Espanha, França, Corinthians, Grêmio, Leicester são arquétipos desta premissa. Leicester? O pequeno time inglês que surpreendeu os gigantes foi um lindo 'acidente'. Ou, será que o acaso não iguala ou supera o planejado? Estou desconfiado que sim. A genialidade pode desmontar qualquer sistema. A mitologia do futebol cita Garrincha, que dormia a sono solto nas preleções, como o 'exterminador'  do jogo pensado, elaborado. Acordado, Garrincha olhava para o treinador, após as explicações táticas de como vencer o jogo, e perguntava: 'o senhor já combinou com o adversário?'
Flamengo e Grêmio jogaram duas vezes em quatro dias. Dois ótimos jogos. O jogo trabalhado, elaborado do Grêmio durou 45 minutos na quarta-feira. O segundo tempo foi do Flamengo. Menos planejado, o time de Lucas Paquetá amassou, triturou e empatou no último lance. Faltou pouco, quase nada, para vencer. No sábado, com um time reserva, os gremistas - no caso, eu - esperavam uma goleada do Flamengo, quase titular. O Grêmio controlou, ditou o ritmo, venceu. A justificativa flamenguista foi o cansaço. No anterior, o time trintão do Grêmio não suportou a juventude. 'Futebol é para jovens', sempre falo - ou falava, não sei mais! - isto. Não é que os veteranos do Cruzeiro encaixotaram os garotos do Flamengo? Apenas dois jogadores com menos de trinta anos, um time cascudo engoliu o rubronegro. E, também, uma certeza minha. Vários fatores determinam uma vitória. O futebol, como a vida, é imprevisível. A magia está aí.
Há um texto de Armando Nogueira sobre um técnico que planejou uma estratégia para conter Pelé. Era mais ou menos assim: um marcador pela direita, outro pela esquerda. Um na sobra e outro no combate direto. Dois de sobreaviso caso Pelé ultrapasse um marcador. Começa o jogo. Bola para Pelé...gol do Santos! Pelé não vale. Mas, o gol fantástico de Rodrigão, do Avaí, contra a Ponte Preta? Ou, o passe de Rodrygo, que driblou três, entregou de bandeja para Gabriel marcar? Obras de acaso. Lances magistrais. O futebol é construídos por eles, por falhas, por frangos, por gols perdidos, por gols achados, pelo acaso. Afinal, como disse o pensador Theophile Gautier, "o acaso é talvez, o pseudônimo que Deus usa quando não quer assinar suas obras". Não sei se vale para a vida. Para o futebol ela é precisa. Os deuses do futebol detonam os espertalhões que dizem decifrar o jogo. Geralmente, são derrotados por gols chamados, sabiamente, de 'espíritas'. Impossíveis, loucos, inacreditáveis. É o acaso que vai proteger os segredos sagrados do jogo.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Jogo da velha

 
"Jogar bonito é para amistoso ou jogo beneficente. O importante é ganhar".
Luís Felipe Scolari foi campeão do mundo jogando feio em 2002 e foi humilhado em 2014 num baile alemão. Ele voltou! A modernidade é só uma fantasia, uma noite de verão, um acaso, no futebol brasileiro.

