segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
Olhares
Mauro Pandolfi
O jornalismo é um ofício tão perigoso como o de um equilibrista. Um fio tênue separa a virtude e o vício. É quase imperceptível a divisão entre o sensacionalismo e a realidade. Nem sempre o fato é diferente da versão. Não é tão difícil perceber a diferença do 'boca alugada' de um crítico contumaz. É mais fácil distinguir um militante fundamentalista de um analista criterioso. O lugar onde a mentira 'não é só uma verdade que não aconteceu'. É só a versão menos pop da 'pós-verdade'. O texto de Chiko Kuneski sobre a mídia e o acidente da da Chapecoense é bem articulado, lúcido, coerente, contestador, visceral, perfeito. Mas, discordo dele. Jamais diria que é equivocado. Não pretendo convencer ninguém do contrário. Só tenho um outro olhar sobre a tragédia. Talvez, um fio tênue separe o meu olhar entre a ingenuidade da idiotice. Ou, é só uma outra lucidez? Não sei!
O que torna eterna a tragédia da Chapecoense não é o acidente e nem a tragédia. Não são as mortes e as dores de familiares e amigos. A eternidade é gerada pelo comportamento dos colombianos. A generosidade, a gentileza, a solidariedade nos assustou. Não estamos acostumados com isto. Somos ausentes, distantes, desconfiados. Aquele estádio lotado, sem uma partida ou um show, foi um alento. Demontraram que o humanismo esquecido, perdido, despedaçado, é possível, quem sabe, necessário, neste mundo enlouquecido. O historiador Yuval Noari Harari garante que vivemos um período de paz como nunca antes da história deste planeta. Talvez, a violência, a miséria, 'a loucura' pareçam maior pela visibilidade que o jornalismo dá. Ao falar da solidariedade, a mídia parece propor um novo olhar da vida. Ou, seria apenas um olhar mercantil?
No meu romantismo cético tentei acreditar na humanidade. A 'exploração' da generosidade, gentileza, solidariedade me agrada. Quem sabe, por encanto ou desencanto, as pessoas passem a praticá-la. Pode ser por instantes, com pequeno prazo de validade, a tragédia da Chapecoense provocou um acordo de paz entre as torcidas organizadas de São Paulo. As torcidas entoavam o canto 'Vamos Chape' em todo o canto. Uma suavidade, uma tolerância, dos torcedores dos time rivais, nestes primeiros jogos da Chapecoense. Isto é o resultado da solidariedade colombiana. Talvez, já em fase de esgotamento. Os torcedores do Internacional não aceitam, não suportam a sua 'tragédia pessoal' - como disse o dirigente Fernando Carvalho -, o rebaixamento, e provocaram uma imensa briga em Veranópolis. Violência que faz parte da dura poesia circular do cotidiano, do futebol. O humanismo faz parte de um universo em desencanto. Acho que sou apenas um idiota. Ou, como disse certa vez, um militante travestido de sábio: analfabeto midíatico.
A violência é um prazer. O sangue escorrendo é um orgasmo. Isto explica o fascínio das pessoas com filmes, como 'Os mercenários'. Ou, o imenso sucesso de público de Alborghethi, cult no you tube, ou Datena e similares. A barbárie do sistema carcerário revelou um desejo profundo de 'vingança'. O secretário da juventude pediu 'mais mortos'. O deputado de São Paulo, Major Olímpio, exigia ' a reação de Bangu'. Eu prefiro assitir os rescaldo da tragédia. As entrevistas de Rafael Henzel e Jackson Follman são lições de vida. Não é auto ajuda. É de alguém que entendeu o 'milagre da vida'. O prazer, a alegria de estar vivo.
O jogo para aos 71 minutos. Um grande homenagem. Domingo completavam dois meses da tragédia. O Manchester United cultua os seus jogadores mortos em Berlim em 1958. Há imagens em vários lugares no Old Trafford. Uma das músicas mais emcionantes de Morrisey fala do acidente: Munich Air Disaster 1958. No mês do acidente, fevereiro, há uma série de homenagens. A morte trágica de um ídolo é o passaporte para eternidade. Os jogadores, que são mais cultuados que as outras vítimas, serão lendários. Os feitos serão contados, aumentados, perpetuados. Nunca morreram! Sem a 'tragédia', seriam ilustres desconhecidos ao final de suas carreiras. Lembrados apenas pelos 'fanáticos' declamadores de escalações ou sites, tipo, 'onde anda?' O que vai desaparecer é a lembrança da gentileza, generosidade, solidariedade do Atlético Nacional, dos colombianos. Foi um hiato na história humana. Que pena!
domingo, 29 de janeiro de 2017
A mídia e seus zumbis
Chiko Kuneski
Cada dia mais o
jornalismo televisivo, principalmente, se alimenta de carniça. Quanto mais
sangue melhor. O bom é que seja bem mal. Uma tradução livre do “bad News, good News”,
talvez ensinado atualmente nos novos currículos de comunicação das
universidades ou imposto pelos números de audiência. A sociedade, nunca como
antes, faz a mídia reproduzir o que ela deseja e os meios de comunicação
produzem, cada vez mais, o que querem que a sociedade reproduza.
As atrocidades, sejam
elas provocadas pelo homem ou por outros fatores são vendáveis. Sua exploração
ao máximo torna-se prefeita para a continuidade da notícia, alimentada e realimentada
à exaustão. No jargão jornalístico chamamos de “suíte”.
O pior acontece quando
a prática contamina o jornalismo esportivo. O pior virou melhor. O pior virou
notícia. A tragédia virou mote. Os mortos não podem nem “morrer em paz”. São
sugados mesmo depois de não mais existirem. O vazio das dores vira o cheio da
notícia.
