segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Olhares

 
Mauro Pandolfi

O jornalismo é um ofício tão perigoso como o de um equilibrista. Um fio tênue separa a virtude e o vício. É quase imperceptível a divisão entre o sensacionalismo e a realidade. Nem sempre o fato é diferente da versão. Não é tão difícil perceber a diferença do 'boca alugada' de um crítico contumaz. É mais fácil distinguir um militante fundamentalista  de um analista criterioso. O lugar onde a mentira 'não é só uma verdade que não aconteceu'. É só a versão menos pop da 'pós-verdade'. O texto de Chiko Kuneski sobre a mídia e o acidente da da Chapecoense é bem articulado, lúcido,  coerente, contestador, visceral, perfeito. Mas, discordo dele.  Jamais diria que é equivocado. Não pretendo convencer ninguém do contrário. Só tenho um outro olhar sobre a tragédia. Talvez, um fio tênue separe o meu olhar entre a ingenuidade da idiotice. Ou, é só  uma outra lucidez? Não sei!
O que torna eterna a tragédia da Chapecoense  não é o acidente e nem a tragédia. Não são as  mortes e as dores de familiares e amigos. A eternidade é gerada pelo comportamento dos colombianos. A generosidade, a gentileza, a solidariedade nos assustou. Não estamos acostumados com isto. Somos ausentes, distantes, desconfiados.  Aquele estádio lotado, sem uma partida ou um show, foi um alento. Demontraram que o humanismo esquecido, perdido, despedaçado, é possível,  quem sabe, necessário, neste mundo enlouquecido. O historiador Yuval Noari Harari garante que vivemos um período de paz como nunca antes da história deste planeta. Talvez, a violência, a miséria, 'a loucura' pareçam maior pela visibilidade que o jornalismo dá. Ao falar da solidariedade, a mídia parece propor um novo olhar da vida. Ou, seria apenas um olhar mercantil?
No meu romantismo cético tentei acreditar na humanidade. A 'exploração' da generosidade, gentileza, solidariedade me agrada. Quem sabe, por encanto ou desencanto, as pessoas passem a praticá-la. Pode ser por instantes, com pequeno prazo de validade, a tragédia da Chapecoense provocou um acordo de paz entre as torcidas organizadas de São Paulo. As torcidas entoavam o canto 'Vamos Chape' em todo o canto. Uma suavidade, uma tolerância, dos torcedores dos time rivais, nestes primeiros jogos da Chapecoense. Isto é o resultado da solidariedade colombiana. Talvez, já em fase de esgotamento. Os torcedores do Internacional não aceitam,  não suportam a sua 'tragédia pessoal' - como disse o dirigente Fernando Carvalho -, o rebaixamento,  e provocaram uma imensa briga em Veranópolis.  Violência que faz parte da dura poesia circular do cotidiano, do futebol. O humanismo faz parte de um universo em desencanto. Acho que sou apenas um idiota. Ou, como disse certa vez, um militante travestido de sábio: analfabeto midíatico.
A violência é um prazer. O sangue escorrendo é um orgasmo. Isto explica o fascínio das pessoas com filmes, como 'Os mercenários'. Ou, o imenso sucesso de público de Alborghethi, cult no you tube, ou Datena e similares. A barbárie do sistema carcerário revelou um desejo profundo de 'vingança'. O secretário da juventude pediu 'mais mortos'. O deputado de São Paulo, Major Olímpio, exigia ' a reação de Bangu'. Eu prefiro assitir os rescaldo da tragédia. As entrevistas de Rafael Henzel e Jackson Follman são lições de vida. Não é auto ajuda. É de alguém que entendeu o 'milagre da vida'. O prazer, a alegria de estar vivo. 
O jogo para aos 71 minutos. Um grande homenagem. Domingo completavam dois meses da tragédia. O Manchester United cultua os seus jogadores mortos em Berlim em 1958. Há imagens em vários lugares no Old Trafford. Uma das músicas mais emcionantes de Morrisey fala do acidente: Munich Air Disaster 1958.  No mês do acidente, fevereiro, há uma série de homenagens. A morte trágica de um ídolo é o passaporte para eternidade. Os jogadores, que são mais cultuados que as outras vítimas, serão lendários. Os feitos serão contados, aumentados, perpetuados. Nunca morreram! Sem a 'tragédia', seriam ilustres desconhecidos ao final de suas carreiras. Lembrados apenas pelos 'fanáticos' declamadores de escalações ou sites, tipo, 'onde anda?' O que vai desaparecer é a lembrança da gentileza, generosidade, solidariedade do Atlético Nacional, dos colombianos. Foi um hiato na história humana. Que pena!

domingo, 29 de janeiro de 2017

A mídia e seus zumbis

Chiko Kuneski

Cada dia mais o jornalismo televisivo, principalmente, se alimenta de carniça. Quanto mais sangue melhor. O bom é que seja bem mal. Uma tradução livre do “bad News, good News”, talvez ensinado atualmente nos novos currículos de comunicação das universidades ou imposto pelos números de audiência. A sociedade, nunca como antes, faz a mídia reproduzir o que ela deseja e os meios de comunicação produzem, cada vez mais, o que querem que a sociedade reproduza.

