terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Futebol

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Revoluções?

 

Mauro Pandolfi



Pênalti! No canto da tela. No canto da área. A falta. O árbitro não viu. 45 segundos depois o jogo para. Fora de campo, pela imagem da televisão, o árbitro de vídeo marcou pênalti. A falta aconteceu. Reclamações dos colombianos. Não há jeito. A batida é perfeita. Gol do Kashima. A revolução do futebol. O fim das polêmicas.  Agora, acabaram as discussões. Será? O comentarista da Sportv, Rafhael Resende, o mais jovem, era o mais conservador. Criticou o uso da tecnologia. Defendeu apenas para saída de bola e da bola que não entrou no gol. Poxa! Um jovem contestando a revolução. Sinal da época que vivemos.
O tempo passou e Rafael descobriu que a tecnologia falha. No lance do pênalti, o jogador do Kashima estava impedido. O que deve marcar o árbitro? O lance anterior. O impedimento precede o pênalti. Lembrei de Mário Viana -  com dois enes, como ele dizia - berrando no microfone da rádio Globo, após um lance do jogo: 'errou!' Poxa! Até o árbitro de vídeo será chamado de ladrão. A tecnologia só ampliará as discussões. A perfeição é um mito no futebol. Dentro ou fora. Só existe nos poetas que celebram o 'passado vitorioso'.
Nas ruas, a outra revolução. Mascarados, de cara limpa, bradam seus desejos, suas fúrias, seu pensar (?) político, sua histeria. Há o confronto com a polícia. Todos usam as mesma armas de sempre. Pedras, coquetel molotov, rojões, bombas de gás, cassetetes, porrada. A bronca é a PEC 55. Aquela 'do fim do mundo' ou 'controle de gastos', conforme o olhar de quem observa. É necessário diminuir a gastança do governo. De algum modo, é fundamental. No entanto, é complicado congelar as verbas para educação e saúde. Mas, pensando bem, os governos tratam saúde e educação como estorvos. Cuidam de maneira burocrática, apenas para cumprir a constituição. É a melhor explicação para 63º lugar no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e os 500 mil zeros na redação do Enem em 2014. Ou, a volta da dengue, da chikungunya, e da sífilis. Nada ocorre por acaso no Brasil. É um trabalho bem executados por políticos, governantes, pensadores, povo que já dura cinco séculos. 'Prá frente, Brasil...!'
Nas redes sociais falam em revolução. Estou vendo ao vivo, via tevê, a história se movendo. Quase todos jovens. Não sei se sonhadores. Ou só pela adrenalina. Pode ser utopia. Quem sabe sonho. Ou pela esperança. Já pensei em boçalidade. Mas barulhentos, violentos e estúpidos. Comportam-se como as torcidas organizadas. Quebram tudo. Placas, lixeiras, incendeiam ônibus, invadem e devastam prédios, quebram cabeças, costelas trincadas, machucados. Durante muito tempo acreditei que assim nascem as revoluções 'libertadoras'. A vida me mostrou que podem nascer assim. Porém, terminam em ditadura. Parece que este é o caminho do ajuntamento Brasil. Pelas ruas ou pelos malucos tresloucados que desejam intervenção militar. O tempo passou e a velha piada sobre o país continua atual:  a melhor saída é o aeroporto.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Campeão!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O ano Tarantino

 

Mauro Pandolfi

'Nós os amamos
Nós lamentamos por eles
Garotos infelizes do Vermelho
Eu gostaria de ter caído
Caído com eles'
Lembrei da música 'Munich air disaster 1958', de Morissey, que canta a dor da tragédia do Manchester United, a mesma dor da Chapecoense.

