quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Estufar o filó!



'Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma'.

Carlos Drummond de Andrade foi um craque com as palavras. O poeta que entendeu, decifrou, amou o jogo da bola como se fosse um Pelé. Ou, teria sido um Garrincha?

Mauro Pandolfi

Ando perdendo o pragmatismo que estabeleci em minha vida. Há tempos perdi o sonho, abandonei a utopia e a esperança era só o nome de um antiga namorada. Mas, mexendo nos livros, nas caixas de anotações, nos alfarrábios, nos cadernos de Rai Carlos, redescobri a poesia. Sou apaixonado pelo lirismo de Mário Quintana. Quanta suavidade em ver a vida. Sutileza! Gosto do olhar real de Drummond. Prático, preciso, intenso. Desafio os olhos, o olhar desfocado da degeneração macular, e leio, releio. Busco os livros que já li. A exceção é Yuval Noah Harari. Ando impregnado de seu devastador olhar sobre nós, os ditos homo sapiens. Quero poesia! Alguns dos meus poetas favoritos usam os pés para escrever. Lionel Messi ainda é o meu autor predileto. Posto que Neymar, Gabriel Jesus,  Luan e Arthur devem ocupar logo, logo. Fico encantado com alguns 'versos' produzidos por 'poetas comuns'. Lances que valem mais do que o jogo. São superiores as derrotas ou as vitórias. São feitos para apreciar com a alma.
A bola longa, perdida, sem saída. Não diga isso para Berrio. Ele buscou num espaço que não existia. Ou era um latifúndio do tamanho de um lenço, como diria João Saldanha? A bola parecia escapar. Bailou! Trocou de pés. Deu uma meia lua de calcanhar. Tocou suave. Encontrou a bola do outro lado. Atônito, o jogador do Botafogo nada fez. Nem esboçou reação. O gol de Diego valeu a vaga para final. E, daí? Fiquei encantado com o drible de Berrio. Imaginei a alegria de Chiko Kuneski, o amante do drible. Vibrou com o gol ou a dança de Berrio? Eu fui derrotado pelo pragmatismo do pênalti. Nem Luan salvou a minha noite.
Apodi é um jogador diferente. Parece um Forrest Gump com pressa. Corre, corre, corre. Bem mais que a Lola do filme 'bacaninha' que sempre é repetido em algum canal de cinema. Quando surgiu, Apodi prometia ser um grande lateral. Muita velocidade, vibração, garra. Hábil, perde-se nos cruzamentos. Aqui, não sei o motivo, lateral tem de saber cruzar. Os que são pagos para dar opinião acham que o lateral substituiu o ponta. Não perceberam que ele joga no lugar do meia. Mas, é outra história. Apodi produziu uma poesia fantástica no domingo. Recebeu a bola longa. Parecia que escaparia. Dominou com o pé esquerdo. O chapéu foi lúdico. A bola desceu. O chute foi preciso, forte, cirúrgico. Porém, no meio do caminho estava Douglas. No salto, no ar, a defesa. A mão trocada. Magistral! Não alterou o placar. Ficou como estava. No entanto, deixou o meu domingo feliz. Bela a poesia de Apodi e Douglas.
Chico Buarque compõe como se driblasse um beque desavisado. Num poema montou uma linha que o melhor verso de futebol que li: Mané, Didi, Pagão, Pelé e Canhoteiro. Estufou o Filó! Da arte de transformar a bola em poesia.  Não ligo para o atual  pensar político de Chico. Sei que não é mais o 'meia' habilidoso. Parece mais um volante 'brucutu'.  Gosto do cantor, do compositor. Do artista que melhor decifrou a alma do amante da bola. No seu disco Caravanas, há uma pequena obra prima, cheia de negaceadas, de um pra lá, outro para cá. 'O Jogo de Bola' é um drible que Garrincha ou Renato assinariam:

"Há que levar um drible: 
Por entre as pernas sem perder a linha.
 No jogo de bola 
Há que aturar uma embaixadinha, deveras
 Como quem tira o chapéu para a mulher
Que lhe deu o fora
..................................................................
Salve o futebol, salve a filosofia
De botequim, salve o jogar bonito
O não ganhar no grito a simpatia
Quase amor
Da guria que antes do apito final
Vai sem aviso embora
Vivas a galera, vivas às marias-chuteira
Cujos corações incandescias
Outrora, quando em priscas eras
Um Puskás eras
A fera das feras da esfera, mas agora
Há que aplaudir o toque
O tique-taque, o pique, o breque, o lance
De craque do centroavante
E ver rolar a pelota nos pés de um moleque
É ver o próprio tempo num relance
E sorrir por dentro"

