- "Dos vastos campos verdesAté as terras mais remotasEsqueça todos teus afazeresSinta o mundo dar suas voltas"O futebol embala a minha vida feito poesia. Gosto de novos olhares, como o belo poema Carpe Diem de um garoto que não sabe driblar com a bola. Mas, é um bailarino com as palavras. Salve Duda Sacul!Mauro PandolfiNão resisto ao chavão de Zuenir Ventura. "2017 nunca terminará!". É uma tatuagem marcada na alma. Ao lado de outras, que de tempos em tempos, reaparecem em sonhos, nos meus devaneios imaginários, ou, na saudade. O título da Libertadores é eterno. O jogo é mais! O prazer de ver o jogo! O estilo, o refinamento com a bola, a poética do passe, a prosa do drible, o estético, as linhas que se entrelaçam num desenho mágico. A bola fluindo rápida, insinuante, submissa, lírica, de pé em pé, que, muitas vezes, acabava aconchegada na rede. O Grêmio de Renato Portaluppi é o melhor Grêmio da minha vida. O que me deu mais prazer. O do primeiro semestre, que tinha Pedro Rocha, foi mais encantador. Espetaculares escapadas pela esquerda, a fina elegância de Luan e a gentileza de Arthur com a bola tornam este time inesquecível. Este é o verdadeiro 'Imortal Tricolor". Vi todos os jogos do ano. Vibrei, gritei, cantei, chorei, sorri. O importante, como diz um certo Roberto, 'é que emoções, eu vivi!"2017 foi o território da beleza e do caos. Barbárie e civilização. Um país desconectado entre o poder e o povo. A corrupção no horário nobre da tevê. O dinheiro fluindo de malas à apartamentos, Um governo impopular, ilegítimo, canalha, sobreviveu a custa de compra de almas, consciências (?), indecência política, ou só pela boquinha! No mesmo horário da tevê, o desespero da vida de quem depende do serviço público. Hospitais e escolas em ruínas. O ajuntamento não superou o 'fla-flu' do impeachment. Agravou a intolerância, a raiva, a estupidez, ódio. Mais do que nunca, se divide entre o passado e o passado em 2018. Um lembra o 'paraíso' do período militar. O outro, tenta resgatar a vida 'no Jardim do Éden' do lulo-petismo. Farsantes, místicos, mitômaniacos e iguais.Há mais semelhanças do que diferenças. É preciso estar atento, lúcido, racional, para não cair, outra vez, no conto do vigário. E, há 'vigário' de todo o tipo de fé. Principalmente, daquela que Deus duvida.Barbárie do futebol me assustou. Raros os jogos sem violências de torcedores. Gremistas foram brigar em Abu Dhabi. Gastaram dinheiro pelo 'prazer' de esmurrar e apanhar de madrilistas. Imagens que assustaram. Invasões de torcida virou trivial. A derrota é proibida. Time que perde em campo, corre o risco do linchamento de torcedores. Algumas imagens me impressionaram. O tamanho da pedra no campo da Ponte Preta, que o repórter da Sportv mostrou, deveria fechar o estádio Moisés Lucarelli por alguns anos. A cena do pai com o filho do colo, fugindo da briga, escorraçado por um policial, foi deprimente, triste, desoladora. A brutalidade, a estupidez não escolhe 'lado'. Mas, nada superou a 'estratégia' das torcidas organizadas do Flamengo no jogo contra o Independiente. Invasão, porrada e bomba. O Maracanã lembrou o Coliseu. Não identifiquei quem era gladiador, cristão ou leão. O Flamengo será punido pela conmebol? Terá mesma punição de Corinthians, Boca e Penharol. Multas! Os cartolas amam o dinheiro. É o que interessa. O resto é...Delatores e o velho canalha da ditadura militar, José Maria Marin, abriram o bico. A escória do futebol brasileiro vai assistir o sol nascer quadrado. Marin terá o fim da vida justo, perfeito para um pulha. Ricardo Teixeira e Del Nero não escaparão do mesmo destino. Bom, sempre tem um Gilmar Mendes no meio do caminho. Chegou a hora de mudar. Nunca o futebol brasileiro teve uma oportunidade como esta. Acabar com a cbf e as federações. Estes entulhos autoritários inventado por Getúlio Vargas, fortalecido pelo militares e protegidos pelos governos pós Nova República. É a hora da revolução. Da transformação, da mudança, da inovação. De detonar esta estrutura arcaica, obsoleta e coronelista. Acredito na revolução! Só não confio nos revolucionários!É o ultimo texto do ano. Queria mais poético, mais doce, mais lírico. O dia cinza, chuvoso, com jeito de culpa, me deixou meio azedo, ácido, e por incrível que pareça, esperançoso. Do caos é que a vida surge, vem a criação, os novos tempos. Agradeço aos meus leitores (todos os oito, cada ano ganho um!), a quem curtiu, comentou, compartilhou ou apenas leu, aos que ignoraram. Desejo um Feliz Natal. Que as palavras de um certo Menino Jesus abram corações e mentes. E que todos nós façamos de 2018 um ano leve, sereno, alegre, tranquilo, de muita paz. Grato pelo tempo perdido por lerem os textos deste blog.Termino com um presente de Natal, os versos finais de Carpe Diem:"Dentre as fugas da realidadeMe pego novamente cegoPerante mágoas da minha maldadeE de todo proveito que me negoPorém não me deixo abaterEnquanto olho para os ponteirosNão deixa a folia cederE faço ceder nevoeirosAté o sol nascerEnquanto a lua está a brilharDe norte a sul irei correrEm cada segundosem nada a declarar"
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
O último
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
O 'incrível' time de Brancaleone e sua derrota fantástica
"Deus tirou a mão!"
A fala do beato para justificar a queda de um maltrapilho homem na travessia da ponte no filme O Incrível Exército de Brancaleone pode ser usada por Renato Portaluppi na derrota para o Real Madrid. Em nenhum momento, os deuses se distraíram. Ficaram, como sempre, ao lado do mais poderoso.
Mauro Pandolfi
Perdi a ilusão na entrada dos dois times em campo. O sonho acabou na hora dos hinos. Olhei os rostos dos 'contendores'. De um lado, jogadores que estarão na Copa do Mundo do ano que vem. Alguns, serão estrelas. Quem sabe, um deles, erguerá a taça. Atletas que valem mais de um bilhão de reais. E, há um candidato a maior da história. De outro, o grupo de amigos que superou dramas, traumas, medo, que jogou o futebol mais bonito deste lado do planeta que não acabará pelos nossos pés. Isto será obra de Trump, do nhonhô da Coréia ou se tivermos sorte, pelo meteoro. Olhei os rostos marcados por fracassos. Alguns passaram sem serem vistos no invisível futebol catarinense. Lembrei do filme de Mário Monicelli, O Incrível exército de Brancaleone. Eis uma boa definição para o time do Grêmio de Renato Portaluppi. Bravos guerreiros de uma derrota anunciada. Nem no filme, o exército venceu. Imagine num campo de futebol. O Real derrota sempre o 'imaginário'. O que não diminui a beleza poética do sonho.
A última impressão é a que fica. Vitória ou derrota define um time. Se perder, esqueça a temporada, os títulos, os bons jogos, as revelações. Tudo é um fracasso. É a sensação que tenho ao ler, ouvir os especialistas do futebol ao falar do Grêmio após a derrota para o Real. Desapareceram as comparações individuais (como estabelecer 'posições ' em jogo coletivo e móvel? Não duvide da 'criatividade' de um jornalista) de dias antes da final do Mundial. Aliás, o Real Madrid era tido como o pior da década, em decadência, que teve uma imensa dificuldade de vencer o fraco Al Jazira. Alguns consideravam, o Grêmio um rival do mesmo nível. Poucos lembraram do abismo técnico, financeiro, tático. O 7 a 1 parecia esquecido. Estavam mais preocupado com o duelo de vaidades entre o 'pedante de bronze ' versus o 'narciso de plasma', na inventiva definição poética figadal de Chiko Kuneski, do que análise precisa do jogo. Tratei o embate como uma deliciosa brincadeira. Porém, levaram a sério demais. Análise é algo raro em quem 'é pago para dar opinião'. Estão perdidos no 'achismo', nos chavões, nos dogmas, dos mantras que são repetidos desde que o primeiro jornalista acompanhou uma partida de futebol neste país.
A armada espanhola anulou o exercito de Brancaleone. Era gigantesco o fosso. Suspirei por deuses distraídos. Me iludi. Estavam atentos. Não deram chance a Jael ser o herói improvável. O título veio na genialidade, ao perceber a ação da barreira pular em uma outra falta, de Cristiano Ronaldo. E, tudo mudou nos comentaristas de resultados. O Grêmio tornou-se fraco demais, defensivo, frágil, sem qualidade, um timeco!. E, o Real virou o maior time do mundo. Imbatível e poderoso. Tem razão quem disse que 'os jornalistas nunca perdem uma partida'. São invencíveis! A ultima imagem do 'duelo' foi o sorriso de propaganda de pasta de dente de Cristiano Ronaldo tomando toda a tela e rosto triscado de um derrotado sem chão de Renato. Nestes dias de valores líquidos, o 'plasma' é mais precioso que o 'bronze'!
Este é um país que adora o fracasso alheio. Vibra com ele. Fiquei com pena do jovem Luan. De melhor da Libertadores a pipoqueiro na final. Ninguém falou de seus marcadores. Ao buscar a bola na defesa encontrava Modric. No meio, Kroos fazia o cerco. Em outra linha, caso escapasse, Casemiro o esperava. Às vezes, nada cordial. Nas raras vezes que tentou atacar, foi Varane que o combateu. Uma 'quadrilha' que já parou Messi e estará na Rússia no ano que vem. 'Perdeu a vaga para copa', afirmou um jornalista da Fox que não identifiquei o nome. A tevê estava longe e os meus olhos 'degenerados' não conseguiram ler. Que sorte teve Arthur. A sua última imagem é a atuação soberba da final da Libertadores. Então, tem chances. Pequena. Afinal, Tite ama um medalhão.