As atrocidades, sejam elas provocadas pelo homem ou por outros fatores são vendáveis. Sua exploração ao máximo torna-se prefeita para a continuidade da notícia, alimentada e realimentada à exaustão. No jargão jornalístico chamamos de “suíte”.

O pior acontece quando a prática contamina o jornalismo esportivo. O pior virou melhor. O pior virou notícia. A tragédia virou mote. Os mortos não podem nem “morrer em paz”. São sugados mesmo depois de não mais existirem. O vazio das dores vira o cheio da notícia.


Um minuto de silêncio pode parecer nada. Apenas uma lembrança. Um minuto eterno de silencio é vendável. Parar os jogos do campeonato catarinense aos 26 minutos do segundo tempo para decretar um minuto de silêncio lembrando os 71 mortos vítimas do acidente de avião que transportava a Chapecoense (45 do primeiro e outros 26 do segundo somados)  foi o extremo da exploração da carniça midiática. 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Coisas do tempo

Chiko Kuneski

Hoje tive o prazer de rever e conversar com Paulo Brito, um professor amigo e que se tornou somente um amigo. Com o tempo a face vira faceta é lapidada ao brilho estremo. Assim vejo o futebol. Uma face a ser eternamente lapidada até se tornar uma faceta. Ou acredito nisso; ou deixo de gostar do futebol.

Todo jogo sempre parece igual, mas não é. São as nuances. As rugas e as rusgas que o tornam mágicos. Mais as rusgas acho. A competição. A Emoção. O confronto de conceitos. Sempre os conceitos individuais, mesmo no coletivo, fazem sua magia.

Não existe futebol sem essa magia conceitual. É o mais apaixonante dos esportes. É um tango na dramaticidade. É um samba na cadência. É um bolero no passe. É um rock no grito de gol. Concordo com Mauro Pandolfi: “ é um palco de grama”.

Mas o que é a vida se não um grande palco?

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Tostão, 70!



sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

A dor da hipocrisia

Chiko Kuneski

Dois episódios, teoricamente isolados, mas com um ponto básico em comum, o avião. Em queda de aviões há mortes. Raramente sobreviventes. Mas sempre especulações jornalísticas. São inevitáveis. Explicações técnicas. Duvidosas. Comoções de expectadores. Esperadas. O Brasil é um país movido a comoções.

O jornalismo é quem as faz. Os jornalistas sabem melhor do que todos isso. “Bad News, good News”, a máxima que não importa o tempo ou a mídia é repetida incansavelmente, sem ser dita. A tragédia tem que durar. No jargão tem que ter “suíte”. Tem que render. A má notícia tem que ser uma boa notícia por dias, semanas ou até meses para ser para o jornalismo e seu sensacionalismo.

Dois acidentes de avião. Pessoas morrem. Famílias ficam. Comoções a serem exploradas ao máximo. Em comum a morte de todo um time da Chapecoense, de vários jornalistas e até do, que parecia infindável, presidente da Federação Catarinense de Futebol, de um lado da notícia e de outro catarinense que era peça chave da operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.

A morte de todo o time da Chapecoense ficou rentável para o noticiário e para os veículos de comunicação. Todos os eventos esportivos depois da tragédia exploraram a exaustão o acidente e a tragédia. Meses de suítes. As televisões vão ganhar muito com os direitos de transmissão dos jogos beneficentes para a “Família Chapê”, incluindo amistoso da seleção brasileira com a da Colômbia.


O mundo se comoveu. A dor da hipocrisia universal movida pela mídia. Já a Lava Jato, que pode ter sucumbido de hélice, provavelmente vai submergir. 

Ódio ao futebol moderno

 

