terça-feira, 29 de setembro de 2015

Só um sonho!


Mauro Pandolfi

Quatro clubes na Série A. O milagre de Santa Catarina. 2015 um ano que nunca terminará. Um sonho! A geografia mudando o futebol brasileiro. Amigos e parentes de outros estados pediam-me explicações para este feito extraordinário. Falei em profissionalismo, organização, um campeonato estadual competitivo, a estrutura econômica das cidades catarinenses. Ouviam-me atentamente. E, perguntavam: 'É tudo isto, mesmo?' Eu respondia: 'Sim! Vem mais por aí! Tem o Criciúma, que voltará, o Inter de Lages e o Metropolitano. Seremos sete, não apenas quatro'. Não era soberba! Era orgulho, felicidade. Mas...
2015 chegou! A bola começou a correr! Logo notei que não era bem assim! Um campeonato estadual medíocre, desorganizado, deficitário, bagunçado e um campeão no tapetão. Problemas com registros de jogadores. Clubes perderam pontos importantes. O título foi 'um brinde' no tapetão. E sumiram com o troféu na maior cara de pau.  Estádios que lembravam um Coliseu (sem nenhuma glória antiga como o romano) decadente, caindo aos pedaços. Raras partidas de boa qualidade. Era um aviso. Eu não percebi!
Um domingo de maio. A façanha histórica começa. Jogos após jogos, os problemas se revelaram. A boa organização era um engano. Continuamos tão desorganizados como sempre. Quase amadores. Os times montados como uma aposta. Velhos medalhões decadentes a procura de uma aposentadoria confortável. Carlos Alberto, Richarlyson, André Lima, Fabrício deram pouco retorno. Eternos reservas nos grandes clubes que não se importaram em sentar no banco em Santa Catarina. Elias, William Barbio, Celsinho, Ricardo Bueno, Claudinei raramente jogaram. Quase uma centena de jogadores foram contratados pelos nossos times. Ocuparam vagas de jovens jogadores promissores que se tornarão só promessas.  Que pena para estes guris!
E, os treinadores, hein? Tivemos de todas as matizes. Dos jovens aos velhos enganadores. Dos trabalhadores aos bons de bico. Grilos falantes que nada diziam. Contratações e trocas equivocadas deixaram os quatro clubes a beira do rebaixamento. O Avaí foi o mais lúcido. Espantou a preguiça de Geninho pelo pragmático Gilson Kleina. O Joinville foi trágico nas suas escolhas. Sacou o ótimo Hémerson Maria pelo perdido Adilson Batista. Ao perceber o erro, apostou num discípulo de Luxemburgo. PC Gusmão foi de um futuro brilhante a um passado sem glória.
Já a Chapecoense trocou o convencional de Vinícius Eutrópio pelo 'trabalhador' Guto Ferreira. Ele vai repetindo a sua trajetória de Florianópolis. Tomara que, pelo menos, tenha gostado das churrascarias de Chapecó. Mas, ninguém foi tão equivocado como o Figueirense. Argel Fucks abandonou os seus 'soldadinhos' em busca de uma 'tropa de elite'. Errou feio!  Argel Fucks, ainda, é só um sargento. Falta muito para ser um capitão Nascimento. O Furacão caiu na lábia, na fala mansa de um esperto da bola. Renê Simões não foi o comandante esperado. É pouco mais que um lírico, para ser suave. Hudson Coutinho tenta o milagre. Será possível? O impossível não existe. Basta o Vasco, Goiás, Coritiba serem mais incompetentes que os nosso clubes. E, eles estão trabalhando com afinco para isto. Força, clubes!
Ser campeão brasileiro é um delírio. Não temos força. Não somos ousados. Somos pouco mais que médios. Lutamos pela segunda página da tabela. Quinto ou sexto é uma façanha. Somos grandes na B. Há títulos lá e também na C. Há uma Copa do Brasil, um vice e algumas conquistas nas divisões de base. Porém, continuamos 'um elevador'. Subimos e descemos com a mesma velocidade. Não é demérito. É a nossa realidade. Os clubes temem um enfrentamento e rompimento com a estrutura anacrônica que controla o futebol catarinense e brasileiro. Um rebeldia bendita. Enquanto isto, vamos brincando de ioiô.
Eu me enganei na explicação. Foi o acaso, o acidente, os encontros, os desencontros, a incompetência dos outros. Também, a virtude de saber explorar o momento e a boa sorte. A classificação dos quatro clubes na Série A não foi por uma gestão moderna eficiente, organizada. Foi aleatória. Um mapa astral favorável e um descuido dos deuses da bola. A queda, se rebaixarem todos, é consequência de uma gestão medíocre, ultrapassada, amadora dos clubes e, principalmente, da federação.
Torço pela sobrevivência de pelo menos dois. É um número mais real para a importância do nosso futebol. O meu receio, bem pessimista, é verdade, é um tsunami para baixo, caso os quatro sejam rebaixados. Um facada mortal no orgulho.  A depressão poderá levar ao desespero. Aí, sair da A, passar pela B, chegar na C e vibrar com uma vaguinha na D. Já peguei o rosário, convidei os amigos e começo o terço: 'Em nome do pai....'

