sexta-feira, 29 de abril de 2016

O ínfimo espaço

Chiko Kuneski

O vazio do espaço me encanta. É o pensamento ilógico do pintor, do arquiteto, do escritor diante da página, do pensador. O vazio do campo é a lógica do jogador ilógico, que confunde até os companheiros de time. O vazio é o desafio.

O jogo está no vazio. Fica no entre corpos. No antever o momento; enquanto muitos procuram o movimento. O futebol está e sempre estará no pensar e agir no vazio. No antever. No surpreender.

Impossível marcar quem preenche o vazio com o desenho mental de um lance completamente terminado. Pinta, na finta. Arquiteta a sequencia da construção. Escreve poemas não paginados nos retângulos demarcados por linhas imutáveis. Pensa enquanto age e age enquanto pensa.

O encantamento está nisso. No surpreendente preenchimento do vazio deixado. Lance de gênio. Lance de fora de série. Lance de craque. Lance de sorte. Chamem como chamarem. Será a imagem inapagável, a construção indestrutível, a frase inesquecível, o pensamento sempre lembrado.


O lance lançado no vazio, não visto por estar num vazio, é o grande detalhe do futebol, feito no curto espaço do tempo e eternizado.

Celso Roth globalizado!



Mauro Pandolfi

Dois dias!. O tempo para pensar, refletir, e entender a falta de lucidez da vida. Usei o período para fugir do emocional, da poesia, do imaginário. A vitória do Atlético de Madri sobre o Bayern de Munique não é só um resultado de uma partida. É um divisor do futebol. É o momento, em qualquer parte da história, que tudo se move. Como uma revolução, uma evolução, ou a revelação de que as coisas sempre foram assim, apenas estavam fora de lugar. O futebol ofensivo, ousado, belo, globalizado, cantado por poetas, está saindo de cena. O pragmatismo, o resultado, a bola solitária, vai vingando o tempo de obscuridade que foi submetido. É a vitória de uma estética passadista  sobre a fúria do gol. O futebol se despedindo-se do futuro. Caindo nos braços do eterno jogo do medo. Simeone encaixotou Guardiola. Anulou o pensar catalão. E, como se fosse um personagem de Pedro Almodovar, foi 'o matador' épico de uma arena de touros. Olé!. Desta vez, o 7 a 1 (metafórico) quem sofreu foram os alemães.
Gosto da defesa. Vejo os jogos prestando a atenção nas linhas. Encanto-me com a sua movimentação. Avançando, recuando, transformando-se em saída rápidas de bola. Defender é uma ofensa para quem fala de futebol neste país. Aqui, o grande, e cultuado, time é o que ataca. O futebol é mais vistoso no ataque..O drible é lírico. A troca de passes criam um jogo matemático, envolvente, mágico.
É o lado encantador do teatro de grama e paixão. Defender é um outro olhar do futebol. Não significa abandonar o jogo. É a busca da vitória com uma outra estratégia. A do espaço, do tempo e da velocidade. O jogo da eficiência, da física.
Detesto a retranca. Abomino o jogo deixado de lado. Abdicado, escondido, segurado. Nas retrancas as linhas não se movimentam. São estáticas. Reduzem o campo para menos de trinta metros. Entregam a bola ao adversário. Quando a possuem, buscam o chutão, atrás de um velocista com boa pontaria. Recusam o jogo. Buscam o fortuito, o acaso, o acidental. Marcam, correm, lutam, não para impedir o gol, o passe, o drible. Para anular o jogo. O segredo de uma boa retranca é o desespero do oponente. A angústia em ver o tempo passar, as unhas roídas dos torcedores, a bola que passa perto, o gol agoniado na garganta. O olhar dolorido do 'inimigo' é o êxtase do retranqueiro.
Simeone foi um ótimo volante. Pegador, marcador, encrenqueiro. O mais típico do volantes argentino. O próprio estereótipo do 'catimbeiro'. Como treinador vai revelando ser um hábil artesão de equipes. Sua defesa é sólida, segura, implacável. Godin é o líder. Há meias habilidosos. Saul marcou um gol que Messi podia jurar que era seu. No ataque, tem o eterno  Fernando Torres. Está em segundo no espanhol, a beira da final na Champions e eu tenho uma dúvida: qual o motivo de querer ser um Celso Roth globalizado?