Um minuto de silêncio
pode parecer nada. Apenas uma lembrança. Um minuto eterno de silencio é
vendável. Parar os jogos do campeonato catarinense aos 26 minutos do segundo
tempo para decretar um minuto de silêncio lembrando os 71 mortos vítimas do
acidente de avião que transportava a Chapecoense (45 do primeiro e outros 26 do
segundo somados) foi o extremo da
exploração da carniça midiática.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2017
Coisas do tempo
Chiko Kuneski
Hoje tive o prazer de
rever e conversar com Paulo Brito, um professor amigo e que se tornou somente
um amigo. Com o tempo a face vira faceta é lapidada ao brilho estremo. Assim
vejo o futebol. Uma face a ser eternamente lapidada até se tornar uma faceta.
Ou acredito nisso; ou deixo de gostar do futebol.
Todo jogo sempre parece
igual, mas não é. São as nuances. As rugas e as rusgas que o tornam mágicos.
Mais as rusgas acho. A competição. A Emoção. O confronto de conceitos. Sempre
os conceitos individuais, mesmo no coletivo, fazem sua magia.
Não existe futebol sem
essa magia conceitual. É o mais apaixonante dos esportes. É um tango na
dramaticidade. É um samba na cadência. É um bolero no passe. É um rock no grito
de gol. Concordo com Mauro Pandolfi: “ é um palco de grama”.
Mas o que é a vida se
não um grande palco?
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
Tostão, 70!
"Por mais que eu reze não tem jeito. Este Tostão é mesmo infernal."
Dom Serafim Fernandes de Araújo, ex-bispo de Belo Horizonte, torcedor do Atlético Mineiro.
Mauro Pandolfi
'Olha
que coisa mais linda. Mais cheio de graça. É ele, o craque, que dribla e
passa num doce
balanço a caminho do gol'. Estraguei os belos versos de Tom Jobim
imaginando o fantástico jogo de Tostão que nunca sai do meu imaginário.
Dois gênios.
Brasileiros. Únicos. Lúdicos poetas que brincaram com os sons da
palavras cantadas nos estádios. Um produziu música. O outro, gols,
dribles. Um já virou lenda. O outro encanta pelos olhares lúcidos do
futebol. Tom Jobim faria 90 anos. Tostão continua se reinventando aos
70. Parabéns aos dois!
Tostão
é o craque da minha infância. 'Se eu fosse Pelé, tomava café. Se fosse
Tostão, tirava o calção'. A paródia de 'Criança feliz' cantada nos
recreios do colégio Flordoardo Cabral era o sinal de que o jogo iria
começar ou terminar. Campo improvisado. Tijolos como as traves. Acabava
no sinal ou na última chamada da Leda, a minha querida professora
daqueles tempos. Em casa, na imensa eletrola da sala, buscava os jogos
do Cruzeiro nas rádios mineiras. Adorava aquele time de Dirceu Lopes e
Tostão. Vi poucas vezes na tevê. Li muito nos jornais e na Placar. Tinha
um poster daquele timaço no espaço da mesa e das prateleiras da estante
do quarto. Poxa! Já tem quase cinquenta anos esta lembrança. O tempo
nunca passa. É só um engano. Este apito que tocou lá fora é o sinal?
Não! Era só o alarme de um carro que disparou.
"Tempos
vividos, sonhados e perdidos", o livro de Tostão, é pura poesia.
Encantamento pelo jogador maravilhoso e seus olhares. A ternura do
médico que nunca matou o craque, como se espalhou feito lenda pelo
Brasil. Tem a delicadeza do cronista. Um sábio que entende as mudanças
do jogo. Captura e decifra. Não se projeta, feitos os antigos craques
comentarista, na partida. Sabe que só é um analista. E, que analista!
Tostão não se perde na mitologia. Muitas vezes é só o dr Eduardo
Gonçalves de Andrade, sereno médico humanista. Não se considera um dos
maiores. Prefere Romário em seu lugar na Seleção de 70. Olha! Paro,
penso, reflito e suspiro: será que Clodoaldo não seria um ótimo
zagueiro?
Não
vou ver futebol hoje na tevê. Vou mergulhar na memória. Vasculhar o you
tube. Procurar o filme 'Tostão, a fera de ouro'. Ele revela o craque
que colocou o coletivo acima da vaidade. Sabia que time era mais
importante que o solitário jogador. Tostão inventava o momento,
imaginava o espaço a dribles e tabelas, criava a jogada não prevista e
não pensada e a transformava em gol. Talvez, reveja Brasil e
Inglaterra, da Copa de 70. Entender que a movimentação e o espaço vazio é
uma espécie de poesia. Ali há toda a beleza do futebol. A magia e o
encantamento. O futebol, nos dias de hoje, é promessa de vida no teu
coração.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
A dor da hipocrisia
Chiko Kuneski
Dois episódios,
teoricamente isolados, mas com um ponto básico em comum, o avião. Em queda de
aviões há mortes. Raramente sobreviventes. Mas sempre especulações
jornalísticas. São inevitáveis. Explicações técnicas. Duvidosas. Comoções de
expectadores. Esperadas. O Brasil é um país movido a comoções.
O jornalismo é quem as
faz. Os jornalistas sabem melhor do que todos isso. “Bad News, good News”, a
máxima que não importa o tempo ou a mídia é repetida incansavelmente, sem ser
dita. A tragédia tem que durar. No jargão tem que ter “suíte”. Tem que render.
A má notícia tem que ser uma boa notícia por dias, semanas ou até meses para
ser para o jornalismo e seu sensacionalismo.
