sexta-feira, 26 de novembro de 2021
O sonho e a batalha
sexta-feira, 15 de outubro de 2021
Solidão, queda, silêncio
segunda-feira, 20 de setembro de 2021
Um brinde ao tempo
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
O passado mora ao lado
domingo, 18 de julho de 2021
Gigantes
sexta-feira, 25 de junho de 2021
Sonhos, memórias, os duelistas...
Os duelistas
"As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida".
A poética de Mário Quintana é um belo retrato de minha frustração com os mitos modernos do futebol. Lionel Messi e Cristiano Ronaldo nunca jogaram juntos, nunca trocaram um passe, nunca se abraçaram depois de um gol. Vivem a vida em um duelo de poesia, como se fossem metades de uma bola.
Mauro Pandolfi
Pênalti! Onze metros para o fuzilamento. A bola, o gol, o goleiro, o matador. A rede da trave não é de proteção. É do balanço que encanta as almas dos amantes do jogo. Os lances são idênticos, quase iguais. Olhares diferem os duelistas. A certeza e o medo. Há tempos que Cristiano Ronaldo e Lionel Messi travam um duelo de genialidade, eficiência, imortalidade. Desta vez, Cristiano Ronaldo venceu. Marcou três gols em De Gea, para alguns o melhor do mundo. Messi perdeu para um goleiro que dirige filmes. Olhando a batida, a defesa, fico em dúvida: mesmo mostrado ao vivo para o mundo, suspeito de uma montagem do diretor! Não estou convencido do erro de Messi. Em tempos de teoria de conspiração, contribuo com esta.
Cristiano Ronaldo tem a leveza de um pássaro. Flutua, voa, sem pressão. Todos querem ver o seu jogo. Ele flui em campo. Anda pelos lados, pelo centro, toca a bola com a certeza do passe, do gol. O futebol em Cristiano Ronaldo é um jogo de acertos. E, como acerta. É trivial marcar de pênalti. Incomum é o erro de De Gea no segundo gol. Genial foi a cobrança da falta. Do olhar de águia, do suspiro mágico, precisão, da bola em curva, da rede balançando, do rosto feliz. O tempo aprimorou Cristiano Ronaldo. A intensidade do jogo substitída pela inteligência. Ele não é só o maior finalizado da história. A Copa pode transformar Cristiano Ronaldo no maior de todos os tempos. Ou, no mínimo, o herdeiro legítimo de Pelé.
Lionel Messi também lembra um pássaro. Mas, não tem leveza no vôo. Suas asas carregam um país, uma obsessão, uma injusta comparação. O defeito de Messi é sua genialidade. Acreditam que a sua presença é o sufciente para vitória. Não importa o time, a organização, os parceiros. Basta Messi. Há quatro copas que é assim. Há quatro copas que a Argentina fracassa. É também o fracasso de Messi. O ferrolho islandês, este moderno sistema defensivo de fechar a área, roubar todo espaço, a retranca retrô, anula o movimento ofensivo de toques curtos, rápidos, bonitos. Sampaoli tirou Messi de perto gol. Aos invés de jogar atrás da última linha, o o colocou na frente da segunda. Sampaoli não errou. Era a única chance de talento, vivacidade, imaginação, lances ofensivos de seu time. A vitória esteve nos seus pés. As faltas foram parar longe, sem perigo. O pênalti já estava perdido no seu olhar. Não havia confiança. Havia o medo. O futebol em Messi é um jogo de acertos e erros. Contra a Islândia, errou.
Cristiano Ronaldo foi estupendo. Lionel Messi foi comum. Portugal e Argentina tiveram o mesmo resultado. Um empate heróico e um empate devastador. Todos esperam Portugal nas oitavas. Muitos desconfiam da Argentina na próxima fase. Cristiano Ronaldo já fez o suficiente nesta Copa para ganhar mais uma vez o prêmio de melhor do mundo. Quase ninguém acredita em Portugal. O título será uma surpresa maior que a Eurocopa. Uma façanha que nem o gigante Eusébio conseguiu. De Lionel Messi espera-se apenas o título. Pode vencer os 'os outros duelos' contra Cristiano Ronaldo. Pode fazer muitos gols. Transformar a 'água em vinho', subverter a lógica do fracasso, inventar um finalista. Se não for campeão, será um símbolo da derrota. Para os argentinos sempre menor que Maradona, Kempes...
quarta-feira, 19 de maio de 2021
O Maquinista da poesia
segunda-feira, 19 de abril de 2021
À sombra da estátua
segunda-feira, 22 de março de 2021
Losers
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021
O brasileiro Sócrates. Memórias...