Mauro Pandolfi

O Brasil está enredado numa espiral de tempo. O país e o futebol. Tudo vai, tudo volta. Nâo dá para definir onde é passado, onde é presente, quando se encontram, onde se separam. O futuro foi só um delírio de Stefan Zweig. Uma fantasia, um engano, um sofisma. Afinal, até na gramática conjuga-se um verbo no pretérito do futuro. O futebol também está nesta volta da espiral. A Copa do Mundo mostrou o caminho para um novo olhar do futebol. 'O xadrez', como exemplificou Roger Machado, tão bem usado pela Bélgica contra o Brasil, derrotou qualquer ideia de moderno no futebol brasileiro. O Palmeiras trocou Roger, seus métodos de treinamentos, suas expressões, sua sutileza, pelo pensamento mágico, pela rudeza, pela 'famiglia' - conceito perfeito para um clube de sotaque italiano -, de Luís Felipe Scolari. O mais mitológico dos treinadores brasileiros. O homem que viajou do céu ao inferno mais rápido do que nas piadas. É, o último que jogou 'xadrez' por aqui foi Mequinho. Alguém lembra?
Roger Machado surgiu no Grêmio como um inovador. Alguém capaz de entender os mistérios, a complexidade do futebol moderno,  o 'xadrez', como explicou numa entrevista. Ele  parecia ser capaz de romper com mitos, com o passado, as lendas, o 'jogo de damas', da mesma entrevista. Seu Grêmio era encantador. Posse de bola, movimentação, o jogo planificado, tão bem treinado que lembrava um time de 'pelada' jogando por música. Saiu antes dos títulos. Renato Portaluppi acrescentou competividade, mais fúria que não tirou o refinamento e uma obsessão por vitórias. Quatro títulos em dois anos e um time para guardar na memória.
Roger Machado ainda está em formação. Mas, o futebol tem pressa. 'Fracassou' no Atlético e no Palmeiras. 'Fracasso' é uma palavra complexa de explicar no futebol brasileiro. Foi campeão mineiro em 17, perdeu o estadual paulista nos pênaltis em 18 e foi o que ganhou mais pontos nas fases de grupos das  Libertadores de 17 e 18. Mais de 60% de aproveitamento. O 'fracasso' de Roger está no seu trabalho, na maneira de conduzir o time, de lidar com os jogadores, de entender o vestiário. Roger não é o 'paizão', nem psicólogo, nem sargento, nem babá. Os jogadores sentem falta deste afeto, do afago, do abraço, do perdão, do elogio. Ele é adepto de três palavras 'banidas' do dicionário deste país: meritocracia, independência e autonomia. Os jornalistas esportivos de São Paulo dizem que Roger caiu por ser 'independente demais, de dar autonomia aos auxiliares, por não se preocupar com os problemas dos jogadores, por não dividir a mesa no café, no almoço, no jantar, não estimular reuniões no vestiário, nenhuma gestão de pessoas. Ele era apenas um treinador'. Um deles arrematou: 'Felipão vem restaurar a família, unir o grupo, pacificar a diretoria'.  Assim tropeça o futebol brasileiro.
Tudo é eterno no futebol. O passado nunca passa. Está num poster de campeão, na declamação ao escalar o time histórico, nas lendas, nos mitos. O passado pode se ausentar por algum tempo. Ficar no exílio. Mas, volta. Nunca como farsa. Volta como fé, esperança, crendice. Não sei se algum dia jogaremos xadrez. Estou em dúvida se já trocamos as damas pelo jogo da velha. Felipão voltou. No Santos querem Luxemburgo. Dorival Jr e Abelão estão desempregados. 13 clubes já trocaram de técnicos na série A em somente 15 rodadas. Outras virão. Perplexo, surpreso, estou com uma dúvida: quem vai contratar Joel Santana?

terça-feira, 24 de julho de 2018

Damas e xadrez



"O mundo inteiro jogava damas. Éramos os melhores jogadores de damas. Aí, perceberam que não nos alcançariam nas damas e só superariam nossa qualidade jogando xadrez. Já estamos jogando damas com peça de xadrez, mas caminhamos para jogar xadrez. Se jogarmos xadrez com nossa qualidade individual, nunca mais vão nos pegar de novo. Nunca mais".
Bela metáfora de Roger Machado que tem se revelado um bom treinador de...damas.