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O Jogo posto à mesa

Chiko Kuneski

Hoje tem time que manda molhar a grama. No botão encerava a tinta verde da madeira. Artimanha. Lustrava a exaustão. E assim treinava o meu time de botão. No escorregadio. Seria uma armadilha? Seria um ardil? Acho que não.

Gostava do jogo escorregadio, veloz, intenso. Armava meu time assim. Os botões tinham que ser rápidos. A bola veloz. Facilitavam o ataque. Os adversários da rua treinavam em campos travados, para toques curtos. Como na normalidade do futebol brasileiro de hoje, o zero a zero é resultado. O um a zero é alegria. A vitória do mínimo.

Nunca gostei das retrancas. Zero a zero era, e continua sendo, derrota, de quem jogou e de quem pagou para ver o jogo. Um a zero é acaso. A essência do futebol é o gol e os esquemas que o buscam incessantemente. Jogava com alas. Mais dois atacantes marcando na frente. O ataque obriga o outro a permanecer na defesa. Os pontas viravam meias, atacantes e defensores.

Quando o jogo era veloz a velocidade desnorteava as armações clássicas. A mobilidade continua desnorteando times e técnicos dentro de campo. Gosto da mesa de botão pelo olhar tático que permite. Gosto dos movimentos sem bola. Do jogador que joga com o olhar. Com a destreza. Com a compreensão do futebol.


No botão sempre faltava o craque. Nos campos do Brasil continua faltando. No campo o drible muda a história da partida, desalinha, danifica esquemas, faz a torcida vibrar, com ou sem gol. Meu craque no botão era o “estrelão” encerado. Desconcertava pela velocidade mágica do inusitado.

A partida

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Errar é humano!