O maior jogo da história ficou para história. Não pelos gols ou dribles. Nem pelo vencedor. Nem pelo derrotado. Ficou pelo estádio lotado. Pelos torcedores.  Pelos cantos, pelas lágrimas, pelo amor. Um jogo que foi jogado de uma maneira nunca vista.  Estavam  lá  os jogadores da Chapecoense e do Atlético  Nacional. Os colombianos fisicamente. Os brasileiros em espírito. Os balões brancos soltos a cada nome citado é a mais emocionante alegoria que vi  num teatro de grama e paixão. Como se fossem almas subindo ao céu. O encontro com Deus.  De arrepiar! Nunca  chorei tanto  numa partida. Troquei de canal algumas vezes com medo de ser traído pela emoção.
Medellin tem o tamanho do mundo. Do mesmo tamanho do Atlético Nacional. Tem solidariedade desejada pelo mundo, desejada pelos sonhadores. Todos os times, seus torcedores, estavam presentes.  Poucos no estádio. A maioria em casa chorando na frente da tevê. A torcida do Atlético Nacional reinventou  o significado do futebol. Seus cantos não  bradavam violência. Pediam paz. Não falavam de rivalidade, nem de ódio. Queriam amor. Nestes tempos loucos, furiosos de guerra e morte, a torcida redescobriu o humanismo. Poxa! Deu até  vontade  de acreditar na humanidade.
Nunca assisti uma transmissão tão eloquente, dramática, com a Fox Sports fez na quarta-feira. A tela em preto. O placar e o tempo do jogo no alto. Uma frase no meio. 90 minutos de silêncio. Uma homenagem aos seus jornalistas, a todos jornalistas que morreram na tragédia. Fechei os olhos, chorei mais um pouco, e imaginei a transmissão. Ouvir  a voz marcante de Deva Pascovicci, as reportagens precisas de Vitorino Chermont, reclamar da acidez de Mário Sérgio e o constante aprendizado tático com Paulo Júlio Clemant. Torcer para na quinta, assistir no Redação SportTv, a inspirada narração de Fernando Doesse gritando um gol da Chapecoense e ler os belos textos de André Podiack no DC. Pensei também nos outros jornalistas, nos dirigentes, na comissão técnica, nos tripulantes.
Quanta dor, tristeza, causada por uma tragédia que aos poucos vai se revelando que não foi acaso. E, sim provocada pela ganância, estupidez, jeitinho. Lembrei dos 'bravos' deputados aprovando uma 'lei pro corrupção', aproveitando a comoção, a madrugada. Alguns passaram a vida falando em ética, justiça, bradando contra os privilégios. Trocaram por um 'salvamento' de suas peles, de seus gurus, dos coronéis que mandam neste ajuntamento. Triste com a canalhice dos cartolas do Internacional, dos seus jogadores, usando a tragédia para escapar do rebaixamento. Para cair, também é preciso ser grande. Uma grandeza que Atlético Nacional ensinou ao desistir, entregar o título à Chapecoense. Poxa! Eu quase voltando a acreditar na humanidade.
"2016 é o ano Tarantino, pai!" Não entendi a afirmação do meu filho André. Ele me explicou. "Como são seus filmes? Violentos, cheio de mortes, trágicos como este ano que está demorando para terminar". Gostei da observação dele, do imaginário de quem ama o cinema. Argumentei: 'quer dizer, Deus escolhe um diretor para cada ano?' Nada religioso, ele concordou. Então, tomara que 2017, Deus escolha Frank Capra. Que o ano tenha um ar de 'A felicidade não se compra'. Só espero que Deus não escolha Christopher Nolan.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Eterna

 

