quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Tri Legal!


"América, você tem Simón Bolivar, San Martin e José Artigas. Eu tenho De León, Adílson e Geromel, um caudilho, super-herói e um mito que ergueram tua taça para o alto e honraram teus libertadores".
O belo texto de Marcelo Ferla explica a relação amistosa, afetuosa e amorosa entre a América e o Grêmio.

Mauro Pandolfi

Já passavam das duas da manhã. Na frente do boteco do Alemão, debaixo da chuva, me despedia do meu amigo Rai Carlos, o vidente cego. "Sempre te disse, meu caro Mauro, que a vida ensina mais do que qualquer livro de auto ajuda. No desespero de nosso fracassos te falava: o mais importante não é bater. É saber apanhar e continuar lutando,  manter-se vivo, pois um dia, a vitória libertará", filosofa Rai. Termina com um grito que deve ter acordado a vizinhaça. "Sou Tri! Tricolor de alma e coração. Tenho as cores da paz, do céu e da minha pele. Sou Tri da América. Sou De León, Adílson , Geromel. Sou também, Flecha, Ancheta, Beto Fuscão, Gaspar, Tabajara. Eles me ensinaram a continuar, a sonhar, não desistir mesmo com todas as derrotas". Rai me abraça e vai embora assobiando o mantra fantástico de Lupicínio Rodrigues.
Molhado, estranhamente melancólico, vou para casa. A cerveja provoca reflexões espontâneas, estranhas, desnecessárias sobre o sentido da existência, a família, o futebol, tudo o que me  move. Escuto na rádio Gaúcha a bela voz de Werner Schunermann lendo um texto de Marcelo Ferla - que gostaria de ter escrito. Mas, não tenho o talento do grande jornalista gremista - sobre o Grêmio e a América. Fala das cores, dos mitos, dos poetas, das glórias, do único amor que embala as nossas vidas de torcedor. Todos dormem em casa. A tevê reprisa o jogo. Paro e assito. Vou ver o futebol que a emoção, o medo, a suspeita, a fé me sonegaram. Prefiro pontos corridos ao mata-mata. Vamos sofrendo devagar, aos pouquinhos, a paixão é fatiada em 38 pedaços. Na Copa, é tudo de uma vez. Misturam-se as sensações. Não sei onde começa a esperança e termina a certeza. Ufa! Ainda bem que tudo terminou num tri. Tri-legal, tchê! É a primeira vez que uso esta gíria gaúcha, que só agora, vejo nexo.
O melhor Grêmio que vi na vida. Já escrevi isto algum tempo atrás. Não precisava de título. Vi os jogos.  Sou meio um comentarista parnasiano daqueles que prefere o jogo bonito ao resultado. Que tenta ver futebol como um espetáculo, um desfile de carnaval. Afinal, falo tanto de compactação, de alas, de alegorias para entender um jogo. Mas, como escrevi ao meu afilhado, amigo de papos, o Luca, uma frase que aprendi com o Pedro Macedo,  um velho jornalista esportivo: "Clássico e final você ganha. Se jogar bem, melhor. Senão, a vitória é suficiente". E, veio com um jogo soberbo, fantástico, avassalador, irresístível.
Vi o jogo com um olhar de tristeza, de despedida. Arthur é o melhor clone de Iniesta que conheço. É um maestro, um mestre do meio-campo. A bola é dele. Sempre dele. Desenha, rabisca o jogo em segundos. Dizem que tinha um olheiro do Barcelona no jogo. Então, já penso em Jean Pierre para o ano que vem. Foi um prazer te ver jogar Arthur. Luan, ou como Pedro Ernesto gritou na hora do gol: 'Luanel!' É a essência do futebol brasileiro que todos procuram. Ousado, criativo, abusado, mágico, genial.  Fez um gol de menino, daqueles, que como eu um dia, sonhou em jogar futebol. Um gol de suinge, de esperteza, de rua, de craque. 2018 brilhará em outro canto. Será que Tite vai sonegar esta dupla? Insistirá em Diegos, Fred, Taison, Fernandinho? Se a resposta for sim, vou torcer para os negros maravilhosos da França.
Em segundos passam os mitos da minha história. Foguinho, Luís de Carvalho, Juarez, Gessy, Aírton, Ortunho, Everaldo, André, Baltazar,  Éder, Iúra, Tadeu Ricci, Valdo, Carlos Miguel, Dinho, Jardel, Paulo Nunes. Tantos que honraram a linda camisa de três cores. Mas, é Renato Portaluppi a mais completa tradução, grande definição de Marcelo Ferla, do Grêmio. Genial e genioso. Sempre herói, nunca vilão. O nome que busquei para o meu filho. André vem antes do Renato, porém é só um detalhe. Ele é o meu mito. Brinco que faço parte da Saint Portaluppi Church.  Renato é o grande treinador deste país. Ainda é tratado com desprezo pelos sábios da imprensa, que consideram apenas um motivador ou folclórico. Ignoram a sua sabedoria tática e olhar refinado do jogo. Ele é um Midas, um transformador de homens, um recuperador de almas, um salvador de renegados,  um criador de magias, um arquiteto, um cineasta de imagens inesquecíveis. O seu Grêmio é encantador. Joga bem, bonito e moderno.  Ele entendeu o 7 a 1. Ele, Tite e Carrile. Renato deveria ser o treinador eterno do Grêmio. Renato não é mero profissional. É o amador, o torcedor em campo. Isto gera a confiança. Ele é um dos nossos. 
O Mundial é um passeio. Não ligo para o resultado. So não quero repetir o Inter e ser derrotado pelo Mazembe da vez. Jogar contra o Real Madri é um  jogo dos meus sonhos. O maior seria contra o Barcelona. Ah, se eu tivesse uma máquina do tempo ou um portal. Ia buscar aquele Renato de 1983. Colocar frente a frente com Cristiano Ronaldo. Acho que o CR 7 é melhor, mais completo. Mas, gostaria de ver o duelo. Hora de dormir. Quem sabe eu sonhe com este encontro.  Daí, te conto da próxima vez.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