Mauro Pandolfi

A partida estava perto do fim. Olhar enviesado na tevê, tricô nas mãos, Elaine suspira: 'Que saudades da Copa! Você não tem, Mauro?' O Grêmio perdendo, jogando mal,  nem irritação eu tinha com a mediocridade  gremista, concordei e devolvi a pergunta: 'Qual o motivo da saudade? O péssimo jogo ou a derrota?' Sem desviar do tricô, ela me encara, ri, responde: 'a inteligência! Não há estratégia, lucidez, uma jogada inteligente. É um jogo burro!' Desconcertante! Gosto de observar, conversar com quem não tem o hábito do futebol, de quem foge dos lugares comuns, dos chavões, das certezas. Duas rodadas pós Copa e entendo o 'fracasso' - já estou discutindo se era possível ir mais longe ou fomos no nosso limite? - do Brasil. Como disse Roger Machado, estamos jogando damas. Tite, Renato Portaluppi, Roger, todos os outros, são treinadores de damas num universo de xadrez. Cavalo, torre, bispo, rainha, rei, nada se difere. Nos times brasileiros, só há lugar para o peão. Afinal, é o que tem o posicionamento e o movimento mais parecido com as damas.
Xadrez é um jogo mais difícil que damas. As regras são mais complexas e as jogadas infinitas. Damas tem poucos lances,  muito simples de entender, é um jogo mais popular que o xadrez. Nas praças é mais comum jogarem damas. Nas contradições da vida, damas é um jogo mais difícil de vencer. Todo jogo é aberto, exposto, só há um tipo de peças, mesmos movimentos. Não há grandes estratégias. O lance seguinte vem. Mas, o depois, não. O xadrez tem uma variedade de peças. Requer estudo, profundo conhecimento, planejar não só o lance seguinte, mas os do futuro. Inicia com um pensar, estabelece a tática, atrai o adversário, surpreende e vence. Esta é a diferença básica do futebol europeu dos grandes clubes, de seleções do praticado no Brasil pela seleção e os clubes. O  ultimo encontro entre o xadrez e as damas foi Brasil e Bélgica. Roberto Martinez foi um Bobby Fischer contra Tite, que lembrava um jogador de pracinha. Abriu uma jogada de ataque ousada, não usual. Tite tentou marcar com uma defesa de damas. Quando percebeu que era xadrez, a Bélgica deu o xeque mate.
Futebol é o meu culto, a minha paixão. Vejo uma bola rolando e paro na frente do 'tubo'. Vejo quase tudo, todas as séries, todos os campeonatos. Nunca os noventa minutos. Alguns jogos, assisto mais, pela qualidade ou pela ruindade excessiva. Gosto de 'trash'. A melhor análise sobre a diferença rntre Europa e Brasil é de Roger Machado. Aqui ainda se pensa um futebol de posição, compartimentado, estanque e previsível. O zagueiro defende, o dez passeia em campo e cria um lance por jogo - é reverenciado -  e o centroavante - ah, coitado! se não fizer o gol - finaliza. Cada um no seu quadrado. Movimentação, troca de função, sobreposição de linhas é chamado de 'pelada'.  Tudo igual desde Charles Miller.
 O sistema é o mesmo. Treinam exaustivamente para defender. Cobrem todos os espaços, cuidam da 'segunda bola', tem sempre um rebatedor e o volante que suja o calção. A defesa é um trabalho coletivo. O ataque é uma solução individual. O velocista e o 'rompedor' que se danem. A bola é sempre longa ou cruzada. Raros os times que fogem disto. Um gol no início e o 'ônibus' é estacionado na frente da área. Na busca do empate a bola viaja alta para área. 10, 15, 20, até 50 vezes para encontrar uma cabeça salvadora. É o jogo de damas, que é sempre o mesmo. Estratégia? Uma jogada planejada, cruzando as linhas, jogando com o tempo e o espaço? Raras. Quando ocorre transforma-se em vinheta de programas.
As duas rodadas da série A, os jogos de Avaí e Figueirense na B, mostram o futebol perdido no tempo. Bons jogadores desperdiçados. Há 'torres, cavalos, bispos, rainha, - rei? não há' -, jogando como peões, subutilizados. Ás vezes, suspeito que sou crítico demais, que deveria apenas aproveitar a paixão. Noutras, acho que não é nem damas o que é jogado por aqui. Sim, jogo da velha. Todos entendem de futebol neste país. Qualquer um sabe jogar 'velha'. Dificilmente há vencedores. É um jogo simples e difícil. O empate é o resultado previsível. Exatamente como o futebol brasileiro.

terça-feira, 17 de julho de 2018

A Copa é azul!