Mauro Pandolfi

Sou naturalmente melancólico. As tragédias me provocam, além da tristeza, um dolorida reflexão sobre a vida. O que é a vida? Somos donos do destino ou seguimos um roteiro já estabelecido? Há um Deus que nos acolhe ou o usamos a imagem invisível para nos proteger do medo, do perigo? Não sei se acredito em alguma coisa. Sou um cético que acha que o impossível não existe. Mas, gosto da idéia de Deus, de reencontros, de novas vidas que vão se repetindo eternamente. Me agrada a ideia de rever meu pai, meus avós, tios, primos, amigos, irmãos e a filha que não chegou a nascer. Insone, com o rádio no ouvido, escutei a notícia da tragédia da Chapecoense. Não foi justo. Foi cruel demais. No auge, no êxtase, o fim. A alegria de uma nação trocada pela dor. Triste. Muito triste. Trágico. Não quero fazer a pergunta que abala a minha mente. Prefiro rezar,  me compadecer com as perdas, transmitir energias, forças, serenidade, paz aos familiares. No entanto, a pergunta não me abandona.
Não há futebol. Não há jogo. O verde se tornou preto. A solidão da arquibancada é a dor do torcedor na derrota da vida. O minuto de silêncio tem a duração da eternidade. A Chapecoense transcendeu o futebol, virou do tamanho do mundo. A sua história será contada, recontada até o fim do futebol. A sua magia, seu jogo bonito, seus feitos, sua estruturação, seu modelo gerá uma questão irrelevante, menor, sem nexo, neste momento: aonde chegaria a Chapecoense? Seria um Leicester? Ou só um fenômeno passageiro? Foi encantadora, brilhante a sua trajetória. O que acontecerá? O fim ou recomeçará e será maior depois da tragédia? O tempo, a disposição, a superação da dor que irão dizer.
Deveria ter um desígnio que impedisse a morte de jovens. Começavam a vida, tinham sonhos, projetos e tudo terminou. Porquê? Alguns eram brilhantes, promissores. Outros, bravos guerreiros. Caio Júnior se reconstruia. Uma comissão técnica exemplar. Dirigentes que pareciam ser um sopro de novidade. De velhos cartolas que não mereciam este fim. Jornalistas que iniciavam as suas carreiras. Injusta morte para os consagrados, para os mais velhos que acompanhavam a delegação. Injusta com uma cidade, com um estado que tem poucas alegrias no esporte. Meu abraço fraterno, carinhoso, solidário a todos os familiares, amigos e fãs. Sentirei saudade do belo jogo, da entusiasmada narração de Fernando Doesse, de Deva Pascovich, das reportagens do André Podiacki, de Vitorino Chermont, dos comentários ácidos de Mário Sérgio,  a apurada análise técnica de Paulo Júlio Clemant e dos outros jornalistas que não conheço. Mas, lamento profundamente.
Gosto da Chapecoense por causa de meu primo Beto e de seu filho Franscisco. Dois amantes da bola. Lembro do entusiasmo do Beto com seu Verdão. Trocou o amor do Grêmio pela Chapecoense. Além disso, é próxima dos meus velhos times de infância. Chego a sonhar em ver o Ypiranga de Erechim e o Inter de Lages se tornarem novas Chapecoense. Mas, tudo acabou. O futebol perde o sentido. A alegria e a festa são substituídas pela dor, tristeza e um desespero que abrange a alma e o coração. Vou ser piegas na minha melancolia. Como está no blog Floripa mil graus,'a Chapecoense subiu, subiu, subiu e chegou ao céu'. Vou olhar as estrelas está noite. Acho que vou ver uma estrela verde piscando intensamente,