Dois acidentes de
avião. Pessoas morrem. Famílias ficam. Comoções a serem exploradas ao máximo.
Em comum a morte de todo um time da Chapecoense, de vários jornalistas e até do,
que parecia infindável, presidente da Federação Catarinense de Futebol, de um
lado da notícia e de outro catarinense que era peça chave da operação Lava Jato
no Supremo Tribunal Federal.
A morte de todo o time
da Chapecoense ficou rentável para o noticiário e para os veículos de
comunicação. Todos os eventos esportivos depois da tragédia exploraram a exaustão
o acidente e a tragédia. Meses de suítes. As televisões vão ganhar muito com os
direitos de transmissão dos jogos beneficentes para a “Família Chapê”,
incluindo amistoso da seleção brasileira com a da Colômbia.
O mundo se comoveu. A
dor da hipocrisia universal movida pela mídia. Já a Lava Jato, que pode ter
sucumbido de hélice, provavelmente vai submergir.
Ódio ao futebol moderno
Mauro Pandolfi
A
faixa estava num canto do estádio. Cinco ou seis ao redor dela. A tevê
achou, exibiu, revelou algo que não suspeitava. "Ódio ao futebol
moderno" dizia o trapo. Sabia a existência dos loucos por 'jogos
perdidos'. Gente que viaja para assistir 'XV de Jaú x Jabaquara', ou
algo similar. Sou um caçador de partidas antigas no you tube. É uma
rudimentar, equivocada tentativa de decifrar se os grandes craques eram
grandes ou
só exagero de apaixonados. Curiosidade de jornalista. O tempo deles era
outro, o meu olhar é de hoje. Jamais saberei. O cartaz mexeu comigo.
Ódio é um sentimento de agora. De insultos, de 'pós-verdade', de
mantras repetidos feito ladainha. Andar amado nas redes sociais é um
perigo. Não entendi o desprezo pelo moderno futebol. São jogos para
todos, via tevê, arenas que abandonaram o tratamento de gado do torcedor
dos velhos estádios, um futebol nunca tão bem jogado como agora. São
seitas, comunidades isoladas, sectários de antigas ideias ou só
ranzinzas ingênuos com o medo do novo, que sempre vem? Não sei!
A
rua Javari lotada. Entre três e quatro mil pessoas. Um canto escapava
pelo som da tevê. 'O ódio ao futebol moderno'. Pessoas espremidas, um
canoli (doce italiano) nas mãos, um rádio na outra e um alegre sorriso
de domingo à tarde. Descobri que é um movimento de torcedores do
Juventus que vai deixando um rastilho de pólvora nas redes sociais.. Sócios que não desejam a venda e nem a reforma do velho
estádio. Votam sempre contra qualquer destas iniciativas.
Elegeram o futebol atual como vilão. É ele que obriga a transformação.
De arenas, de inovações táticas, de mudança no uniforme. Tem um cartaz
que sente saudades de Milton Buzeto. Um símbolo da retranca dos anos 70.
Neste período, o Juventus ganhou a fama de 'moleque travesso'. Buzeto e
sua ousadia em defender com onze. Uma bola, um cruzamento, uma falta, um
chutão. O gol! Depois, o campo reduzido na frente da área. Estranha
saudade!
O
movimento contra o futebol moderno começou na Itália. Um torcedor do
Roma levou um cartaz declarando 'ódio eterno'. Foi um protesto
contra a venda do clube. Se alastrou. Invadiu estádios. Manifestações
contra a reestruturação dos clubes, as arenas ('Todos os estádios
ficaram iguais. Não diferencio nenhum deles', disse-me um amante à moda
antiga da bola) e seu pudico comportamento. 'Não é teatro e nem
cinema', gritavam. Impedidos de pular, de assistir em pé, de vociferar,
forçaram mudanças.Há estádios com espaços para os 'ultras' (torcedores
'ferozes') acompanhar a partida em pé. Reclamam também dos preços dos
ingressos. Os pobres foram afastados. Questionam os horários dos jogos.
Barcelona já jogou à meia-noite.São questões discutíveis. Também,
reclamo do preço do ingresso. Vou uma ou duas vezes por ano ao estádio.
Os demais vejo via tubo.
Bradam
contra a mercantilização do esporte. Dos grandes salários, das
transações 'suspeitas', da grana que rola solta. Sempre foi assim. Nos
anos 30 do século passado, quando o futebol deixou de ser 'amadorismo marrom' e
virou 'profissional', as negociações começaram. Alguns uruguaios e
argentinos vieram jogar por aqui. Os daqui partiram. Fausto, primeiro no
Barcelona, e Domingos da Guia foram para o Nacional do Uruguai por
dinheiro, são os exemplos mais históricos. A Liga Pirata da Colômbia
atraiu craques, como Di Stefano e Heleno de Freitas, por uma fortuna
considerável. Talvez, Caetano Veloso tenha razão ao cantar 'que o
dinheiro constrói e destrói coisas belas'. Será o futebol uma delas?