Mauro Pandolfi

Casablanca. Cena da parte final do filme. Um militar entra no bar de Rick e diz ao comandante que não identificou o suspeito. O que fazer? perguntou. O comandante respondeu cinicamente: Prenda o suspeito de sempre!  No clássico Corinthians e Santos, domingo de manhã, a cena se repetiu como farsa. Sem saber quem cometeu o pênalti, imagino que o árbitro Flávio Rodrigues Guerra foi perguntar ao bandeirinha Rogério Pablos Zanardo quem deveria expulsar. Ele deve ter respondido o seguinte. 'Não vi. Expulsa o de sempre'. O árbitro pensou. 'O  Werley já foi para a rua. Então, vai o David Braz, mesmo'. E, assim foi feito. O 'erro humano' do juiz não interferiu no resultado do jogo, segundo os comentaristas. O segundo gol saiu aonde deveria estar David Braz. Azar do Santos!
Ética é um devaneio de poeta já decretou o filósofo do futebol Eurico Miranda. Foi um espetáculo de canalhice este jogo. O pênalti aconteceu . Chutaram a perna de Wagner Love. O árbitro disse que não viu quem cometeu a falta. Nem ele, nem o bandeirinha. Como marcaram? Por intuição? Por insolação? Por obrigação? O lateral Zeca ficou na moita, quieto, escapou da punição. Não ligou quando o companheiro foi expulso.  Típico malandro sem caráter. O jeitinho brasileiro de ser esperto. Comentaristas de arbitragens e jornalistas explicam o equívoco como 'erro humano'. Se há erro, cadê o pedido de desculpas? O alemão Knut Kircher reconheceu o erro ao marcar um pênalti a favor do Bayern contra o Augsburg. "Pedi desculpas aos dirigentes e jogadores. Infelizmente, não dá para devolver os pontos", afirmou o árbitro.
Após o jogo Flávio Guerra afirmou que expulsou David Braz por ofensas morais.  Quatro minutos entre o lance e a expulsão. Na manhã de segunda-feira, no programa Redação Sportv, divulgaram imagens que desmentem as declarações. O bandeirinha confirma que foi o David o autor do pênalti. Na súmula do jogo, lida por André Risek, Flávio Guerra reafirma a expulsão por ofensas. David Braz refuta a acusação. Ficou um jogo de palavras. Dois cínicos. Dois pequenos canalhas de um esporte cada vez mais mafioso, num país cada vez mais mafioso.
O árbitro é o déspota do jogo da bola. Manda e desmanda. Manipula os lances. Altera o ritmo, o resultado. É uma autoridade. E, como toda autoridade neste país, mente descaradamente. Não erra. Flávio Guerra apenas repetiu o poder. Negou o fato, ignorou a imagem. Mentiu! Está apto para se tornar um político. Além disto, foi desonesto na súmula. Manteve a sua falsa versão. Realmente, pronto para uma eleição.  Eu, um idiota ingênuo, estou em dúvida com a arbitragem brasileira: há mais 'acertos' ou erros humanos?

domingo, 20 de setembro de 2015

O circo do futebol na lona

Chiko Kuneski

A grande magia do circo, e o futebol nada mais é que um grande espetáculo circense com seus malabaristas do drible, trapezistas das traves, a ilusionista bola e os palhaços, cada vez mais se desmistifica. Nós, os palhaços, já não trabalhamos mais nos picadeiros do futebol brasileiro. Estamos nas cadeiras dos estádios ou nas poltronas das casas assistindo as piores pantomimas arbitrais. Juízes e bandeirinhas (não gosto do termo assistentes) com seus gestos espalhafatosos, marcam, desmarcam, intimidam, confundem, mandam e desmandam. Manipulam. Dão rasteiras nos dribladores, cortam as cordas dos trapézios e estão acabando com a ilusão da magia da bola. Riem até dos palhaços.

São hipócritas. Mentirosos. Engendradores de ardis ditatorias. Concordo com Mauro Pandolfi: os árbitros tornaram-se os donos do circo e decidem o que pode ou não pode no picadeiro de grama. Apoderam-se do jogo, ditando e criando regras próprias que apenas dependem de seu entendimento e observação um tanto quanto duvidosa. O campeonato brasileiro (séria A e B) chega a um recorde lamentável... pelo menos um erro crasso a cada jogo. E nós, os palhaços, pagando para tudo assistir. O futebol virou um espelho opaco do desgoverno nacional.

Mas toda hipocrisia gera soberba. A soberba cria uma sensação de total impunidade. Essa sensação trai. A soberba desnuda a arrogância, que acaba levando também o dono do circo à lona. O arrogante se trai por sempre tentar vangloriar-se do desfeito. Finalmente aconteceu com a máfia do circo.

