Mauro Pandolfi
Dois
lances. Bola no meio. O passe para o lado esquerdo do ataque é certeiro.
Corre em linha reta. Rápido. Ergue o braço, pede a bola. Recebe. Um só
toque. Gol! Um lance planejado, armado numa prancheta. Aula de
modernidade. A bola no lado direito. Corre para área. Recebe quase no
fundo. Domina. Chama o goleiro. Um drible, uma dança. Um bolero. Dois
para lá. Dois para cá. O chute seco de pé esquerdo envolve a bola na
rede. Um gol que 'revisita um passado glorioso'. Dois lances de Gabriel
Jesus. Um craque que desponta aos 18 anos. Há outros meninos soltos por
aí. Tão mágicos como ele. O futebol brasileiro nunca morre. Se
renova, reinventa-se no desespero. E, o treinador da seleção convoca
Robinho.
O
futebol é um jogo para meninos. Hábeis e abusados. Dos que tem certeza
de tudo. Dos que não duvidam do talento. Dos imodestos. Nunca dos
soberbos. Garotos que não sacrificam o drible. Guris que tem a métrica
do passe. Moleques que sabem o valor da bola e do prato de comida.
Meninos com consciência de homens. A maturidade é desenvolvida pelo
tempo, pelo vento e pela beleza do jogo. Garotos que são só garotos. Que
sempre jogarão como meninos.
Há
uma plêiade de meninos no campeonato brasileiro. Leiam o guia da
Placar, prestem atenção nas escalações. Há candidatos a craques em todas
posições. Todos com menos de 22 anos. Em cada clube há, no mínimo, um
jogador de qualidade nesta idade. Alguns, são titulares. Em outras, é só
uma questão de tempo, de técnico ou de um empresário.
O
rápido Allison é uma muralha no gol do Inter. Valdívia e Dourado,
também, são ótimos. Marlon é o chefe da segurança do Fluminense.
Jemerson, do Galo, é um bom parceiro. Pena que o Fluminense trocou a
jovialidade, inteligência de Gérson pela malemolência preguiçosa de
Ronaldinho. Jorge do Flamengo já pode ser chamado de 'Seu..Jorge'. No Santos, o
leitor escolhe. Há Geuvânio, Gabigol (mortal!), Alison, Leandrinho. Lucas Lima fica fora da
lista, pois tem 24 anos.
Driblador
e artilheiro. Clayton trouxe a medalha de prata do Pan. É especulado em
vários times. É o craque do Figueira. Mas, prestem atenção em Iago. Tem a
sabedoria e a qualidade dos armadores. Sempre arruma o time quando
entra. A titularidade esbarra nos medalhões decadentes, como Carlos
Alberto, Rafael Bastos, João Vítor e até num clone medíocre do Ronaldinho:
Celsinho. Bruno Alves já é o melhor beque do time. Seguro, calmo,
técnico e preciso. Zagueiraço!
O
que mais me encanta é Luan. O genial armador do Grêmio. Joga de cabeça
erguida. Não precisa olhar a bola. Sabe que ela está lá, obediente.
Dribla em linha reta. O passe é preciso. A movimentação é coordenada com
a estruturação tática do time. E, arrisca! Não tem medo do erro.
Repete, tenta. Bate falta como os velhos mestres. O Grêmio ainda tem
Walace. Parece um volante europeu. Um Pogba. Elegante, marcador duro,
saída rápida. Um dono do meio-campo. O tricolor ainda esconde Lincoln
(tem a qualidade de Lucas Lima, no mínimo!) e Balbino - um espigado
volante canhoto, hábil cobrador de faltas. Estes dois, só o ano que vem mostrarão
o talento.
Uma
lista de jovens espalhados pelo brasileirão da série A. Atenção aos
nomes: Anderson Lopes, Rômulo, Renan, Marcos
Guilherme, Douglas Coutinho, Eric, Carlos, Dodô, Pedro
Rocha, Junior, Hyoran, Vinicius Araújo, Mike, Renê, Diego Macedo, Luan
(zagueiro do Vasco). Muitos deles nunca serão titulares. Alguns
disputarão vaga à Olimpíada. Poucos serão testados na seleção. Muitos,
quase todos, serão negociados com clubes do exterior. Só saberemos a sua
qualidade pela televisão,
assistindo os campeonatos europeus. Serão os novos Douglas Costas e
Roberto Firminos. Aí, os idiotas de microfones e tablets duvidarão do
seu talento.
Afinal, não jogaram nos seus times, nos estados, perto dos seus olhos
embotados de preconceitos e conceitos superados. Eles são 'os tambores'
da verdade.