quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Gol de Pelé!!!

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O Grêmio não é uma estátua


"Estávamos uniformizados. Havia um silêncio sepulcral. Eu olhava para todos como querendo pedir socorro. De repente, a porta abre, entra um tipo com uma capa e uma touca escura. Ele começou a andar e a cumprimentar todo mundo. E neste segundo, antes de chegar até mim, fecho os olhos, coloco as mãos para trás e deixo passar o ditador sem dar a mão para mim".
Poucos jogadores brasileiros repetiriam o gesto de Carlos Caszely. A maioria, Renato entre eles, abraçaria o ditador, ou candidato a ditador, e até fariam uma selfie com ele.

Mauro Pandolfi

Renato faz parte da minha vida. Está marcado para sempre em meu coração e alma. Com Andre forma o nome de meu primeiro filho. Renato foi responsável pelos melhores dias do futebol. Vibrei com o balão mágico que encontrou César na final contra o Penharol pela Libertadores. Também bailei, feito um alemão, contra o Hamburgo no Japão. E, agradeço a reinveção do futebol do Grêmio como treinador. O melhor Grêmio que vi. O mais belo e poético. O 'culto' onde me abastecia de energia, emoção, a auto ajuda que me deixava, sereno, em paz, bem zen. Brincava que fazia parte da 'Portallupi Church'. Uma piada! Afinal, sei o quanto é perigoso o fundamentalismo, especialmente os religiosos, de todas as matizes, correntes e pensares. Mas, acabou! A magia terminou. A poesia se perdeu num velho jeito de jogar do Texas (como o Corneta do RW chama o futebol gaúcho). A beleza do passe foi trocada pelo balão em busca de cabeça, nada pensante, somente salvadora. Sobreviveu somente a empáfia nas entrevistas. A soberba que não entende a derrota e a transformação do clube em refém. 'Ou é como eu quero ou eu vou embora'. Espero que Romildo Bolzan agradeça os bons serviços de Renato Portallupi. O Grêmio é maior que uma estátua.
O Grêmio é maior que Renato. Maior que a sua genialidade. Como cidadão, Renato tem o direito de admirar, amar, venerar, idolatrar quem quiser. Leve para sua casa quem quiser. Não use o Grêmio como palanque para bajular o 'mito' ou buscar um tênue apoio para o lugar do Tite. Pela atitude, Renato se encaixou perfeitamente no combo da CBF. O convite ao Bolsonaro é espúrio. Expôs o clube. Despertou a ira de milhares de torcedores. Mostrou que não conhece a nossa história, de nossos ídolos negros, da Coligay, dos pobres, como Bombardão, que continuam indo a pé para ver a paixão em campo. Bolsonaro é a negaçao desta história. Seu discurso, seu governo, suas propostas, suas medidas econômicas atingem os mais vulneráveis deste país. Não torne o Grêmio cúmplice deste desmanche de país. Renato pode ser. Nunca o clube. Sempre soube que Renato não era Carlos Caszely. Mas, não suspeitava que ele era Felipe Melo.
Lembrei de José Simão depois do jogo. Basta um vínculo, um mísero apoio e Bozo Jaegger faz mais uma vítima. Depois de Macri, de Bibi Netanyahu, do impeachment de Trump, do Palmeiras e do Santos, chegou a vez do Grêmio. Azar de Renato? Não, do Grêmio!

terça-feira, 12 de novembro de 2019

As ilusões perdidas



"Ainda pior do que a desilusão de um não ou a incerteza de um talvez, é a desilusão de um quase".
Esta frase caiu no 'meu colo' - recebi no facebook - que é um retrato mais do que perfeito do meu momento de futebol, dos jogos, do Grêmio, das utopias, da vida, é da catarinense Sarah Westphal, autora da crônica 'Quase', que já foi atribuída a Luís Fernando Veríssimo.

Mauro Pandolfi.

