segunda-feira, 29 de junho de 2015

Viroses e o enjoo nacional

Chiko Kuneski

Claro que a tentativa de comando do técnico Dunga não é a responsável pelo fracasso da Seleção. Qualifico de tentativa o que nunca foi de falto. A responsabilidade é da tentativa. Ou a insistência. Quem manda e desmanda no futebol nacional, pensa que governa; e desgoverna.

Qualquer semelhança com o país não é mera consciência. Mas, coincidentemente, desde 2014, apenas vivemos de tentativas e fracassos. A virose dos jogadores não foi adquirida no Chile; foi exportada. Estava na bagagem dos estádios superfaturados erguidos para a “Copa das Copas”, símbolo de uma megalomania desconstruída pela realidade. Foi no rastro dos desvios do dinheiro não declarado, do logro.

A virose da Seleção é o caixa 2 das instituições nacionais. É o micro-organismo silencioso que corrompe tudo e apenas se manifesta no vômito. Dunga, a Seleção, os dirigentes esportivos, os governos e os políticos enjoaram a tal ponto o estômago autofágico da compreensão dos brasileiros que estamos vomitando.

Logo esse vômito se tornará compulsivo. O problema de quem vomita é que espera que ciclo da virose, diagnosticada por charlatões, acabe rápido, mas nem sempre o remédio funciona. O enjoo nacional tende a ser longo.


Walking dead Brasil

Mauro Pandolfi

O futebol brasileiro está morto?!!! Não enterrado! Desfila nos gramados como um zumbi. O 7 a 1 é o walking dead que tem a fúria da eternidade. Não é o resultado mais dramático. A derrota de 50 ainda é a tragédia do teatro de grama e paixão. A goleada alemã é apenas a humilhação que aniquila, gera medo e revela toda incompetência e fracasso estrutural do futebol brasileiro.

Só uma revolução salva o Brasil. Mas, quem acredita ainda em revolução? Os loucos, os visionários, os idiotas, os sonhadores ou os donos do poder? Pelo extermínio da cbf e das federações! Pep Guardiola já!!

A eliminação na Copa América é a síntese do futebol anacrônico, obsoleto e primário que assola o Brasil. A seleção de Dunga é um retrato na parede. E, como dói! Sem força, desorganizada, burocrática, previsível. A camisa amarela é uma assombração. Um espectro do temor que gerava. Agora é pálida feito a equatoriana. Não há o mais o medo.

O jogo visto por bilhões de pessoas desmistificou o mito que era só um mito. Os grandes nomes pertencem ao passado. A maneira de jogar foi estudada, dissecada e devorada em partes. Pouco sobrou do histórico futebol brasileiro. Não notamos que o tempo voou. E, como Carolina, olhamos pela janela a transformação do futebol. Na arrogância dos melhores, consideramos que eles apenas nos copiavam. Seriamos sempre superiores. Eternamente mágicos. Únicos.

Dunga é a visualização desta estrutura. Vaidoso e rancoroso. Um vencedor que nunca tirou da alma a imagem do fracasso. Não superou a injusta fama da 'era Dunga'. Ele é a cara da cbf. Não é um corrupto como ricardo teixeira ou del nero. Mas, é identificado com eles. Dunga é o mais rodriguiano personagem do futebol brasileiro atual. Trágico e melancólico.

O futebol brasileiro está num labirinto. Não sabe a saída. Está perdido, sem rumo. A estrutura é antiga, os métodos são do outro século. Bons jogadores tornam-se inexpressivos nesta bagunça tática. Dunga é o mesmo treinador de 2010. Não evoluiu, não aprendeu, não buscou o novo. Repete a irritação, o gestual, as mesmas soluções. Porém, nem tudo está perdido, Galvão Bueno pediu Kaká. Ronaldinho Gaúcho está voltando. Logo, logo, algum comentarista esportivo exigirá a convocação para a seleção. Galvão é um candidato. Pode ser qualquer outro. Sabe como é! São mitos.

"A pior geração da história". A afirmação é de Walter Casagrande. O ex-craque do Ascoli foi um figurante de luxo nos tempos de Sócrates, Falcão e Zico. Em alguns jogos da seleção, Casagrande foi ironizado pela imprensa. Tosco era o adjetivo mais ameno que ouviu. Safra ou geração é uma bela desculpa usada nas derrotas. A mitologia entra em cena. Nomes são lembrados, declamados feito poesia. Feitos recontados, histórias revistas, algumas, como farsas. A histeria tira muito da lucidez da análise. Ninguém presta nas derrotas. Beiram a genialidade com troféu.