quarta-feira, 27 de abril de 2016

Pontinho fora


segunda-feira, 25 de abril de 2016

Audax(ioso)



Mauro Pandolfi

Canal 100. "Que bonito é... ver a rede balançando..." O samba embalava os lances bonitos do futebol antes dos filmes no cinema. Uma festa de olhares, cantos e gritos na sala escura. Um quase estádio. Cada golaço de ficar preso na memória. Sábado, no final da tarde, vi dois gols de Canal 100. O pequenino Audax revelou a sagacidade, o talento, a inventividade, a organização na arte de jogar futebol. Eliminou nos pênalti o poderoso Timão. Mas, foram os gols de Bruno Paulo e Tchê Tchê que encheram de alegria os adoradores de golaços, fetiche dos amante da bola. Há tempos que no futebol brasileiros, de nomes compostos, não tinha um apelido tão mágico, criativo e sem sentido algum: Tchê Tchê. É um só um velho resgate. A sorte de um tal Édson foi um período que ele pode ser Pelé. Hoje, seria um Édson Arantes ou Nascimento. O jogo seria de Pelé. O que não mudaria nada. Apenas que Pelé é eterno.
 Que time é este Audax? Ousado, criativo, complexo. Foge do trivial, da preguiça brasileira. Há a troca de passes, o controle da bola, movimentação, recomposição rápida. O desenho do moderno. Porém, há algo que transcende isto: a inversão de funções.  O comentarista da Espn Brasil, Zé Elias, explica: "Teve um jogo que o Fernando Diniz começou com um centroavante fixo. O cara terminou o jogo como lateral direito. É muito comum a mudança tática e de função no jogo". O time é armado baseado numa certa geometria. O futebol é muito matemático. O sistema é inspirado em triângulos. Sempre três jogadores perto da bola. São móveis, o que elimina os chutões, aceleram ou reduzem o ritmo. Lembra uma orquestra de baile. Simples, bonita e afinada
É uma equipe de dois anos de trabalho. Você, torcedor de equipe grande, teria a paciência de esperar este tempo para um título? Ou, gritaria fora para o professor Pardal após o meia virar zagueiro? A imprensa esportiva levou três anos para descobrir Fernando Diniz. Poucos,ainda, entenderam a sistemática funcional do time. Quanto tempo terá este Audax? A duração de uma equipe bem montada no Brasil. Dependerá dos interessados nos jogadores e no técnico. Será um intenso feito um cometa.
Fernando Diniz foi um meia atacante superestimado. Jogou em grandes clubes, considerado muito inteligente e dono de uma boa leitura de jogo. Nunca confirmou a fama. "Me sinto mais feliz como técnico do que jogador. Acho que era meio treinador quando jogava", falou antes da partida contra o Corinthians. A primeira vez que ouvi falar em Fernando Diniz foi numa entrevista ao comentarista Paulo Calçade na rádio Estadão Espn. Fiquei impressionado com  a loucura lúcida dele, de seus conceitos sobre espaço e tempo, da arte jogar futebol. Navegava entre a arrogância e a felicidade de criar uma equipe. Diniz treinava o Red Bull. Depois da conversa, vi vários jogos e percebi a diferença aos outros treinadores. Fugia da norma. Pensei que seria contratado por um grande time. No entanto, não estranhei ficar em times pequenos. É um técnico de tempo. E, tempo não há no apressado futebol brasileiro.
"Ele é muito louco. Grita, fala palavrões de a a z. É a maneira de mostrar a importância e como se importa com os jogadores. Xinga, logo em seguida abraça, para o treino e explica como quer a jogada. É perfeccionista", contou Zé Elias, no programa Resenha da Espn Brasil. Fernando Diniz é formado em psicologia. Entende e tenta decifrar o comportamento humano. Gosta de lidar com os refugos dos grandes clubes. Dá chance, convence os jogadores da maneira de jogar, 'vende' a ideia, os conceitos, a prática. Escapa do normal. Às vezes, escorrega na loucura. Diniz não é discípulo de Guardiola. Prefere um bom pensamento de Carl Jung: "Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta!" É a ousadia de ser gigante,  a arma do Audax, que recusa ser um Davi.
Efeito Leicester no Brasil.  Além do Audax, América Mineiro e Juventude desafiaram a chatice dos estaduais. O América é conservador no jogo. Correto, discreto, aproveita as falhas. O técnico Givanildo é um hábil artesão de times médios e colecionador de acessos; Já Antônio Carlos Zago armou o Juventude como todos os treinadores de times pequenos. Atrás, fechado, uma bola, um pontinho e um goleiro, Elias, inspirado. Adoráveis intrusos? O Audax e o América, sim. Para um gremista, o Juventude é só uma parte do pesadelo que nunca termina.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Memórias do campeão

