segunda-feira, 22 de maio de 2023

Asas da liberdade

Chiko Kneski


Ícaro e o pai eram brancos, segundo a mitologia, abro aqui um parêntese para dizer que adoro a mitologia, não os mitos, esses mostram-se inúteis e descartáveis, mas viviam no lúgubre de um presídio sem ter cometido os crimes, nunca comprovados, imputados. A saída dessa prisão, de bárbaros costumes, era voar. Mas para voar seria preciso asas. Os homens não nascem com asas, não os comuns.

O futebol tem coisas que vêm da mitologia. As asas. Para poder fugir da prisão dos mesmismos e galgar os céus da liberdade é preciso ter a asas. Asas nas chuteiras. Ir além. Voar em campo. Planar na grama. Encantar a ponto de provocar inveja e revolta.

Vinícius Jr tem asas nas chuteiras. E sempre teve o sonho da glória dos céus do futebol. Ousou voar alto desde a adolescência encantando quem gosta da arte do futebol e do futebol arte. Mas, como Ícaro, subiu demasiadamente, pelo menos para os meros e medíocres terrenos, e encontrou o seu sol na maior escuridão do pensamento humano

O racismo.

Venceu todos os obstáculos. Paciente, cultivou suas asas nas chuteiras para voar nos gramados da Espanha e bailar, encantando o mundo. Ousou ser moleque da bola. Driblar. Brincar. Como Ícaro nos céus sentindo o vento soprar-lhe odes aos ouvidos quando corre, corre não, faz os pés voarem, deixando os adversários para trás.

O encanto incomoda. A ousadia perturba os medíocres. A alegria trouxe o ódio. O ódio materializou-se em ataques racistas insanos. As asas negras das chuteiras coloridas provocaram a ira. A inveja. O ataque. O garoto de 22 anos, ousado, moleque, inteligente, perspicaz, tinha que ser derrubado. A arma foi a mais vil

O racismo.

O conceito mais baixo vindo das arquibancadas dos adversários, mas orquestrado no sub mundo de dirigentes inescrupulosos e vis. Não foram os gritos: “macaco”, “macaco”, “macaco” proferidos colericamente conta as asas nas chuteiras de Vini JR que tentaram derrubar sua alegria juvenil de jogar bola e encantar quem o vê jogando bola. Voando com ela nos pés. A hipocrisia lúgubre das masmorras mentais dos dirigentes medíocres e racista eclodiu nessa insanidade coletiva da Espanha.

Tentaram orquestrar a queda do “menino” que tem a alegria de voar em campo e fazer voar as mentes de quem o vê jogar com a arrogância racista. Mas as asas nas chuteiras de Vini Jr correram o mundo. Materializaram o personagem mitológico. Contaram a história. Contragolpearam

O racismo.

 

Ck 21/05/23