terça-feira, 22 de novembro de 2016

El Cid



Mauro Pandolfi

É o dono da bola. Ela procura seus pés.  Ele acaricia. Gira o jogo para um lado. Vira para o outro lado. Acelera. Cadencia. A figura é imponente. Se destaca na multidão do meio-campo. Quase não corre. Seus passos são lentos. Flutua nos espaços vazios. Procura um atalho. Ele conhece todos. A sua presença gera confiança. Aumenta a estima de seus companheiros. É a certeza de uma solução, onde não há mais saída. Só há esperança. Ela surge numa cobrança de falta. A bola viaja, lenta, rumo ao coração do gol.  Os torcedores confiam no seu talento, na dedicação amorosa, na bravura. Marquinhos Santos é o cérebro, coração e alma deste Avaí que desafiou a lógica da bola, a verdade dos comentaristas, as incertezas dos torcedores e o sobrenatural do teatro de grama e paixão. Ele é o El Cid avaiano. O herói que nunca abandona as batalhas. O guerreiro imortal feito o espanhol. Ressurge sempre. Basta a sua presença física para despertar  a chama da vitória. As loucas batalhas são vencidas. Nem o tempo abala a sua fúria.
Marquinhos Santos é um dos melhores jogadores daqui. Habilidoso. Preciso na cobrança de falta. A bola na entrada da área não é meio gol. É um gol inteiro. Dois, três passos. O olhar de quem calcula a distância, a força, a velocidade. A batida é certeira. Resta ao goleiro apenas acompanhar a trajetória. Foi assim contra o Náutico, É só mais uma qualidade. A principal! Gosto da maneira dele controlar o jogo. A postura e o posicionamento. Abre pelos lados. Sempre fugindo do marcador. Rege o jogo. As mãos de um maestro orienta o melhor lance. Marquinhos Santos é raro. Um meiocampista que se reinventou, descobriu os novos olhares do futebol. Pena que já tem 35 anos. Logo, logo, será saudades. A lembrança será um poster no quarto de algum 'avaixonado'.
"Êssi Avaí fásh côza!" A filosofia mané elúcida a ilogicidade da bola. O Avaí saiu de um tormento para glória. Desafiou a imprensa e seus profetas, os torcedores lúcidos, os fundamentalistas, os apavorados. Todos temiam a queda. Subiu! Que mágica foi esta? Aquele time terrível, de maus jogadores, com um arremedo tático se reinventou. Trabalho, acaso  ou era um engano de análise? Sempre achei o time melhor que os comentaristas diziam. Via qualidades individuais, técnicas, de estrutura de armação de jogo. Não sou um vidente como o meu amigo Rai Carlos. Alias, ele sempre falou que o ceu é azul e a festa de final ano, tambem seria azzura. "Este time vai dar coisa. Vai subir. É muit bom! Escreva um texto falando isto. Por que tu não escreve sobre o futebol daqui? Se perde em Messi, Neymar e nos delírios gremistas. Olhe o seu chão, Mauro!" Boa pergunta que não sei a resposta.
O Avai é consistente. Sereno, tranquilo, cirúrgico. Defesa sólida, variação tática, certeiro no ataque. Muda o sistema de jogo sem trocar jogadores. Alterna os movimentos, os passes com a lucidez das ótimas equipes. Não é vistoso. É preciso. Há jogadores preciosos e um técnico inventivo, perspicaz. E, como dizem, 'um ótimo gestor de pessoas'. Gestor é um termo que vai substituindo o 'velho motivador'. O goleiro Renan é espetacular. A solidez defensiva passa por Alemão e os zagueiros Fábio Sanches e Betão formam um paredão. Poucas equipes tem um lateral enérgico, agressivo, como Capa. O meio é equilibrado. Tem a segurança de Luan, as longas passadas de João Felipe e a multiplicidade de Renato. Um meia deste tempo. Movimentos, deslocamentos, passes, sempre  a procura de espaço vazio para facilitar a jogada. Jogadoraço!
Há ainda Diego Jardel. Antigo e moderno. Capaz de lances fantásticos com uma fuga inesperada do jogo. Este desequilíbrio impede ser um belo jogador. O garoto Rômulo vai brilhar muito pelos campos deste planeta. De Marquinhos, já escrevi. Uma equipe que mostra que o impossível não existe. Às vezes, o impossível é apenas a qualidade não observada
Manter a equipe ou reforçar? O dilema de 2017. Tomara que a direção não escute os profetas que diferenciam tanto Série A a de B. Fique com este time, acrescente alguns jovens, promessas de times menores e fuja dos medalhões. Será inevitável perder alguns jogadores. É a lógica do capital no futebol econômico. É a crueldade da grana que 'constrói e destrói coisas belas'. O futebol é feito de sonhos. Ainda somos um ioiô. Descemos e subimos com a mesma velocidade. Mas, um dia, quem sabe, a ilusão mude a história da bola. Porém, como todos sabem, as ilusões estão perdidas.

PS: Este texto é escrito por um torcedor do Figueirense que acredita que a rivalidade deve ser encarada com mais afeto. Nem todas, é verdade!