Os jogadores desta seleção estão na escala dos bondes, desprezíveis e que ocupam indevidamente os lugares dos craques. Usurpadores! Craques de 70 estiveram nesta situação em 74. A derrota é o segundo esporte favorito deste país. 'Os bichos, os demônios, as frustrações' explodem numa catarse absurda. O principal esporte é a vitória. Aí, somos o que é o vencedor. Surfista, tenista, lutador de ufc, ginasta. Ainda bem que a corrida de saco não é oficial.

Os jogadores desta seleção não são tão comuns. São destaques em seus clubes. Neymar é a estrela da companhia. Há candidatos a ídolos. Como não reconhecer talento em Philippe Coutinho, Roberto Firmino e Douglas Costa? Foram pífios, pouco mais que medíocres. Mas, marcar no lombo deles o fracasso é um exagero.


Sábio era o Rivelino. Sempre fugiu da cobrança de pênalti. Estes jogadores saíram cedo, jovens demais do Brasil. Estão em formação. Hoje em dia, é preferível a maturidade na Europa. Lá joga-se um futebol mais competitivo, intenso e criativo. Só o tempo e o vento moldam talento, personalidade, têmpera. Mas, o tempo é só uma ficção para um crítico azedo de futebol. E o vento é só uma situação climática que atrapalha a praia.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Dunga e a úlcera nacional

Chiko Kuneski

"Eu até acho que eu sou afrodescendente de tanto que apanhei e gosto de apanhar".
Frase do técnico Dunga em coletiva no dia 26/6/15

Em 2014, o lateral direito Daniel Alves, convocado por Dunga ou pelos patrocinadores da Seleção, isso nunca se sabe, virou mártir mundial da luta contra o racismo no futebol. O lateral esquerdo Marcelo, também da Seleção, insurgiu-se por injúrias raciais, assim como o goleiro Aranha, do Santos, xingado de “macaco”. Os três usados como exemplos são afrodescendentes, mas não gostaram e não gostam de apanhar.

Dunga é descendente de europeus e está mais para feitor, que bate alegando que “gostam de apanhar”, como pai agride filho, marido agride mulher. Mas ele não está sozinho na raiva ulceral que toma conta dos criticados no Brasil.

Está virando conceito, um conceito perigoso, entre os que ocupam posição de liderança no país tergiversar quando se sentem acuados por suas próprias incompetências, tentando usar frases de efeito. A presidente Dilma declarou à imprensa americana que vê “preconceito sexual” ao ser é chamada de incompetente. O adjetivo não se aplica a mulher Dilma, mas ao seu governo e esse não tem gênero. A presidente quer que a chamem de “incompetenta”?

Como Dunga, a mandatária não suporta críticas. Aliás, no Brasil está se tornando perigoso fazer críticas, pois se as fazemos somos “raivosos”. Discordar é sofrer de raiva crônica. Mas a raiva está no criticado. É como uma úlcera. Surge da falta de capacidade de digerir as dificuldades com inteligência e competência e vai corroendo cada vez mais essa capacidade. O que sofre da úlcera de caráter vive de mau humor. É um doente crônico.

Nessa sua longa doença, mesmo com a ferida curada, parece que a cicatriz dói mais que a ferida. É o caso de Dunga e de Dilma. Consideram-se sempre perseguidos, incompreendidos, vítimas dos intolerantes. Até o sucesso incomoda. Como a dor de úlcera que ficou no subconsciente, têm sempre que lembrar todos que a tiveram. São rancorosos. São amargos. São zangados.

Dilma alegou sofrer de “preconceito sexual”. Dunga se julgou perseguido, respondendo com uma frase preconceituosa. Ulcerosas, nossas pseudo lideranças permitem que suas úlceras vomitem impropérios raivosos. Agridam toda uma Nação com sua dor mais íntima, suas manias de perseguição, que, como úlceras, parecem nunca cicatrizar. Demonstram sua total incapacidade de liderar.


quinta-feira, 25 de junho de 2015

República das monarquias

Mauro Pandolfi

"Nesta que terra que piso, neste povo que amo.
O que eu sou, o que eu sou, o que eu sou??
Sois Rei! Sois Rei"
Bordão de Jô Soares no tempo que brincava de 'Reizinho', ridicularizava os donos do poder e não queria ser o bobo da corte.