'A Terra é azul...'
Yuri Gagarin viajou ao espaço e, quem sabe,  no tempo, feito um vidente ao perceber o azul do planeta. Tenho a esperança que Gagarin também tenha visto uma réstia de branco e preto nesta bola.

Mauro Pandolfi

A minha segunda-feira foi idêntica as segundas de Garfield. Sem vida, distraída, alheia, perdida.  O dia passou e não entendia aquele vazio. Li a crônica de Chiko Kuneski e descobri toda a minha ausência. Ressaca, abstinência, desespero. A festa orgástica chegou ao fim. Como sobreviver sem este orgasmo, este desejo que me alimentava todos os dias? Tão intensa, frenética, que temia terminar aquela festa. Mas, terminou. Assim como todas as paixões passageiras, temporárias, meio vadias, como se fosse traição  com a paixão eterna. Como viver sem elas? Sobreviverei sem 'os negros maravilhosos', os bravos croatas, a alegria dos amigos de Baloy, o desespero de Messi, o 'show' de Neymar, a elegância belga, a Espanha toureada? Reencontrar o Grêmio feito um amante cheio de saudades, pedindo perdão pelos amores ocasionais, é a minha saída. A única! No entanto, a Copa, a festa orgástica deixou uma tatuagem na alma. Não sai mais.
A Copa ainda baliza o futebol. Defini rumos, cria conceitos, estabelece comportamentos, anula movimentos anteriores, estabelece os novos. A posse de bola virou ilusão. O jeito Guardiola de jogar sobreviverá como engano. Como era belo este engano! Objetividade é a nova ordem mundial.  A compactação foi  mais reduzida. Joga-se em 20 metros. Porém, no próprio campo. Um jogo aparentemente mais defensivo. Pode ser só um engano. Nunca se jogou tão bem o futebol como o de agora, como o da Copa. Todas as valências em campo. A mais importante é a inteligência.  Vence quem saber ler, entender, interpretar e e 'escrever' bem o jogo. O futebol ficou mais complexo e misterioso. Tão misterioso que pode ser resolvido no fortuito, no acaso,  que nega tudo o que está escrito acima.
Há uma ilusão de ótica do fim do craque, do solista, do que acha a solução em milionésimos de segundo. Modric, Hazard, Pogba, Mbappé, De Bruyne são a confirmação de que o craque tem outro conceito, mais amplo, mais participativo. Não é mais o eremita, o que vive à margem, o que tem a chave da vitória, da salvação. É o 'operário' extremamente qualificado. Também, o 'arquiteto' da obra. O tempo dirá se esta impressão é real ou só um devaneio meu.
Os últimos pitacos de uma festa inesquecível. Minha seleção: Pickford; Mário Fernades, Mina, Varane e Hernandez; Pogba, Modric, Rakitic e De Bruyne; Hazard e Mbappé. O craque é Modric. Mbappé é mais do que a revelação. É o símbolo de um nova era. O treinador é Roberto Martinez. Ele percebeu a mudança do jogo e, por detalhes, não ganhou o título. A Copa é também o 'fracasso' dos grandes. Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Iniesta, Kroos foram pouco menos do que comuns. Assim é o futebol, assim é a vida. A saudade, o passado, o presente, o futuro. É a espiral do tempo que deixa tudo ser eterno.

domingo, 15 de julho de 2018

O VAR humano


“Nada que a tecnológica e fria lente captura não foi visto antes pelo olhar do Homem”.