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Holofotes

Chiko Kuneski

Um ditado antigo, sou antigo confesso, diz: “tudo como d’antes no quartel de Abrantes”. Uso esse dito para explicar que “tudo está no seu lugar”. Lugar de cadeiras marcadas, de baralhos marcados, de jogos marcados. Assim é o futebol brasileiro. Uma constante de inconstâncias constantes.

Uma modelo loura invade o gramado da Arena do Grêmio. Invasão. STJD. Punição. Perda do mando de campo do jogo decisivo da Copa do Brasil. Mas a pessoa em questão é filha do técnico do Grêmio, Renato Portaluppi. Compulsão. Estardalhaço. Gritarias histéricas. Nervosismos. Desabafos nervosos. Paixão.

Mas... nesse país é o ditado do início do texto que vale. A tudo se recorre. Tudo tem um porém. Uma falha. Uma chicana jurídica, seja ela pelo certo; pelo errado. No quartel do futebol brasileiro, ainda com fortes resquícios generalísticos da ditadura, principalmente no STJD, acaba “tudo como d’antes”. Liminar garante a decisão na Arena do Grêmio. Nada mudou.


Somos o país dos holofotes. O importante é estar frente às câmeras, virar estrelas por segundos, virar o assunto da semana, do dia. Uns com suas calças jeans, outros com suas togas com cheiro de naftalina. Pessoalmente, ainda prefiro as jeans bem vestidas.

Castigo e crime



Mauro Pandolfi

"Só é dado o poder a quem ousa abaixar-se para apanhá-lo."
Os juízes do stjd são fiéis leitores de Dostoievski.

A palavra é:  injustiça, engano, absurdo, erro, exagero, infelicidade, equívoco, legalice, excesso de zelo, legalismo, bizarro, esdrúxulo, anacrônico, boçalidade, machismo, misoginia, cretinice, idiotice, malandragem, canalhice, estupidez, calhordice, sem vergonhice, imbelicidade. Eu prefiro estupidez para qualificar a decisão do stjd que tirou o mando de campo do Grêmio pela invasão da 'perigosa, empoderada', Carol Portaluppi. Estupidez, também, uso para entender a loucura do Brasil. Um bando de idiotas invade o congresso para pedir um golpe militar. Outra corja de imbecis queimam pneus nas ruas para atrapalhar a vida das pessoas para contestar o governo.  Então, lembro de um poema de Afonso Romano Santana que dizia: " Uma coisa é um país. Outra, é um ajuntamento". Que grande ajuntamento estão transformando este lugar.
Não há fundo do poço no futebol brasileiro. O buraco vai sendo cavado todos os dias. o 7 a 1 segue sendo eterno e comemorado. Tite só salvou a seleção. Transformou 'a pior geração de todos os tempos' em um time encantador. A dura poesia circular do cotidiano vai revelando que as estruturas do futebol brasileiro estão intactas. Tudo é quase ruína. A cbf continua presidida por um homem que vive como um ermitão. Com luxo e elegância. Mas, preso no seu conforto. Deve ser triste um cartola não aproveitar as 'delícias' do poder.
Os cartolas do stjd adoram um holofote. Restritos a sua insignificância o ano inteiro, resolveram entrar em campo. Nunca antes na história deste futebol produziram uma decisão tão cretina. A 'invasão' de Carol Portaluppi tirou o mando de campo da final. Agora é assim. Não invada para abraçar alguém ou comemorar uma vitória. Isto prejudica o seu time. Jogue bomba, brigue com a polícia, quebre o alambrado, jogue um sinalizador. Isto não tira o mando de campo.  Apenas, multa. É, neste 'ajuntamento' marcado de ódio, andar amado é perigoso demais,
Revolução. É a palavra para o futebol brasileiro. Romper com tudo. Cbf, stjd, federações. Criar uma liga. Porém, sem os cartolas atuais. Gente diferente, arejada, sem compromisso com as atuais direções dos clubes. A primeira liga é um exemplo que não se modifica, renova, reforma com quem detém o poder. Criticaram del nero e votaram nele na eleição da cbf. Não conseguiram criar um campeonato decente, enxuto, lucrativo. Claro, um cartola rejeita outro por serem rivais na cidade. Ah, outro acha que seu time é mais 'poderoso'. Uma pena! A primeira liga morreu antes de crescer.
O que fará o Grêmio? Acho que conseguirá o efeito suspensivo e fará a final na Arena. Se não conseguir, não escolha o campo. Busque o título em qualquer campo. No Rio Grande do Sul, Minas, na China ou Marte. Mas, leve a Carol Portaluppi junto. Tomara que invada o campo para abraçar o pai campeão. Aí, eu quero ver o stjd tirar o título por reincidência da bela Carol.