Há
os que odeiam o jeito de jogar. 'Não tem mais dez!', berram. 'Cadê os
pontas!', protestam. 'Time sem cabeça de área é vulnerável', este é o
que mais me impressiona. 'Falta o nove. Aquele da área, do cabeceio,
matador', há até uma república criada (a do Texas) reivindicando a volta
do aipim, do poste, do centralizado. Detestam quando o time aparece com
um uniforme diferente. 'Não respeitam a tradição', detonam. Só faltou
citar a 'família e a propriedade'. São cantilenas passadistas. Saudosos
de um tempo que ficou no imaginário, de um passado glorioso que foi pura
fantasia. Não percebem a beleza do jogo. A variação tática que
potencializa o talento com uma intensidade que substitui a indolência. Há um jogo
planejado que favorece craques e nunca foi tão bonito, tão bem
jogado, visto por quase todo planeta, explorado todas as suas
possibilidades. Até a compaixão, o humanismo, a fé, como aconteceu com a
tragédia da Chapecoense. A solidariedade do mundo deu esperança de
acreditar na humanidade. Mas, há Trump, Putin, Bashar-Al-Assad... deixa
prá lá!
quarta-feira, 18 de janeiro de 2017
Macho alfa
Mauro Pandolfi
O
futebol brasileiro está completo. Voltou quem faltava. O boquirroto, o neurótico, o nervoso, o macho alfa. Felipe Melo já
mostrou que será o 'dono do pedaço'. Na primeira entrevista, bancou o
valentão, o crítico, o bom amigo, o xerife ou bandido (a escolha é de
quem quiser), o ídolo da torcida, o 'malvado favorito' do Palmeiras. Reclamou da fama de violento, da
ausência de sua 'técnica' nas reportagens sobre ele, dos que são pagos
para falar 'mal dos outros'. 'Sem generalizar, é claro!', esclareceu.
Foi um longo papo na tarde de terça. A mesma machonaria, grossura,
estupidez que desfila nos campos. Nas manhãs de quarta, nos programas
esportivos, os jornalistas comentaram a' bipolaridade' de Felipe Melo e
afirmaram que 'nos mostramos os lances de qualidade, além dos lances dos
cartões'. Lembraram até de um velho conselho de Armando Nogueira:
'Elogiar, sem bajular. Criticar, sem ofender'. Poxa! Parecia um tom
cinzento de culpa. Um pedido, tímido, envergonhado, de desculpas
antecipadas ou de críticas equivocadas ou maldosas..
Felipe Melo foi 'sincero'. Ríspido, fugiu do politicamente correto.
Desafinou o coro dos contentes. Se impôs. Será o jogador mais visado,
vigiado, olhado. Ninguém ficará imune a ele. Bravateiro, chegou
'assustando' os adversários. "Se precisar dar porrada, eu vou dar!" Será
que os meias e atacantes de seu time vão pipocar? Felipe Melo tenta
cavar uma vaga na seleção. O futebol não ajuda. Mas, a 'marra', o jeito
valentão, fanfarrão é pré 7 a 1. Espero que Tite o ignore. Sempre terá
alguém que lembrará dele. Há os que dizem que é 'preciso um bandido';
outros, dentro da lei, é ' necessário um xerife'. Eu prefiro alguém que
jogue futebol. Um belo e eficiente jogo.
Pediram,
exigiram, clamaram, choraram. 'Um dez, por favor!'. Estão de volta uma
porrada deles. Parece um listão do vestibular ou uma delação premiada.
Há tantos. Todos famosos. Canhotos e destros. Lentos ou rápidos.
Brasileiros ou gringos. Conca, Montillo, Thiago Neves, Wagner,
D'Alessandro, Jadson, e, quem sabe, Ronaldinho Gaúcho. Todos sub-40. Fim
de
carreira. Sem espaços no futebol europeu, até da China, de velocidade,
de intensa
movimentação, de recomposição. Estou curioso em saber como serão armados
os times. Os anos 90 voltaram? Seguem a falsa ilusão de Douglas, do
Grêmio. Ele foi ótimo em 10 ou doze jogos. Decisivo nestes. Porém, atuou
em 56 partidas. Na maioria delas passeou em campo. O
futebol brasileiro vai se renovando com os 'dez' à moda antiga. De volta
ao 'futuro'. Futuro retrô. Afinal, passado é mesmo eterno no Brasil.
sábado, 14 de janeiro de 2017
Homo Deus
Mauro Pandolfi
"Eu preferiria viver em meu apartamento. Não quero atingir a imortalidade por meio de meu trabalho. Quero atingi-la não morrendo".
Resposta de Woody Allen ao ser questionado se ele esperava viver para sempre nas telas de um cinema.
Imortalidade! O devaneio humano. Desejo, esperança. Estamos mais perto do sonhamos. O historiador Yuval Noari Harari garante que sim. No seu livro 'Homo Deus', ele cogita, especula, assegura que a morte está com os dias contados. Entre 2100 e 2200, o 'homo sapiens' poderá viver até 500 anos, E, depois ser imortal. "A morte é uma falha técnica", explica. Cientistas pesquisam, trabalham, procuram o conserto da 'falha'. Será a transubstanciação de 'homo sapiens' para 'homo deus'. No final do século 19, a média de vida era de 47 anos. Neste início de século 21, a vida pode ser curtida, em média, 80 anos. Aliado ao tempo, a juventude. Sempre jovens. Eternamente jovens. Só uma tragédia, um desastre, um acidente para morrer. O delírio de Ponce de Leon era verdadeiro. Como seria o futebol com a imortalidade? Não haveria dúvidas de quem é melhor? Somente grandes times? Os bondes também seriam eternos?
Nunca vi Puskas. Di Stefano é só um mito.Garrincha é uma lenda. Airton Pavilhão é uma história muito bem contada. Saul Oliveira era um craque declamado em prosa em Florianópolis. Tantos. Muitos. Lionel Messi não seria só uma imagem para os meus netos como Pelé é um enigma para os meus filhos. Gosto da ideia. Todos ao mesmo tempo. Juntos no mesmo time. Separados, adversários. Grandes times. 'Pelé recebe de Iniesta. Procura Cruyff. O mago do carrossel toca para Garrincha. O drible, o João e o passe perfeito para Messi. Ele desvia do goleiro, com um toque sutil'. Um gol que nunca verei. Mas, não sai do meu imaginário. O futebol é mesmo o lugar ideal para sonhar.