As minhas ilusões, com a vida e o sonho, já estão perdidas desde os meus trinta e poucos anos. De tempos em tempos, me vejo tendo esperanças. Que logo passam. Dias atrás, relendo Eduardo Galeano, em seu belo livro de futebol - Aos sol e à sombra - resgatei pedaços de uma utopia que já tinha terminado na derrota contra o Real Madrid, na final do Mundial, em 2017. Ganhar era a utópico. Vivi este desejo, este sonho, esta fantasia, este delírio, exatamente igual ao jovem que sonhava com o socialismo autêntico ou um anarquismo libertário que demolia, sem deixar vestígios, a ganância gulosa do capitalismo.  Errei! Já tinha entendido que utopia é só uma utopia. Existe no imaginário. Somente no imaginário. O problema é que, às vezes, tento trazer para o real. E, aí...Equívocos, enganos, derrotas são os meus conselheiros. Acredito piamente nisto. Afinal, a minha vida é um resultado de equívocos, enganos e derrotas. E gosto de todos eles. Perder em muitas situações é melhor do que ganhar. A alma fica leve, a espinha permanece reta, o coração, sereno. idêntica a grande música de Walter Franco.
Tem momentos que viajo no tempo. Boas saudades, tristes lembranças, recordações afetivas. Domingo foi uma delas. O futebol, o Grêmio me fez viajar. Num período que escutava os jogos na eletrola da sala. Volume baixo para não atrapalhar ninguém. Tem um jogo de 1974 que me visita às vezes. Um empate de 3 a 3 com o Encantado. Primeira rodada do gauchão. Já sabia que o título seria uma fantasia. Escutei todos jogos naquele ano. O sofrimento, as derrotas, me forjaram mais gremista, mais apaixonado, mais retraído. Sempre achei que um dia seria diferente. Foi a minha utopia de futebol. E, como foi diferente. O planeta, quando ainda era uma bola, teve as três cores do amor.
Este é um tempo de vitórias. Do melhor Grêmio que vi jogar. Do time que me fazia - e faz - ficar na frente de uma tevê, como se estivesse num culto. E, é um culto! Fiquei mal acostumado com o bom jogo, fluente, envolvente, cheio de arte. Uma má partida, uma péssima performance, descuido, desleixo, soberba me irrita, me entristece, estraga o meu dia. Sou dependende da beleza, da estética, da arte do futebol. O Flamengo me encanta, me emociona. E, o Grêmio. ficou no quase em todas as competições. Exatamente igual a minha vida. Tropecei sempre no quase. Cheguei perto de tudo. Mas, fiquei no quase.
Sábado as memórias tiveram um outro olhar. Caminhando e escutando a canção voltei aos anos 70. A libertação de Lula lembrou-me de Brizola voltando do exílio. Uma espécie de esperança batendo outra vez. Não sou lulista algum tempo. Perdi o meu encantamento com ele. Porém, a história, Glenn Greenwald, a Vaza jato, mostraram que o julgamento foi uma farsa, um jogo sujo. O juiz nunca foi juiz. Nem vingador foi. Somente um cabo eleitoral, um marcador canalha que tirou do 'jogo' o craque adversário facilitando este tempo sombrio.  Não sei se recuperarei  a esperança (olha ela aí!) em Lula. Prefiro alguém diferente, ousado, com um olhar mais de futuro do que passado. No domingo, a quartelada boliviana. Milicos, fundamentalistas religiosos tomaram o poder. O passado é teimoso nestes lados. Sempre assombra América Latina. As veias abertas que nunca se fecham. Mais uma vez fico no quase. No quase sonho de um lugar mais justo, solidário, fraterno.  Esbarro nas fardas, na Bíblia, nos neoliberais sádicos e gananciosos. O medo já é, outra vez, o meu parceiro.
Se o passado assusta, o futuro é mais perigoso. No Roda Viva, Yuval Noah Harari disseca este tempo que propõe controle, ditaduras digitais, um pesadelo misturado ao sonho esquisito, o poder divino em mãos humanas. Tudo será mais fácil, preciso. Só que a perfeição é mais que uma arma quente, é sinistra, devastadora, cruel. Para Yuval só uma grande rede de cooperação global evita a tragédia.  E, possível esta rede ser efetivada? "Impossível!", responde. Yuval sabe, como eu descobri durante a vida, que as ilusões estão perdidas. Ou, quase!