Chiko Kuneski

Acabou...acabou a catarse. A Copa é catártica. É a fantasia máxima. A verdadeira personificação do bem e do mal. Do céu e inferno. Que elege divindades terrenas, feito os deuses do Olimpo a escolher seus favoritos. Somente na Copa do Mundo somos milhões de deuses. É a magia que faz torcer até pelo desconhecido. Mas, como toda catarse, tem prazo de validade.

Especialmente para os que já a frequentaram por décadas. Jogadores, técnicos e torcedores. A Copa é como uma cópula. Orgástica. Um conjunto de corpos suando. Vem num crescente. Começa no exagero e afunila para o mágico. Mas acaba num súbito inexplicável. Bons para uns; satisfatório para outros. Mas é uma cópula universal.

A Copa da Rússia foi a primeira realmente do século XXI. Tecnológica. Sobre humana. O frio olhar angulado das câmeras decidiu jogos, resultados, carreiras e vidas. P       ela primeira vez nós, os apitadores de televisão, nos sentimos juízes do jogo. Não decidimos, até porque seria impossível uma decisão unânime de milhões. Mas vimos o mesmo que o árbitro viu. Julgamos. Absolvemos e condenamos.

Três letras. VAR (Video Assistant Referee), em inglês, ou árbitro de vídeo, em bom português, determinou destinos na Copa. Uns detestaram. Outros aprovaram. Como qualquer árbitro foi aplaudido quando a favor e criticado quanto contra. É do torcedor. Contestar até o incontestável. A paixão é cega e, com diz Mauro Pandolfi, “futebol é um jogo de olhares”.

Difícil, ou quase impossível, ter olhares em catarse. Só há paixão. O VAR, tão temido por muitos, muitos aos quais me incluía, por poder destruir a grande magia da ludicidade da dúvida do futebol. Criou uma nova tendência. A do erro da imagem. O futebol é tão mágico que nem o frio olhar das lentes arrefece a paixão.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

O anjo caído

 

'O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente'..
Desconfio que Neymar é um leitor voraz de Fernando Pessoa.