Mauro Pandolfi

A faixa estava num canto do estádio. Cinco ou seis ao redor dela. A tevê achou, exibiu, revelou algo que não suspeitava. "Ódio ao futebol moderno" dizia o trapo. Sabia a existência dos loucos por 'jogos perdidos'. Gente que viaja para assistir 'XV de Jaú x Jabaquara', ou algo similar. Sou um caçador de partidas antigas no you tube. É uma rudimentar, equivocada tentativa de decifrar se os grandes craques eram grandes ou só exagero de apaixonados. Curiosidade de jornalista. O tempo deles era outro, o meu olhar é de hoje. Jamais saberei. O cartaz mexeu comigo. Ódio é um sentimento de agora. De insultos, de 'pós-verdade', de mantras repetidos feito ladainha. Andar amado nas redes sociais é um perigo. Não entendi o desprezo pelo moderno futebol. São jogos para todos, via tevê, arenas que abandonaram o tratamento de gado do torcedor dos velhos estádios, um futebol nunca tão bem jogado como agora. São seitas, comunidades isoladas, sectários de antigas ideias ou só ranzinzas ingênuos com o medo do novo, que sempre vem? Não sei!
A rua Javari lotada. Entre três e quatro mil pessoas. Um canto escapava pelo som da tevê. 'O ódio ao futebol moderno'. Pessoas espremidas, um canoli (doce italiano) nas mãos, um rádio na outra e um alegre sorriso de domingo à tarde. Descobri que é um movimento de torcedores do Juventus que vai deixando um rastilho de pólvora nas redes sociais.. Sócios que não desejam a venda e nem a reforma do velho estádio. Votam sempre contra qualquer destas iniciativas. Elegeram o futebol atual como vilão. É ele que obriga a transformação. De arenas, de inovações táticas, de mudança no uniforme. Tem um cartaz que sente saudades de Milton Buzeto. Um símbolo da retranca dos anos 70. Neste período, o Juventus ganhou a fama de 'moleque travesso'. Buzeto e sua ousadia em defender com onze. Uma bola, um cruzamento, uma falta, um chutão. O gol! Depois, o campo reduzido na frente da área. Estranha saudade!
O movimento contra o futebol moderno começou na Itália. Um torcedor do Roma levou um cartaz declarando 'ódio eterno'. Foi um protesto contra a venda do clube. Se alastrou. Invadiu estádios. Manifestações contra a reestruturação dos clubes, as arenas ('Todos os estádios ficaram iguais. Não diferencio nenhum deles', disse-me um  amante à moda antiga da bola) e seu pudico comportamento. 'Não é teatro e nem cinema', gritavam. Impedidos de pular, de assistir em pé, de vociferar, forçaram mudanças.Há estádios com espaços para os 'ultras' (torcedores 'ferozes') acompanhar a partida em pé. Reclamam também dos preços dos ingressos. Os pobres foram afastados. Questionam os horários dos jogos. Barcelona já jogou à meia-noite.São questões discutíveis. Também, reclamo do preço do ingresso. Vou uma ou duas vezes por ano ao estádio. Os demais vejo via tubo.
Bradam contra a mercantilização do esporte. Dos grandes salários, das transações 'suspeitas', da grana que rola solta. Sempre foi assim. Nos anos 30 do século passado, quando o futebol deixou de ser 'amadorismo marrom' e virou 'profissional', as negociações começaram. Alguns uruguaios e argentinos vieram jogar por aqui. Os daqui partiram. Fausto, primeiro no Barcelona, e Domingos da Guia foram para o Nacional do Uruguai por dinheiro, são os exemplos mais históricos. A Liga Pirata da Colômbia atraiu craques, como Di Stefano e Heleno de Freitas, por uma fortuna considerável. Talvez, Caetano Veloso tenha razão ao cantar 'que o dinheiro constrói e destrói coisas belas'. Será o futebol uma delas?
Há os que odeiam o jeito de jogar. 'Não tem mais dez!', berram. 'Cadê os pontas!', protestam. 'Time sem cabeça de área é vulnerável', este é o que mais me impressiona. 'Falta o nove. Aquele da área, do cabeceio, matador', há até uma república criada (a do Texas) reivindicando a volta do aipim, do poste, do centralizado. Detestam quando o time aparece com um uniforme diferente. 'Não respeitam a tradição', detonam. Só faltou citar a 'família e a propriedade'. São cantilenas passadistas. Saudosos de um tempo que ficou no imaginário, de um passado glorioso que foi pura fantasia. Não percebem a beleza do jogo. A variação tática que potencializa o talento com uma intensidade que substitui a indolência. Há um jogo planejado que favorece craques e nunca foi tão bonito, tão bem jogado, visto por quase todo planeta, explorado todas as suas possibilidades. Até a compaixão, o humanismo, a fé, como aconteceu com a tragédia da Chapecoense. A solidariedade do mundo deu esperança de acreditar na humanidade. Mas, há Trump, Putin, Bashar-Al-Assad... deixa prá lá!
Anos 80. Vi o filme 'A Testemunha', com Harrison Ford, que mostrava os Amish. Um isolado grupo que vivia como os seus antepassados. Para eles, o tempo é uma ilusão. Não queriam mudar nada, nem acrescentar nada. Ser o que sempre foram. Espero que os manifestantes do 'ódio ao futebol moderno' comportem-se como os Amishi. Protestem, gritem, esperneiam, vivam o futebol como sempre viveram, cultuem os ídolos antigos. Que fiquem nisto. Deixem o futebol seguir a 'rosa dos ventos' e rumar para onde o homem jamais esteve: o futuro! Se for com homens, ótimo! Se for com robôs, quero um replicante do Messi e um do Iniesta para o Grêmio! Eu amo o futebol moderno!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Macho alfa


