sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O último tango da Libertadores



"O que a lagarta chama de fim de mundo, o homem chama de borboleta".
Nunca entendi muito bem o otimismo de Richard Bach em Fernão Capelo Gaivota, o livro que me perseguiu durante a adolescência e quase me pegou. Mas, gosto de suas frases.Tornei-me um cético, tentando ser saudável, que duvida que o futebol se reinvente após o caos de Boca e River. A paixão será morta a pauladas, pedradas, socos e pontapés. No futuro, futebol será tão anacrônico como as sessões de gladiadores no Coliseu.

Mauro Pandolfi

Triste, dramático, melancólico este último tango da Libertadores. Exatamente igual ao mítico filme de Bernardo Bertolucci. Desesperado, insandecido, exagerado, doido, apaixonado. Lembro do meu amigo Alberto, 'hincha de River', como gostava de dizer, ao retornar de suas viagens de Buenos Aires, no inicio deste século, e declamar, feito um cantador de tango, escorado no balcão, olhar sério e dolorido: "Estão todos loucos na Argentina! Brigam, xingam nas ruas ou dentro de casa, nos cafés. Há uma intolerância absurda.Tem que andar com cuidado, com cautela, sem expressar as suas paixões. Descobertas, corre-se o risco de morrer, de tanto que vão te bater. Estão desesperado. Não há empregos, não há saúde, nem  escolas, não há mais diversão. Não há mais válvula de escape. O futebol entrou nesta loucura. Fugi dos clássicos. Destruiram a Argentina!". Ao ver as cenas de domingo quase desisti do futebol. Tenho medo quando a paixão aprisiona a lucidez, libera o ódio que se esconde ao lado do amor. Mas, cá estou, tentando escrever algo sobre a insanidade. Serei eu mais insano do que os loucos que atacaram o ônibus do Boca ao buscar uma explicação?
O futebol argentino é único. Original e fantasioso. É um jogo bailado. Um tango dançado individualmente no teatro de grama e paixão. Uma dança de negaceios, de voltas, de retornos, de passos trocados, de ginga, de dor, de extrema beleza.  O coletivo no futebol argentino é uma miragem, uma ilusão.  É um jogo solitário e ilusionista. Já foi mágico e encantador. Tempos de Lá Maquina do River. Também, brilhantes. Nos pés endriabrados  e na mão de Deus de Maradona.  Messi não conta. Ele é  'espanhol'!Assim como tudo na Argentina, a beleza, a grandeza, a eloquência, a elegância se perderam no passado. Hoje é um espectro do que foi. As cenas de domingo,  que impediram a final da Libertadores, é o resultado de seus podres poderes. Chore por você, Argentina!
A minha paixão pelo futebol argentino começa em Lages. Quase tudo na minha vida inicia em Lages. Vi o Huracan ganhar do Internacional na inauguração do Vermelhão de Copacabana. Imagens soltas do jogo, dos passes certos, dos dribles, da habilidade aparecem de tempos em tempos nas lembranças. Em algum lugar da casa da mãe tenho uma flâmula desta festa. Depois veio o Independiente de Bochini, a fúria de Kempes, a genialidade de Maradona, ao deslumbre de Messi. Hoje, não consigo ver um jogo do campeonato argentino. Não há mais a beleza do drible.  O bailado do tango é um engano. Não há a melancolia. Só a tristeza de um futebol que perdeu para a violência, a estupidez de seus 'ultras' - os bárbados torcedores que amam odiar os adversários.
Não há mais a Taça Libertadores da América. A Conmebol destruiu a mais importante competição do continente. Rendeu-se aos demandos de seus cartolas - alguns presos, destino que não será diferente para o atual presidente. Chiko Kuneski disse que 'viramos colônia' após a decisão de fazer a final em Madrid. De acordo! A Taça deveria mudar de nome. Respeitar os libertadores da América. Respeitar os sonhos, os desejos e a história. O mínimo que a Conmebol deveria fazer era alterar o nome da competição. Saem os libertadores e entram os conquistadores. Boca e River buscam o título da... Taça Conquistadores da América. E, Caetano continua atual. 'Será que America se livrará de seus ridículos tiranos...' Se depender das últimas eleições, parece que não.

sábado, 17 de novembro de 2018

14!