Sócrates!
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
Outras memórias: Reinaldo!
"Eu quero um gol de meia-bicicleta de Reinaldo para tatuar na pele da lua e tomar o lugar de São Jorge com seu cavalo, para que os namorados e os ex-namorados, os amantes e os ex-amantes, de todas as idades, digam uns aos outros, apontando para a lua:.
Olhe só o que pode um homem, mesmo quando está caído".
Roberto Drumonnd foi o cronista que melhor decifrou a genialidade de Reinaldo. Drummond é o apaixonado que torcia contra o vento que balançava a camisa do Galo estendida no varal.
Mauro Antônio Pandolfi
Lembrei de Reinaldo hoje de manhã. De seus gols mágicos, do punho erguido da rebeldia, de sua inteligência apurada. Nunca vi um centroavante como ele. Romário tinha a capacidade de finalizar de Reinaldo. Careca, a imensa habilidade. Ronaldo, o controle do espaço. Reinaldo era todos. Foi intenso, tão imenso, durou tão pouco. Muito pouco. Quase nada. Apenas os atleticanos, os mineiros, os apaixonados pela arte do gol bem elaborado, esteticamente perfeito, reverenciam. Não chegou no topo do mundo. Os joelhos destruídos impediram que a glória e o talento o tornasse um Messi ou Cristiano Ronaldo. Mas, ele era, no mínimo, no mesmo nível. Quem sabe, superior. Delírio de fã? Pode ser. No entanto, Reinaldo era extraordinário.
Do nada, bem aleatório, uma página do feicebuque mostrou lances, dribles, gols de Reinaldo. É o dia de seu aniversário. 64 anos. Bah! Meus ídolos já estão velhos, como eu. Onde foi parar o tempo que imitava, sem sucesso, Reinaldo? Queria encontrá-lo! Não tinha a intenção de republicar um texto. Entretanto, a bela saudade, o encantamento que tinha com Reinaldo, mudou a minha opinião. Republico com alma lavada e enxaguada de emoção.
O Rei
Mauro Pandolfi
Era um menino com cara de anjo, um moleque de cabelos enrolados, feliz com a bola nos pés. Brincava com ela. Seus dribles eram versos livres, soltos. E, os gols? Obras de arte! Foi um rei tão mágico, tão elegante, tão contestador. Um rei rebelde, como são rebeldes todos os guris que nasceram para jogar bola. Um rei de um povo apaixonado, que gritava em coro o seu nome. Rei de um tempo distante, perdido no passado, encontrado nas memórias de quem viu jogar, nos arquivos do you tube. José Reinaldo de Lima está de aniversário neste 11 de janeiro (59 anos). Estupendo jogador que disputava o 'trono' com Falcão e Zico. Um guardanapo era um latifúndio para ele. Hábil e cerebral. "Ei, ei ,ei! Reinaldo é nosso Rei!". Os gritos da torcida do Galo ainda ecoam quando o Mineirão fica em silêncio.
O punho cerrado da revolta. O braço erguido da contestação. A doce corrida pelo gol. Reinaldo era um inconformista. Rebelde de gestos e lances. Um atrevido! Tinha prazer em incomodar. O garoto sem meniscos, sem medo, com talento. Abusado, desafiou a ditadura militar, pediu eleições diretas, livres e anistia. Tinha um jeito anárquico de ser. Leitor de Proudhon e Freud criticou o conservadorismo comportamental da vida brasileira, da família, da imprensa. Um libertário! Reinaldo era doce e melancólico. Tinha cara de anjo. No futebol, terminou como um anjo caído
Aos 13 anos foi tirado de um treino após uma sequência de dribles em zagueiro titular do Atlético. Medo da violência. Violência que o abateu aos 15 (operou um joelho), aos 16 (cirurgia em outro joelho), sempre bateram nele. Reinaldo não resistiu aos pontapés, as dores insuportáveis nos joelhos. Jogou em alto nível até os 27 anos. Depois, perambulou mais sete anos por aí. Era só uma lembrança do Rei.
Tornou-se político nos anos 80. Um parlamentar comum, sem expressão. Tentou ser técnico. Não conseguiu. Sumiu. Parecia um exílio. Até ser preso, acusado de tráfico. Foi driblado pela vida. Não sei onde anda Reinaldo. O que faz? Quem é hoje? No dia que escolhem o melhor do mundo, eu lembro dele. Estou triste. Era um jogador para o planeta, para sempre, eterno. Não foi! Guardo na memória o mais fantástico centroavante que vi jogar.