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Crime e castigo


Mauro Pandolfi

"O erro é uma coisa boa que conduz à verdade".
O abraço amoroso de Renato Portaluppi em Carol, pai e filha, dentro do gramado, desrespeitou a regra da Copa do Brasil. Mas evidenciou o amor e a verdade em Dostoievski.

Cenas de uma quarta. O abraço de pai e o filho, com os rostos pintados, chorando e rindo, foi capa de jornal. Cenas de uma vitória. Um grupo de amigos, que pulam e cantam, declara na rádio sua paixão em gritos e sussuros. Cenas de um sonho. Renato Portaluppi chama a filha Carol para o gramado e abraça afetuosamente, comemorando a chegada à final de Copa do Brasil. Cenas de gremistas. As duas primeiras desapareceram no dia seguinte. Ficou apenas na memórias deles. A de Renato e Carol durará alguns dias. Os moralistas de plantão, os legalistas querem impedir que o Grêmio jogue a final na Arena. Afinal, Carol Portaluppi 'invadiu' o campo. Isto é ilegal, perigoso, imoral, só não engorda. Quantos riscos sofreu a arbitragem e o time do Cruzeiro com a 'ocupação' de Carol? Perigosa, poderosa e empoderada esta filha de Renato Portaluppi, hein?
O Grêmio já foi imortal. Venceu a 'mãe' de todas as batalhas de sua história: a dos Aflitos. Sete homens e um destino. A eternidade. O tempo voou. A imortalidade é só um engano, uma ilusão, uma quimera. Os títulos são sempre os mesmos. O que estão nas paredes das barbearias das cidades pequenas gaúchas, nos almanaques, na memória dos poetas fanáticos tricolores que declamam escalações feito poesia. Quinze anos sem títulos. Gauchão não conta mais. O desejo que sempre termina numa quarta, oitava ou semifinal de qualquer copa. Ou, acaba no início do returno do Brasileirão. Quarta foi diferente. Afinal, uma final. Os gremistas liberaram o canto, o choro, o grito escondido na garganta, preso na alma, sufocado no coração. Porém...
Estranho este país! Estudantes ocupam escolas contra reforma para mudar o ensino medíocre que atrasa , não estimula, não oferece perspectiva. Torcedores (sic) batem, brigam, surram policiais e editoriais, notas oficiais, comentaristas, reclamaram da agressividade da polícia. 'Os torcedores' foram soltos. Os clubes pegaram penas pecuniárias, diminuição de ingressos ou proibição das organizadas até o final do campeonato. A súmula do árbitro, de Grêmio e Cruzeiro, relatou o 'crime': a 'invasão' de Carol Portaluppi. Vai a julgamento. 'O castigo': perda do mando de campo. Legal, pode ser. Injustiça, certamente. Legítimo? Nem um pouco. Carol nada fez. Comemorou com pai, tirou fotos, registrou a alegria, a felicidade, a reinvenção do mito. Como os hipócritas deste país odeiam a tal felicidade.
Renato é o ícone maior do Grêmio. Seu rosto, seus feitos estão pintados nas paredes da Arena. Foi resgatado das areias de Copacabana para recuperar o Grêmio. Manteve o pensar e os conceitos de Roger. Acrescentou a 'malandragem' de campo, vestiários, anos de praia. O time se estabilizou, se aprumou e chegou na final. Renato explodiu no seu 'renascimento'. Chamou a filha para a festa. Pularam, dançaram, abraçaram, tiraram fotos. Um feito que qualquer pai gosta de dividir com os filhos. Renato foi só um torcedor gremista. Esqueceu o cargo e vibrou com a vitória do clube. Uma cena de amor. Mas, nestes tempo de ódio, que vive o Brasil, andar amado é perigoso. O amor de pai e filha insultou a 'lei'. Será punido. Resta aos gremistas, a receita de um velho corneta: Vou me embriagar de Bardhal B-12.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Ídolos