Em declarações o árbitro do jogo Corinthians e Santos, Flávio Rodrigues Guerra, tentando explicar a marcação de um pênalti, possivelmente cometido pelo lateral Zeca do time santista, que resultou na expulsão do zagueiro David Braz, longe do lance, traiu-se textualmente:

Eu demorei um pouco para marcar. O assistente 1 (Rogério Pablos Zanardo) vê claramente o pênalti. Na hora que eu marquei, o jogador veio na minha direção, com ofensas morais”.  Se o zagueiro do Santos ofendeu, como relata, por que o juiz não o expulsou em ato contínuo. Ao contrario, foi conversar com o bandeirinha e voltou com o cartão vermelho em punho.  Afinal... para quem foram as tais ofensas verbais proferidas? Depois ainda tentou justificar:

“A gente ficou na dúvida de quem fez o pênalti, tinham dois jogadores no lance (as imagens mostram que era somente o lateral Zeca). A gente não conseguiu identificar quem fez o pênalti. A gente tem o rádio, mas estava muito barulho e não ouvia o assistente. Fui até ele e perguntei. Ele (Rogério Pablos Zanardo) me respondeu: "Flávio, eu não sei, não consegui perceber quem fez o pênalti". 

Ai está o máximo da hipocrisia arbitral tentando uma defesa por pura soberba.

Se o próprio juiz admite que no lance do pênalti tinham dois jogadores do Santos conta o atacante adversário, mas nem árbitro, nem “assistente 1” (bandeirinha) sabiam quem fez a falta capital como tinham convicção que houve pênalti? Se não viram o jogador que fez a falta como viram a falta? Viram o quê? Um lance não visto? Um incerteza? Uma ilusão de ótica? Um desejo acertado e necessário? Que espetáculo os dois donos do circo estavam afinal comandando? Suas pantomimas hipócritas? Ou um bolão de apostas escusas?

O circo do futebol brasileiro foi à lona e os mafiosos do circo, ou os donos do espetáculo, derrubaram o mastro central com sua soberba verbal.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A regra do jogo

Mauro Pandolfi

"Aqui não tem terremoto
Aqui não tem revolução
Somos um país abençoado
Onde todo mundo põe a mão"

Premeditando o Breque cantado as mazelas do Bem Brasil.