Os times e o recomeço. Me abasteço com os jogos da Copa São Paulo de Juniores. Há ótimos jogadores. Alguns, candidatos a craques. Dribladores, defensores, meias, artilheiros. Surpresas e confirmações. A eterna Chapecoense reencontrando alma, tornando-se imensa. Já é um clube do mundo. Muita boa, esta copinha! No entanto, o que domina o amante da bola é formação dos times. As contratações e os reforços. Reforços? Parece que os cartolas acreditam no 'Homo Deus'. Apostam que a imortalidade existe dentro de um campo de futebol. Querem manter a alma, a cultura e os ' mitos' até onde der.
Faltam craques, não há jovens de talento? Ou, é mais fácil procurar um medalhão decadente ou o é o medo de arriscar em guris? O Grêmio aposta em Léo Moura com 38 anos. Sem atacantes, acho que vai aproveitar Renato, com 54, como 'aipim'. Não seria uma boa ideia?O Palmeiras se arrisca com o tresloucado Felipe Melo de 33.e mantém Zé Roberto com 41. Tantos. Conca, Montillo, Cleiton Xavier, Roger Bernardo, Luís Fabiano, Carlos Alberto...Ufa! Muitos. Aqui, se faz a mesma coisa. Lúcio Flavio, quase 40, no Joinville. O Figueirense buscando o insípido Zé Love, mais de trinta, e o Avaí trazendo Gustavo, de 33. No Figueira, há o meia Igor, destaque da Copinha; no Avaí, o garoto Gabriel, sempre em seleções, verá mais uma temporada no banco. Mas, ninguém baterá o Corinthians. O Timão tenta Drogba! Deus do céu! Ah! O Coritiba especula Ronaldinho Gaúcho. Não são só os diamantes que são eternos. Os trouxas, também!
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Ante o anti-jogo
Chiko Kuneski
A partida começou
frenética como poucas decisões já vistas com a bola sendo lançada para o
jogador que ocupava a ponta esquerda do ataque vindo desesperado da linha do
meio campo em corrida de fundista para chegar na bola que queimou sua chuteira
pela força do passe e o fez livrar-se num só toque para o meio da área aonde o
único atacante disputou-a na cabeça com dois grandes zagueiros bem posicionados
que impediram o gol relâmpago da decisão cortando o cruzamento e já ligando o
contra ataque nos pés do volante de contenção que não sabia bem o que fazer com
o espaço a sua frente e o forçou a tentar uma ligação direta com o meia direita
que já recebeu no peito e enfiou para o ala esquerdo numa jogada treinada que
avançou livre com a bola em direção a
linha de fundo sem perceber que o time não tinha pernas para seguir seu ritmo e
cruzar para o meio da área com a cabeça baixa apenas olhando para a bola sem
saber a direção dos atacantes que não estavam na área e facilitaram o soco do
goleiro jogando-a até a meia lua no pé do zagueiro que a tocou rápido para o
ala direita que a soltou para o meio tentando uma jogada criativa mas caiu no
volante e esse não sabia criar e passou para o segundo volante que também não
entendia muito bem do jogo e fez a redonda chegar às chuteiras mágicas do
craque do time que a dominou como cuidando de um bebê e a ninou no couro
levantando a torcida numa fintam impensada no marcador e driblou o seguinte e o
seguinte e o seguinte chegando frente a frente com o goleiro que nada podia
mais fazer a não ser olhar para os olhos do atacante para tentar feito raio de
sol ofuscar a precisão que não foi tão boa assim com a redonda encontrando a
trave redonda com uma violência de balançar arquibancadas até cair no pé do
lateral adversário que apenas levanto a cabeça e fez um longo passe para o
meio.
Assim foi o clássico
decisivo. Correria sem jogo. Acabou sendo decido no cara ou coroa depois que
todos os batedores de pênaltis acertaram a atravessada trave.
Coliseu carioca
Mauro Pandolfi
Primeiro
sinal. Luzes se apagam. Pessoas ainda entram na sala. Gritos e
sussurros. Segundo sinal. A bagunça encantadora da juventude. A imagem
surge na tela. Um samba embala emoções. 'Que bonito é. Ver a rede
balançando...' O delírio da gurizada. A bola, o gol, o drible. A beleza
do futebol. O olhar que a tevê escondia. Canal 100! Muitas vezes melhor
que o filme. Comentamos mais o gol do que o beijo na mocinha ou a
valentia do mocinho. Mas, o que me chamava mais a atenção era o estádio e
sua gente. Olhares esbugalhados, surpresos, atônitos, admirados. Os
risos que revelavam as bocas banguelas. O pescoço espichado para ver os
lances, que se resumiam as pernas dos craques. O Maracanã foi o símbolo
de um futebol imaginado, desejado, sonhado, suspirado. Poucas vezes
real. Maracanã é o signo de uma igualdade fantasiosa. O futebol que
igualava tudo. O lugar sagrado de todos brasileiros. Um purgatório da
beleza e do caos. A geral sempre foi a senzala do grande templo. Quase
todos pobres. Quase todos negros. O Maracanã está virando um lembrança.
Uma saudade. Uma foto pendurada numa barbearia de subúrbio.