Mauro Pandolfi

O futebol brasileiro está completo. Voltou quem faltava. O boquirroto, o neurótico, o nervoso, o macho alfa. Felipe Melo já mostrou que será o 'dono do pedaço'. Na primeira entrevista, bancou o valentão, o crítico, o bom amigo, o xerife ou bandido (a escolha é de quem quiser), o ídolo da torcida, o 'malvado favorito' do Palmeiras. Reclamou da fama de violento, da ausência de sua 'técnica' nas reportagens sobre ele, dos que são pagos para falar 'mal dos outros'. 'Sem generalizar, é claro!', esclareceu. Foi um longo papo na tarde de terça. A mesma machonaria, grossura, estupidez que desfila  nos campos. Nas manhãs de quarta, nos programas esportivos, os jornalistas comentaram a' bipolaridade' de Felipe Melo e afirmaram que 'nos mostramos os lances de qualidade, além dos lances dos cartões'. Lembraram até de um velho conselho de Armando Nogueira: 'Elogiar, sem bajular. Criticar, sem ofender'. Poxa! Parecia um tom cinzento de culpa. Um pedido, tímido, envergonhado, de desculpas antecipadas ou de críticas equivocadas ou maldosas..
Felipe Melo foi 'sincero'. Ríspido, fugiu do politicamente correto. Desafinou o coro dos contentes. Se impôs. Será o jogador mais visado, vigiado, olhado. Ninguém ficará imune a ele.  Bravateiro, chegou 'assustando' os adversários. "Se precisar dar porrada, eu vou dar!" Será que os meias e atacantes de seu time vão pipocar? Felipe Melo tenta cavar uma vaga na seleção. O futebol não ajuda. Mas, a 'marra', o jeito valentão, fanfarrão é pré 7 a 1. Espero que Tite  o ignore. Sempre terá alguém que lembrará dele. Há os que dizem que é 'preciso um bandido'; outros, dentro da lei, é ' necessário um xerife'. Eu prefiro alguém que jogue futebol. Um belo e eficiente jogo.
Pediram, exigiram, clamaram,  choraram. 'Um dez, por favor!'. Estão de volta uma porrada deles. Parece um listão do vestibular ou uma delação premiada. Há tantos. Todos famosos. Canhotos e destros. Lentos ou rápidos. Brasileiros ou gringos. Conca, Montillo, Thiago Neves, Wagner, D'Alessandro, Jadson, e, quem sabe, Ronaldinho Gaúcho. Todos sub-40. Fim de carreira. Sem espaços no futebol europeu, até da China, de velocidade, de intensa movimentação, de recomposição. Estou curioso em saber como serão armados os times. Os anos 90 voltaram? Seguem a falsa ilusão de Douglas, do Grêmio. Ele foi ótimo em 10 ou doze jogos. Decisivo nestes. Porém, atuou em 56 partidas. Na maioria delas passeou em campo. O futebol brasileiro vai se renovando com os 'dez' à moda antiga. De volta ao 'futuro'. Futuro retrô. Afinal, passado é mesmo eterno no Brasil.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Homo Deus


Mauro Pandolfi

"Eu preferiria viver  em meu apartamento. Não quero atingir a imortalidade por meio de meu trabalho. Quero atingi-la não morrendo".
Resposta de Woody Allen ao ser questionado se ele esperava viver para sempre nas telas de um cinema.

Imortalidade! O devaneio humano. Desejo, esperança. Estamos mais perto do sonhamos. O historiador Yuval Noari Harari garante que sim. No seu livro 'Homo Deus', ele cogita, especula, assegura que a morte está com os dias contados. Entre 2100 e 2200, o 'homo sapiens' poderá viver até 500 anos, E, depois ser imortal. "A morte é uma falha técnica", explica. Cientistas pesquisam, trabalham, procuram o conserto da 'falha'. Será a transubstanciação de 'homo sapiens' para 'homo deus'. No final do século 19, a média de vida era de 47 anos. Neste início de século 21, a vida pode ser curtida, em média, 80 anos. Aliado ao tempo, a juventude. Sempre jovens. Eternamente jovens. Só uma tragédia, um desastre, um acidente para morrer. O delírio de Ponce de Leon era verdadeiro. Como seria o futebol com a imortalidade? Não haveria dúvidas de quem é melhor? Somente grandes times? Os bondes também seriam eternos?
Nunca vi Puskas. Di Stefano é só um mito.Garrincha é uma lenda. Airton Pavilhão é uma história muito bem contada. Saul Oliveira era um craque declamado em prosa em Florianópolis. Tantos. Muitos. Lionel Messi não seria só uma imagem para os meus netos como Pelé é um enigma para os meus filhos. Gosto da ideia. Todos ao mesmo tempo. Juntos no mesmo time. Separados, adversários. Grandes times. 'Pelé recebe de Iniesta. Procura Cruyff. O mago do carrossel toca para Garrincha. O drible, o João e o passe perfeito para Messi. Ele desvia do goleiro, com um toque sutil'. Um gol que nunca verei. Mas, não sai do meu imaginário. O futebol é mesmo o lugar ideal para sonhar.
Os times e o recomeço. Me abasteço com os jogos da Copa São Paulo de Juniores. Há ótimos jogadores. Alguns, candidatos a craques. Dribladores, defensores, meias, artilheiros. Surpresas e confirmações. A eterna Chapecoense reencontrando alma, tornando-se imensa. Já é um clube do mundo. Muita boa, esta copinha! No entanto, o que domina o amante da bola é formação dos times.  As contratações e os reforços. Reforços? Parece que os cartolas acreditam no 'Homo Deus'. Apostam que a imortalidade existe dentro de um campo de futebol. Querem manter a alma, a cultura e os ' mitos' até onde der.
Faltam craques, não há jovens de talento? Ou, é mais fácil procurar um medalhão decadente ou o é o medo de arriscar em guris? O Grêmio aposta em Léo Moura com 38 anos. Sem atacantes, acho que vai aproveitar Renato, com 54,  como 'aipim'. Não seria uma boa ideia?O Palmeiras se arrisca com o tresloucado Felipe Melo de 33.e mantém Zé Roberto com 41. Tantos. Conca, Montillo, Cleiton Xavier, Roger Bernardo, Luís Fabiano, Carlos Alberto...Ufa! Muitos. Aqui, se faz a mesma coisa. Lúcio Flavio, quase 40, no Joinville. O Figueirense buscando o insípido Zé Love, mais de trinta, e o Avaí trazendo Gustavo, de 33. No Figueira, há o meia Igor, destaque da Copinha; no Avaí, o garoto Gabriel, sempre em seleções, verá mais uma temporada no banco. Mas, ninguém baterá o Corinthians. O Timão tenta Drogba! Deus do céu! Ah! O Coritiba especula Ronaldinho Gaúcho. Não são só os diamantes que são eternos. Os trouxas, também!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Ante o anti-jogo