Vi a zoeira nas redes sociais fui zoados pelos amigos, por leitores deste blog, por conhecidos de longe, vi postagens engraçadas e outras ofensivas. É a nossa índole irônica, cruel, perversa, de vibrar com as derrotas alheias. Perdedor, melancólico, reflexivo, tento 'sobreviver' a isto. Tudo tem volta. eu sei. Me diverti muito com a queda vermelha. É bom jogar o nosso fracasso na derrota adversária. Fiquei leve naquele domingo. Uma dúvida apareceu no meio da tristeza. Será que este projeto de Brasil, bem executado, de subdesenvolvimento eterno, da pobreza que só cresce, refém de populistas, de ladrões dos sonhos, de canalhas de toda ordem, não passa também por isto? Não sei! Mudarei? Não sei! Vou saber se o Inter resolver ser campeão de tudo em 2019.
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
Asas do desejo
"Por que eu sou eu e não você? Porque estou aqui e não ali? Onde termina o tempo e começa o espaço?"
As dúvidas, os devaneios do anjo desterrado do filme Asas do Desejo, de Wim Wenders, são as minhas dúvidas e os meus devaneios num duelo onde o tempo e o espaço são os rivais para Renato e Cristiano Ronaldo. Não é um duelo de morte. É de vida! De sonho! ' Do Real e do Imaginário!
Mauro Pandolfi
Não é só um jogo. Nem apenas uma final. O título é só uma taça que ficará guardada no museu, na memória vitoriosa de um torcedor. É um jogo de nuances. De encontros de dois personagens que habitam o meu universo real e imaginário. Entre o que é! O superior, o genial, o colecionador. O homem mais próximo de uma máquina que ousou brincar com a bola. 'O maior da história!', como disse. Alguém contesta? Do outro, o que poderia ter sido. Não foi! Trocou tudo pela boa vida. O frio pelo sol. Preferiu brincar com os amigos da praia aos rivais da neve. Recusou a ser máquina. Não soube viver com a modernidade. 'Fui melhor que ele", vive afirmando. A declaração irrita, desperta rancor nos setores da vida que adoram um subserviente, alguém que sabe o seu lugar e detestam o que desafina este coro dos contentes com arrogância , soberba e uma audácia que há tempos se perdeu nesta parte dos trópicos. Na minha melancolia poética, sou traído pelo desejo da disputa. E, feito anjo proscrito, abro asas, e assisto em meu sonho, com a minha perda da memória e da história, o embate do um passado frente o presente.
Renato é o imaginário mais perto do real que conheço. Aquela bola mágica que viajou alta e encontrou César é a sua melhor tradução. Imprevisível e impossível. Genial e genioso. O abusado craque transformou o Grêmio da Azenha em campeão do Mundo, A transmutação foi feita a dribles. Desistiu de ser eterno em Roma. Mesmo sendo um Portaluppi era muito brasileiro para encarar a Itália. Largou, abandonou, fracassou. Voltou para ser o 'Rei do Rio'. Marcou gols de todos tipos. Simples, geniais, exóticos. Passou a carreira por aí. Vagou por tantos clubes. Ficou mais praia que no campo. Não deu mais tempo para provar que é o melhor camisa sete destes anos modernos. Reinventou-se como treinador. Está a procura de uma glória que percebeu perdida, talvez, tarde demais.
Cristiano Ronaldo é o real mais perto do imaginário que conheço. Há tantos lances geniais. Em um só jogo por Portugal, nas eliminatórias da Copa no Brasil, marcou três gols. Um voleio de esquerda. Uma cabeçada mortal. Um drible e um fuzilamento com o pé direito. A perfeição é a melhor tradução de Cristiano Ronaldo. Tão magnífico que ainda sobra tempo de se admirar no imenso telão do estádio. Um 'narciso de plasma', como define Chiko Kuneski. Ao ganhar a quinta bola de ouro garantiu: 'Sou o melhor da história!' Eu não ouso mais discordar. Mas, há Pelé, Maradona, Cruyff, Messi, Renato...
Um jogo que nunca começa. Talvez, nunca acabe. As imagens aparecem. De olhos abertos, assim como o coração e a alma, vejo o embate. Lado a lado. Reparo as cenas. São diferentes. Há nuances. Não são nítidas. É o tempo e o espaço que não combinam. Então percebo que é um sonho. O duelo entre o real e o imaginário. O imaginário é mais poético, flerta com a emoção. É o que me move, que faz viver. O real é o dia a dia, a dura poesia concreta do cotidiano, o que me garante a vida. Cristiano Ronaldo é mais jogador que Renato. Mais amplo, mais completo, mais decisivo. Foi mais do que poderia ser. Não se cansa. É uma máquina. Ao contrário do anjo de Asas do Desejo, escolho o imaginário. Prefiro Renato. Ele é tricolor de alma, coração e fé. Ele é Grêmio. É o que basta!
quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
Independiente!
Poesia que escutava no silêncio da sala lá por 74. Gay; Comisso, Sá, Lopes e Pavoni; Gálvan, Raimondo e Semenewicz; Balbuena, Bochini e Bertoni. Os versos que inspiravam meninos e todos tentavam 'poetar' como Bochini. O mestre que um certo Diego Maradona chamava de Deus.
Mauro Pandolfi
Éramos seis! Sentados nos degraus do armazém do seu Jeremias. Seis guris a procura de um nome para o time. Tarefa difícil. Dias de discussões. Problemas em todas as conversas. Não poderia ser o de nossa paixão. Estavam fora o Palmeiras do Bolacha, o Corinthians do Abel, Flamengo do Carlinhos e João (ou seria do Tonho?), o Fluminense do Tonho (ou seria o João?), o São Paulo do Serginho e o meu Grêmio. Não seria, também, diminutivo. No Copacabana já jogavam o Flamenguinho, o Vasquinho e o Palmeirinha. Não podia ser o Inter. Afinal era o time da cidade. E, o de outro lugar, ninguém torcia. Carlinhos pensou no Guarani. Rejeição total. Mesmo extinto, o sentimento do Guanal era intenso. Um silêncio de dúvida. Abel fica em pé, da uma volta, mão no queixo, outra volta, e emenda, como se fosse um voleio: "por que não Independiente? Ganha dos nossos times, é campeão da Libertadores, tem o vermelho do nosso Inter e da nossa camisa?". Foi instantâneo. INDEPENDIENTE! Gritamos! Irritado com o barulho, seu Jeremias saiu do armazém dando bronca. "Vão fazer barulho em outro lugar. Circulando, vão jogar, vão carpir um lote, vocês estão incomodando os fregueses. E, onde já se viu escolher um nome argentino? Pelo menos transformem em independente ou independência!". Fomos saindo devagar pelo meio da rua Irmã Laurinda com uma certeza. Todos voltaram a gritar 'Independiente!'. Até sair de Lages num julho de 1975 sempre fomos Independiente. Menos uma vez, quando virou Atlântico. Isto é uma outra história...
Poucas vezes vi jogar. As finais contra o São Paulo em 1974, um jogo contra o Cruzeiro de Dirceu Lopes, contra o Grêmio e,quem sabe, algum amistoso da seleção argentina.. Escutava sempre na sexta-feira o campeonato argentino. Luz apagada, deitado na frente da eletrola, imaginava o jogo. Radio Mitre entrava feito um bólido a noite. Procura os meus ídolos. Babington, Pastoriza, Artime, Beto Alonso, Oberti e o que gostava mais: Ricardo Bochini. Lembro que comentava com o Abel sobre Bochini. Era diferente do ponta de lança brasileiro. Mais ofensivo, de toques curtos, refinados, driblador, usava os lados como poucos e uma lucidez no espaço curto. Ele dava um toque por trás da zaga, deixando o centroavante na cara do gol. Parece que estou escutando o narrador da rádio Mitre falando do passe 'bochinesco'. Aquele que rompia o ferrolho, tirava o nó da garganta, aliviava a alma e transformava o gol em poesia. Durante muito tempo, "Os Rojos", 'Os Diablos Rojos" foram a minha paixão. Tinha na parede do quarto o poster da Placar do time campeão da Libertadores. A escalação lembro de cor, feito poesia que embala o futebol.
Muito tempo depois, explicaram-me, (gracias mi amigo Alberto!), que Bochini era um 'enganche'. Um raro jogador que brota na Argentina. Há dúvidas sobre o melhor deles. Alberto dizia que era Sivori. Hoje, falam em Messi. Muitos elegem Maradona. Mas, para Diego era Ricardo Bochini. Jogou pouco mais do que dez minutos numa copa do Mundo. Foi em 86, contra a Bélgica. "Quando vi que Bochini entrava em campo, me pareceu que tocava o céu, por isso a primeira coisa que fiz foi buscar uma tabela com ele. Nesse momento, senti que estava fazendo uma tabela com Deus", explicou Maradona. Jorge Valdano é um mestre do futebol. Dentro e fora do campo. Sutil e refinado, assim definiu Bochini. "Era um gênio que usava a cabeça para pensar milagres e o pé direito para executá-los. O corpo inteiro para enganar seus adversários". Bochini parece desconhecido do futebol de hoje. Busquei ele pelo jogo de quarta. Procurei no Olé alguma referência sobre ele. Encontrei algumas frases. Quem viu, nunca esquecerá. Seu nome será lembrado assim que alguém falar de um camisa dez celestial.
Não conseguia entender o meu sentimento no jogo Flamengo e Independiente. Comecei simpático ao Flamengo em cortesia ao Zeca pela recepção com a camisa do Grêmio no domingo. Ao Chiko, não! Afinal, ele não veste azul. Direito dele. O jogo fluía e não me motivava a torcer mesmo depois do gol. Comentei o jogo com meu afilhado Luca sobre a dificuldade, a estranheza, a lentidão, o jogo travado. No intervalo, lembrei-me de Lages. Algo estava fora do lugar. A paixão escondida nas entranhas do coração reconheceu a camisa. O grito veio em seguida: INDEPENDIENTE! Vibrei com a virada, a vitória e o encontro sempre amoroso com o Maurinho. Desculpa, Zeca! Vibrarei no campeonato carioca. Afinal, o meu velho Olaria de Afonsinho é só um time de botão que o tempo escondeu e não lembro onde guardei.