Olhar de soslaio, de medo, da culpa. Perceba uma criança em casa, na escola, na rua. Se há este olhar, aprontou alguma. Em seguida, um adulto a encara. Olhar triscado, dedo em riste, voz alterada, a reprimenda. Nem sempre há choro. Mas, se há outro envolvido na cena, lá vem a exigência do pedido de desculpa. O outro, desconfiado, aceita. Já fiz isto com os meus filhos. Agi certo? Não sei! Há tempo que reflito sobre a vida, as minhas atitudes, pensares. Questiono valores, ideias e ações. A culpa e o perdão são as questões que me provocam reflexões, angústias, dúvidas, arrepios. Às vezes, penso em errar mais. E, não mais pedir desculpas. Que se exploda o erro!
Somos movido pelos dois. Somos o que somos pelos dois. A vida é moldada pelos dois. Dizem que é educação, faz parte parte do processo civilizatório. A culpa é um componente da infelicidade. E, o perdão, é da felicidade? Cobramos do filhos, dos outros, de nós mesmo. No entanto, as autoridades ignoram este processo. Nunca erram. Não precisam pedir perdão. O futebol também é refém deste condicionamento. Torcedores, jogadores, treinadores, choram, clamam perdão, uma nova chance. Os árbitros ignoram. Não erram. Não se enganam. Há os defensores. Os comentaristas de arbitragem sempre justificam os erros. É como se justificassem os seus enganos anteriores.
O bom e ardiloso texto de Chiko Kuneski sobre os mafiosos do circo me desconcertou. Não sei se sou só um ingênuo ou um idiota que acredita na lisura das coisas. Penso primeiro no erro do árbitro. Mas, numa sociedade que a tudo desculpa, nunca há um pedido formal de perdão. Nenhuma lágrima é derramada. Há a soberba tentando a justificativa do equívoco. São seres superiores. Tão certeiros como as autoridades. Há erros em quase todos os jogos. Os mesmos árbitros repetem, sistematicamente, os mesmos equívocos. Os olhares eletrônicos são mais rápidos, loquazes que os nossos precários dois. Os meus, de míope e com degeneração macular, acertam mais os impedimentos dos que alguns bandeirinhas. O texto do Chiko revela-me uma dúvida: erro ou roubo?
Eu gosto do refrão da música Bem Brasil, do Preme, que está acima do texto. Brasil é um país autoritário à esquerda e à direita.Qualquer guarda de quarteirão tem poder. Manda e desmanda no seu espaço. Imagina um árbitro de futebol. É o dono da regra do jogo. As leis são suas. Tem o poder da expulsão, da intimidação, do resultado. Manipula o jogo. Mais  faltas, menos faltas, mais bola corrida, mais truncada a partida. É soberano, sem oposição. Autoritário!
Rouba-se sem pudor no Brasil desde a colônia. Levaram - continuam levando - madeira, ouro, pedras preciosas, dólares, petróleo, plantas, múltiplas coisas. Tanto a esquerda como a direita são mãos rápidas, ligeiras. O número das digitais são importa. O butim é grande. A vigarice começa numa campanha eleitoral, revela-se nos atos de governo e, se ameaçado, acusam os outros de golpistas, quebra-se o país. Gritam-se histericamente nas ruas: Fora! E, a patuleia que pague a conta. Assim é o Brasil. O futebol deveria ser diferente?
Deveria! É um jogo forjado na infância. Moldado em arte e esperança. É mais que um teatro de grama e paixão. É cultura. Está marcado na alma, no sonho, no desejo. Mas, é um olhar triste do Brasil. Não é trágico. É só cínico. Repare os nomes do futebol! Havelange, Teixeira, Miranda, Marin, Del Nero, Sanchez, Delfim, tantos outros. Jogo limpo? Dinheiro lavado, sim! Então eu perdi o meu tempo? Chorei por gols anulados, validados em impedimentos claros, expulsões absurdas, derrotas incríveis, vitórias mágicas. O impossível não existe no futebol. Será mesmo?Tudo é uma armação? Jogos encenados? Só teatro? Cadê a grama e a paixão? Qual é a parte que nos cabe neste circo?

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Os mafiosos do circo

Chiko Kuneski

Recente escrevi sobre a ilusão da bola. (Clique para ler) Sua trajetória enganadora. Suas nuances que justificam o erro do mais sagaz olhar humano. Até a bola, ilusória, criada por minha imaginação futebolística, me iludiu. Mesmo a magia da bola de futebol mostrou-se dominada pelo olhar oblíquo dos árbitros. Para eles, não há bolas. Existem bolões.

Nem mesmo meu olhar pueril consegue mais ver os descalabros arbitrais como um ardil da bola. Ardis se mostram os Homens. Os que seguram as flâmulas quadradas. Os que intimidam técnicos, num homem a homem a linha do campo. Os que apitam.

Bandeiram. Intimidam. Apitam para si. Para seus resultados. A bola não mais os traem malabaristicamente. Roubam até isso da bola. Da bola, do jogador, do técnico, do torcedor. No Brasil os árbitros de futebol tornam-se ministros de governo. Desgovernam. Mudam regras e resultados.

A bola, no seu mais puro ilusionismo, ainda precisa da genialidade, da criatividade, da magia do jogador. No passe, no toque, no drible. O logro arbitral depende exclusivamente da vontade, ou, necessidade de errar. Da má fé.

Como já se comprovou na Itália, a corrupção de governos não joga distante da corrupção das arbitragens. Olha-se o mapa. Detecta-se como furtar. Cria-se os mecanismos. Depois basta a pessoa certa no lugar certo. Rouba-se.