Chiko Kuneski

A partida começou frenética como poucas decisões já vistas com a bola sendo lançada para o jogador que ocupava a ponta esquerda do ataque vindo desesperado da linha do meio campo em corrida de fundista para chegar na bola que queimou sua chuteira pela força do passe e o fez livrar-se num só toque para o meio da área aonde o único atacante disputou-a na cabeça com dois grandes zagueiros bem posicionados que impediram o gol relâmpago da decisão cortando o cruzamento e já ligando o contra ataque nos pés do volante de contenção que não sabia bem o que fazer com o espaço a sua frente e o forçou a tentar uma ligação direta com o meia direita que já recebeu no peito e enfiou para o ala esquerdo numa jogada treinada que avançou livre com a  bola em direção a linha de fundo sem perceber que o time não tinha pernas para seguir seu ritmo e cruzar para o meio da área com a cabeça baixa apenas olhando para a bola sem saber a direção dos atacantes que não estavam na área e facilitaram o soco do goleiro jogando-a até a meia lua no pé do zagueiro que a tocou rápido para o ala direita que a soltou para o meio tentando uma jogada criativa mas caiu no volante e esse não sabia criar e passou para o segundo volante que também não entendia muito bem do jogo e fez a redonda chegar às chuteiras mágicas do craque do time que a dominou como cuidando de um bebê e a ninou no couro levantando a torcida numa fintam impensada no marcador e driblou o seguinte e o seguinte e o seguinte chegando frente a frente com o goleiro que nada podia mais fazer a não ser olhar para os olhos do atacante para tentar feito raio de sol ofuscar a precisão que não foi tão boa assim com a redonda encontrando a trave redonda com uma violência de balançar arquibancadas até cair no pé do lateral adversário que apenas levanto a cabeça e fez um longo passe para o meio.


Assim foi o clássico decisivo. Correria sem jogo. Acabou sendo decido no cara ou coroa depois que todos os batedores de pênaltis acertaram a atravessada trave.

Coliseu carioca

 

Mauro Pandolfi

Primeiro sinal. Luzes se apagam. Pessoas ainda entram na sala. Gritos e sussurros. Segundo sinal. A bagunça encantadora da juventude.  A imagem surge na tela. Um samba embala emoções. 'Que bonito é. Ver a rede balançando...' O delírio da gurizada. A bola, o gol, o drible. A beleza do futebol. O olhar que a tevê escondia. Canal 100! Muitas vezes melhor que o filme.  Comentamos mais o gol do que o beijo na mocinha ou a valentia do mocinho. Mas, o que me chamava mais a atenção era o estádio e sua gente. Olhares esbugalhados, surpresos, atônitos, admirados. Os risos que revelavam as bocas banguelas. O pescoço espichado para ver os lances, que se resumiam as pernas dos craques. O Maracanã foi o símbolo de um futebol imaginado, desejado, sonhado, suspirado. Poucas vezes real. Maracanã é o signo de uma igualdade fantasiosa. O futebol que igualava tudo. O lugar sagrado de todos brasileiros. Um purgatório da beleza e do caos.  A geral sempre foi a senzala do grande templo. Quase todos pobres. Quase todos negros. O Maracanã está virando um lembrança. Uma saudade. Uma foto pendurada numa barbearia de subúrbio.
Nunca entrei no Maracanã. Chequei perto. Fiquei no entorno. As portas fechadas. Não permitiram entrar. Fiquei frustrado. Me impressionou o tamanho. Imenso. Gigante. Foi um final de semana de setembro que não teve futebol no Rio. Desde menino vivi este estádio. Nas ondas do rádio, nas rodadas duplas do futebol carioca, curtia o Maracanã. O templo de Mané, de Zico, de Pelé, de Obdúlio Varela. De mitos, de gênios, de bondes. O lugar onde um tal de Fio Maravilha virou música. Maracanã rima com poesia, com arte, da bravura uruguaia. Foi só uma derrota. Coisas do futebol. Trataram como 'tragédia'. Um exagero da paixão da bola. A grande peça do teatro de grama e paixão.
Maracanã é um símbolo do engano. O futebol inventado nos anos 50. Glorificado nos 60. Endeusado nos 70. Mitificado nos 80. Resistente nos 90. Sobrevivente no século 21. Um jogo tocado, bailado, sem rumo, sem pressa. Tão lento que parecia preguiça. Criou-se o craque do Maracanã. O que driblava sem sair do lugar, o que passava e esperava o retorno da bola. O que matava no peito, deixava rolar na grama e ...errava a jogada. Conheci vários. Muitos tornaram-se peregrinos, ciganos, a 'mostrar a sua arte' nos campos mortais. Maracanã era o sonho de meninos. Um deles, bem próximo, transformou o Vermelhão em um Maracanã, onde as partidas pareciam não ter fim.
Quem diria que o maior elefante branco da Copa de 2014 seria o Maracanã? Abandonado. Quase destruído. Largado. Roubaram a até o busto de Mário Filho, o jornalista que dá o nome ao estádio. Triste. Muito triste. Deplorável. O gigante mutilado em sua história, sua glória, em seus sonhos. Um Coliseu carioca. Custou caro, muito caro, um roubo, e já é ruína. O Maracanã é um lamento feito um samba de Paulinho da Viola."Um rio que passou em minha vida e o meu coração se deixou levar".