O adeus de Zé Roberto



"Futebol foi a minha vida. E quando falo de futebol, quero trazer a memória de vocês para o que nos dá esperança nesta noite. A esperança que tive quando criança..."
Ao ouvir a despedida de Zé Roberto entendi o que é o futebol para um menino pobre no Brasil e o auxílio luxuoso da bola na vida de um homem de fé.

Mauro Pandolfi

Nunca fui fã de Zé Roberto. Hábil. Muito hábil. Habilidosíssimo. Pictórico de mais. Útil de menos. Controlava a bola, brincava com ela, como dizia um antigo narrador, 'escravizava'. Um jeito bonito de jogar futebol. Parecia flutuar em campo. Recebia a bola com muita liberdade. O lance era sempre rebuscado, trabalhado, enfeitado. Passes de três dedos, viradas de jogo, dribles de craque. Zé Roberto fugia da aglomeração do campo. Ficava nos lados, atrás, quase próximo aos zagueiros. Este era o problema. Ele brilhava na zona morta do jogo. Raramente decidia uma partida. Foi assim em seu tempo de Grêmio. Não ganhou nenhum título, foi protagonista de 'inúmeras batalhas' na torcida, nas redes sociais sobre a titularidade, não deixou nenhuma saudade no meu imaginário dos heróis gremistas.
Zé Roberto é um símbolo do jogador moderno. O brasileiro mais próximo de Cristiano Ronaldo. Olhe para ele. Quem diz que é um atleta de 43 anos? Não sei se há algum jogador que disputa a série A com a sua disciplina, com o cuidado da imagem, do perfeccionismo, da vaidade, de ter corpo trabalhado, esculpido, moldado por um obsessivo culto a forma física. Zé Roberto transformou o seu corpo em 'uma catedral'. Sagrado! Invulnerável aos prazeres 'profanos'. "Isto é para depois da carreira", dizia. Então, chegou a hora da festa.
Vi o vídeo de sua conversa com os amigos do Palmeiras antes da despedida. É emocionante, primoroso, de um homem que entendeu as escolhas, a retidão, o sentido da vida. "Hoje para mim é noite de gratidão. Apesar de ser um momento que eu tentei prolongar ao máximo, eu sabia que ele um dia ia chegar. Eu vivi isso aqui intensamente. Realizei o sonho, tive conquistas e cheguei ao meu máximo. Foi difícil tomar esta decisão. Este momento vai chegar na vida de cada um de vocês. Vivam isso intensamente", disse o inspirado Zé Roberto. O futebol será uma saudade para ele. Não lembrarei do craque nos meus momentos de felicidade com a bola, dos meus sonhos, nos meus devaneios poéticos. Vou lembrar do homem correto, profissional exemplar, da referência, da dignidade. O seu vídeo mostrarei aos meus filhos, e que quem sabe, aos meus netos, sobre o imenso prazer que é a vida e como deve ser vivida com intensidade. Bem vindo a vida comum, grande Zé Roberto!