Não é mais a bola que ilude, ludicamente, o olhar despreparado dos árbitros. É o olhar ganancioso e corrupto deles que está nos enganando. Como acontece com o governo, estamos sendo roubados no futebol. Nós, torcedores, independente dos times. A bola é mera ilusionista. Os juízes são mafiosos donos do circo.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A ilusão da bola

Chiko Kuneski

Se puder comprar o olho humano a algo vivo seria com uma bola de futebol. Mas o olho é mais rápido, mais sagaz, mais intenso. Dos cinco sentidos é o que chega antes. Que decodifica emoções. É esférico como a bola. Rola como a bola. Muda de direção como a bola. Às vezes, pela bola.

São esses olhares que seguem a bola num jogo de futebol, tentando decodificar seus mágicos movimentos, suas trajetórias, seus logros no conceito espacial. Mas cada olhar da mesma bola é uma visão diferente dela. O jogador tem o olhar dominante. O técnico o olhar perspicaz. O torcedor o olhar encantado. Os juízes o olhar aflito.

A velocidade da bola é maior que o flash do olhar arbitral. A bola é uma ilusionista de juízes e auxiliares (eu ainda prefiro bandeirinhas) que brinca de enganar o mais fixo e atento olhar dos “homens de preto”. A bola é como o mágico do circo que mostra escondendo; esconde mostrando. Ludibria com inventivos percursos não planejados, rotações inusitadas, translações desconcertantes, até para o veloz olhar humano.

Como diz o poeta: a bola “tem o dom de iludir”. Matreira, parece divertir-se com as ilusões ópticas que cria. Excita, ínsita, instiga a busca do olhar que desvende a magia pelo puro prazer de saber-se admirada. É uma criança brincalhona que traquina com a seriedade dos árbitros.


Esses ficam atônitos, enganados, perdidos num espaço lúdico demais para o olhar ranzinzo e tão atemporal como as pesadas armações dos óculos dos míopes. Cada vez mais a bola os ilude, mas, turrões, insistem em não ver que precisam começar a usar outras lentes. 

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Aprendiz de feiticeiro


Mauro Pandolfi

Um time de futebol em campo. Reparem em suas linhas. Percebam a movimentação. Há algo de arte neste conjunto. Tudo planejado. Retas e curvas. Um arquiteto desenhou isto. Há marcação no espaço. A movimentação é coordenada. Um lado vai. O outro, fica. Há diálogos, luzes e poesia. Cenas de um diretor de cinema. Acompanha de perto. Em cima. Orienta, gesticula. Um professor. O suor, o grito, o desespero. O olhar atônito, perplexo. O elogio e o xingamento. Um sargento sem farda. Todos em um só. O treinador de futebol é um artífice. Um artesão de ideias, movimentos, deslocamentos e invenção. O futebol é um jogo solitário, desenvolvido pelo coletivo. Há tempos que deixou de ser onze contra onze. É agora um duelo. De estilos, pensares, jeitos. O futebol é uma disputa entre treinadores. Um contra um.
O treinador é o personagem que desperta  a minha atenção durante o jogo. Largo a partida, deixo fluir, e encaro o técnico. Presto atenção em seus gestos, atitudes e ações. Como reagir ao cerco imposto pelo adversário? Como conseguiu encaixotar o o oponente? Encanta-me a habilidade do técnico de aproveitar melhor o talento de seus craques. Também, fico surpreso com a capacidade de anular o talento de seus craques. Tão poderoso que torna o jogador um submisso. Nem o craque o contesta. Sempre escuto as entrevistas após os jogos. Ouço as explicações, as desculpas, as justificativas, os pensares. São sempre vencedores.
Magos, mágico, aprendizes de feiticeiros. Como disse Oto Glória, lenda do futebol são "bestas e bestiais. Depende do jogo".  Chamados de técnico e treinador. Há diferença ou é semântica? Para Eduardo Galeano, o sábio uruguaio do futebol, há e bem definida. "Treinador é o que deixa o jogo fluir, pensa o jogar. Técnico é o que trabalha o jogo, determina o jogo". Quem vocês preferem?
A mão no queixo. Um pensador. Analisa o movimento, a atuação, o cerco e a saída. Pep Guardiola é quem melhor materializa o pensar do jogo. Seu time flui, flutua, ataca, defende com uma estética irresistível. Habilidade, força, técnica, poder mental e muita beleza. Guardiola é quem melhor decifra a emoção do futebol atualmente. Tão moderno que resgata o antigo. Não como saudade. Sim, como uma nova arma. Seus 'pontas' tem só a habilidade e a velocidades dos velhos ponteiros. São algo mais. Tem a fúria do ataque, a precisão dos meias e a segurança dos defensores. E, pensar que Guardiola se ofereceu para treinar o Brasil. Mas, aqui a vanguarda do atraso é insuperável.
Velhos mestres estão se aposentando. Alguns, por entender que seu tempo terminou. Outros, estão sendo tirados a força de seu conforto. Alguns resistem, adquirem um discurso moderno, atualizado, que dura dois ou três jogos e vão sobrevivendo de clube em clube, divisão em divisão até se perderem na estrada. Os mais espertos procuram lugares poucos explorados. Lá, sobrevivem como mitos. E, o novo sempre vem. Há Tite, nem tão novo, Marcelo Oliveira, Roger Machado, Milton Mendes, Eduardo Batista, Dado Cavalcanti, Mabília, Fernando Diniz, Hémerson Maria, Léo Condé, entre outros desconhecidos, pronto para serem descobertos. São histórias e conceitos diferentes. Porém, serão eternamente fabricantes de paixões e emoções. Pois, assim é o futebol.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A bola