Que mistério é Pelé? A bola é só uma lembrança. Não balança as redes há mais de trinta anos. A camisa dez, branca ou amarela, é uma peça de colecionador. Os seus jogos não passam nas tevês. São encontrados no youtube ou nas estantes de loucos por futebol. É endeusado, amado, reverenciado por gente que nunca o assistiu num campo de futebol, ou mesmo, ao vivo, na tevê. Pelé é mito, divindade, sinônimo de futebol. Pelé é eterno.

Que magia tem Pelé? Ninguém será como ele! É um mantra que repete-se sempre que surge um candidato a Rei. Garrincha nunca ameaçou o trono. Zico não conseguiu superá-lo. Diego Maradona o desafiou. Sempre sugere que é melhor. A comparação esbarra no 'fanatismo religioso'. Falam nos títulos mundiais, nos mais de mil gols e na vida desregrada do argentino. Tratam como se fosse um embate entre o sagrado e o profano. Entre os dois, é difícil dizer quem é quem.

Pelé é Pelé! Rei! A mitologia nunca será ameaçada. O reinado já é! Afinal, o que é Lionel Messi? Um fantástico artista do futebol. Um mortal goleador. Um bailarino em dribles impossíveis. Um mago na arte do passe. Um conquistador de títulos. Todos os seus jogos são mostrados ao mundo inteiro. A história viva. Aparecem seus erros, os acertos, a genialidade. Messi é o craque visível. Todos que amam o futebol acompanham a sua trajetória. Pelé é o gênio da história oral. Mais contado, lido, fantasiado do que visto. Pelé é eterno! Messi trilha a sua eternidade. Ele já é do tamanho de Pelé. Ou, será o futebol um esporte que o tempo parou?

Teve o reizinho do parque e o de Capoeiras. Num certo amistoso de seniores, o pequeno Balduíno engoliu o grande Rivelino. Foi só um jogo. Mas, foi glorioso. No Rio, o trono teve várias dinastias. A mais duradoura foi de Zico. Romário e Renato travaram um belo duelo. O trono não era tão valorizado assim. Afinal, até Joel Santana se proclamou Rei do Rio. Nem vou falar de príncipes. Cada semana surgia um. Nenhum tornou-se rei.

Quantos reis cabem numa República? No Brasil, milhares. Andem pelas ruas, calçadas, observem as lojas, ambulantes e notem que há reis de várias dinastias. São gourmets, artesãos, mecânicos, lojistas. Todos reis! Há rei da picanha, do martelinho, do frango, das tintas. Rei dos tecidos, da mandioca e do sorvete. Reis de todas as monarquias. Reis de todas as matizes. Às vezes, paro, penso que o baile da Ilha Fiscal nunca terminou e que o Marechal Deodoro da Fonseca virou para o lado e dormiu. Então, quem é o rei daqui?

Detalhes nem tão pequenos revelam uma monarquia que resiste. Na música, há rei de todos os ritmos. 'Conga la conga' e 'bom para o moral' foi um dueto entre Gretchen e Rita Cadilac. Disputaram trono e quem tinha a bunda mais afinada da música brasileira. As imagens dos rebolados são inesquecíveis. Luiz Gonzaga sempre foi o Rei do Baião. Já Roberto Carlos é o mítico Rei da Jovem Guarda. Os jovens das belas tardes de domingo continuam fiéis ao Rei e a juventude esquecida pelo tempo.

O Festival de Besteira que Assola o País (o Febeapá, imortal criação de Sérgio Porto, um rei do humor. Vá ao google e pesquise. Alguns artigos e personagens continuam atuais. É um sinal que o Brasil está parado eternamente em berço esplêndido) tem a Rainha Mãe, Dilma Roussef, como imbatível. Quem colocou os Incas no México, saudou a mandioca, falou em mulheres sapiens e criou um plano econômico que quebra desde lojinha de R$ 1,99 a um país dificilmente perde o trono.

Porém, apareceu um grande candidato. O ex-jogador e comentarista, Mário Sérgio, afirmou que "Messi é de lampejos e Marcelinho Carioca era mais consistente e jogador" que o craque do Barcelona. Um dos poucos lampejos de Mário Sérgio foi no Mundial de Clubes de 1983 jogando pelo Grêmio. No mais, foi um destes falsos craques da camisa dez. Senão derrubar a Rainha Mãe, ele pode competir com Jô Soares pelo cargo de bobo da corte.

A monarquia parece um sonho, um desejo. Há tantos reis por aí. O Rei Momo é um monarca da farsa alegre. É o Rei do Carnaval. Transforma realidade em fantasia. É o inverso do período eleitoral. Onde a fantasia é vendida como realidade. E, o 'Rei' eleito, não tem a graça do Momo. Há reis de palestras, de negócios, das maracutaias, de eventos. Gente que perdeu o trono. Mas, não quer deixar de ser majestade.