Nunca
entrei no Maracanã. Chequei perto. Fiquei no entorno. As portas
fechadas. Não permitiram entrar. Fiquei frustrado. Me impressionou o
tamanho. Imenso. Gigante. Foi um final de semana de setembro que não
teve futebol no Rio. Desde menino vivi este estádio. Nas ondas do rádio,
nas rodadas duplas do futebol carioca, curtia o Maracanã. O templo de
Mané, de Zico, de Pelé, de Obdúlio Varela. De mitos, de gênios, de
bondes. O lugar onde um tal de Fio Maravilha virou música. Maracanã rima
com poesia, com arte, da bravura uruguaia. Foi só uma derrota. Coisas
do futebol. Trataram como 'tragédia'. Um exagero da paixão da bola. A
grande peça do teatro de grama e paixão.
Maracanã
é um símbolo do engano. O futebol inventado nos anos 50. Glorificado
nos 60. Endeusado nos 70. Mitificado nos 80. Resistente nos 90.
Sobrevivente no século 21. Um jogo tocado, bailado, sem rumo, sem
pressa. Tão lento que parecia preguiça. Criou-se o craque do Maracanã. O
que driblava sem sair do lugar, o que passava e esperava o retorno da
bola. O que matava no peito, deixava rolar na grama e ...errava a
jogada. Conheci vários. Muitos tornaram-se peregrinos, ciganos, a
'mostrar a sua arte' nos campos mortais. Maracanã era o sonho de
meninos. Um deles, bem próximo, transformou o Vermelhão em um Maracanã,
onde as partidas pareciam não ter fim.
Quem
diria que o maior elefante branco da Copa de 2014 seria o Maracanã?
Abandonado. Quase destruído. Largado. Roubaram a até o busto de Mário
Filho, o jornalista que dá o nome ao estádio. Triste. Muito triste.
Deplorável. O gigante mutilado em sua história, sua glória, em seus
sonhos. Um Coliseu carioca. Custou caro, muito caro, um roubo, e já é ruína. O Maracanã é um
lamento feito um samba de Paulinho da Viola."Um rio que passou em minha
vida e o meu coração se deixou levar".
segunda-feira, 9 de janeiro de 2017
O gajo bestial
Mauro Pandolfi
Cristiano
Ronaldo é uma máquina. De jogar, de marketing, de beleza. Cristiano
Ronaldo é um símbolo. De gols, de vendas, de comportamento. Cristiano
Ronaldo é um hábil artesão. De lances, de propaganda, de moda. Cristiano
Ronaldo é um mito. Do futebol, deste tempo, da cultura pop. Cristiano
foi eleito o melhor jogador do ano pela FIFA. Deixou para trás o mais
fantástico craque desta era: Lionel Messi. Cristiano é um vencedor. De
copas, de campeonatos, de prêmios. O homem do sorriso mais emblemático
do mundo da bola, da publicidade, desejado por todos os gêneros atuais
da sexualidade. Se algum dia, robôs substituírem os homem na arte de
jogar bola, eles serão semelhantes a Cristiano Ronaldo. Afinal, ele é
uma máquina.
Cristiano
Ronaldo é um criador de imagens inesquecíveis no futebol. Grande,
hábil, forte, enérgico. Ele é o mais eficiente jogador de futebol, vou
exagerar, de todos os tempos. Não desperdiça o lance. Não complica a
jogada. Simplifica o gol. Se impõe no jogo. Cria o jogo. O vaidoso que
confere o lance, o gol, o penteado no telão do estádio. A precisão é a
sua principal característica. Nas cobranças de faltas, é mortal. Parece
usar uma mira, um visor, uma tela, para a batida perfeita, precisa,
destruidora. A técnica apurada. A matada no peito é igual a de um certo
Pelé. Definidor primoroso. Não escolhe o pé para balançar a rede. Se
caiu no esquerdo, é fatal. No direito, é quase impossível a defesa.
Cristiano se inventou para tornar-se um mito. Um obcecado pela
perfeição, pelo requinte, pela afinação. Não foge de treinos. É
aplicado, intenso. Cristiano Ronaldo é o maior jogador mortal deste
tempo.
Imagine
um campinho de pelada. O sorteio é feito. Tu escolhe primeiro. Estão um
'pibe' chamado Lionel. Há um 'gajo bestial' espadaúdo de nome Cristiano. E
agora? Ainda bem que o futebol não elimina o outro. Pelé e Garrincha
dividiam paixões nos anos 60. Pareciam irreconciliáveis as preferências.
Quem gostava de um, desprezava, diminuía o outro. Pelé era o gênio
cerebral. Garrincha, feito um pássaro em liberdade, é a improvisação, o
instinto. Li muito, vi pouco, ambos eram ambos. Há momentos cerebrais de
Garrincha. E, Pelé improvisava sempre uma solução. Os dois foram
fantásticos na seleção. Messi e Cristiano Ronaldo, talvez, nunca serão
parceiros de um mesmo time. Que pena! Geniais os dois. Um mais genioso
que o outro. Mas, eu escolho Lionel . É só uma opção. Sei que Cristiano
é fabuloso e poderá detonar o meu time. É o risco que torna o futebol
apaixonante.
domingo, 8 de janeiro de 2017
O mágico
Chiko Kuneski
“Foi lá onde a coruja dorme!”
Talvez a mais ouvida
alegoria sonora no que se chamava “ondas do rádio”. A bola iludindo zagueiros
da barreira, goleiro astuto curvado às curvas do chute da chuteira inerte
segundos antes. Traiçoeiros. O segundo e o chute. O descritivo sonoro de um
momento que nunca se repetiria. A bola, a trave, a rede estufada, o grito de
gol ecoando garganta a fora. A coruja imaginária sobre o travessão acordada
pelo chute mágico roçando abaixo no couro com o aço.