domingo, 26 de novembro de 2017

O erro divino


Chiko Kuneski

“Errar é humano, persistir no erro é burrice”.
Máxima popular que  nunca soube bem ser uma persistência burra de quem erra ou de quem quer dar uma nova chance ao errado. Uma dicotomia que me acompanha pela vida, nos meus erros e acertos. No futebol há níveis de erros. Uns perdoáveis. Uns compreensíveis. Uns justificáveis. Uns implacáveis. Acho que são até escalonáveis nessa sequência, como na máxima. Não se crucifica, usando uma figura bíblica, um erro. Perdoa-se.
Mesmo o tapa na cara do torcedor por uma repetição de erros é perdoada. A maioria tem alma cristã. Dá a face para o segundo tapa do erro crasso. A maioria.
Nunca me senti parte da maioria nem na fé nem no perdão. Acho que prefiro a segunda parte da assertiva popular : “é burrice”. O erro humano tem limite. Se o erro humano é justificado por uma fé divina passou dos limites.
“Se errei foi deus que me colocou aqui”. Disse o goleiro Muralha no intervalo do jogo entre Flamengo e Santos. Referia-se a um erro grosseiro ao tentar driblar um atacante na sua pequena área que terminou na perda da bola e passe para o gol de empate do adversário. Bola dominada. Erro. Mais um entre os colecionados pelo goleiro. Mas a culpa é divina. Erro de deus. Depois, deus errou novamente no chute que Muralha espalmou contra seu próprio gol, no único chute contra sua meta em todo o jogo. Seria uma punição divina?
Anteriormente o deus do Muralha já o tinha escalado na decisão do maior jogo da sua vida. A final da Copa do Brasil contra o Cruzeiro, no Mineirão. Que oportunidade divina melhor que essa. Muralha pulou cinco vezes para o mesmo canto que seu deus o mandou e tomou cinco gols na cobrança de pênalti. Falha de comunicação celestial?
Mas o deus de Muralha é piedoso com os seus erros humanos e tira o goleiro Diogo Alves com uma luxação no ombro no primeiro jogo contra o Júnior Barranquila, pela Sul-americana. Deus, aqui é maiúsculo por iniciar frase, dando a nova oportunidade para o erro humano.
Primeiro lance. Bola cruzada. Muralha não ouve deus. A bola passa sob suas luvas que ampliam as mãos das orações aos céus e o ateu colombiano faz o gol. Mas foi deus, segundo ele mesmo, que o colocou lá. Não foi um erro humano.
No futebol brasileiro deus é assim. Absolutamente piedoso. Assume até a incompetência e o erro humano como mera falha divina. No futebol os acertos são humanos ungidos: os erros divinos.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Os Normais