Poucas vezes vi jogar. As finais contra o São Paulo em 1974, um jogo contra o Cruzeiro de Dirceu Lopes, contra o Grêmio e,quem sabe, algum amistoso da seleção argentina.. Escutava sempre na sexta-feira o campeonato argentino. Luz apagada, deitado na frente da eletrola, imaginava o jogo. Radio Mitre entrava feito um bólido a noite. Procura os meus ídolos. Babington, Pastoriza, Artime, Beto Alonso, Oberti e o que gostava mais: Ricardo Bochini. Lembro que comentava com o Abel sobre Bochini. Era diferente do ponta de lança brasileiro. Mais ofensivo, de toques curtos, refinados, driblador, usava os lados como poucos e uma lucidez no espaço curto. Ele dava um toque por trás da zaga, deixando o centroavante na cara do gol. Parece que estou escutando o narrador da rádio Mitre falando do passe 'bochinesco'. Aquele que rompia o ferrolho, tirava o nó da garganta, aliviava a alma e transformava o gol em poesia. Durante muito tempo, "Os Rojos", 'Os Diablos Rojos" foram a minha paixão. Tinha na parede do quarto o poster da Placar do time campeão da Libertadores. A escalação lembro de cor, feito poesia que embala o futebol.
Muito tempo depois, explicaram-me, (gracias mi amigo Alberto!), que Bochini era um 'enganche'. Um raro jogador que brota na Argentina. Há dúvidas sobre o melhor deles. Alberto dizia que era Sivori. Hoje, falam em Messi. Muitos elegem Maradona. Mas, para Diego era Ricardo Bochini. Jogou pouco mais do que dez minutos numa copa do Mundo. Foi em 86, contra a Bélgica. "Quando vi que Bochini entrava em campo, me pareceu que tocava o céu, por isso a primeira coisa que fiz foi buscar uma tabela com ele. Nesse momento, senti que estava fazendo uma tabela com Deus", explicou Maradona. Jorge Valdano é um mestre do futebol. Dentro e fora do campo. Sutil e refinado, assim definiu Bochini. "Era um gênio que usava a cabeça para pensar milagres e o pé direito para executá-los. O corpo inteiro para enganar seus adversários". Bochini parece desconhecido do futebol de hoje. Busquei ele pelo jogo de quarta. Procurei no Olé alguma referência sobre ele. Encontrei algumas frases. Quem viu, nunca esquecerá. Seu nome será lembrado assim que alguém falar de um camisa dez celestial.
Não conseguia entender o meu sentimento no jogo Flamengo e Independiente. Comecei simpático ao Flamengo em cortesia ao Zeca pela recepção com a camisa do Grêmio no domingo. Ao Chiko, não! Afinal, ele não veste azul. Direito dele. O jogo fluía e não me motivava a torcer mesmo depois do gol. Comentei o jogo com meu afilhado Luca sobre a dificuldade, a estranheza, a lentidão, o jogo travado. No intervalo, lembrei-me de Lages. Algo estava fora do lugar. A paixão escondida nas entranhas do coração reconheceu a camisa. O grito veio em seguida: INDEPENDIENTE! Vibrei com a virada, a vitória e o encontro sempre amoroso com o Maurinho. Desculpa, Zeca! Vibrarei no campeonato carioca. Afinal, o meu velho Olaria de Afonsinho é só um time de botão que o tempo escondeu e não lembro onde guardei.
sábado, 2 de dezembro de 2017
Os desajustados
"Eu não sei a que lugar eu pertenço".
É
a resposta de Rosalyn (Marylin Monroe) para Perce (Montgomery Clift)
personagens do esplêndido filme de John Huston, Os Desajustados. É a
história de quem parece viver fora do tempo, do espaço, perdidos, sem
rumo, a procura de uma saída. Alguns, encontram.
Mauro Pandolfi
Este
texto poderia ser um pedido de desculpas. Mas, não é! É sobre a
descoberta de um outro olhar do futebol. Rompeu as minhas certezas,
convicções, aumentou as minhas dúvidas. Nada é eterno no mundo da bola.
Nem o talento. E, muito menos, a falta dele. As teses existem para
serem derrubadas, destruídas, refeitas. Errei em várias análises
sobre os jogadores do Grêmio. Reclamei quando chegaram. Usei as suas
histórias, as minhas avaliações, os meus olhares, minhas desconfianças.
Alguns, mudaram a minha opinião após os primeiros jogos. Outros, só no
último. Nada é definitivo num campo de futebol. Heróis, vilões, craques,
bondes, pernas de pau, são meras figuras de linguagem usadas num
estádio ou numa análise. Não são tatuagens que ficam no corpo de um
jogador. Ele pode mudar a sua história. Se reinventar, se descobrir ou
aceitar as coisas como são.
Esta reflexão pode ser apenas uma
consequência do Tri do Grêmio. Mas, não é! Tento entender a 'magia' da
transformação. Qual o segredo de Renato Portaluppi em 'recuperar' almas,
restaurar virtudes, atitude, de mudar comportamento, fazer ressurgir
talento escondido, heróis improváveis, desajustados ou 'achar' uma juventude perdida? Confiança, respeito,
determinação, ousadia. Ou, coragem, por não ter ninguém melhor por
perto. Apostou! E, ganhou!
Detesto
o futebol de Fernandinho! Ou, detestava? Enrolado, confuso, perdido
entre o drible inútil ou o chute torto. Como pode um atacante que não
sabe chutar? Este Fernandinho vi no Barueri, no São Paulo, no Atlético
e, me desesperei quando foi anunciado pelo Grêmio. Atacante perto dos
30 anos e com menos gols que Rogério Ceni, eu não aceito. Fracassou,
foi emprestado, voltou, foi emprestado, voltou, virou reserva e Renato o
reinventou. Tornou-se artilheiro no Brasileiro com bons jogos. Tinha
(ou tenho?) restrições como substituto de Pedro Rocha. Até escrevi que
ele era 'a negação de Pedro Rocha'. Contra o Lanús foi um Pedro Rocha
dos melhores momentos. Rápido, inteligente, tático, e marcou um gol
maravilhoso. Fernandinho! É o melhor exemplo do meu engano. Todos que
estão no futebol tem uma qualidade. É preciso descobrir, lapidar, gerar
confiança, fazê-lo brilhar. Renato fez isto com Fernandinho. Ele virou
um definidor mortal. Até quando? Que seja para sempre!
Não
é só a qualidade que contesto nas contratações. A idade é outra. Só os
38 anos faziam duvidar de Léo Moura.
Três jogos e mudei de opinião. Ele é precioso taticamente. Cícero foi
outro. O tempo parado e a idade. Um 'velho' sempre tira o lugar de um
jovem promissor. Patrick e Jean Pierre perderam lugar para Christian e
Jael. Pô, Renato! Protestei no facebook. Ah, Jael! Gostei da
contratação. Depois de alguns jogos, contestei. Outros jogos, aprovei. Certezas absolutas até mudar de ideia.. Reclamei de
Barrios. Muita grife e pouco jogo. Ri com as contratações de Edílson
(muito doido!) e de Cortez (ainda joga?). Loucura! Até com Kannemann me
enganei. O futebol é mesmo um teatro de grama e paixão. Há os que
superam as desconfianças e medos. Improváveis 'heróis' de finais. É a magia do jogo, do homem, da vida.
Agora,
um segredo - é segredo, pois poucos me leem! - que escrevi quando Roger
Machado pegou o boné e disse adeus. Não gostei da contratação de Renato
Portaluppi. Bom treinador nos dois períodos do Grêmio. Um bem ofensivo; o outro,
quase uma retranca. Mas, havia uma réstia de moderno nos seus times. Não
como Roger, um leitor de Pep Guardiola. Estudioso, educado, discreto,
renovador, bom discurso, novas palavras. Gostava de Roger! Enquanto Renato ainda 'perdia' o tempo na praia, no futvolei, um grande e sábio bon vivant.
Escrevi isto: "Renato retorna mais uma vez. A
terceira! Infelizmente, não como jogador. A saudade, o passado não é
uma fonte da juventude. Que pena! Volta como técnico sazonal. O homem
que resolveu tirar férias trabalhando. Ao contratar Renato Portalupi e Valdir
Espinosa, o Grêmio disse adeus ao presente, abandonou o futuro e tenta
reencontrar uma gloriosa era de vitórias. Que só existe nos almanaques,
nas memórias ou num pensamento mágico de um cartola".
O tempo revelou a certeza da aposta. E se, hoje, tivesse que optar por
um dos dois, ficaria com Renarto. Desconfio que o Portallupi é um poeta nas
horas vagas. Finge tanto que acredita nas 'próprias palavras' jogadas
ao vento. Quem garante, que no exílio das areias, não devorava livros de
táticas, assistia escondidos jogos ou fugia para algum curso?
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
Tri Legal!
"América, você tem Simón Bolivar, San Martin e José Artigas. Eu tenho De León, Adílson e Geromel, um caudilho, super-herói e um mito que ergueram tua taça para o alto e honraram teus libertadores".
O belo texto de Marcelo Ferla explica a relação amistosa, afetuosa e amorosa entre a América e o Grêmio.
Mauro Pandolfi
Já passavam das duas da manhã. Na frente do boteco do Alemão, debaixo da chuva, me despedia do meu amigo Rai Carlos, o vidente cego. "Sempre te disse, meu caro Mauro, que a vida ensina mais do que qualquer livro de auto ajuda. No desespero de nosso fracassos te falava: o mais importante não é bater. É saber apanhar e continuar lutando, manter-se vivo, pois um dia, a vitória libertará", filosofa Rai. Termina com um grito que deve ter acordado a vizinhaça. "Sou Tri! Tricolor de alma e coração. Tenho as cores da paz, do céu e da minha pele. Sou Tri da América. Sou De León, Adílson , Geromel. Sou também, Flecha, Ancheta, Beto Fuscão, Gaspar, Tabajara. Eles me ensinaram a continuar, a sonhar, não desistir mesmo com todas as derrotas". Rai me abraça e vai embora assobiando o mantra fantástico de Lupicínio Rodrigues.