Acordar a coruja na perfeição
de um chute é um poder dado apenas para os mágicos da bola. É metafísico. É excepcional.
Como se um globo de couro transformasse a atmosfera do globo do espaço da
Terra. Inumano. Impossível de ser contido. Vira meta-humano. A fantasia dos
games no real dos campos.
Esse é Lionel Messi. Um
mágico de infinitos truques que une os mundos, fazendo a fantasia, a ilusão, a
mágica virarem realidade. É o encantador da hora certa de tirar a coruja da
cartola, ou do ninho alegórico, onde dorme, e lhe dar as assas da mais pura
emoção de deixar locutores e torcedores roucos.
O jogo desfavorável. A derrota
amarga num gol de contra ataque. O time correndo atrás da bola. Os outros “craques”
sucumbindo a marcação implacável. Mas “a bola procura quem sabe”, outra máxima
futebolística, que prefiro definir como “quem sabe acha a bola”, cai nos seus
pés. Quatro marcadores. Implacáveis. Uma barreira humana. Nunca para o mágico.
Bola entre os pés. Escondida.
Subtraída pela ilusão da velocidade. Corpo esguio. Olhar atento na plateia. O engano
do drible. Somente parado com a força do real que não entende os mistérios
mágicos do futebol. A queda cenográfica para aumentar o encantamento dos
espectadores. A falta buscada para fazer a mágica.
A bola e a meta. O cenário
perfeito para o mágico e sua magia. A Ilusão da barreira. A ilusão do goleiro. A
ilusão do impossível. Da coruja imaginária alçando asas sobre sua cabeça em direção
do centro do campo guiadas por seus braços esfuziantes.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2017
Previsões
Mauro Pandolfi
Gosto de previsões. A ideia de adivinhações me encanta. O olhar do futuro é um desejo que me arrepia a alma e desperta a mente. Procurei na internet e o que vi não me satisfez. Quebrei a promessa e procurei Rai Carlos, o meu amigo vidente cego. Quando trabalhava no jornal fiz uma matéria com ele. Acertou tudo ao meu respeito e muito sobre o futebol e o país. Viramos amigos. Mas, ele impôs uma condição: nunca pedir previsões. Sempre respeitei. Curioso, ansioso, o procurei. Ficou bravo. Perdeu o humor. Irritou-se. Conversa vem, conversa vai, umas doses de gim e ele concordou. Fez questão de lembrar. "Previsões não são certezas. São possibilidades. O espectro solar e astral indicam o caminho. O livre arbítrio humano pode interferir, assim como o acaso. Não significa um engano. Significa que o dono do destino é a própria pessoa. Fez o passado, vive o presente e fará o futuro. Bom ou ruim? Depende dele".
A sala está escura. O cheiro de alfazema do incenso me incomoda. Acho estranho a música de fundo. Esperava uma música suave, new age e toca o heavy metal do Sepultura. "É o som deste tempo. Conturbado, agressivo, inspirador, ríspido, transformador", explica Rai. O assunto é futebol. Ele está concentrado. Sentado numa posição de Meia Lótus, balbucia um mantra. Repete e repete. Os olhos fechados. E começa.
"O ano tem o final sete. O campo astral é favorável a quem o sete como marca. Botafogo tem o mago Garrincha como mentor. Será um grande ano. Ganhará o Campeonato Carioca e chegará, no mínimo, nas quartas de final da Libertadores. No Brasileiro é um grande candidato. Já o Grêmio tem Renato no comando. O sete em grande momento solar. Ganhará dois ou três campeonatos. O Gaúcho e, no astral não fica claro, se é o Brasileiro ou a Libertadores. Há risco nos dois clubes. O Botafogo terá que resistir as negociações de seus craques. O Grêmio precisa sobreviver a soberba de seu guru, Renato. Ele pode por tudo a perder", revela. Gostei da previsão.
Pergunto sobre os catarinenses. "A Chapecoense tem um astral espetacular. A tragédia gerou uma força que será transformadora. Vai ganhar o Catarinense, chegar às oitavas na Libertadores e brigará por título na Copa do Brasil ou Sul-Americana. O campo está limpo e lindo. A energia de todos é extraordinária. O Avaí será o grande adversário. Disputará a final do Catarinense com a Chapecoense. A estrela, a resistência do interminável Marquinho Santos, o El Cid, poderá mudar o resultado. Não vai ser rebaixado na série A. O Figueirense tem um campo astral nebuloso, escuro, dramático. Precisará de muita energia. Não sei se terá. Falta ao Figueirense alguém ligado ao clube, a sua história, a sua gente. Somente quando encontrar alguém assim, terá sucesso. O melhor momento do ano será o segundo semestre. A chance de subir é pequena. Mas, há. Joinville seguirá o seu destino: voltar de onde veio. Só uma grande sinergia, entre jogadores e torcida, poderá evitar novos vexames. Mais tranquilo é o Criciúma. Tem grande poder de luta, muita energia e imensas possibilidades de voltar à série A. A surpresa será o Tubarão. Ficará entre os grandes. A decepção, meu caro Mauro, será o teu Inter. O astral é confuso, problemático e perigoso. Corre risco de queda. Mas, lembre-se, o livre arbítrio, a autonomia, as forças mentais podem modificar tudo". Está claro, Raí.