O Crônicas por tubo cresceu. Cresceu em conhecimento. Em sabedoria. Em qualidade de texto.
O Mosqueteiro Paulinho Scarduelli embarcou de florete futebolístico em punho.
Quem soma;  divide inteligências, capacidades e boa leitura.

Paulinho Scarduelli



Tem cenas que ficarão pra sempre gravadas na memória. Uma delas foi durante minha trajetória profissional como setorista do Avaí, na segunda metade dos anos 80. 

O Leão já tinha a Ressacada e lá estava eu, ao lado do campo, acompanhando mais um treino (ou jogo, não lembro direito). Estava atrás da trave e, no meio do campo, a jogada era disputada. Eu vi 
Flavio Roberto acalmando a bola elegantemente. Não havia nenhum marcador por perto. Sua intenção era mudar a jogada para o outro lado do campo. Ele vira o corpo. Mas as travas da chuteira não permitem que o pé acompanhe o movimento. O joelho torce e Flávio Roberto tomba, contorcendo em dores. Silêncio entre todos: jogadores, massagista, setoristas. Flávio Roberto deixa o campo abraçado pelo massagista Pereirinha.

Alguns dias depois vem a confirmação: o ligamento do joelho foi rompido e Flavio Roberto precisar sofrer cirurgia. Não tínhamos na época a medicina esportiva tão desenvolvida e aquele tombo acabou abreviando a carreira do meia responsável por um dos gols mais bonitos da Ressacada: de bicicleta. Flávio Roberto voltou a jogar depois disso, mas não era mais o mesmo.
Mais do que jogador, Flávio Roberto já demonstrava uma sabedoria e conhecimento ímpar entre os boleiros. Por isso, trocou o campo e se deu bem também no mundo dos negócios.
Hoje, novamente no Avaí, empresta seu conhecimento para formar novas gerações de Flávios Robertos na Ressacada.

Nunca contei essa história desta forma. Mas ela ficou todo esse tempo guardada na memória. Contei hoje porque ele está de aniversário. E achei que ele fosse gostar desse cartão.
Parabéns, Flávio Roberto, campeão catarinense de 1988!

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Pebolim

Chiko Kuneski

A ficha caiu. O tempo era curto. Mas, longo o bastante para intimidar o oponente no olho no olho, feito duelo de filme de cowboy. Era mirar a retina. Quando mais invasivo fosse o olhar, mais temor impunha. Os dois sabiam disso. Era, acima de tudo um jogo de olhares.

Mas a bola caiu. No centro. Obrigando o movimento. O olhar tem que descer para o campo imaginário. Sai do olhar do oponente, vai para a bola.  Olhares. Há quem diga que diga podem ser divididos em frações. Podem. Mas também podem se fracionar.

A bola, o toque, o movimento, a fração do momento do olhar a bola e todo o jogo. Não existe o olhar ao adversário. A bola. O campo. O movimento. O momento. Isso define.
No toque a bola espirrada da esquerda cai na direita. Prensada na origem, “quadrada” ,  mas chega limpa. Não se olha nos olhos do oponente, a bola é o objeto do jogo. Chega torta, dividia, carambolando, mas possível de domínio.

Basta ter a paciência e a competência para o controle do objeto principal. Mas, sem olhar o outro jogador. Já não mais importa. Dominada a bola o passe fica certeiro para o centro. Cara a cara com a meta. Basta chutar.