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O gajo bestial

 

Mauro Pandolfi

Cristiano Ronaldo é uma máquina. De jogar, de marketing, de beleza. Cristiano Ronaldo é um símbolo. De gols, de vendas, de comportamento. Cristiano Ronaldo é um hábil artesão. De lances, de propaganda, de moda. Cristiano Ronaldo é um mito. Do futebol, deste tempo, da cultura pop. Cristiano foi eleito o melhor jogador do ano pela FIFA. Deixou para trás o mais fantástico craque desta era: Lionel Messi. Cristiano é um vencedor. De copas, de campeonatos, de prêmios. O homem do sorriso mais emblemático do mundo da bola, da publicidade, desejado por todos os gêneros atuais da sexualidade. Se algum dia, robôs substituírem os homem na arte de jogar bola, eles serão semelhantes  a Cristiano Ronaldo. Afinal, ele é uma máquina.
Cristiano Ronaldo é um criador de imagens inesquecíveis no futebol. Grande, hábil, forte, enérgico. Ele é o mais eficiente jogador de futebol, vou exagerar, de todos os tempos. Não desperdiça o lance. Não complica a jogada. Simplifica o gol. Se impõe no jogo. Cria o jogo. O vaidoso que confere o lance, o gol, o penteado no telão do estádio. A precisão é a sua principal característica. Nas cobranças de faltas, é mortal. Parece usar uma mira, um visor, uma tela, para a batida perfeita, precisa, destruidora. A técnica apurada. A matada no peito é igual a de um certo Pelé. Definidor primoroso. Não escolhe o pé para balançar a rede. Se caiu no esquerdo, é fatal. No direito, é quase impossível a defesa. Cristiano se inventou para tornar-se um mito. Um obcecado pela perfeição, pelo requinte, pela afinação. Não foge de treinos. É aplicado, intenso. Cristiano Ronaldo é o maior jogador mortal deste tempo.
Imagine um campinho de pelada. O sorteio é feito. Tu escolhe primeiro. Estão um 'pibe' chamado Lionel. Há um 'gajo bestial' espadaúdo de nome Cristiano. E agora? Ainda bem que o futebol não elimina o outro. Pelé e Garrincha dividiam paixões nos anos 60. Pareciam irreconciliáveis as preferências. Quem gostava de um, desprezava, diminuía o outro. Pelé era o gênio cerebral. Garrincha, feito um pássaro em liberdade, é a improvisação, o instinto. Li muito, vi pouco, ambos eram ambos. Há momentos cerebrais de Garrincha. E, Pelé improvisava sempre uma solução. Os dois foram fantásticos na seleção. Messi e Cristiano Ronaldo, talvez, nunca serão parceiros de um mesmo time. Que pena! Geniais os dois. Um mais genioso que o outro. Mas, eu escolho Lionel  . É só uma opção. Sei que Cristiano é fabuloso e poderá detonar  o meu time. É o risco que torna o futebol apaixonante.

domingo, 8 de janeiro de 2017

O mágico


Chiko Kuneski

“Foi lá onde a coruja dorme!”

Talvez a mais ouvida alegoria sonora no que se chamava “ondas do rádio”. A bola iludindo zagueiros da barreira, goleiro astuto curvado às curvas do chute da chuteira inerte segundos antes. Traiçoeiros. O segundo e o chute. O descritivo sonoro de um momento que nunca se repetiria. A bola, a trave, a rede estufada, o grito de gol ecoando garganta a fora. A coruja imaginária sobre o travessão acordada pelo chute mágico roçando abaixo no couro com o aço.

Acordar a coruja na perfeição de um chute é um poder dado apenas para os mágicos da bola. É metafísico. É excepcional. Como se um globo de couro transformasse a atmosfera do globo do espaço da Terra. Inumano. Impossível de ser contido. Vira meta-humano. A fantasia dos games no real dos campos.

Esse é Lionel Messi. Um mágico de infinitos truques que une os mundos, fazendo a fantasia, a ilusão, a mágica virarem realidade. É o encantador da hora certa de tirar a coruja da cartola, ou do ninho alegórico, onde dorme, e lhe dar as assas da mais pura emoção de deixar locutores e torcedores roucos.