Falei tanto em rei. De todas as dinastias e matizes. Do futebol, da música, da vida. Reis da praia, da primavera, do verão. Reis do apito, da lambada, da cerveja, da cocada preta. Reis dos bailes. Rainhas dos lares. Sei que a minha mulher rejeita o trono do lar. É mais uma primeira ministra. Ontem chamou os filhos de 'reis da bagunça'. Fiquei em silêncio. Não sei qual o meu papel neste reino. Um velho rei sem trono? Um bobo da corte sem imaginação? Um republicano conspirador preso numa masmorra? Ou, só alguém que não sabe como terminar este texto. 

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Entre a palheta e o joystick

Chiko Kuneski

Interessante a imagem confrontando o Playstation e futebol de botão feita por Mauro Pandolfi em sua pertinente crônica. Concordo. No computador a imitação do tridimensional é mais empolgante. O craque do time é uma marionete controlada pelos ágeis dedos sonhadores que comandam o joystick. Basta apenas um jogador programado com o que há de melhor no jogo e a destreza de dedos. Ás vezes a destreza intuitiva de uma criança.

No botão o jogo é tático. Distribuído. Pensado. Imaginado como um xadrez de 22 peças. O dono da palheta é um estudioso dos movimentos do adversário, da distribuição das peças, do conjunto de ações e opções de movimentos. O botão tem a monotonia esquemática. O jogo de computador a dinâmica individual.

No Playstation, se o placar for de 7x1 para o adversário, basta jogar de novo. Entender os erros. Aperfeiçoar a destreza dos dedos e, por consequência, do craque. Se voltar a perder por 1x0. Tudo pode ser repetido. Repetido e repetido.

O craque do Playstation é uma espécie de Pinóquio de Gepeto. Exímio dançarino. Divertido. Perfeito na execução dos movimentos mágicos dos pés; mas não é humano. É o boneco antes da fada madrinha da fama. Como não têm emoções elas não o afetam.


No futebol real, o Pinóquio passa a ser o “menino” humano. Ungido pela fada madrinha; às vezes madrasta. Ainda é um exímio dançarino, um mágico dos pés, mas o nariz cresce quando mente. Diferente do Playstation, falarão mais do seu nariz e menos da dança dos seus dribles. Das suas chuteiras com asas. 

Esse é o ônus. Sem estar preparado, tornar-se humano. Com o perigo de transformar-se numa marionete humana.
    

Batismo de fogo

Mauro Pandolfi

"Não sois máquinas. Sois homens"
O belo discurso de Charles Chaplin em O Grande Ditador

Neymar é um dos grandes. Faltava pouco. Quase nada. Aconteceu. O batismo de fogo do jovem Neymar. Ele entrou no panteão do futebol brasileiro. Após a partida contra Colômbia, ele foi canonizado pela inquisição que a derrota do Brasil provoca. Sentiu na alma a dor da dúvida do talento, a crueldade da humilhação e a vergonha de ser um perdedor.

O rei Pelé foi acusado de acabado e cego. O mesmo serviu para Tostão. Gérson era covarde. Rivelino teve mais sorte. Só o acusaram de amarelar. Zico era o craque abstrato do Maracanã. Sócrates só queria uma cerveja. Nem Falcão escapou. Era frágil e o treinador preferiu o 'duro' Chicão na Copa da Argentina. O quarteto de 'erres' foi estocado de diversas formas. Romário, boêmio. Ronaldo, gordo. Rivaldo, bronco. Ronaldinho Gaúcho, foca amestrada. Neymar, finalmente, entendeu a idolatria. Bem vindo ao clube!

Neymar é um homem em formação. Tem 23 anos e vive como um jovem de sua idade. Adora festas, baladas, luxo, mulheres bonitas, diversão. É um milionário que não sabe o quanto vale. Seu pai sabe. O velho vigarista colocou o filho em má situação. A obsessão pelo enriquecimento rápido pode virar cadeia. E, Neymar, como todo garoto que idolatra o pai, sofre.

A pressão de ver o pai em apuros mexeu com o lado emocional. Gritou, xingou, bateu, apanhou e foi expulso. Uma expulsão tola, boba, típica de alguém em desequilíbrio. Falta gente inteligente, hábil, centrada e consciente na comissão técnica da seleção.