Molhado, estranhamente melancólico, vou para casa. A cerveja provoca reflexões espontâneas, estranhas, desnecessárias sobre o sentido da existência, a família, o futebol, tudo o que me move. Escuto na rádio Gaúcha a bela voz de Werner Schunermann lendo um texto de Marcelo Ferla - que gostaria de ter escrito. Mas, não tenho o talento do grande jornalista gremista - sobre o Grêmio e a América. Fala das cores, dos mitos, dos poetas, das glórias, do único amor que embala as nossas vidas de torcedor. Todos dormem em casa. A tevê reprisa o jogo. Paro e assito. Vou ver o futebol que a emoção, o medo, a suspeita, a fé me sonegaram. Prefiro pontos corridos ao mata-mata. Vamos sofrendo devagar, aos pouquinhos, a paixão é fatiada em 38 pedaços. Na Copa, é tudo de uma vez. Misturam-se as sensações. Não sei onde começa a esperança e termina a certeza. Ufa! Ainda bem que tudo terminou num tri. Tri-legal, tchê! É a primeira vez que uso esta gíria gaúcha, que só agora, vejo nexo.
O melhor Grêmio que vi na vida. Já escrevi isto algum tempo atrás. Não precisava de título. Vi os jogos. Sou meio um comentarista parnasiano daqueles que prefere o jogo bonito ao resultado. Que tenta ver futebol como um espetáculo, um desfile de carnaval. Afinal, falo tanto de compactação, de alas, de alegorias para entender um jogo. Mas, como escrevi ao meu afilhado, amigo de papos, o Luca, uma frase que aprendi com o Pedro Macedo, um velho jornalista esportivo: "Clássico e final você ganha. Se jogar bem, melhor. Senão, a vitória é suficiente". E, veio com um jogo soberbo, fantástico, avassalador, irresístível.
Vi o jogo com um olhar de tristeza, de despedida. Arthur é o melhor clone de Iniesta que conheço. É um maestro, um mestre do meio-campo. A bola é dele. Sempre dele. Desenha, rabisca o jogo em segundos. Dizem que tinha um olheiro do Barcelona no jogo. Então, já penso em Jean Pierre para o ano que vem. Foi um prazer te ver jogar Arthur. Luan, ou como Pedro Ernesto gritou na hora do gol: 'Luanel!' É a essência do futebol brasileiro que todos procuram. Ousado, criativo, abusado, mágico, genial. Fez um gol de menino, daqueles, que como eu um dia, sonhou em jogar futebol. Um gol de suinge, de esperteza, de rua, de craque. 2018 brilhará em outro canto. Será que Tite vai sonegar esta dupla? Insistirá em Diegos, Fred, Taison, Fernandinho? Se a resposta for sim, vou torcer para os negros maravilhosos da França.
Em segundos passam os mitos da minha história. Foguinho, Luís de Carvalho, Juarez, Gessy, Aírton, Ortunho, Everaldo, André, Baltazar, Éder, Iúra, Tadeu Ricci, Valdo, Carlos Miguel, Dinho, Jardel, Paulo Nunes. Tantos que honraram a linda camisa de três cores. Mas, é Renato Portaluppi a mais completa tradução, grande definição de Marcelo Ferla, do Grêmio. Genial e genioso. Sempre herói, nunca vilão. O nome que busquei para o meu filho. André vem antes do Renato, porém é só um detalhe. Ele é o meu mito. Brinco que faço parte da Saint Portaluppi Church. Renato é o grande treinador deste país. Ainda é tratado com desprezo pelos sábios da imprensa, que consideram apenas um motivador ou folclórico. Ignoram a sua sabedoria tática e olhar refinado do jogo. Ele é um Midas, um transformador de homens, um recuperador de almas, um salvador de renegados, um criador de magias, um arquiteto, um cineasta de imagens inesquecíveis. O seu Grêmio é encantador. Joga bem, bonito e moderno. Ele entendeu o 7 a 1. Ele, Tite e Carrile. Renato deveria ser o treinador eterno do Grêmio. Renato não é mero profissional. É o amador, o torcedor em campo. Isto gera a confiança. Ele é um dos nossos.
O Mundial é um passeio. Não ligo para o resultado. So não quero repetir o Inter e ser derrotado pelo Mazembe da vez. Jogar contra o Real Madri é um jogo dos meus sonhos. O maior seria contra o Barcelona. Ah, se eu tivesse uma máquina do tempo ou um portal. Ia buscar aquele Renato de 1983. Colocar frente a frente com Cristiano Ronaldo. Acho que o CR 7 é melhor, mais completo. Mas, gostaria de ver o duelo. Hora de dormir. Quem sabe eu sonhe com este encontro. Daí, te conto da próxima vez.
terça-feira, 28 de novembro de 2017
O adeus de Zé Roberto
"Futebol
foi a minha vida. E quando falo de futebol, quero trazer a memória de
vocês para o que nos dá esperança nesta noite. A esperança que tive
quando criança..."
Ao
ouvir a despedida de Zé Roberto entendi o que é o futebol para um
menino pobre no Brasil e o auxílio luxuoso da bola na vida de um homem
de fé.
Mauro Pandolfi
Nunca
fui fã de Zé Roberto. Hábil. Muito hábil. Habilidosíssimo. Pictórico de
mais. Útil de menos. Controlava a bola, brincava com ela, como dizia um
antigo narrador, 'escravizava'. Um jeito bonito de jogar futebol.
Parecia flutuar em campo. Recebia a bola com muita liberdade. O lance
era sempre rebuscado, trabalhado, enfeitado. Passes de três dedos,
viradas de jogo, dribles de craque. Zé Roberto fugia da aglomeração do
campo. Ficava nos lados, atrás, quase próximo aos zagueiros. Este era o
problema. Ele brilhava na zona morta do jogo. Raramente decidia uma
partida. Foi assim em seu tempo de Grêmio. Não ganhou nenhum título, foi
protagonista de 'inúmeras batalhas' na torcida, nas redes sociais sobre
a titularidade, não deixou nenhuma saudade no meu imaginário dos heróis
gremistas.
Zé Roberto é um símbolo do jogador moderno. O brasileiro mais próximo de Cristiano Ronaldo.
Olhe para ele. Quem diz que é um atleta de 43 anos? Não sei se há algum
jogador que disputa a série A com a sua disciplina, com o cuidado da
imagem, do perfeccionismo, da vaidade, de ter corpo trabalhado,
esculpido, moldado por um obsessivo culto a forma física. Zé Roberto
transformou o seu corpo em 'uma catedral'. Sagrado! Invulnerável aos
prazeres 'profanos'. "Isto é para depois da carreira", dizia. Então,
chegou a hora da festa.
Vi
o vídeo de sua conversa com os amigos do Palmeiras antes da despedida. É
emocionante, primoroso, de um homem que entendeu as escolhas, a
retidão, o sentido da vida. "Hoje para mim é noite de gratidão. Apesar
de ser um momento que eu
tentei prolongar ao máximo, eu sabia que ele um dia ia chegar. Eu vivi
isso aqui intensamente. Realizei o sonho, tive
conquistas e cheguei ao meu máximo. Foi difícil tomar esta decisão. Este
momento vai chegar na vida de cada um de vocês. Vivam isso
intensamente", disse o inspirado Zé Roberto. O futebol será uma saudade
para ele. Não lembrarei do craque nos meus momentos de felicidade com a
bola, dos meus sonhos, nos meus devaneios poéticos. Vou lembrar do homem
correto, profissional exemplar, da referência, da dignidade. O seu
vídeo mostrarei aos meus filhos, e que quem sabe, aos meus netos, sobre o
imenso prazer que é a vida e como deve ser vivida com intensidade. Bem
vindo a vida comum, grande Zé Roberto!
domingo, 26 de novembro de 2017
O erro divino
Chiko Kuneski
“Errar é humano, persistir no erro é burrice”.
“Errar é humano, persistir no erro é burrice”.
Máxima popular que nunca soube bem ser uma persistência burra de
quem erra ou de quem quer dar uma nova chance ao errado. Uma dicotomia que me
acompanha pela vida, nos meus erros e acertos. No futebol há níveis de erros.
Uns perdoáveis. Uns compreensíveis. Uns justificáveis. Uns implacáveis. Acho
que são até escalonáveis nessa sequência, como na máxima. Não se crucifica,
usando uma figura bíblica, um erro. Perdoa-se.
Mesmo o tapa na cara do
torcedor por uma repetição de erros é perdoada. A maioria tem alma cristã. Dá a
face para o segundo tapa do erro crasso. A maioria.
Nunca me senti parte da
maioria nem na fé nem no perdão. Acho que prefiro a segunda parte da assertiva
popular : “é burrice”. O erro humano tem limite. Se o erro humano é justificado
por uma fé divina passou dos limites.
“Se errei foi deus que
me colocou aqui”. Disse o goleiro Muralha no intervalo do jogo entre Flamengo e
Santos. Referia-se a um erro grosseiro ao tentar driblar um atacante na sua
pequena área que terminou na perda da bola e passe para o gol de empate do
adversário. Bola dominada. Erro. Mais um entre os colecionados pelo goleiro.
Mas a culpa é divina. Erro de deus. Depois, deus errou novamente no chute que
Muralha espalmou contra seu próprio gol, no único chute contra sua meta em todo
o jogo. Seria uma punição divina?
Anteriormente o deus do
Muralha já o tinha escalado na decisão do maior jogo da sua vida. A final da
Copa do Brasil contra o Cruzeiro, no Mineirão. Que oportunidade divina melhor
que essa. Muralha pulou cinco vezes para o mesmo canto que seu deus o mandou e
tomou cinco gols na cobrança de pênalti. Falha de comunicação celestial?