sábado, 19 de agosto de 2017

Eu, o futebol, as paixões, as leituras


Mauro Pandolfi

"O tapete verde dos estádios me encanta". Foi a frase que sobrou na memória de uma redação ensinada pela Leda, minha querida prima, a mais inesquecível de minhas professoras. O parentesco nunca significou vantagem. Ao contrário, era mais cobrado. Aquela redação mudou a minha maneira de escrever, de observar, de entender as coisas. Leda 'completou' o serviço mandando ler mais. Escutei ela comentando com meu pai a minha dificuldade na leitura. Meu pai disse que 'resolveria o problema'. Fiquei feliz com a resposta. Imaginei os gibis chegando em casa. Ledo engano! No dia seguinte, ele traz um monte de jornais e alguns livros. O pai gostava de livros.  Encheu a estande da casa com coleções variadas. 'Divirta-se!", disse. Peguei um por um, folhei todos, li as manchetes e os olhos vibraram com a Folha Esportiva. A primeira leitura foi sobre o Grêmio. Devorei tudo. Não larguei o jornal naquele dia, nunca mais deixei de ler, ao menos, um jornal por dia. Ficava ansioso esperando o jornal chegar. Era um menino de dez anos. Foi a descoberta de duas paixões. Uma delas, o jornalismo, eu curei; outra, o Grêmio, virou amor, culto. Uma paixão tatuada na alma. 
Colecionar jornal era complicado. Amontoava fácil, empilhado pareciam grandes colunas. A mãe reclamava que ocupava muito espaço do quarto. O que fazer? Era uma construção de memória? Meus alfarrábios, consultas, pesquisas, como ficariam? Descobri a revista Placar. Semanal, fácil de guardar. A leitura já estava boa. Era rápida, fluente e  as redações ficaram melhores. Eu acho! Afinal, as notas subiram. Mas, a Placar foi a fonte de descoberta. De times, de textos, de ideias, de paixões. Arrumei um clube em cada canto. Cortava a revista para fazer os 'esquadrões' no botão. Tinha vários, inúmeros, guardados em caixas, como se estivessem concentrados. Titulares e reservas. Usava uma moeda sobre a foto do rosto. Girava com uma caneta diversas vezes. As páginas eram protegidas por um papel mais duro. Não podia estragar o resto da revista. Queria somente o rosto. Que memorabilia perdi. Na casa da mãe há, ainda, as  revistas Placar empilhadas no depósito. Em que estado? Não tenho a coragem de verificar o estrago!
O Tabelão! A primeira leitura. Um suplemento em forma de jornal. Ficha técnica completa. Devorava, memorizava, me divertia. Descobri paixões. Ah, o Olaria! Que timaço! Poesia pura! Pedro Paulo; Haroldo, Miguel, Altivo e Alfinete; Roberto Pinto e Afonsinho; Osni, Salvador, Luís Carlos e Antoninho. Foi Afonsinho que me tornou torcedor do Olaria. Gostava de sua rebeldia, de sua barba e da canção de Gilberto Gil. 
O que Remo e Fortaleza tinham que me encantavam tanto? Dois laterais de nomes sonoros, típicos apelidos do velho futebol. Aranha no Remo. Seu reserva era um tal de Nelinho. Fico imaginando como jogava este Aranha? Nunca vi. Sei que ganhou a Bola de Prata. Louro era o craque do Fortaleza. Fiquei seu fã ao ler uma reportagem sobre sua vida. A casa tinha as cores e o símbolo do Fortaleza. Como não gostar de alguém que ama tanto o seu clube? Já o Goiânia nunca entendi o motivo de torcer. Não sei onde anda o Goiânia. Brinco que é o meu time perdido. Acho que não faço questão de achá-lo!
Eu gostava mesmo era do Santa Cruz. Outra poesia que declamava com fé. Gilberto; Gena, Sapatão, Roberto Rebouças e Botinha; Givanildo e Luciano; Erb, Fernando Santana, Ramon e Lima. Como não gostar de um time que tinha Sapatão e Botinha? Meu ídolo era o Erb. Nome estranho para craque. Nunca descobri se era mesmo um craque! Vi poucas partidas dele. E, elas desapareceram da memória.
As paixões não eram só nacionais. Leeds United era a minha paixão inglesa. As vitórias, que lia no Tabelão, o título inglês, derrubaram o Liverpool dos Beatles. Décadas depois, o canto da torcida, Lucas Leiva, Philippe Coutinho, fizeram redescobri o Liverpool. Porém, meu 'coração sem dono', anda se encantando com o Manchester City. Ah, Pep Guardiola! Como gosto do jeito de jogar de seus times! Na Alemanha, vibrava pelo Hamburgo. Sábia escolha. Muitos anos depois, Renato demoliu o Hamburgo e deu o maior título do Grêmio. A escolha pelo Ajax de Cruyff não deu certo para o meu tricolor. Litmanen foi o principal algoz do Grêmio em Tóquio. Nos pênaltis a derrota. Será um sina, um erro de dna, a eterna mania de perder um pênalti?
O Independiente foi a maior paixão daquele tempo. Só comparada ao Inter de Lages e ao Grêmio. Foi até nome de nosso time de rua. O argentino que derrotava os grandes clubes do Brasil. Na divisão de clubes da turminha, nós escolhemos um carrasco: I-N-D-E-P-E-N-D-I-E-N-T-E! Ganhamos muitos jogos, alguns torneios por Copacabana. Um time que ficou conhecido no bairro. Os piás da rua Irmã Laurinda provocavam arrepios. Bom time! Eterno time! O time tatuado na alma, bem ao lado do Grêmio.
Grande tempo aquele! Ainda sonho que estou jogando no Vermelhão ou no Boldo. Pena que o tempo volte apenas em sonho. Acho que é até melhor! Deixe o tempo no seu tempo. Na sexta feira,  dia 11 de agosto, numa pequena cidade dos Estados Unidos, o pior dos anos 50 reapareceu. A estupidez, a ignorância desfilaram num 'festival' sombrio, nefasto, perigoso, medonho. O passado só volta no pensar poético. Nas doces lembranças. Como 'realidade' é um terrível engano. É mais radical, perverso, falso do que foi.  É 'o mundo paralelo' das histórias de terror.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