Neymar é um jogador em transformação. Quase pronto. Um instante e será do mesmo patamar de Messi. Neymar reinventou o Santos. O belo time que ganhou a Copa do Brasil e a Libertadores tem a sua genialidade. Reparem o time. Quase todos craques. Ganso, André, Adriano, Arouca. Nomes para a seleção. A ótima equipe foi desmontada aos poucos. Neymar foi brilhar ao lado de Messi. E, outros? Arouca virou só uma lembrança. Ganso não cumpriu a promessa. André e Adriano se perderam nos bares da vida e nos bancos de reservas. O brilho de Neymar refletia em todos. Isolados, eram pouco mais que nada.

Neymar não ficará pronto nunca. Ninguém fica. Veterano ou jovem, a alma, os reflexos, os sentimentos não se medem e, não sei, se é possível controlá-lo. Zidane que o diga. Neymar é a ponta mais aguda do tridente da Catalunha. Não é um qualquer. Se a companhia de Messi, Iniesta, Suarez criam um candidato a gênio, entreguem a camisa a Pedro. Será que um torcedor culé concordaria? Eu não me arrisco a perguntar.

Neymar é um jogador de playstation. Perfeito! Seria estranho se fosse de jogo de botão. O futebol do playstation é o jogo sonhado, idealizado, desejado pelos românticos. Há asas poéticas em todos os jogadores. Há gols nunca visto. Dribles que nem Garrincha imaginou. A bola batida é mais que uma folha seca de Didi. O futebol do playstation é total.

Eu sei disto! Levei, certa vez, uma goleada do meu filho Pedro. Ele tinha pouco mais de oito anos. Driblou o time inteiro. Ia e voltava. Chapéus longos e curto. Na frente do gol, ergueu a bola. E, virou uma bicicleta fantástica. Virei fã do futebol de playstation. Nunca fiz um gol destes. Nem joguei mais botão. É sem graça, parado, chato.


quinta-feira, 18 de junho de 2015

Neymar Jr é craque de Playstation

Chiko Kuneski

Neymar Jr não é craque! Tenho certeza que receberei comentários contrários, jocosos, críticos (adoro os críticos) por minha assertiva. Neymar Jr ainda é um “júnior”. O verdadeiro craque aparece nas horas complicadas, nos momentos decisivos, nos vazios dos jogadores medianos. O atual camisa 10 da Seleção se esconde nesses momentos. O craque entra em campo como se não houvesse vida fora de campo. O mediano esconde suas limitações  nos problemas extra campo.

Neymar Jr é um craque de Playstation. Fora do mundo real. Funciona apenas no virtual dos comandos. Joga bem quando existe um conjunto de outros que jogam tão bem ou melhor. Esse é o camisa 11 do Barcelona. Explosivo. Incisivo. Algoz de goleiros. Sempre que uma bola genial de Messi, de Iniesta, de Suares lhe chega. Quando todos vão mal, ele fica pior. O craque recupera a mesmice, Neymar Jr a sublinha. Principalmente na Seleção de Dunga, um exemplo do mesmo do mesmo.

Pior que a glorificação de um Neymar Jr como craque somente a crônica esportiva nacional, que tentou fazer de um mediano o salvador da mediocridade do futebol brasileiro. Endeusaram-no. Buscaram a construção de um mito midiático feito as pressas. Criaram um Átila que carrega a bola dos patrocinadores às costas. Esqueceram que a mídia cria mitos, mas eles se destroem mais rapidamente. Os verdadeiros craques não se mitificam. Ficam.


A mídia esportiva buscou um herói de Playstation, construído e direcionado,  num humano que mostra sentir os problemas fora campo mais que o tesão do campo. Neymar Jr é apenas mais um que, quando está acuado, joga com a cabeça nos tribunais. Os verdadeiros craques desconhecem os juízes.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Soberbas esquizofrênicas

Chiko Kuneski

Como aconteceu no governo do país, que não entendeu os recados internacionais e a necessidade de se modernizar e tratar a “coisa” pública com respeito e seriedade, o futebol nacional não consegue ler o recado do mundo contra a corrupção, o descaminho e o desmando. A CBF finge que tirar o nome de Marin da fachada de sua sede apaga o rastro da corrupção que envolve a entidade há décadas. Mudam a fachada, mas as colunas incendiadas estão ruindo.

Como Dilma, Del Nero (esse nome me lembra um louco personalista que pôs fogo em Roma) expõe sua esquizofrenia defendendo o ex-presidente preso na Suíça por corrupção ao mesmo tempo em que apresenta um arremedo de mudanças democráticas na CBF querendo desvincular-se desse passado. É uma esquizofrenia proposital.

O atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol mandou tirar o nome de Marin da fachada para mostrar distanciamento da corrupção. Mas, concomitantemente, defendeu o antecessor para também defender-se. Só um “espírito de poliana” acredita que ele não está envolvido nas corrupções da CBF, da Copa e, por conseqüência, do governo que promoveu o evento.

No movimento contrário, tenta desligar-se do passado e apresenta uma “fórmula mágica” para moralizar a entidade, trazendo ao reboque os presidentes das federações, não menos corruptos, e o dirigente dos clubes.

Para assegurar seu mandato até 2019 e uma, lógica, reeleição, Marco Pólo Del Nero apresenta seu “plano de concessões”, divulgado por seus “ministros” em coletiva, tentando acalmar a iniciativa privada dos clubes. Busca sepultar a iniciativa das ligas, dividindo, oferecendo poderes.


A proposta do presidente da CBF acena com a privatização de fórmulas e calendários. Segue o governo federal no logro do povo, os torcedores, jurando aplacar as ondas e serenar o mar da corrupção do futebol. Mostra-se disposto a dividir esse mar para tentar uma travessia enganosa.

Iniesta e os outros

Mauro Pandolfi

Aonde estava Iniesta antes do primeiro gol do Barcelona? Escondido? Ausente? Marcando Tevez? Não sei! Só sei o que vi. Entrou feito raio. Passou pela esquadra italiana. Só Neymar notou a sua chegada. Rakitic conhecia a travessia de Iniesta. Acompanhou passo a passo.  Recebeu a bola e tocou com facilidade para o desespero de Buffon. Um gol do futebol. Simples, eficaz, bonito.

Vi o replay várias vezes. Não consegui ver Iniesta. O futebol é mágico. É poético. Há jogadores com asas na chuteira - é a imagem bem inventada por Chiko Kuneski -, Neymar é um; outros, as asas estão no cérebro. Iniesta é a melhor representação.

O seu jogo parece planejado numa planilha, desenhado por um arquiteto ousado. É um desafiador da geometria. Seus passes triangulares  podem ter quatro lados e o ângulo reto tem mais de 90º. São impossíveis aquelas bolas atravessadas entre os zagueiros. A diagonal do jogo é traçada por uma movimentação que subverte a lógica da diagonal. Se Messi é o gênio da bola, Iniesta é o Merlin. 


Onde está marco polo del nero? Escondido? Ausente? Preso em alguma cadeia? Não sei! A sua figura nefasta visitou a concentração da seleção brasileira. Foi bem recebido. Conversou e apertou a mão dos craques. Nenhum deles pediu uma explicação sobre o escândalo do futebol. Ninguém foi Carlos Caszely que negou o aperto de mão de Pinochet. Estão alheios ao mundo. Estrelas de um universo podre. Que pena!

A hora da Liga. Este é o momento de explodir a cbf e as federações. São entidades anacrônicas. Surgiram num momento de organização do futebol. Os clubes precisavam de apoio para os campeonatos estaduais. Não tinham estrutura e logística para a interiorização. O tempo passou. Os clubes ficaram imensos, gigantes, alguns nacionalizaram-se. São maiores que as federações. Mas, não organizam as suas competições. Os campeonatos estaduais são caravanas da miséria. As federações faturam mais que os clubes. O comando é de monarquias, algumas familiares. Se o FBI pudesse passar 'o rodo' nas federações seria necessário uma outra Papuda.

Cadê os clubes?  Onde estão os cartolas? Estão escondidos? É a hora da Liga! Pensei que uma revolução explodiria no final de semana. Parariam o Brasileirão, exigindo a renúncia dos cartolas da cbf e das federações. Enganei-me. Sou idiota ou ingênuo? Acreditar que gente como eurico miranda, mário petraglia, carlos miguel aidar romperiam com a corja do futebol. Eles são parte da corja! E, outros? Desconfio que nada diferem destes. São apenas menos conhecidos. Mas, armam da mesma maneira. Na Comissão do Esporte da Câmara Federal, del nero garantiu que não renuncia. Ele é do tipo que não saí por livre vontade. Será preciso arrancá-lo do lugar.

Nada espero dos jogadores e dos treinadores. São vaidosos, individualistas e cínicos. Escutei no rádio que Marcelo Oliveira recusou uma oferta do Palmeiras de R$ 400 mil por mês. E, Tite declarou que todos no futebol não trabalham por dinheiro. "É por amor. Só por amor!", afirmou. Poxa! Que loucura! Vivem num universo paralelo, longe da realidade. Nada farão. Acorda, Bom Senso!