Mas o deus de Muralha é
piedoso com os seus erros humanos e tira o goleiro Diogo Alves com uma luxação
no ombro no primeiro jogo contra o Júnior Barranquila, pela Sul-americana. Deus,
aqui é maiúsculo por iniciar frase, dando a nova oportunidade para o erro
humano.
Primeiro lance. Bola
cruzada. Muralha não ouve deus. A bola passa sob suas luvas que ampliam as mãos
das orações aos céus e o ateu colombiano faz o gol. Mas foi deus, segundo ele mesmo,
que o colocou lá. Não foi um erro humano.
No futebol brasileiro
deus é assim. Absolutamente piedoso. Assume até a incompetência e o erro humano
como mera falha divina. No futebol os acertos são humanos ungidos: os erros
divinos.
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
Os Normais
"Futebol na televisão, você na cama de cueca...nestas horas é que o homem se pergunta: pra quê mulher?".
Confesso que algumas vezes pensei como o Rui, principalmente nas grandes vitórias do Grêmio.
Mauro Pandolfi
Um
dia vivi a ilusão que a vida deveria ser um amistoso. Livre, leve,
solta, alegre, feliz. Sem trabalho, pressa, medo, competição. Assim,
também, seria o futebol. Campeonatos, por quê? A bola rolaria, suave,
despretensiosa, lírica, tocada, retocada, feito de dribles, passes
medidos, golaços de guardar nos vídeos, nas memórias. A arte
substituindo a
competição. O artista no lugar do guerreiro. Refinamento no jogo
defensivo, o ataque seria sublime. A ilusão perdida logo se revelou.
Futebol está muito longe de um sarau. Próximo de guerra. Simulada, ainda
bem. Mas, uma guerra. Há todos os argumentos, fúria, violência, medo,
desespero, crueldade de uma batalha. Os torcedores preferem a vitória.
Quanto mais difícil, mais prazerosa. Um bom jogo é para os poetas, os
românticos, os sonhadores. Vivo os dois momentos. Tem dias que só desejo
a vitória. A final da Libertadores é uma delas. No entanto, nos meus
melhores momentos, desejo o jogo bem jogado. O prazer no passe e no
drible. A
vitória é irrelevante. Quero me deliciar, feito um romântico, com a
arte. Tentei neste final de semana viver isto. Impossível! Não há lugar
para o romantismo no duro mundo da Segunda Divisão Brasileira. Ninguém
consegue se apaixonar na aridez da falta de talento, na ausência de
charme, no previsível. Só o 'extraordinário' explode a paixão.
Sexta-feira
à noite. Chego tarde em casa. Guarani e Luverdense já estão no segundo
tempo. Larguei tudo e fui ver o jogo. O que a bola fez aos 22
jogadores? Como foi maltratada. Coitada, apanhou de todo jeito. O medo, o
desespero mutilaram o jogo. Passes errados, chutes tortos, agressões,
expulsões e o 0 a 0 rebaixou o Luverdense. Aliás, Figueirense, Guarani,
Paysandu, Brasil, CRB deveriam agradecer, dar um 'bicho' ao Boa
Esporte. Ele,.ao ganhar do Luverdense na terça-feira, salvou todo
mundo. Tudo resolvido! Alguns jogos seriam belos amistosos. Pensei na
minha velha ilusão da arte com a bola nos pés. Vou ver algo próximo o
que antigamente chamavam de arte. Ledo Ivo engano, como escreviam no
Planeta Diário.
Depois do café, me
preparei para ver Figueirense e Juventude. Livres da pressão, só a
tabela que mandava o jogo. Hora do futebol livre, leve, solto. O drible,
o passe, a inventividade. O prazer de ser um menino jogando bola. E,
ela rolou. preguiçosa, indolente, sem pressa, sem drible, sem passe, sem
gols, sem emoção. Que jogo ruim!
O futebol perdeu o prazer da liberdade. Deixou de ser inventivo. Foi
burocratizado, ficou previsível e, sem a busca do ponto decisivo, ficou
chato, a força ficou inútil. Deixei de lado o jogo e busquei alguma
coisa na tevê. Achei
Os Normais. Ri muito com a doce loucura de Rui e Vani. A singela ideia
de fondue gerou uma comédia irresistível, saborosa, como imagino que
deva ser o futebol..
As
ilusões estão, mesmo, perdidas. Tentei no sábado. Abandonei o futebol
europeu e fiquei na segundona brasileira. Mais amistosos, algumas
decisões, bons jogos, suspirei. Decepção à tarde toda! Entendi todos os
meus enganos na vida. Como é fácil me iludir! Nem Londrina, que sonhava
com vaga, e América, desejando o título, fizeram um bom jogo. Só o
desespero do tempo terminando gerou emoção. Muito pouco. Quase nada.
Paraná ganhou o amistoso de um CRB acomodado e preguiçoso. Só Heber
Roberto Lopes gerou alguma 'vida' em Goiás e Inter. Ninguém entendeu o
gol anulado. Ele é só um prepotente em queda livre em busca do ocaso.
Heber é do tempo dos caudilhos da arbitragem, dos donos do jogo. Gente
que segue só as suas regras. Me recusei assistir Criciúma e Ceará.
Cansei de amistoso. Fui ver 'Rota de fuga', com Silvester Stallone e
Arnold Schwarzenegger. Sozinho no quarto, pipoca espalhada na cama, a
coca cola no criado mudo e reviso a frase do Rui: futebol, pra quê?
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
A queda
Mauro Pandolfi
'Esse
Avaí faz coisa' é o suspiro desconfiado do torcedor avaiano. A
esperança perdida num time desorganizado, desconstruído, derrotado. O
Avaí cumpre o seu papel, o que a maioria do mundo futebol esperava:
voltar para a Série B. Não é demérito, nem vergonhoso. É só a realidade
vivida por dezenas de clubes que invadem o 'sagrado', o restrito
universo do grandes do Brasil. Ir e voltar. Um 'elevador' que já dizimou
alguns. Onde está o São Caetano? E, a Portuguesa? Sumiram! Não deixaram
pistas. É necessário aceitar, entender a queda. Não entrar em desespero
é o primeiro passo de um outro retorno. Mudar a cultura, o pensar, se
organizar, fazer uma 'revolução' é fundamental para fugir do eterno ioiô
que está preso o futebol catarinense. Só a Chapecoense poderá repetir a
façanha do Figueirense, que ficou sete anos na Série A. Mas, a
Chapecoense é outra história. Até quando vai durar a 'magia' do
sobrevivente? Tomara que a 'magia' vire estrutura moderna, racional,
eficaz.
Não
entendo o que aconteceu com o Avaí. Em que momento se desconstruiu. Por
que alterou o sistema de jogo? Pressão dos que são pagos para dar
opinião? Erro de avaliação do elenco? Gostava de ver o Avaí na Série B
do ano passado. Era sólido, bem organizado, eficiente. Uma muralha
defensiva guardada por dois marcadores (Luan e Judson) vorazes. Tinham
dificuldades na saída de bola. Mas, permitiam o apoio forte dos
laterais. Capa e Alemão brilharam. O ataque era móvel e definidor. Havia
Marquinhos em razoável condição física. E os zagueiros eram seguros. O
que tornava o Avaí ótimo era Renato. Inteligente, rápido, perspicaz.
Gostava do espaço vazio. Fazia a dobra com Alemão, parceria com
Marquinhos e completava a jogada de Rômulo. Não tinha o padrão de
'craque' suspirado pelos comentaristas esportivos e torcedores. Não é do
tipo de 'brilharecos' com a bola. Talvez, 2016 tenha sido o seu ano no
futebol. Afinal, Abel o ignorou no Fluminense neste ano.
O
Avaí mudou demais. Exigiram demais. Claudinei alterou o sistema tático.
'Flexibilizou' a defesa, abriu a volância, tornou frágeis as laterais,
tentou três atacantes e não conseguiu ter posse de bola. Ficou mais
fechado do que desejava, menos agressivo, sem saber usar o espaço tão
bem preenchido por Renato. E, o pior, sem a consistência de 2016. A
mudança começou no campeonato catarinense. No primeiro turno manteve a
estrutura, o jeito de jogar da Série B. No returno, mudou. Tentou outros
jogadores. Não entendi a desistência de Caio César. Belo armador, boa
presença. Mas, inconstante como todo jovem. Foi arquivado no Brasileiro,
assim como o atacante Lourenço. Alguns jovens, campeões da sub 20, não
tiveram chances. Será que Guga não era um lateral melhor que Maicon,
Leandro Silva ou Diego Tavares? Lovat é inferior a João Paulo? Luanzinho
foi mal aproveitado. Ficou no lado esquerdo, jogando feito os meias
novatos que surgem ao acaso. Nunca teve o centro do jogo, onde cavou a
vaga na seleção sub 17.
O
Avaí errou bastante. As apostas deram errado. Maicon, Joel, Aírton,
Diego Tavares, João Pedro, Simão, Wilians, Maurinho, Juan, Lucas Otávio
falharam, em menor ou maior grau.. Claudinei não reinventou o time, não
achou solução de armação, de ocupação de espaço e de finalização.
Deveria ter voltado ao sistema de 2016. Não quis, com medo de ser
chamado de retranqueiro. E foi (des)qualificado assim. Pedro Castro não
conseguiu ser Renato. Virou o símbolo do fracasso. Não é ruim, como
dizem. É um bom jogador, de movimentação, de chute forte, de
recomposição, de combate. Útil numa equipe bem arrumada, organizada,
sólida. Inútil na desorganização. O Avaí parece um time bem ajeitado,
composto, treinado. Vai bem até tomar um gol. E, aí, vai desmanchando,
desmanchando, desmanchando, até não sobrar nada.
Não
entendo os torcedores avaianos. Acho que todos os clubes são assim.