Pergunto dos outros clubes. "O Palmeiras tem a maior potência entre os clubes brasileiros. Pode ser o grande vencedor do ano. Porém, agregou forças negativas no elenco. Desagregadores. Se o jovem Eduardo Batista não souber lidar, perde o cargo e os títulos. Santos continuará o mesmo. Bons jogos, chance no Paulista e nenhum título de expressão. O karma dez é muito forte. Pelé está doente,. Os deuses do futebol, que amam o Santos, estão cuidando só dele. São Paulo será a grande novidade. Ousadia que resultará em bons desempenhos. Chances reais de títulos no Brasileiro e Copa do Brasil. Corinthians está em convulsão. Tem dois 7 em sua história. Em 77, saiu do inferno astral de 21 anos sem títulos. Pode ocorrer o mesmo agora pela força dos jovens. O problema é a diretoria que não gosta de jovens. O Brasileiro é mais complicado. No Paulista e na Copa do Brasil há chance de conquista. A energia dos mineiros é muito forte. Atlético tem o magnetismo de Roger. Ele será vencedor nesta temporada. O Cruzeiro tem em Arrascaeta o líder para a vitória. Os dois terão títulos".
Faltaram os cariocas. Rai garante o título estadual ao Botafogo. E o que acontecerá com Flamengo, Vasco e Fluminense? "O Vasco tem o signo da derrota, a energia negativa, o campo astral nebuloso que é Eurico Miranda. Será, outra vez, candidato ao rebaixamento. O Fluminense tem a soberba como visão histórica. Sempre usa um vencedor para as reconquistas. O espectro solar não é bom. Porém, Abel Braga tem uma energia magnética com o 'Papai do Céu'. O Flamengo mudou a sua rota. O astral recomenda os jovens, os meninos e o clube volta aos medalhões. Só os garotos darão título ao Flamengo. Zé Ricardo é jovem, Se apostar nos iguais a ele, vence. Caso contrário, decepções. O Internacional, para a nossa tristeza, voltará. Será uma batalha, nada comparada a dos Aflitos, traumática. Sofrida. E, se tornará muito frágil, um espectro do gigante que já foi", revela. Rai está cansado. |Não pergunto sobre os times do exterior, nem o Brasil nas eliminatórias. Faço uma última indagação;
E, a política? "2016 não terminará tão cedo. Aliás, estamos vivendo a sequência de 2013. Não entendemos o que foram as manifestações populares. Elas romperam o sistema, destruíram as organizações políticas, romperam as estruturas. Tudo que vivemos em política terminou. Só os políticos não perceberam. Perceberam, sim. Lutam desesperadamente para nada mudar. Teremos mais dois, no mínimo, presidentes até 2018. Na eleição, surpresa! Não é Bolsonaro! Deste traste, estamos livre. É alguém com muito respaldo da população. Será uma espécie de Nelson Mandela. Vai reconciliar o país. O nome não é muito claro. Não consigo ver o nome", explica. Pergunto sobre a Lava Jato. "Vão continuar tentando acabar com ela. A pressão popular vai impedir. Veremos muitos figurões enjaulados. Quase todos. Alguns escaparam", conta.
O transe está terminando e quero saber da economia. "Não precisa ser vidente, meu caro Mauro. Tudo continuará igual até 2018. As reformas são farsescas, nada mudará. Vamos sobrevivendo, cada vez com menos", diz ele. Melancólico, comento que nunca sairemos disto. "Vivemos uma espiral histórica. O passado nos prende no mesmo ponto de sempre. Aí, giramos numa espiral sem fim. Vamos e voltamos, como farsa ou realidade, não saímos do lugar. Parece eterno. Sugere eternidade. É só um engano. De tempos em tempos, há a transformações. O que vivemos é a última resistência a esta mudança. Ela virá. Forte, enérgica, necessária, revolucionária. O futuro será grandioso. Duvidas, Mauro?" Sou um cético saudável. Não creio em nada e acredito em tudo. Não discuto as previsões. São teses, são olhares, sensações, energias. E, como se fala por aqui: 'Se tu dix!..'
segunda-feira, 2 de janeiro de 2017
O perna de pau
Chiko Kuneski
Ninguém o escolhia no
time do bairro. Sobrava e, como prêmio de consolação, ia agarrar no gol. As
pernas não serviam para jogar bola diziam os meninos da rua Odiava ser goleiro.
Mas era o que lhe sobrava para brincar com a turma.
O pior era que achava
que defendia bem. Tomava bolada de todo lado, mal sabendo que os garotos, na
sua crueldade humana, chutavam de propósito sobre seu corpo. O Homem é cruel. Na
infância essa maldade intrínseca não tem os freios social adquiridos com a
educação. Apanhava por ser muito diferente.
Saía dolorido, mas
orgulhoso. Olhava para o “capitão” do time derrotado que o recusou com altivez.
Perdeu! Tinha vontade de gritar, mas sua timidez não permitia. O pai sempre
dizia que o vencedor não tripudia o vencido, já mostrou que é melhor.
Apesar de tudo o perna
de pau gostava do futebol. No tablado do botão, onde não precisava da
habilidade do drible das chuteiras, ninguém o vencia. Pensava o jogo. Entendia
o jogo. Sabia o jogo. O futebol não se faz somente com os pés entendeu anos
depois.
Via o futebol.
Analisava o futebol. Pensava como era jogado e modificado por quem pensa o
jogo. O melhor jogador pode ser um desastre num esquema que o impeça de ser
criativo. O pior, o perna de pau, pode ser o zagueiro truculento ou o goleiro
estraga êxtase do gol.
Estudou, não apenas o
futebol e suas artimanhas esquemáticas, mas educou-se e venceu. A paixão o
levou a voltar para o campo, agora profissional, e se por novamente à escolha. Virou
presidente do clube. De rejeitado passou a escolher e rejeitar. Era perna de
pau, mas agora mandava no time que a turma de infância torcia frenética da
arquibancada.
Assinar:
Postagens (Atom)