Mauro Pandolfi

Ainda Neymar. Gosto de gente que desafina o coro dos contentes. Respeito os perdedores que provocam irritação dos bem pensantes, que despertam amor e ódio, que são 'culpados' pelas derrotas, pelos fracassos. Gente que nunca chegará onde pretende, que serão pouco mais do que o comum. Neymar é um deles. Ele é o mais instigante personagem do futebol mundial. É a encarnação do 'mal', do pérfido, do boçal. O craque que rompeu com a ética do jogo limpo, com simulações de faltas, de dores, com reclamações sem nexo, com rebeldia sem causa. Um ator de segunda linha. A chacota nas redes sociais. Crianças, adultos, comediantes, aspirantes a comediantes riram, brincaram com as 'roladas' pelo chão após as faltas. Neymar virou piada! Não ligo para isto. Não tenho nenhum sentimento sobre isto. Não me preocupo com sua carreira, com o aspecto psicológico, com sua riqueza, com seus gastos, suas atitudes. Ele tem um bom aparato de profissionais que pensam a sua vida e carreira.  Preocupo-me é com meus filhos. Tenho que estar atento as suas vidas, as escolhas e os caminhos. As decisões serão sempre deles. Com Neymar quero apenas o futebol.
Continuo achando genial e genioso. Não há misericórdia com o seu fracasso na Copa. Fracasso? Não chega a tanto. Na disputa com Messi e Cristiano Ronaldo, Neymar foi melhor. Jogou mais, chegou mais longe e perdeu como eles. Cristiano Ronaldo é o bom moço deste tempo (já foi 'Neymar' em outros tempos) e Messi é o 'infeliz' que escolheu ser argentino ao invés de espanhol. Ambos estão perdoados. Afinal, seus times eram ruins. Eram 'exércitos' de um homem só. Perdão é uma palavra que não cabe em Neymar. A derrota pode provocar transformações ou destruir completamente um homem. Neymar vai escolher o seu caminho.
Neymar é o 'anjo caído' do universo religioso que o Brasil se enredou. O craque que expulsou o país do paraíso da vitória. O profeta que não levou à terra prometida. O heroi sem caráter, o Macunaíma, o Sassá Mutema mentiroso, o vilão preferido dos jornalistas e agregados, dos fanáticos das redes sociais, dos fundamentalistas que aparecem de quatro em quatro anos.  Faltou pouco, quase nada, para virar um Barbosa. Ainda bem que vivemos um outro período, mais civilizatório, mais humano, que torna vergonhoso uma campanha como a que Barbosa sofreu. Neymar foi só mais um que perdeu num time compartimentado, previsível, com uma frágil estratégia, sem inteligência no jogo, organização trivial, um reflexo de espelho do futebol jogado por aqui. Uma seleção que repete eternamente o mesmo futebol desde 1974, com exceção de 1982, com derrotas e vitórias (1994 e 2002), sem a 'magia, a fantasia' de sua lenda, sem renovação, obsoleto e a sempre presente relação de compadrio tão ao gosto do Brasil.
Mbappé atropelou todos os candidatos a melhor do mundo. Hábil, forte, demolidor, o atacante francês de 19 anos é o novo símbolo do futebol. Neymar terá que mudar para alcançar Mbappé. Falo do futebol, da postura, do entendimento do jogo. Tem que ser protagonista, deixar de ser coadjuvante. Desde o Santos, ele é o centro do time. Porém, o pensar não passa por ele. Foi Ganso, foi Iniesta, Luan na seleção olímpica e não rendeu no PSG o que esperava, nem na seleção foi o diferencial. Falta poder mental a Neymar. A convicção de que é grande. A certeza que Romário e Ronaldo tinham que eram geniais. O olhar de vencedor, de fúria, de querer ser gigante, imenso. Também, mudar o jeito de jogar. Fugir do canto, de esperar a bola. Migrar, flutuar, ocupar espaços, se movimentar, começar e terminar a jogada. Se fizer isto, será um duro adversário de Mbappé. Caso contrário, será um outro Robinho. Com mais grife, é verdade!

sábado, 7 de julho de 2018

A Copa, a vida, ainda não terminou!


'Misturo poesia com cachaça e acabo discutindo futebol...'
Vinicius de Moraes entendia da vida, de amores, de paixão. Ou seja, de futebol. O jogo que ganha vigor numa mesa de bar ou num debate esportivo na tv.