Vibraram com a Série A no acesso, no início do ano e nunca mais. Não se
divertiram, não foram aos jogos. Fugiram da 'festa, do show. Ficaram
angustiados. Ainda estão. Reclamaram o tempo todo. A vibração era maior
com a má campanha do Figueirense na B. Não curtiram a Série A. Como diz o
sábio da bola, 'futebol é resultado'. No Brasil, não torcem pelo prazer
do espetáculo, pela alegria do jogo. Vibram pelo resultado. Que pena!
'Série
A não é Série B' filosofam os pensadores da bola. Berraram, fizeram
protestos, exigiram. Queriam reforços, jogadores, treinador experiente. A
direção teve bom senso. Pensou na administração, na gestão, no presente
que pode render futuro. Resistiu a tentação que o Sport ,a Ponte
Preta,o Vitória, o Coritiba, sucumbiram. Medalhões no campo, na beira do
campo, a volta ao espaço natural deles: a segunda divisão
Sobrarão
dívidas. Parecidas com que tem o Santa Cruz, o Náutico, ou ABC. As
mesmas que tiveram São Caetano, Portuguesa, União de Araras,
Barueri...Não sei se o pensamento da Ilha da Magia, das bruxas de
Cascaes, salva o Avaí. Quem sabe, melhor estruturado, mantendo Claudinei
Oliveira, a comissão técnica, Joceli do Santos, retornem para a Série A
para mais um ano angustiante, desesperado, sofrido..,como será sempre a
Série A para os nossos clubes.
sexta-feira, 3 de novembro de 2017
Soy loco por TRI, América!
"...Tenha como cores
A espuma branca
Da América Latina
E o céu como bandeira..."
Os lindos versos do gremista Gilberto Gil embalam o meu desejo da Libertadores.
Mauro Pandolfi
Não
sou otimista. Nunca fui. O otimismo me assusta. Fico incomodado com
tanta certeza, com a ideia de que é impossível dar errado. Tenho um pé
no pessimismo e dois na dúvida. Não gosto de comemorar antes, de falar
demais, de balançar a bandeira como uma vitória antecipada. Gosto de
vibrar com a expectativa. De criar as ilusões, de vivenciar um sonho,
gritar pela utopia vencedora, de manifestar um desejo. Justo eu, que
sempre falo das ilusões perdidas, que o sonho acabou e a utopia é só um
engano, mas, é o desejo que faz tudo valer a pena. É a poesia circular
do dia a dia, o olhar da mulher amada, a alegria dos filhos, que tornam a
vida mágica, assim como o futebol. Não é apenas um jogo. É o melhor
lado do imaginário, das coisas sem importâncias, da fuga do real, do que
te faz feliz. O Grêmio, aprendi com Lupicínio Rodrigues, 'parece uma
coisa à toa, mas como a gente voa quando começa a pensar'. E, se voar
leva ao sonho. Quero acordar campeão da Libertadores. Afinal, soy loco
por Tri, América!
O
Grêmio não é o favorito. Perdeu o jogo encantador. As linhas já não
fluem mais. Não tem mais o brilho geométrico do jogo. Nem a bola é tão
bem tratada como antes. Tem pressa. Perdeu a velocidade. Pedro Rocha não
foi bem substituído. Fernandinho é a sua negação. Não tem o raciocínio
rápido, o lance preciso, a magnífica finalização. O belo jogo coletivo
diluiu-se. Aparece em raros momentos dos jogos. A virtude está na
individualidade. No jogo amplo de Luan, o mais completo jogador deste
país, na inteligência tática e habilidade de Arthur, a movimentação de
Ramiro, a segurança de Marcelo Grohe e na ótima dupla que formam Geromel
e Kanemann. As individualidade ainda deixam o Grêmio muito forte. Mas,
instável. Foi extraordinário em Guayaquil e comum na Arena. Um jogo que
assustou os gremistas. Eu fiquei assustado. E, com medo.
Lanús
é o favorito. Decide em casa. Tem um jogo furioso, avassalador,
primitivo. Parte para cima feito um doido. Joga o 'futebol zumbi', como
diz Tim Vickery. Todo mundo corre, a bola não para, nem a torcida, que
sempre canta. Longe de casa é outro time. Bem organizado, defesa
segura, sem pressa, bola trabalhada em busca da velocidade de Laudaro
Acosta e a finalização de Sand. Perigoso, este Lanús! É este jogo que me
preocupa. O outro, é só não temer os gritos.
Todos
os quatro semifinalistas foram gigantes em algum momento. O Barcelona
venceu Botafogo, Palmeiras, Santos e Grêmio no Brasil. O River reverteu a
goleada do Jorge Wiltersmann com um sonoro 8 a 0. O Grêmio foi imenso
em Guayaquil, onde resgatou o futebol encantador do primeiro semestre.
E, O Lanús fez o impossível contra o River. Os 'deuses' já brincaram,
Deixaram, por alguns instantes, todos felizes. Agora, é a hora do jogo
real ou teremos outros 'milagres'?
Mais
do que ganhar, quero me divertir. Até o último jogo quero crer no
desejo. Suspirar por ela. Sonhar com jogo e acordar feliz. Não quero
pensar na derrota, nas gozações dos colorados, no fracasso que me
deixará triste. Quero brincar com a frase que vi nas faixas - e dá o
título ao texto - e outra que diz 'vamo acabá com o planeta'. Que venha
um Mazembe qualquer e depois o Real Madrid. Quero vibrar com o Grêmio, o
mesmo Grêmio de Alcindo do Maurinho, que me mostrou que o futebol é
mais que um teatro de grama e paixão. O jogo da vida. Da beleza e da
arte. Sempre há um menino que faz poesias com o pé. Tomara que seja
Luan. Vamos, Grêmio! Soy Loco por Tri, América!
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
Santíssima trindade de outubro
"Se Pelé não tivesse nascido gente, teria nascido bola"
A
elegia de Armando Nogueira serve, também, para Garrincha, Maradona,
Didi, Sivori, Falcão, Kopa. Gênios que nasceram neste mês. E, para
Messi, que se nasceu em junho, foi 'fabricado' em outubro.
Mauro Pandolfi
A
cor de outubro é rosa. A imagem é a bola. Não há nada tão perfeito como
a bola. Não há lado, nem ângulos, nem arestas. Há o objeto que flutua
entre o sonho e a poesia. A bola que rola macia, suave, rápida nos pés
de gênios, magos, artistas que nasceram em outubro. Craques que
acariciavam a bola como Didi. Ou, desfilavam a elegância com ela grudada
no pé feito Falcão. Insinuante, ligeiros, fascinados pelo gol como Kopa
e Sivori. Mas, é num trio que o futebol se explica, apaixona, encanta,
dilacera, torna-se religião, literatura, arte. Pelé, Garrincha e
Maradona. Sete dias em que a estrela brilhante no céu era uma bola. Pelé
é do dia 23; Garrincha, de 28 e Maradona, dia 30. A Santíssima
Trindade! Os três poderiam ter nascido bola. Deram vida a bola. Tornaram
a bola o Santo Graal dos tempos modernos.
Pelé!
O nome que não precisa de adjetivo. É um adjetivo! Basta citar...Pelé!
Você já sabe do que se refere. Ele não inventou o futebol. Nem a bola.
Mas, virou símbolo, referência, sinônimo. Pelé é um nobre. Um rei
coroado algumas vezes. A primeira, aos 18 anos, em 1958. A última, hoje
23 de outubro, dias dos seus 75 anos. Foi lembrado, muito pouco, quase
nada, por alguns jornalistas, amantes do futebol e pelos torcedores do
Santos. E foi chamado de Rei Pelé! Ele é um mito! Mitologia não se
explica. É, e pronto! Édson Arantes do Nascimento nunca conseguiu ser um
cidadão comum. Pelé nunca deixou. Pelé jogava feito prosa. Do passe
medido, da tabela, do gol, do pulo com o punho cerrado, socando o ar. É a
melhor frase do futebol!
Vi
um só jogo de Mané Garrincha. O último! O da despedida com a camisa da
seleção contra o time de estrangeiros que jogavam no Brasil. Foi em 73.
Verdes anos, pouca coisa para contar, muitas para sonhar. Lembro do
lance. Garrincha parado. Corpo arqueado, nada que lembrasse um atleta. A
bola presa no seu pé. Negaceou. Foi e voltou. O uruguaio Bunuel foi. Na
volta, virou mais um João. A bola passou entre as pernas. As 150 mil
pessoas vibraram com o drible derradeiro de Garrincha com a camisa da
seleção. Aliás, com Pelé e Garrincha em campo, o Brasil nunca perdeu.
Garrincha é um poeta. O homem que sucumbiu as tentações, ao amor e a
paixão. Garrincha é o maior fantasma do futebol. Esta sempre presente
num campo. Está no desejo do torcedor, na saudade de um velho amante da
bola, num drible, num passe cruzado, num corte, no chute certeiro...na
ausência da alegria. Todo jogo burocrático, sem graça, sem alma é uma
outra morte do Mané.
Diego
Armando Maradona! Eu não era mais um garoto. Já tinha escapado no
exército, de Brasília. em 79 Vi pela primeira vez um jogo de Maradona.
Um amistoso contra Alemanha. Não lembro resultado, nem vou pesquisar no
google. Há um lance que de tempos em tempos relembro. Em todos os jogos
que joguei tentei repetir. Belo demais! Alguns fiascos. Quando deu
certo, virou gol. O lance é magia pura. Bola lançada pela direita.
Longa, quase escapando. Maradona domina. Cercado, da dois passos em
direção à linha de fundo. E, de letra, com o pé esquerdo, passando por
trás do direito, cruzou. Os alemães ficaram atônitos e Ramón Diaz perdeu
o gol. Nunca mais perdi Maradona de vista. Acompanhei a sua carreira, a
glória, a tragédia pessoal, os equívocos, os acertos, a canonização, a
humanização. Maradona tem algo de Pelé e muito de Mané. Que falta faz!