O que Iniesta tem a ver com tudo isto? Nada. Iniesta é o prazer do futebol. É poesia, encantamento. É arte. Pura arte. É o amor ao futebol.  É o motivo de manter viva a paixão pela bola. O jogo pensado de Iniesta é maior que a canalhice de del nero, delfim, blatter e cia. O lugar de Iniesta é o panteão. Dos cartolas, a prisão.


PS: Os cartolas e as entidades estão escritos em letras minúsculas. É do tamanho, da honestidade e da história deles. É o meu protesto! Ingênuo, eu sei! Mas, é o meu protesto.

sábado, 6 de junho de 2015

O futebol faz Deus mundano

Chiko Kuneski

         “Se eu quiser falar com Deus, tenho que calar a voz”
                                                                                       Gilberto Gil

Há algum tempo escrevi uma crônica sobre o uso exacerbado da “fé em deus” nos jogos. A crônica “Futebol é coisa dos Homens”, com o olhar crítico da minha “fé” agnóstica, apontava para um movimento crescente de jogadores que externavam, até descabidamente, a crença religiosa em gestos, palavras e mensagens grafadas sob os uniformes dos clubes. Mal sabia eu que era apenas um tímido começo.

Esse movimento de adoração pública ganhou mais adeptos e atualmente no futebol brasileiro é raro não ouvir de um jogador que: “deus está do meu lado”, “graças a deus”, “devo tudo ao senhor”, “deus guiou meus pés (artilheiros) ou minhas mãos (goleiros)”. Usam a palavra “deus” com se fosse o décimo segundo e mais importante jogador do time. Banalizaram o conceito.

O conceito, pois “deus” não existe. Deus é uma criação da fé do Homem, que a ela se apega para buscar no desconhecido um sentido além do material. Deus é etéreo, é volátil, deveria ser imaterial. Mas no futebol, conforme os jogadores, “Ele” faz, gol, defende, ataca, joga, muda resultados e, indubitavelmente, ganha.


Nunca ouvi um atleta que perdeu o jogo atribuir a derrota aos desígnios de deus. Para eles deus só existe nas vitórias, pois é essa a mensagem que querem vender. Acredite, tenha fé e deus te fará vitorioso. Duvide e será um eterno perdedor. Vendem-o como o paraíso terrestre. Usam o esporte para propagar a doutrina. As manifestações de jogadores e até árbitros de futebol estão banalizando o conceito “deus”. Tentam fazê-lo material. Tornam Deus mundano.

O menino e o tempo

Mauro Pandolfi

        "Eu vi um menino correndo. Eu vi o tempo..."
                                   A Força Estranha de Caetano Veloso.

Eu vi aquele menino algumas vezes! Estava sentado na arquibancada do que sobrou do Vermelhão. Olhos mareados, a camisa azul com a gola vermelha, número cinco nas mãos, a bola nos pés e a tristeza imensa. "O que é o futebol, Mauro? Por que eu gosto tanto? Vou passar a vida jogando ou assistindo futebol? Não é perder o tempo? Cinema não é melhor? Ou, quem sabe, música?" Nada disse. Fui embora. Foi só um sonho. O guri surge de repente, sem avisar. Passo dias sonhando com ele. Sei quem é! É o segundo garoto que não entende a paixão pela bola e fala em perda de tempo.

Tenho uma obsessão com o tempo. Gosto do passado e suspiro pelo futuro. Se encontrasse um túnel ou portal do tempo, o que escolheria? Conhecer Pelé ou Garrincha? Ou quem será o novo Messi? Dúvida que não sei como resolver. Sou movido a bola. O futebol é um respiro, um alívio, a poesia circular da vida. O dia a dia é um pênalti e eu sou um goleiro. Geralmente, busco a bola no fundo da rede. Nem Pelé ou o novo Messi. Buscaria o início da paixão para dela fugir.

O mundo é um moinho que é movido pelo vento que leva o tempo até a eternidade. Estou zonzo, estou zen, viajo em busca do desejo. Onde parar? Vermelhão, 1965. O Huracan marca o gol. O primeiro do estádio de Copacabana. Vejo os olhos tristes do menino em busca da saída do estádio. Atravessa a rua, entra em casa, corre para seu jogo de botão. Recupera a alegria narrando um gol de Alcindo. Linda cena. Como destruir a paixão neste momento?