A bola caiu. Dessa vez no alçapão. Sumiu. Quem terá outra ficha para continuar o jogo?


quarta-feira, 20 de abril de 2016

500



Mauro Pandolfi

Qual é o gol mais bonito do futebol? Aquele que vem pelo drible? Passa por um, desvia de outro, ultrapassa dois e na cara do goleiro, fuzila! Ou, encobre com um toque de afeto. É uma boa escolha. Há o que sai feito uma bomba, de um voleio e explode na rede, que estufa feito um véu de noiva. Tem quem prefira a falta. Chute em curva, começa baixa, sobe e desce traiçoeira, deslizando macia dentro do gol. Golaço! Eu gosto da tabela, do jogo partilhado, dividido, de uma ideia coletiva, pensada numa planilha, testada, executada com maestria. Revela o craque e o pensador. Bato palmas! Lionel Messi marcou todos estes gols declamados. Foram em jogos fáceis, decisivos, derrotas dramáticas. Gols perpetuados na memória, nos arquivos de tevês, de fãs ou na magia do youtube. Todos os 500 estão lá. Messi é o jogador mais visível da história.
Agonia e êxtase, no futebol, se encontram num drible, num chutão ou num gol. Uma linha tênue separa a glória do declínio. O Barcelona entendeu a crueldade da bola. Do esquadrão de arte, do melhor do século ao comum bastou quatro jogos, quatro derrotas, e os títulos escapando de seus pés mágicos. Messi, Neymar e Suarez tornaram-se fantasma das grandes jornadas. Como é injusto o futebol. O futebol? A vida sempre foi injusta, desde o tempo em que o homem percebeu que era possível brincar com aquele objeto redondo.
Messi afundou em busca do gol 500. Tentou, batalhou, fustigou em quatro jogos, nas quatro derrotas,  até que marcou. Um lance bem simples, trivial.,comum. Lionel Messi é o mais fantástico jogador deste século. Antes dos apupos, leiam bem! Escrevi deste século!. Mas, prefiro dizer: melhor de todos os tempos.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Cruel!



Mauro Pandolfi

Futebol é um teatro de grama e paixão.  A frase não é somente uma saída poética.  É mais intensa. Tenta ser profunda.  Entender os sentimentos que envolve a bola. Descobrir os dilemas existências de um lance. A derrota tem a dramaticidade de 'uma tragédia grega' moderna. Devasta, aniquila, destrói, arrasa. Foi o que ocorreu com o  Barcelona. Ao perder para o Atlético de Madri sumiu a aura de super time, de esquadrão, do guardião da arte de jogar futebol. Tornou-se um comum, um qualquer, um engano. Uma glória que já passou.
A mitológica equipe catalã foi desconstruída, demolida, destroçada pelos 'especialistas' em futebol. Críticas a péssima atuação, as derrotas sucessivas, ao jogo perdido. Li porradas na internet. Mas, nada me chamou mais atenção ao que disse um comentarista paulista. Insone, de madrugada, rádio ligado, escuto o 'analista' detonando o trio MSN. "Acabou o trio Messi, Suarez e Neymar. Acabou este futebolzinho xarope, sem fúria. Venceu um time de macho, como os velhos times". Ao escutar isto, desliguei o rádio e tentei dormir. Acordei com frase na cabeça. É o delírio, o devaneio, a comoção que o teatro de grama e paixão desperta.
Adoro o Barcelona e seu jogo. Me encanto com as triangulações, as movimentações, a paciência. Admiro o ritmo que Iniesta impõe ao jogo. É o meu estilo favorito de futebol. O Atlético foi gigante, enérgico, tático. Encaixotou o Barcelona. Tirou o espaço de Iniesta, cercou o trio MSN, deixou o jogo com os laterais e venceu. O futebol tem tantos olhares, conceitos, maneiras de ver, ouvir, sentir, que o torna espetacular, mágico, fantástico. Não há um pensamento único, hegemônico, homogêneo. Futebol, escola, universidade, que tem pensamento único não gera consciência crítica. Produz milicianos fundamentalistas, robotizados e agressivos. É  a diversidade, a pluralidade,  que mantém a criatividade, a civilidade e o talento.
O futebol, como a vida, tem a crueldade como um sintoma preferido. Venera ídolos, cria mitos, façanhas, heróis. No entanto, a destruição é mortal, mais rápida, mais cínica, mais prazerosa. Messi, Suarez e Neymar, há menos de dois meses, eram o que de melhor o futebol produziu. Arte e gols. O tridente da história! Três derrotas seguidas, nenhum gol, eliminação da Liga dos Campeões, tornou o trio uma espécie de Três Patetas. Um é cai-cai, piscineiro; outro, é igual ao André Lima, como disse certa vez um comentarista dos debates da uma hora; e o terceiro, um herege que deseja  entrar na corte do Rei Pelé. O futebol é como a vida e a imprensa esportiva: gostam dos vencedores ...  da última rodada. Só os fracos e os poetas amam os derrotados! E, como gritava um antigo narrador: Cruel!! A vida é muito cruel!