O dia da poesia, 31, fecha o mês dos ilusionistas da bola que poderia
ser definido assim: "Futebol se joga no estádio? Futebol se joga na
praia, futebol se joga na rua, futebol se joga na alma" (pequeno verso
de Carlos Drummond de Andrade também de outubro, uma espécie de Pelé, ou seria Mané, ou quem sabe Maradona, entre os poetas?).
sábado, 21 de outubro de 2017
O abismo
"...E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti".
O receio de Nietzsche jamais se aplicará ao futebol brasileiro.Ele
rejeita olhar para fora e, muito menos, para dentro. O abismo beira a
eternidade.
Mauro Pandolfi
Nunca
se jogou tão bem o futebol como hoje. Todas as valências em campos.
Estão lá a habilidade, a técnica, a força, a estratégia, o poder mental.
As virtudes, os conceitos, a inteligência inundam os campos. Para
vencer é necessário uma boa tática, lucidez, volúpia, estilo,
refinamento, arte. É como se joga na Europa. Nos grandes clubes, nos
clássicos, nos principais campeonatos. Talento que decidem jogos numa
partida planejada em todos os detalhes, nem sempre definitivos. Às
vezes, o acaso feito a dribles, como poesia; outras, trocas de passes,
tabelas, como uma prosa, definem uma partida. Um abismo nos separa. O
futebol brasileiro está preso numa circular histórica, que num momento
avança, no outro, regride. É refém de velhas ideias, de análises
ultrapassadas, de uma mitologia encantadora, porém fantasiosa, que
recusa a se transformar. Nem o 7 a 1 da Alemanha provocou a revolução
desejada. O vexame tornou-se apenas um 'apagão'. Portanto, nada precisa
ser feito. Apenas, entrar 'ligado' no jogo.
O
futebol é o melhor produto do Brasil. É o mais cobiçado, desejado,
consumido. Os grandes europeus pagam fortunas pelos garotos. Os médios,
vão em buscas dos já formados. Os asiáticos querem o que tiver à mão.
Perdemos craques, bons jogadores e, até bondes, todos os anos. Um clube
no Brasil arma de três a quatro times por ano, um inferior ao outro. O
poderio financeiro europeu, que forma seleções em cada clube, é
devastador. Não é só isto. A estrutura ajuda. Há outras virtudes. O
pensar influencia. São táticas ousadas, diferentes, ofensivas. Aqui,
joga-se para não perder, buscar um ponto fora de casa, pelo regulamento,
pelo mínimo. O esquema tático predominante é 4321. Raros times europeus
o usam. O Manchester City de Guardiola varia no 352 ou 253. Neste país,
um 352 é armado com três rebatedores, quebradores de bola, vagarosos na
primeira linha. Guardiola usa os hábeis, os velozes, os que sabem
jogar. Há inúmeras variações usadas na Europa. Um bom ano de estudo, de
acompanhamento, estágios modificaria. Porém, estudar é para os fracos
O
décimo colocado do Campeonato Inglês ganha o brasileirão. O quinto e o
sexto, de outras competições europeias, como alemães, italianos e
espanhóis, disputam o título. Os líderes dos campeonatos português e
francês beliscam o primeiro lugar. Já, os principais times brasileiros,
num campeonato de ponta europeu, tentam fugir do rebaixamento. É só uma
tese. Mas, quando assisto estes campeonatos na tevê, o abismo é mais do
que profundo. É insofismável! A qualidade do futebol brasileiro está na
seleção de Tite, que é formada.por jogadores que 'aprenderam' o pensar, agir, onde o novo não se esconde sob o sol ou a neve..
O
futebol brasileiro é mágico. A mistificação criou um estilo, um
conceito, fama. Um imaginário quase sempre divino e maravilhoso. O
futebol brasileiro é uma invenção dos anos 40, glorificado nos
50, endeusado nos 60 e 70, arrogante nos 80, resistente nos 90 e
sobrevivente no século 21. Nunca existiu a imensidão de craques contados
em versos e prosa. Produziu lugares
comuns, chavões, mantras, tudo falsificado por um olhar enganoso. O
futebol sempre foi mais mítico do que real. Mais fantasia do que
verdade. Mais poesia do que prosa.O futebol foi mais escutado, lido do
que visto.
Há 'poetas' que recitam escalações de craques que nunca viram jogar.
Alguns tão geniais, que nem um iconoclasta, como eu, renega o talento.
No entanto, há jogadores superestimados por títulos ganhos. Outros
subestimados, pela ausência de conquistas. O futebol brasileiro não
sobreviverá em uma
análise rigorosa, pragmática quando alguém resolver contar. 'a
verdadeira história'. Até lá, perpetuaremos as lendas. Afinal, neste
país despedaçado, devastado, desmoronado, o futebol é o último reduto
dos românticos. Afinal, para nós, os amantes da bola, o jogo é poesia,
como esta de Carlos Drummond de Andrade:
"Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor".
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
Ainda não acabou!
"Não confie em ninguém com mais de 30 anos!"
Pichação
nos muros de Paris, em 1968, que deveria valer para o futebol
brasileiro que abusa dos sub-40 decadentes, inúteis, superados.
Mauro Pandolfi
Este
texto é politicamente incorreto. Desconfio muito do politicamente
correto. Está sempre num estreito fio entre a virtude e o moralismo. Um
pouco para cá, dignidade; um pouco para lá, carolice. Talvez os sete
leitores deste blog fiquem incomodados. Há, quem sabe, dependendo do
olhar de cada leitor, preconceito explícito no que escreverei. Os
velhos, os sub-40, os veteranos, os 'experientes' são os responsáveis
pelo péssimo futebol jogado neste país. Ocupam lugar de jovens
promissores, deixam lentos os seus times, passeiam a indolência no
gramado e recebem polpudos salários. Não sei há exceção nesta regra. O
Figueirense é a melhor representação desta regra. Está lotado de
medalhões decadentes, de sub-medalhões e de veteranos de carreiras
inexpressivas. Só um milagre, chamado Guarani treinado por Lisca, um
Argel fake, o salva da série C. Como diria aquele outro da tevê: 'haja
coração!'
Cheguei
em casa, liguei a tevê na hora da escalação. Não vi a do Londrina. A do
Figueirense ocupava a tela. Marquinhos, Ferreira e Leandro Almeida
ocupam uma faixa do campo. Me caiu os butiás do bolso! Perplexo, não
prestei a atenção no resto do time. Todo técnico medíocre, incapaz de
armar um sólido sistema defensivo, apela para os três zagueiros. O
incompetente esquece que esta linha precisa de jogadores móveis, hábeis e
velozes. Os três colocados por Milton Cruz são o oposto. Quebradores de
bolas, vagarosos, rebatedores. Não precisou de muito tempo para o
Londrina marcar o seu gol, no meio dos três zagueiros. O autor foi
Carlos Henrique. Ele e Pottker foram desprezados, desvalorizados,
dispensados do Scarpelli. Ah, fico impressionado com Marquinhos. Sempre que o
Figueirense se encontra encalacrado, meio sem saída, ele se machuca. Ô
sujeito azarado!
Quem
saiu do time para a 'surpresa' tática de Cruz foi Renan Mota. Autor do
segundo gol contra o Santa Cruz. O mais rápido do meio-campo. Milton
Cruz adora um 'craque fantasma'. Escalou três. Não sei se foi pelo
passado, pelo bom comportamento ou por indicação de alguém. Mas, apostar
em Marco Antônio na armação; Zé Antônio como volante e Jorge Henrique
na transição ofensiva, é não querer vencer, chamar a derrota, arrumar
desculpa na hora da entrevista. Marco Antônio está apto para o futebol
americano. Parece um 'kicker', Bate todas as bolas paradas. Faltas e
escanteios. Nenhuma levou perigo ao gol. Zé Antônio foi o de sempre.
Fora do lugar, atrasado, passes errados e um cartão amarelo. Já, Jorge
Henrique correu, correu, correu...
Não
há nada a dizer de Zé Love. Um lance o explica. Lançado pela esquerda,
tentou livrar-se do zagueiro, preparou-se para o cruzamento, confundiu
os pés, a bola escapou e ele caiu. Milton Cruz está perdido.Cada jogo um time, cada entrevista, uma justificativa diferente. Às vezes, aposta nos jovens. Em seguida, nos cascudos.
Fica parado, mão no queixo, olha para o céu, procura uma solução. Não há
Telê Santana ou Muricy Ramalho para orientá-lo. Tem de pensar por conta
própria. parece que isto o atrapalha. No entanto, não é responsável por
tudo. É apenas o pior treinador da temporada que teve Marquinhos Santos
e Marcelo Cabo. Poupo Márcio Goiano pelo passado de beque e capitão.
O
Figueirense de hoje é uma construção de anos. De falta de planejamento,
de boçalidade, de incompetência, de, como chama Chiko Kuneski,
entreposto comercial, de parcerias duvidosas, onde o francês Alex
Borgeouis já pegou a sua baguete, colocou embaixo do braço, chamou um
táxi, foi em busca de um outro trou..., quer dizer, parceiro. Ainda não
acabou tudo. O Figueirense corre o risco de uma volta no túnel do tempo.
Ir parar lá pelos anos 90. Será triste!
quarta-feira, 11 de outubro de 2017
MESSI(AS)!
"Pai
nosso, que estais no céu. Santificado seja vosso nome. Venha a nós o
vosso reino. Seja feita a vossa vontade aqui na Terra como no céu..."
Sei
que os argentinos, do Papa até a Mafalda, passando por Maradona,
rezaram por um milagre, por uma salvação, pelos pés divinos de Lionel
Messi. O milagre se fez.
Mauro Pandolfi
Acordes
iniciais de um tango. O desespero aos 40 segundos no lance de Romário. O
mesmo nome de um carrasco de outro tempo, de outra camisa, também,
amarela. O espanto, o olhar vazio, a desesperança. Tudo estava perdido.