 Mauro Pandolfi

"O que é a vida?"
                        Antônio Abujamra

Ele mira a bola. Acaricia. Olha firmemente. Lança ao alto. Sobe rápida.  Desce lenta. Domina. O sorriso é irônico.  Toca de calcanhar. Um drible mágico. Sobe lenta. Desce rápida.  Controla. Os movimentos são rítmicos. Dança e balé.  Que fascínio exerce a bola? Qual é a ilusão que desperta este brinquedo redondo? Cenas de Pelé ou de Maradona? Pode ser! Momentos de Messi ou Neymar? Quem sabe? Cenas de um gênio. E que gênio! Charles Chaplin, em O Grande Ditador, brincando com o globo. O globo que explode em suas mãos.  A bola é para a festa. Não para a guerra.
A descoberta. Uma criança feliz brinca com a bola. Sorri! Segura firme em suas pequenas mãos. Joga para o céu. Vibra com o primeiro salto. Bate palmas no segundo pulo. Chora ao ver a bola correr rápida pela calçada, indo embora. O sorriso retorna ao ter a bola em suas mãos. Vi estas cenas nos meus filhos. São todos pequeninos Carlitos.
Era um menino, era um moleque. A bola que rola macia, redonda, num campinho improvisado, como arte, como diversão, pode ser o sonho, a esperança de transformação. Vejam os mitos. Verifiquem suas origens. "Tudo o que sou devo ao futebol". A frase é de Albert Camus. Poderia ser de qualquer craque. A bola é um auxilio luxuoso. O legendário Alfredo di Stefano sabia disto. Na sua casa havia um monumento à bola: "Gracias, vieja!" .
A bola pode ser uma metáfora da vida. É necessário ter a segurança de um goleiro para não deixa-la escapar pelos dedos? É preciso a habilidade para driblar as traições, as dificuldades, as retrancas? Só uma boa tabela, com bons companheiros, fazem da vida uma festa? O tempo vai revelar ao menino os segredos da bola, o encanto da vida. Ele vai descobrir que as incertezas e as dúvidas dão calor, alegria, ilusão a existência. Fuja dos cheios de certezas, dos donos da verdade. É assim, também, no futebol.
Eu e a bola. Parceira da infância, desejo de juventude, instrumento de trabalho, objeto de prazer neste blog. No sofá da sala, a tevê é o meu estádio, a bola é a companhia de um velho inquieto e curioso, desesperado por um bom jogo. É ótimo vivenciar os versos rimados de Messi. Ele é, atualmente, o meu escritor favorito.