segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O Grêmio não é uma estátua


"Estávamos uniformizados. Havia um silêncio sepulcral. Eu olhava para todos como querendo pedir socorro. De repente, a porta abre, entra um tipo com uma capa e uma touca escura. Ele começou a andar e a cumprimentar todo mundo. E neste segundo, antes de chegar até mim, fecho os olhos, coloco as mãos para trás e deixo passar o ditador sem dar a mão para mim".
Poucos jogadores brasileiros repetiriam o gesto de Carlos Caszely. A maioria, Renato entre eles, abraçaria o ditador, ou candidato a ditador, e até fariam uma selfie com ele.

Mauro Pandolfi

Renato faz parte da minha vida. Está marcado para sempre em meu coração e alma. Com Andre forma o nome de meu primeiro filho. Renato foi responsável pelos melhores dias do futebol. Vibrei com o balão mágico que encontrou César na final contra o Penharol pela Libertadores. Também bailei, feito um alemão, contra o Hamburgo no Japão. E, agradeço a reinveção do futebol do Grêmio como treinador. O melhor Grêmio que vi. O mais belo e poético. O 'culto' onde me abastecia de energia, emoção, a auto ajuda que me deixava, sereno, em paz, bem zen. Brincava que fazia parte da 'Portallupi Church'. Uma piada! Afinal, sei o quanto é perigoso o fundamentalismo, especialmente os religiosos, de todas as matizes, correntes e pensares. Mas, acabou! A magia terminou. A poesia se perdeu num velho jeito de jogar do Texas (como o Corneta do RW chama o futebol gaúcho). A beleza do passe foi trocada pelo balão em busca de cabeça, nada pensante, somente salvadora. Sobreviveu somente a empáfia nas entrevistas. A soberba que não entende a derrota e a transformação do clube em refém. 'Ou é como eu quero ou eu vou embora'. Espero que Romildo Bolzan agradeça os bons serviços de Renato Portallupi. O Grêmio é maior que uma estátua.
O Grêmio é maior que Renato. Maior que a sua genialidade. Como cidadão, Renato tem o direito de admirar, amar, venerar, idolatrar quem quiser. Leve para sua casa quem quiser. Não use o Grêmio como palanque para bajular o 'mito' ou buscar um tênue apoio para o lugar do Tite. Pela atitude, Renato se encaixou perfeitamente no combo da CBF. O convite ao Bolsonaro é espúrio. Expôs o clube. Despertou a ira de milhares de torcedores. Mostrou que não conhece a nossa história, de nossos ídolos negros, da Coligay, dos pobres, como Bombardão, que continuam indo a pé para ver a paixão em campo. Bolsonaro é a negaçao desta história. Seu discurso, seu governo, suas propostas, suas medidas econômicas atingem os mais vulneráveis deste país. Não torne o Grêmio cúmplice deste desmanche de país. Renato pode ser. Nunca o clube. Sempre soube que Renato não era Carlos Caszely. Mas, não suspeitava que ele era Felipe Melo.
Lembrei de José Simão depois do jogo. Basta um vínculo, um mísero apoio e Bozo Jaegger faz mais uma vítima. Depois de Macri, de Bibi Netanyahu, do impeachment de Trump, do Palmeiras e do Santos, chegou a vez do Grêmio. Azar de Renato? Não, do Grêmio!

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