terça-feira, 12 de abril de 2016

O fim das organizadas ou o fim do futebol

Chiko Kuneski

Talvez... Escrevi isso, talvez, o Brasil esteja voltando a respirar um ar mais puro do “estado de direito”, de fato, de todo cidadão. Antes que os leitores fiquem de cabelos arrepiados, olhos esbugalhados e fígado no lugar do cérebro, deixo claro que estou falando de futebol, nossa paixão nacional.

A boa nova vem do rubro negro. O Sport Recife obteve uma vitória para todos os torcedores brasileiros conseguindo na Justiça a proibição de acesso dos participantes da Torcida Jovem, uma das suas principais e mais violentas organizadas, a todos os jogos do time (sejam oficiais ou amistosos). A medida da Vara da Fazenda de Pernambuco bane a torcida organizada até dos treinos.

Vejo o começo da derrubada do tenebroso muro que construíram as violentas (sim violentas) torcidas organizadas no Brasil. Viraram gangues, com a participação de marginais e até braços eleitorais de dirigentes inescrupulosos que acabam como políticos, a maioria envolvida em “tenebrosas transações”. Dão suporte extracampo para dirigentes corruptos e deles têm toda a cobertura.

Os componentes das torcidas organizadas não são torcedores. São individualmente covardes que saem dos seus armários de mediocridade e se enchem de bravura bravateira nas sombras das hordas. Viram marginais, violentos, sanguinários. Marcam confrontos de verdadeiras guerras campais modernas pelas redes sociais, aproveitando o pseudoanonimato.

Agridem pessoas e instituições gratuitamente. Intimidam o torcedor lúdico, apaixonado pelo seu time e, acima de tudo, por futebol. Afastam as pessoas de bem dos campos. Prejudicam a tudo e a todos. Especialmente os times que dizem torcer.


A diretoria do Sport Recife percebeu que chegamos a tal ponto no Brasil que: ou o futebol se organiza e acaba com as torcidas organizadas; ou a organização desses torcidas destruirá o futebol.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Figueira inglês será campeão! Ou ...?

