"Estávamos
uniformizados. Havia um silêncio sepulcral. Eu olhava para todos como
querendo pedir socorro. De repente, a porta abre, entra um tipo com uma
capa e uma touca escura. Ele começou a andar e a cumprimentar todo
mundo. E neste segundo, antes de chegar até mim, fecho os olhos, coloco
as mãos para trás e deixo passar o ditador sem dar a mão para mim".
Poucos
jogadores brasileiros repetiriam o gesto de Carlos Caszely. A maioria,
Renato entre eles, abraçaria o ditador, ou candidato a ditador, e até
fariam uma selfie com ele.
Mauro Pandolfi
Renato
faz parte da minha vida. Está marcado para sempre em meu coração e
alma. Com Andre forma o nome de meu primeiro filho. Renato foi
responsável pelos melhores dias do futebol. Vibrei com o balão mágico
que encontrou César na final contra o Penharol pela Libertadores. Também
bailei, feito um alemão, contra o Hamburgo no Japão. E, agradeço a
reinveção do futebol do Grêmio como treinador. O melhor Grêmio que vi. O
mais belo e poético. O 'culto' onde me abastecia de energia, emoção, a
auto ajuda que me deixava, sereno, em paz, bem zen. Brincava que fazia
parte da 'Portallupi Church'. Uma piada! Afinal, sei o quanto é perigoso
o fundamentalismo, especialmente os religiosos, de todas as matizes,
correntes e pensares. Mas, acabou! A magia terminou. A poesia se perdeu
num velho jeito de jogar do Texas (como o Corneta do RW chama o futebol
gaúcho). A beleza do passe foi trocada pelo balão em busca de cabeça,
nada pensante, somente salvadora. Sobreviveu somente a empáfia nas
entrevistas. A soberba que não entende a derrota e a transformação do
clube em refém. 'Ou é como eu quero ou eu vou embora'. Espero que
Romildo Bolzan agradeça os bons serviços de Renato Portallupi. O Grêmio é
maior que uma estátua.
O Grêmio é maior que
Renato. Maior que a sua genialidade. Como cidadão, Renato tem o direito
de admirar, amar, venerar, idolatrar quem quiser. Leve para sua casa
quem quiser. Não use o Grêmio como palanque para bajular o 'mito' ou
buscar um tênue apoio para o lugar do Tite. Pela atitude, Renato se
encaixou perfeitamente no combo da CBF. O convite ao Bolsonaro é
espúrio. Expôs o clube. Despertou a ira de milhares de torcedores.
Mostrou que não conhece a nossa história, de nossos ídolos negros, da
Coligay, dos pobres, como Bombardão, que continuam indo a pé para ver a paixão
em campo. Bolsonaro é a negaçao desta história. Seu discurso, seu
governo, suas propostas, suas medidas econômicas atingem os mais
vulneráveis deste país. Não torne o Grêmio cúmplice deste desmanche de
país. Renato pode ser. Nunca o clube. Sempre soube que Renato não era
Carlos Caszely. Mas, não suspeitava que ele era Felipe Melo.
Lembrei
de José Simão depois do jogo. Basta um vínculo, um mísero apoio e Bozo
Jaegger faz mais uma vítima. Depois de Macri, de Bibi Netanyahu, do
impeachment de Trump, do Palmeiras e do Santos, chegou a vez do Grêmio.
Azar de Renato? Não, do Grêmio!
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