O Timão!

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Por uns euros a mais



Mauro Pandolfi

"Dinheiro não traz felicidades, mas ajuda a sofrer em Paris"
Neymar sabe que terá uma 'dura vida' para transformar o PSG em Barcelona.

Um dia! Bastou um dia para Neymar ganhar mais dinheiro do que Pelé durante toda a sua vida de craque de futebol. Não fez mais de mil gols, nem foi tri campeão com a Seleção Brasileira. Nem foi eleito o melhor do planeta. Neymar é só um candidato a tudo isto. Um grande candidato! Porém, é bem provável que estas conquistas continuem sendo um desejo, um sonho, uma frustração. Neymar é o melhor, minha convicção, jogador surgido após a geração do tri. Driblador fantástico, bom articulador e um emérito finalizador. Para olhar para Pelé, ele precisa ainda de um binóculo. Chegar em Pelé não é o maior objetivo. O grande desafio é transformar o PSG em um Barcelona, um Real Madrid. Ser um Juventus será um feito extraordinário.
Um lance. Aquele gol contra a Juventus, no amistoso de julho, me deu certeza que Neymar sairia do Barcelona. Driblou cinco dentro da área. Em linha reta, na horizontal. Negou aqui, negaceou ali, passou por outro, girou o corpo. Finalizou! Um chute seco, certeiro. Era o o segundo gol. O olhar vibrante, altivo na comemoração, o soco no ar, mostrou que era possível fazer o impossível sozinho, sem Messi e ajuda preciosa de Iniesta. Foi a última vez que vi com a camisa do Barcelona. Falei baixinho, para ninguém ouvir, 'é o gol do adeus. Mostrou que pode ser o maior sem a ajuda dos maiores. Um desafio daqueles que os mestres da auto ajuda propõe para os mortais'. Será que Neymar é um mero mortal?
Um bilhão de reais! Um exagero para um simples jogador de futebol? Esqueça o futebol como esporte. É um negócio, uma imensa indústria de entretenimento, movimenta, bilhões, trilhões de reais, euros ou dólares. Bilhões de pessoas trocam um pedaço de seu tempo para uma assistir uma partida. No campo, em casa ou num bar. É um evento, uma festa, um 'culto'. Se no tempo de Pelé o futebol fosse assim, ele  não só seria um legítimo Rei (como foi!), seria, também, um bilionário, destes que frequentam a lista da Forbes.
O que fazer com um bilhão de reais? Se você for um 'humanista', dá para inventar um extraordinário sistema escolar. Criar algo como a Finlândia fez. Ou, investir em pesquisas para a cura de inúmeras doenças ou em hospitais modelos. Porém, se isto não te interessa, dá para viver bem múltiplas gerações de sua família. Vidas de nababo. Agora, se for um 'político' feito Michel Temer, precisará de muito mais para escapar da justiça,  comprar os 'caríssimos deputados' e permanecer no poder. O dinheiro do PSG vem de um bilionário do Qatar. O dinheiro gasto por Temer saiu das escolas, dos hospitais, da segurança, dos brasileiros. Eu queria mandar o Temer para a pqp! Não a 'Paris querida Paris' de Neymar. A outra!