 
Mauro Pandolfi


O medo! Estranho este sentimento! Há tipos de medo. O que congela, abate, apavora. Este medra! Há o que provoca a luta, a resistência, o enfrentamento, que gera heróis. Quem já teve este medo, dê um passo à frente? O Leicester desafiou os grandes, as certezas, a verdade. Não fugiu do combate. Encarou o medo com olhar altivo da certeza, da verdade, da virtude, de que o impossível é só uma dificuldade a mais. É quase campeão inglês. Falta pouco. Muito pouco. Quase nada. Além disso, desafiou os catedráticos, os sábios do futebol. Ser a negação do moderno ou ser a reinvenção da retranca? Eis a questão do dilema dos herdeiros de Shakespeare!
Defender é uma ofensa no futebol brasileiro. Todos querem atacar. Como estou à margem do pensar futebolístico tupiniquim, gosto de uma boa defesa. Aprecio as linhas em movimento, a compactação, a saída inteligente de um bom zagueiro. Morgan e Kanté me fazem acordam cedo, aos domingos, para ver o Leicester. Sóbrios, serenos, intensos e de uma precisão nos desarmes e nos passes. São o centro do time. Não é apenas isto. Neste ano, 10 de seus  jogadores foram convocados para as seleções nacionais. O centroavante Vardy é a esperança de gols para Inglaterra na Eurocopa. Gordon Banks e Gary Lineker são os maiores mitos do clube, venerados por uma torcida fiel, apaixonada, perto de um grande sonho.
Cláudio Ranieri releu o 'catenaccio' no Leicester. A defesa não joga 'enterrada' na área. Fica adiantada, mais próxima do meio-campo. A segurança é a base da vitória. Depois, atacar. Aí, está a diferença de uma retranca . Não é pragmática, nem uma estratégia, como o 'catenaccio'  tradicional.  É um sistema tático. Os passes são medidos, as linhas se aproximam, a eficácia é total. Os chutões são raros, usados em emergência. Trabalha a bola. Trata a bola. Não é apegado a bola. Não tem obsessão por ela. Prefere controlar o jogo. É um time envolvente, ligeiro, que apresenta uma outra forma de jogar o futebol. Não se engane. Não é, como dizem os especialistas brasileiros, o anti Barcelona. É só um outro olhar do futebol.
"O Leicester é o Figueira inglês!". Frase dita,  domingo de manhã, pelo meu irmão Márcio. Há um silêncio. Antes de comentar, ele arremata com uma pergunta: "Será que um dia, o Figueira será o Leicester brasileiro?" Volto no tempo, na noite que Aloísio perdeu um pênalti, no Maracanã, contra o Flamengo, e o jogo ficou no 0 a 0. Nas rodadas seguintes, o Figueira perdeu para o Corinthians e Fluminense e empatou o clássico. O Figueirense era o melhor time daquele brasileirão. . Rápido, insinuoso, atrevido. Mas, medrou. Faltou confiança, acreditar no impossível, na sua força. Duvidou do seu talento. Um dia, vai demorar - mas, o que é o tempo para os que sonham? -, chegará ao destino imaginado. Agora, torço para o Leicester não ser o Figueira e ser campeão. Depois, vou torcer para o Figueira pensar, acreditar que pode ser o Leicester.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

O primeiro amor

segunda-feira, 4 de abril de 2016

O último moleque



Mauro Pandolfi

Foi como um cometa. Passou rápido, muito rápido, ligeiro demais. Deixou rastro que visualizo no youtube em dias de saudade. Gostava da corrida abusada, louca escapada por entre pernas desavisadas. Do drible oblíquo, que deixava os adversários deitados. A meia-lua, o mais belo dos dribles, uma negação de que a reta é o caminho mais curto para chegar a um outro ponto. Baila para um lado, vai pelo outro, como se fosse uma curva de Miró. O gol é só um complemento da obra de arte de Dener.  Um outsider. O último!. Sábado ele completaria 45 anos. A morte de Dener, em 19 de abril de 94, foi uma falta grave ao futebol. Dener foi o derradeiro representante do moleque de rua no árido profissionalismo da bola;
O nome Dener foi uma homenagem a Denner Pamplona. Um ousado, mordaz, crítico, estilista brasileiro. Criativo e irreverente, Denner assustou a  moral nos tempos da ditadura. Mesmo envergonhadas, as madames não resistiam a beleza das roupas de Denner. Só restava aos coronéis, comprar. Denner Pamplona morreu esquecido em 09 de novembro de 1978. O menino Dener, o craque que surgiu na Portuguesa, herdou o talento, a habilidade na costura de lances mágicos, que desafiavam a estratégias defensivas. Marca lá! Corta aqui! Fecha acolá! Sem espaço! Cuidado! Em zigue-zague, uma flecha, um raio, rápido, insinuante, entre os zagueiros... gol de Dener! 
O futebol é outro. O tempo é mais veloz que a luz e a vida. Anderson parecia ser um novo Dener. O moleque, herói dos Aflitos, perdeu o jeito 'sapeca' no Manchester United. Virou um volante moderno. Ronaldinho Gaúcho sempre se diferenciou de Dener. Tão hábil, tão genial. Mas, o profissionalismo sempre engoliu o menino. Há espaço para um Dener no jogo de hoje? Messi tem os momentos de um 'chico'. De bailar como se bailasse num campinho. Para, penso, procuro... e não vejo mais os moleques forjados nas ruas, na dureza, na inventividade! Azar do futebol!