Mauro Pandolfi

A vida passa, vou envelhecendo, o tempo fica mais exíguo e continuo me enredando em enganos. Na vida e no futebol. Desconfiado do time de Tite, me encantei com o segundo tempo contra o México. Insinuante jogo! Rápido, envolvente, moderno. Quase suspirei de paixão. Acostumado com Tite e com meus equívocos, fiquei em silêncio, em dúvida com que vi, reticente. Ainda bem que não me empolguei. Aquele segundo tempo foi um acidente, como dizem, um ponto fora da curva. Repetia as eliminatórias. Mas, a seleção na Copa é o que foi contra a Bélgica: a frágil organização desmontada por um time móvel, arisco, rápido, a ausência de armadores, de um inexistente jogo coletivo de ataque, de saída de bola, de inteligência e que sobreviveu de individualidades. Uma seleção, um jeito de jogar, que se repete há várias copas. Tite se perdeu 'na coerência', nas 'convicçõ, na demora para entender a mudança do 'ciclo' do futebol e na falta de opções. Sem lucidez 'organizacional', o time mostrou somente um lance pensado, desenhado na prancheta: a bola de Philippe Coutinho para um meia entrar por entre as linhas. Deu certo duas vezes, com Paulinho e com Renato Augusto. Muito pouco, quase nada, para quem sonhava com o título.
O fim de um ciclo de futebol dentro da Copa. O belo jogo entre Espanha e Portugal foi o espetáculo derradeiro de um jeito Guardiola de jogar. A segunda rodada expôs a nova maneira tática do futebol. O desprezo pela posse de bola, a objetividade para o gol, as defesas sólidas depois do resultado alcançado. Quem entendeu as mudanças foi Roberto Martinez, da Bélgica. A partida contra o Japão foi fundamental na observação. Mudou a Bélgica. Contra o Brasil modificou a ação de seus três principais jogadores. Inverteu jogadas, transformou Fellaini num marcador implacável. Quando Tite percebeu, já estava 2 a 0. No segundo tempo, Martinez consolidou a nova maneira de jogar. Atrás da linha da bola, seguro, saídas, cada vez mais raras, de contra-ataque, deu a bola ao Brasil e confiou em Courtois. Deu certo! Bélgica e França será o jogo que definirá os novos rumos do futebol. Força, rapidez, objetividade, movimentação e muita defesa. O jogo de Pep Guardiola já virou saudade. Que pena!
É hora da análise ou das 'caça às bruxas'. do Brasil. De encontrar vilões, os responsáveis por mais um fracasso. O nome preferido não é do treinador. Que parece será um 'sobrevivente'. É um bom sinal? Demonstra maturidade ou falta de opção? Tanto faz. Porém, Tite tem que entender os seus equívocos, Nem sempre os 'amigos' são as melhores opções para buscar a vitória. Tem de buscar o novo ou insistirá com os 'velhos'? É mais um dilema brasileiro. O que adiantou levar Cássio, Geromel e Taison? Nunca foram opções. Não teria sido melhor levar jovens, com Arthur, Vinícius Jr, Rodrygo, Éverton, Paquetá ou Luan? Teriam a experiência de viver uma grande competição, a pressão imensa da Copa. Renovar com Tite é preservar ideias, conceitos, atitudes. Ou, a troca é necessária para mudar tudo outra vez, na velha solução de clubes brasileiros? A decisão é da cbf, a entidade que deveria ser extinta. Isto é uma outra conversa.
Quem será 'caçado'? Os jogadores. Alguns deram adeus à seleção, pela idade ou pelo 'fracasso'. Fernandinho é um candidato a vilão ao lado de Gabriel Jesus ('como pode um centroavante que não faz gol?', berram os especialistas) e Alyson, o goleiro que não resistiu ao nervosismo e a pressão. Mas, nenhum terá a cobrança como Neymar. Não será devorado inteiro. Será em partes, mínimas partes, para doer mais, machucar mais, tripudiar mais. Ele sabe como são tratados os que perdem neste país. Neymar já conhece esta 'fogueira'. Já foi incinerado outras vezes. Neymar terá uma história parecida com a de Messi - um gênio sem títulos mundias -.ou a reverterá como Pelé, que de acabado em 1966 foi genial em 1970? O tempo, as copas, a vida dirá.
Estranho fenômeno é Neymar. Genial e genioso. Mais odiado do que amado. Virou a 'Geni' mundial. Há lucidez nas críticas, há inveja, rancor, também. Ator, simulador, piscineiro, imaturo, boçal, mimado, playboy, arrogante, soberbo, ostentador, festeiro, sem responsabilidade, sem comprometimento, individualista. Foram algumas das definições que li, ouvi, sobre Neymar. Quase todas injustas e cruéis. Estou impressionado, não sei se a idade que me faz observar melhor, com a imensa pressão de uma Copa do Mundo. Nem Tite resistiu. Neymar também sucumbiu. Não sei se suas atitudes são de imaturidade ou tentativa de suportar a pressão? Não sou psicólogo, como a maioria dos jornalistas esportivos e congêneres, comentaristas de rede sociais, para esta avaliação. Não lembro de um jogador tão odiado como Neymar. Raro leitor de auto ajuda - o futebol é a minha auto ajuda -, arrisco uma frase óbvia, táo óbvia, que pode ser dito por picareta qualquer, inclusive eu: o ódio, também, pode ser uma forma de amor. Um amor envergonhado, dissimulado, medroso, cheio de preconceito, um amor vadio..