O jogo desfavorável. A derrota amarga num gol de contra ataque. O time correndo atrás da bola. Os outros “craques” sucumbindo a marcação implacável. Mas “a bola procura quem sabe”, outra máxima futebolística, que prefiro definir como “quem sabe acha a bola”, cai nos seus pés. Quatro marcadores. Implacáveis. Uma barreira humana. Nunca para o mágico.

Bola entre os pés. Escondida. Subtraída pela ilusão da velocidade. Corpo esguio. Olhar atento na plateia. O engano do drible. Somente parado com a força do real que não entende os mistérios mágicos do futebol. A queda cenográfica para aumentar o encantamento dos espectadores. A falta buscada para fazer a mágica.

A bola e a meta. O cenário perfeito para o mágico e sua magia. A Ilusão da barreira. A ilusão do goleiro. A ilusão do impossível. Da coruja imaginária alçando asas sobre sua cabeça em direção do centro do campo guiadas por seus braços esfuziantes.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Previsões



Mauro Pandolfi

Gosto de previsões. A ideia de adivinhações me encanta. O olhar do futuro é um desejo que me arrepia a alma e desperta a mente. Procurei na internet e o que vi não me satisfez. Quebrei a promessa e procurei Rai Carlos, o meu amigo vidente cego. Quando trabalhava no jornal fiz uma matéria com ele. Acertou tudo ao meu respeito e muito sobre o futebol e o país. Viramos amigos. Mas, ele impôs uma condição: nunca pedir previsões. Sempre respeitei. Curioso, ansioso, o procurei. Ficou bravo. Perdeu o humor. Irritou-se. Conversa vem, conversa vai, umas doses de gim e ele concordou. Fez questão de lembrar. "Previsões não são certezas. São possibilidades. O espectro solar e astral indicam o caminho. O livre arbítrio humano pode interferir, assim como o acaso. Não significa um engano. Significa que o dono do destino é a própria pessoa. Fez o passado, vive o presente e fará o futuro. Bom ou ruim? Depende dele".
A sala está escura. O cheiro de alfazema do incenso me incomoda. Acho estranho a música de fundo. Esperava uma música suave, new age e toca o heavy metal do Sepultura. "É o som deste tempo. Conturbado, agressivo, inspirador, ríspido, transformador", explica Rai. O assunto é futebol. Ele está concentrado. Sentado numa posição de Meia Lótus, balbucia um mantra. Repete e repete. Os olhos fechados. E começa.
"O ano tem o final sete. O campo astral é favorável a quem o sete como marca. Botafogo tem o mago Garrincha como mentor. Será um grande ano. Ganhará o Campeonato Carioca e chegará, no mínimo, nas quartas de final da Libertadores. No Brasileiro é um grande candidato. Já o Grêmio tem Renato no comando. O sete em grande momento solar. Ganhará dois ou três campeonatos.  O Gaúcho e, no astral não fica claro, se é o Brasileiro ou a Libertadores. Há risco nos dois clubes. O Botafogo terá que resistir as negociações de seus craques. O Grêmio precisa sobreviver a soberba de seu guru, Renato. Ele pode por tudo a perder", revela. Gostei da previsão.
Pergunto sobre os catarinenses. "A Chapecoense tem um astral espetacular. A tragédia gerou uma força que será transformadora. Vai ganhar o Catarinense, chegar às oitavas na Libertadores e brigará por título na Copa do Brasil ou Sul-Americana. O campo está limpo e lindo. A energia de todos é extraordinária. O Avaí será o grande adversário. Disputará a final do Catarinense com a Chapecoense. A estrela, a resistência do interminável Marquinho Santos, o El Cid, poderá mudar o resultado. Não vai ser rebaixado na série A. O Figueirense tem um campo astral nebuloso, escuro, dramático. Precisará de muita energia. Não sei se terá. Falta ao Figueirense alguém ligado ao clube, a sua história, a sua gente. Somente quando encontrar alguém assim, terá sucesso. O melhor momento do ano será o segundo semestre. A chance de subir é pequena. Mas, há. Joinville seguirá o seu destino: voltar de onde veio. Só uma grande sinergia, entre jogadores e torcida, poderá evitar novos vexames. Mais tranquilo é o Criciúma. Tem grande poder de luta, muita energia e imensas possibilidades de voltar à série A.  A surpresa será o Tubarão. Ficará entre os grandes. A decepção, meu caro Mauro, será o teu Inter. O astral é confuso, problemático e perigoso. Corre risco de queda. Mas, lembre-se, o livre arbítrio, a autonomia, as forças mentais podem modificar tudo". Está claro, Raí.
Pergunto dos outros clubes. "O Palmeiras tem a maior potência entre os clubes brasileiros. Pode ser o grande vencedor do ano. Porém, agregou forças negativas no elenco. Desagregadores. Se o jovem Eduardo Batista não souber lidar, perde o cargo e os títulos. Santos continuará o mesmo. Bons jogos, chance no Paulista e nenhum título de expressão. O karma dez é muito forte. Pelé está doente,. Os deuses do futebol, que amam o Santos, estão cuidando só dele. São Paulo será a grande novidade. Ousadia que resultará em bons desempenhos. Chances reais de títulos no Brasileiro e Copa do Brasil. Corinthians está em convulsão. Tem dois 7 em sua história. Em 77, saiu do inferno astral de 21 anos sem títulos. Pode ocorrer o mesmo agora pela força dos jovens. O problema é a diretoria que não gosta de jovens. O Brasileiro é mais complicado. No Paulista e na Copa do Brasil há chance de conquista. A energia dos mineiros é muito forte. Atlético tem o magnetismo de Roger. Ele será vencedor nesta temporada. O Cruzeiro tem em Arrascaeta o líder para a vitória. Os dois terão títulos".
Faltaram os cariocas. Rai garante o título estadual ao Botafogo. E o que acontecerá com Flamengo, Vasco e Fluminense? "O Vasco tem o signo da derrota, a energia negativa, o campo astral nebuloso que é Eurico Miranda. Será, outra vez, candidato ao rebaixamento. O Fluminense tem a soberba como visão histórica. Sempre usa um vencedor para as reconquistas. O espectro solar não é bom. Porém, Abel Braga tem uma energia magnética com o 'Papai do Céu'. O Flamengo mudou a sua rota. O astral recomenda os jovens, os meninos e o clube volta aos medalhões. Só os garotos darão título ao Flamengo. Zé Ricardo é jovem, Se apostar nos iguais a ele, vence. Caso contrário, decepções. O Internacional, para a nossa tristeza, voltará. Será uma batalha, nada comparada a dos Aflitos, traumática. Sofrida. E, se tornará muito frágil, um espectro do gigante que já foi", revela. Rai está cansado. |Não pergunto sobre os times do exterior, nem o Brasil nas eliminatórias. Faço uma última indagação;
E, a política? "2016 não terminará tão cedo. Aliás, estamos vivendo a sequência de 2013. Não entendemos o que foram as manifestações populares. Elas romperam o sistema, destruíram as organizações políticas, romperam as estruturas. Tudo que vivemos em política terminou. Só os políticos não perceberam. Perceberam, sim. Lutam desesperadamente para nada mudar. Teremos mais dois, no mínimo, presidentes até 2018. Na eleição, surpresa! Não é Bolsonaro! Deste traste, estamos livre. É alguém com muito respaldo da população. Será uma espécie de Nelson Mandela. Vai reconciliar o país. O nome não é muito claro. Não consigo ver o nome", explica. Pergunto sobre a Lava Jato. "Vão continuar tentando acabar com ela. A pressão popular vai impedir. Veremos muitos figurões enjaulados. Quase todos. Alguns escaparam", conta.
O transe está terminando e quero saber da economia. "Não precisa ser vidente, meu caro Mauro. Tudo continuará igual até 2018. As reformas são farsescas, nada mudará. Vamos sobrevivendo, cada vez com menos", diz ele. Melancólico, comento que nunca sairemos disto. "Vivemos uma espiral histórica. O passado nos prende no mesmo ponto de sempre. Aí, giramos numa espiral sem fim. Vamos e voltamos, como farsa ou realidade, não saímos do lugar. Parece eterno. Sugere eternidade. É só um engano. De tempos em tempos, há a transformações. O que vivemos é a última resistência a esta mudança. Ela virá. Forte, enérgica, necessária, revolucionária. O futuro será grandioso. Duvidas, Mauro?" Sou um cético saudável. Não creio em nada e acredito em tudo. Não discuto as previsões. São teses, são olhares, sensações, energias. E, como se fala por aqui: 'Se tu dix!..'