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A queda

 
Mauro Pandolfi

'Esse Avaí faz coisa' é o suspiro desconfiado do torcedor avaiano. A esperança perdida num time desorganizado, desconstruído, derrotado. O Avaí cumpre o seu papel, o que a maioria do mundo futebol esperava: voltar para a Série B. Não é demérito, nem vergonhoso. É só a realidade vivida por dezenas de clubes que invadem o 'sagrado', o restrito universo do grandes do Brasil. Ir e voltar. Um 'elevador' que já dizimou alguns. Onde está o São Caetano? E, a Portuguesa? Sumiram! Não deixaram pistas. É necessário aceitar, entender a queda. Não entrar em desespero é o primeiro passo de um outro retorno. Mudar a cultura, o pensar, se organizar, fazer uma 'revolução' é fundamental para fugir do eterno ioiô que está preso o futebol catarinense. Só a Chapecoense poderá repetir a façanha do Figueirense, que ficou sete anos na Série A. Mas, a Chapecoense é outra história. Até quando vai durar a 'magia' do sobrevivente? Tomara que a 'magia' vire estrutura moderna, racional, eficaz.
Não entendo o que aconteceu com o Avaí. Em que momento se desconstruiu. Por que alterou o sistema de jogo? Pressão dos que são pagos para dar opinião? Erro de avaliação do elenco? Gostava de ver o Avaí na Série B do ano passado. Era sólido, bem organizado, eficiente. Uma muralha defensiva guardada por dois marcadores (Luan e Judson) vorazes. Tinham dificuldades na saída de bola. Mas, permitiam o apoio forte dos laterais. Capa e Alemão brilharam. O ataque era móvel e definidor. Havia Marquinhos em razoável condição física. E os zagueiros eram seguros. O que tornava o Avaí ótimo era Renato. Inteligente, rápido, perspicaz. Gostava do espaço vazio. Fazia a dobra com Alemão, parceria com Marquinhos e completava a jogada de Rômulo. Não tinha o padrão de 'craque' suspirado pelos comentaristas esportivos e torcedores. Não é do tipo de 'brilharecos' com a bola. Talvez, 2016 tenha sido o seu ano no futebol. Afinal, Abel o ignorou no Fluminense neste ano.
O Avaí mudou demais. Exigiram demais. Claudinei alterou o sistema tático. 'Flexibilizou' a defesa, abriu a volância, tornou frágeis as laterais, tentou três atacantes e não conseguiu ter posse de bola. Ficou mais fechado do que desejava, menos agressivo, sem saber usar o espaço tão bem preenchido por Renato. E, o pior, sem a consistência de 2016. A mudança começou no campeonato catarinense. No primeiro turno manteve a estrutura, o jeito de jogar da Série B. No returno, mudou. Tentou outros jogadores. Não entendi a desistência de Caio César. Belo armador, boa presença. Mas, inconstante como todo jovem. Foi arquivado no Brasileiro, assim como o atacante Lourenço. Alguns jovens, campeões da sub 20, não tiveram chances. Será que Guga não era um lateral melhor que Maicon, Leandro Silva ou Diego Tavares? Lovat é inferior a João Paulo? Luanzinho foi mal aproveitado. Ficou no lado esquerdo, jogando feito os meias novatos que surgem ao acaso. Nunca teve o centro do jogo, onde cavou a vaga na seleção sub 17.
O Avaí errou bastante. As apostas deram errado. Maicon, Joel, Aírton, Diego Tavares, João Pedro, Simão, Wilians, Maurinho,  Juan, Lucas Otávio falharam, em menor ou maior grau.. Claudinei não reinventou o time, não achou solução de armação, de ocupação de espaço e de finalização. Deveria ter voltado ao sistema de 2016. Não quis, com medo de ser chamado de retranqueiro. E foi (des)qualificado assim. Pedro Castro não conseguiu ser Renato. Virou o símbolo do fracasso. Não é ruim, como dizem. É um bom jogador, de movimentação, de chute forte, de recomposição, de combate. Útil numa equipe bem arrumada, organizada, sólida. Inútil na desorganização. O Avaí parece um time bem ajeitado, composto, treinado. Vai bem até tomar um gol. E, aí, vai desmanchando, desmanchando, desmanchando, até não sobrar nada.
Não entendo os torcedores avaianos. Acho que todos os clubes são assim. Vibraram com a Série A no acesso, no início do ano e nunca mais. Não se divertiram, não foram aos jogos. Fugiram da 'festa, do show. Ficaram angustiados. Ainda estão. Reclamaram o tempo todo. A vibração era maior com a má campanha do Figueirense na B. Não curtiram a Série A. Como diz o sábio da bola, 'futebol é resultado'. No Brasil, não torcem pelo prazer do espetáculo, pela alegria do jogo. Vibram pelo resultado. Que pena!
'Série A não é Série B' filosofam os pensadores da bola. Berraram, fizeram protestos, exigiram. Queriam reforços, jogadores, treinador experiente. A direção teve bom senso. Pensou na administração, na gestão, no presente que pode render futuro. Resistiu a tentação que o Sport ,a Ponte Preta,o Vitória, o Coritiba, sucumbiram. Medalhões no campo, na beira do campo, a volta ao espaço natural deles: a segunda divisão
Sobrarão dívidas. Parecidas com que tem o Santa Cruz, o Náutico, ou ABC. As mesmas que tiveram São Caetano, Portuguesa, União de Araras, Barueri...Não sei se o pensamento da Ilha da Magia, das bruxas de Cascaes, salva o Avaí. Quem sabe, melhor estruturado, mantendo Claudinei Oliveira, a comissão técnica, Joceli do Santos, retornem para a Série A para mais um ano angustiante, desesperado, sofrido..,como será sempre a Série A para os nossos clubes.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Soy loco por TRI, América!