Erechim é algo próximo ao paraíso. Meu aniversário. Sete anos. O presente é uma camisa do Ypiranga. Amarela com golas verdes. Bonita! O sorriso dele é devastador. Encarei a cena. É agora, pensei. Num átimo, tudo muda. O tempo é mesmo mágico. Getúlio Vargas é bucólica, acolhedora. A camisa do Ypiranga está nas mãos da tia Nelci. Dedos ágeis. Um número sete, de linha verde, surge nas costas. O guri está radiante. A tia Nelci, alegre. Desisti de acabar com o encanto do futebol neste momento encantador. Já sei! Não vou deixá-lo ver o treino do Grêmio. Pelo menos, não sofrerá pelo tricolor. E, as alegrias? E, Renato, Valdo, André? Vá, Maurinho! Vá ser tricolor pela vida.

Como diria um antigo narrador de futebol: 'o tempo passa!' Foi lá no Boldo, céu aberto, verdes anos, muito para contar. O passe longo de Carlinhos. Está no ataque. Viu o goleiro atrapalhado. Está próximo, quase colado. A bola vem rápido, salta, abre as pernas, deixa passar. O desespero do goleiro atrás da bola entrando no gol é uma cena que adoro. "Beleza, Maurinho! Dá um abraço pelo meu gol sem quer", disse Carlinhos. Fiquei sem coragem de atrapalhar. Vamos em busca de outro momento. A paixão é mais duradoura do que se canta.

Vestiu uma camisa listrada, azul e branca, uma estrela solitária no peito e entrou de central contra o time da Prefeitura. O Hélio Moritz foi um desejo nos tempos de guri. A bola veio longa, desviou na perna, enganou Valdemar e se transformou em gol. Desesperado. É agora a hora de acabar com futebol. Seria justo terminar num fracasso? Deixei correr. Vi a dura batalha em busca do gol reparador. Lutou, correu, acertou a trave, duas vezes, e nada. O time virou e recebeu o carinho dos amigos. Agora! Espera até os elogios. O pessoal contou que o comentarista da rádio Princesa falou que 'era uma injustiça o Moritz perder, justamente com um gol contra deste guri talentoso e raçudo". Bom! Elogio, quem não gosta! Em Lages será impossível acabar com a paixão.

Florianópolis explode em desejos. O futebol e as meninas. Tão sonhadas, tão lindas. A vida é uma festa em Capoeiras, Universidade, São José. Vou esperar um tempo para destruir o futebol para o Mauro. As conversas com o Mário, Márcio, Beto e Lessandro eram loucuras. Futebol, pouca coisa! Grêmio discutido, dissecado, filosofado, delirado. Tão divertidas conversas. Dá pena acabar! Notei que já era quase Natal. As músicas embalavam os comerciais. Dezembro, de 83. Madrugada. A eletrola da sala a todo volume na rádio Gaúcha. Haroldo de Souza tremulando, tremulando, a voz em cada gol. A tv tinha chiados. Era a imagem vindo do Japão. Gritos, pulos, foguetes. Grêmio, Campeão do Mundo. Nada pode ser maior. Acabar, agora? Nem pensar! Entrei na festa, meio sem jeito, não perceberam, abraçaram-me, cantamos e dormimos, já de manhã, felizes.

Impedir o jornalismo. Incentivar a arquitetura, a medicina, a história, ou qualquer outro curso. Mas, fui distraído por uma lance de Messi. E , quando vi, lá estava ele de branco - 'para ser mais claro' - na formatura. Fiquei emocionado com a alegria do pai e da mãe. E, ao olhar, outra vez, já estava no Diário, escrevendo sobre futebol. Fiquei relendo as matérias e não vi o tempo passar.

Passou! É domingo. Chiko me liga. A conversa foi longa, divertida, amistosa. Ele me convida para fazer um blog para falar de futebol. É agora! O momento certo de dizer não, de romper com futebol. O Pedro me chama. Me distrai e, de repente, me vejo escrevendo um texto sobre uma viagem do tempo para não amar o futebol. Não consegui! Assim como um drible. Este amor está preso no tempo. Vai durar até a alegria de um gol imortal.


A quarta-feira me revelou a bipolaridade que sempre desconfiei. Alegre, pela implosão da Fifa e a tristeza pela podridão do futebol. Vale a pena a paixão e escrever sobre ela? Acho que sim. Os apaixonados formam a resistência do jogo. Vejo futebol como um teatro, uma encenação. Enquanto os atores usarem uma camisa azul, branca e negra, ou for um Messi, estarei na plateia vibrando, chorando, sofrendo, pensando em voz alta, escrevendo este blog. Azar o de vocês.