Não havia mais saída. O torcedor mostrado na tevê, com as mãos para o
céu, parecia pedir um 'salvador', um milagre, uma 'mano de Diós'. O
Messi(as) apareceu. Uma, duas, três vezes. Carregou o time, a paixão, um
povo em suas costas. Atravessou e chegou a terra prometida. Rússia é
logo ali. Não deu tempo do tango virar uma dança. Nas imagens do show
do U2 em Buenos Aires, no delírio dos argentinos, parecia que o tango se
tornou rock. Mas, desculpe a heresia, a da festa de Messi e seus
seguidores no campo lembrou um carnaval. Uma farra libertadora ao som do
samba sincopado de Lionel Messi.
E,
Lionel sorriu. Mais que um sorriso vitorioso, de alma lavada, de
alívio. De consagração. A extraordinária atuação o santificou. Ficou do
tamanho de Diego Maradona. Finalmente, os hermanos se renderam. Messi
foi canonizado, santificado, ou como um escreveu um pequeno jornal de
Corrientes: "Salvo pelos pies de Diós". Messi vai tentar um façanha.
Repetir Brasil de 2002. Transformar um time medíocre em campeão do
mundo. Mas, Jorge Sampaoli precisa encontrar dois Ronaldos e um Rivaldo.
No entanto, nada é impossível para Lionel Messi.
Um
dia meu filho André me perguntou o que é o futebol? Tentei explicar.
Usei sociologia, arte, psicologia, estratégia, física, história, paixão.
Ele não saiu nada convencido. Agora, se ele perguntasse outra vez, a
resposta seria bem simples: Messi! Messi! Messi! Messi! Messi! Messi!
Messi! Messi! Messi! Messi! Messi!. O resto é pleonasmo.
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
O último tango de Messi?
"Os amigos não vêm nem sequer me visitar.
Ninguém quer me consolar em minha aflição"
Versos
do tango mais famoso de todos os tempos, La Cumparsita, podem embalar a
última noite de Lionel Messi com a camisa da Argentina. Eu torço que a
frase fique só na voz desesperadora de Gardel.
Mauro Pandolfi
Quase
não vi Pelé. Muito menos Garrincha e Di Stefano. Assisti Zico,
Rivelino, Sócrates e Falcão. Li sobre Cruyff e Puskas. Acompanhei toda a
carreira de Maradona, Romário e Ronaldo Fenômeno. A trajetória de
Zidane, Platini, Boniek e Ruminegge passaram pelos meu olhos famintos de
bola. Renato Portaluppi é o meu ídolo maior. Largo, quase, tudo para
assistir Cristiano Ronaldo e Neymar. Ando encantado com Mbappé e Arthur.
Mas, neste tempo todo de futebol, de estádio e de sofá, nunca vi nada
parecido com Lionel Messi. Nada, nada, nada! Habilidade, técnica,
precisão, dedicação, garra, talento. No imperfeito mundo da bola, o mais
que perfeito tem nome, sobrenome e genialidade. Lionel Messi é o
sinônimo do futebol. Está a beira de um último tango. O derradeiro,
terminal, com um ar de tragédia que todo tango tem. Não importa se é de
Gardel ou Piazzola. Um adeus que deixará ferida, machucada, amargurada a
minha alma moldada pela paixão no Vermelhão de Copacabana.
Os
argentinos amam Diego Maradona. Veneram é a palavra exata. Há até uma
igreja com seu nome. Desconfiam, duvidam, destratam Lionel Messi. Culpam
pelo fracasso da Argentina nos últimos anos. Esperavam que a simples
presença de Messi fosse garantia de vitórias, títulos, glórias. O time
era só um detalhe. Num lance, num drible, numa falta, uma jogada
primorosa, a vitória consagradora. Como disse estes dias um velho
'sábio', daqui mesmo, da bola: 'mentiram para mim dizendo que o craque
ganha sozinho, que vence só na sua genialidade! Não é verdade!' Passou
uma vida toda para perceber isto. É uma doce ilusão vendida neste canto
do mundo. Nem Maradona, Garrincha ou Romário ganharam a copa sozinhos.
No mínimo, ao seu redor, uma equipe organizada, competitiva, sólida e
bons coadjuvantes. Messi nunca teve esta sorte. Sempre foi a estrela
solitária, perdida entre vaidosos, de times desestruturados, defensivos,
melancólicos.
Eu
gosto do olhar de Messi. Meio profundo, meio aéreo, meio deslocado. No
entanto, parece estar focado numa única coisa: a vitória. O olhar vai
mudando durante o jogo. A bola na trave, contra o Peru, revelou um olhar
desesperado, desencantado, desapontado. Messi corre feito um louco.
Joga atrás, buscando o jogo, levando a bola ao ataque, criando situações
de gols...e ele não ocorre! Faltou pouco para eu entrar em campo
naquele jogo. Olha, chutei algumas bolas imaginárias. Sofri com o
empate. Não pela Argentina. Por Messi. Tenho pena de Messi! O talento
colocado em dúvida, criticado, chamado de 'não argentino', de enganador,
como escutei dias atrás na tevê - não consegui identificar o 'autor' da
injúria. Por que Messi não preferiu ser espanhol? Ao invés de Biglia,
trocaria a bola com Iniesta? Por quê?
Não
vou cometer o erro de chamar, como vários jornalistas brasileiros
fizeram com o time de Dunga, de que 'é a pior geração do futebol
argentino'. Não acompanho o campeonato local, só alguns jogos da
Libertadores. Gosto de Sampaoli e o jeito frenético de seu time. Porém,
ele 'pilha' demais o time. Há um desespero latente, um medo, um pavor,
do gol não acontecer. Correm, marcam, sufocam, criam e perdem gols. Para
ir a Copa, a Argentina precisa de um pequeno milagre. Da mão abençoada
do Papa Francisco, do deus Maradona, da angústia de um tango de Gardel,
do suspiro da Mafalda e de um lance, um só!, de Lionel Messi. Com ele na
Copa, quem sabe eu consiga cumprir a promessa ao Maurinho - de ver um
jogo do mundial. Sem Messi, fico devendo, outra vez, ao Maurinho.
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
Volver aos 14
'O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...'
A suavidade de Mário Quintana e a espiral da história que comanda, rege, e torna a vida um prazer sem fim.
A suavidade de Mário Quintana e a espiral da história que comanda, rege, e torna a vida um prazer sem fim.
Mauro Pandolfi
Terça
de conversas. Como é bom rever os amigos. Refaz a alma, alivia o
coração, fortalece a mente, abre as ideias, torna mais humana a vida que
anda mais virtual do que real. Encontrar o Sandro, Paulinho e o Chiko é
um sopro de
sabedoria, um acalanto em histórias que parecem sempre novas. Esqueço a
idade, o tempo, quando nos reunimos. Ainda temos os vinte e poucos anos,
tomamos um café no bar do básico, embalado ao som do rock and roll e de
uma bola chutada por Zico. Ah, os amigos! Eternos amigos!
Extraordinários amigos! A chegada em casa deixa-me um pouco melancólico.
Todos dormem. Na solidão da sala, o brilho da lua engana a fresta da
cortina e me faz companhia. Saudoso de outros amigos que o tempo
afastou. Gente que não vejo desde a adolescência. Gostaria de voltar aos
14 e jogar uma partida sem fim no meu campo dos sonhos, o Vermelhão de
Copacabana. Nostálgico, cansado, deito, durmo, sonho...
'Dona
Lídia, chama o Maurinho?' Reconheço a voz. É do Bolacha. Dei um beijo na mãe,
desci a escada, cheguei na rua e vi todos. Quase não reconheci e nem
fui reconhecido. Foram gargalhadas, gozações, muitos abraços. Poxa! Eles
também não tem mais 14 anos. O Bolacha virou bombeiro e mantém a forma
física. A longa
cabeleira loira deu lugar a careca vistosa. O bigode era a maior
novidade. Abel lembrava bem o que era. Ainda magro, sem cabelo, mantinha
o bom humor dos velhos tempos. Os irmãos João e Tonho estavam bem
parecidos. Fortes, robustos, cabeça raspada para disfarçar a calva. O
pequeno Serginho cresceu, ficou barrigudinho. Mas, manteve os cabelos.
Carlinhos continuava igual. Enganou o tempo. Partimos para o futebol.
Será que estão assim? Bom, usei o espelho como referência. Só
então notei que a casa onde morava era um terreno baldio. Como desci a
escada? Feitiço do tempo.
Chegamos
na frente do Vermelhão. A decepção. Nem vestígio do estádio.
Agora é um hospital. Decidimos ir até o Boldo. Um supermercado ocupava o espaço. Um dos gols
do antigo campinho ficava no meio do estacionamento. Vazio, naquele instante, achamos uns
tijolos, tiramos as camisas, ajuntamos umas caixas, estavam prontas as traves e o campo. A bola rolou mágica.
Éramos os mesmos de sempre. Repetimos dribles, chutes, passes, gols, resmungos,
gargalhadas, abraços, lágrimas...o tempo é mesmo uma ficção de Einstein ou de Philip K Dick?
Hora
de ir embora. Fomos todos juntos. Nada lembrava a velha rua Irmã Laurinda.
Não vi o armazém do Seu Jeremias. O Bar do seu Chico deu lugar a uma
loja. Até o Juvenil não era mais o Juvenil. Onde bailavam os jovens
desta rua? Notei que estava sozinho. As casas dos meus amigos
não existiam mais. Nem eles. Olhei, lembrei da última cena de Lages, na
noite que fui embora, eles partiram, desaparecendo na noite escura como
aquele domingo de julho de 75. Até eu parti...
Tocou
o despertador. Foi num sonho que 'matei' a saudades dos belos amigos,
daquele tempo que de tempos em tempos invade a minha memória e tenta
reviver como mágica aquilo tudo outra vez. E, vivo! Afinal, o sonho foi
tão intenso, mais real do que virtual, que tornou-se um crônica
nostálgica, simbólica,
melancólica, sem nexo. Apenas ameniza a saudades de certos amigos que
embarcaram na 'navilouca', que é a vida. Então, entendi a lição de Toy
Story: "...O tempo vai passar, os anos vão confirmar. As três palavras
que proferi. Amigo estou aqui..."
Assinar:
Postagens (Atom)