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O perna de pau

Chiko Kuneski

Ninguém o escolhia no time do bairro. Sobrava e, como prêmio de consolação, ia agarrar no gol. As pernas não serviam para jogar bola diziam os meninos da rua Odiava ser goleiro. Mas era o que lhe sobrava para brincar com a turma.

O pior era que achava que defendia bem. Tomava bolada de todo lado, mal sabendo que os garotos, na sua crueldade humana, chutavam de propósito sobre seu corpo. O Homem é cruel. Na infância essa maldade intrínseca não tem os freios social adquiridos com a educação. Apanhava por ser muito diferente.

Saía dolorido, mas orgulhoso. Olhava para o “capitão” do time derrotado que o recusou com altivez. Perdeu! Tinha vontade de gritar, mas sua timidez não permitia. O pai sempre dizia que o vencedor não tripudia o vencido, já mostrou que é melhor.
Apesar de tudo o perna de pau gostava do futebol. No tablado do botão, onde não precisava da habilidade do drible das chuteiras, ninguém o vencia. Pensava o jogo. Entendia o jogo. Sabia o jogo. O futebol não se faz somente com os pés entendeu anos depois.

Via o futebol. Analisava o futebol. Pensava como era jogado e modificado por quem pensa o jogo. O melhor jogador pode ser um desastre num esquema que o impeça de ser criativo. O pior, o perna de pau, pode ser o zagueiro truculento ou o goleiro estraga êxtase do gol.


Estudou, não apenas o futebol e suas artimanhas esquemáticas, mas educou-se e venceu. A paixão o levou a voltar para o campo, agora profissional, e se por novamente à escolha. Virou presidente do clube. De rejeitado passou a escolher e rejeitar. Era perna de pau, mas agora mandava no time que a turma de infância torcia frenética da arquibancada.