"...Tenha como cores
A espuma branca
Da América Latina
E o céu como bandeira..."
Os lindos versos do gremista Gilberto Gil embalam o meu desejo da Libertadores.

Mauro Pandolfi

Não sou otimista. Nunca fui. O otimismo me assusta. Fico incomodado com tanta certeza, com a ideia de que é impossível dar errado. Tenho um pé no pessimismo e dois na dúvida. Não gosto de comemorar antes, de falar demais, de balançar a bandeira como uma vitória antecipada. Gosto de vibrar com a expectativa. De criar as ilusões, de vivenciar um sonho, gritar pela utopia vencedora, de manifestar um desejo. Justo eu, que sempre falo das ilusões perdidas, que o sonho acabou e a utopia é só um engano, mas, é o desejo que faz tudo valer a pena. É a poesia circular do dia a dia, o olhar da mulher amada, a alegria dos filhos, que tornam a vida mágica, assim como o futebol. Não é apenas um jogo. É o melhor lado do imaginário, das coisas sem importâncias, da fuga do real, do que te faz feliz. O Grêmio, aprendi com Lupicínio Rodrigues, 'parece uma coisa à toa, mas como a gente voa quando começa a pensar'. E, se voar leva ao sonho. Quero acordar campeão da Libertadores. Afinal, soy loco por Tri, América!
O Grêmio não é o favorito. Perdeu o jogo encantador. As linhas já não fluem mais. Não tem mais o brilho geométrico do jogo. Nem a bola é tão bem tratada como antes. Tem pressa. Perdeu a velocidade. Pedro Rocha não foi bem substituído. Fernandinho é a sua negação. Não tem o raciocínio rápido, o lance preciso, a magnífica finalização. O belo jogo coletivo diluiu-se. Aparece em raros momentos dos jogos. A virtude está na individualidade. No jogo amplo de Luan,  o mais completo jogador deste país, na inteligência tática e habilidade de Arthur, a movimentação de Ramiro, a segurança de Marcelo Grohe e na ótima dupla que formam Geromel e Kanemann. As individualidade ainda deixam o Grêmio muito forte. Mas, instável. Foi extraordinário em Guayaquil e comum na Arena. Um jogo que assustou os gremistas. Eu fiquei assustado. E, com medo.
Lanús é o favorito. Decide em casa. Tem um jogo furioso, avassalador, primitivo. Parte para cima feito um doido. Joga o 'futebol zumbi', como diz Tim Vickery. Todo mundo corre, a bola não para, nem a torcida, que sempre canta. Longe de casa é outro time.  Bem organizado, defesa segura, sem pressa, bola trabalhada em busca da velocidade de Laudaro Acosta e a finalização de Sand. Perigoso, este Lanús! É este jogo que me preocupa. O outro, é só não temer os gritos.
Todos os quatro semifinalistas foram gigantes em algum momento. O Barcelona venceu Botafogo, Palmeiras, Santos e Grêmio no Brasil. O River reverteu a goleada do Jorge Wiltersmann com um sonoro 8 a 0. O Grêmio foi imenso em Guayaquil, onde resgatou o futebol encantador do primeiro semestre. E, O Lanús fez o impossível contra o River. Os 'deuses' já brincaram, Deixaram, por alguns instantes, todos felizes. Agora, é a hora do jogo real ou teremos outros 'milagres'?
Mais do que ganhar, quero me divertir. Até o último jogo quero crer no desejo. Suspirar por ela. Sonhar com jogo e acordar feliz. Não quero pensar na derrota, nas gozações dos colorados, no fracasso que me deixará triste. Quero brincar com a frase que vi nas faixas - e dá o título ao texto - e outra que diz 'vamo acabá com o planeta'. Que venha um Mazembe qualquer e depois o Real Madrid. Quero vibrar com o Grêmio, o mesmo Grêmio de Alcindo do Maurinho, que me mostrou que o futebol é mais que um teatro de grama e paixão. O jogo da vida. Da beleza e da arte. Sempre há um menino que faz poesias com o pé. Tomara que seja Luan. Vamos, Grêmio! Soy Loco por Tri, América!