Mauro Pandolfi

"Pobre do povo que precisa de heróis"
Fala de Galileu, na peça Galileu Galilei de Bertold Brecht, que se tornou um dogma da esquerda.
Durante muito tempo foi minha verdade absoluta. Não contestava a frase. Repetia em cada discussão.  Escondia os meus ídolos. Rejeitava. Brigava com a alma e o coração. A mente vencia sempre. Álbuns de figurinhas joguei fora. Só  cultuava ideias e os movimentos sociais organizados. Preferia um operário a um  craque. Eu, que não acredita em Deus, divinizava o trabalhador. O homem sagrado que viria nos redimir, nos transformar, nos salvar. Sempre como movimento organizado. Nunca como pessoa. Não percebia que isto era  minha religião, meu fundamentalismo, meu fanatismo. Ídolos? Era uma propaganda  capitalista alienante. Como eu era um idiota! Ou, ainda sou? A comoção com  morte de Carlos Alberto Torres revelou-me algo que não havia notado: não há mais heróis, ídolos, no esporte brasileiro. Só os velhos mitos. Neymar é a estrela solitária.
O marxismo faz uma análise ácida da sociedade. Desvenda a origem, a formação e a superação do capitalismo. Um profunda reflexão concreta, sólido, do visível. Este é engano de Marx (quem sou eu, humilde escriba, a questionar o guru dos gurus!) e do marxismo. Faltou o imaginário, o espiritual, a anima. O que move a vida humana não é o trabalho e nem o capital. Isto é o sustentáculo do poder e do controle. O que move o homem é o não visível, o indizível, a fé, a paixão, a veneração por outro, por Deus. Isto não remove miséria e nem ditadura. Mas, provoca revoluções.
A esquerda tem, também, seus 'deuses'. Estão nas camisetas, nos posters, nas citações. Converse com um intelectual e parecerá um militante da fé. 'Está na Bíblia', diz o pregador. 'Marx afirmou na mais-valia", responde o outro doutrinador. A frase de Brecht vale só como frase. É poética saindo da boca de Galileu Galilei. Dos outros, é como farsa. Todos, as ideologias, os movimentos, a
 indústria cultural, o esporte, precisam de alguém que seja o concreto, o real para provocar os desejos e as comprovações de que vale a pena acreditar. Os heróis tem o papel dos 'Santos' da igreja católica. É a mitologia da 'auto ajuda' do indivíduo. Algo que o mantenha vivo no consumo, na ideia e na 'luta'.
Carlos Alberto Torres foi um ótimo jogador. A maior qualidade era a liderança. Personalidade forte, envolvente, por vezes, arrogante, gritava com todos. Nem Pelé escapava de suas broncas. Numa época de defensores, Carlos Alberto apoiava o ataque com mais discrição que os laterais de hoje. É o autor do mais espetacular gol em Copas do Mundo: o quarto contra a Itália. Aquele gol é a gênese de sua mitologia. Não é o maior da história, longe disto. Eu prefiro Leandro. O que me surpreendeu foi a comoção criada. Até imagens ao vivo do enterro a tevê transmitiu. Torres faz parte da geração mágica do Tri. Alguns viraram mitos. A vitória é mágica. A ausência de ídolos tornou a morte e a mitologia mais gloriosa.
Ídolos? Quem são os ídolos do esporte brasileiro? Quem ganhou ouro na Olimpíada? Não vale pesquisa! Lembram? Tem o...; também o...Ah, o Hipólito! Diogo! Não? No futebol há Neymar e Tite. Nos clubes quem são? Luan, no meu Grêmio. O vizinho, da frente, também, gremista, detesta o Luan! Quem é o ídolo de seu time? A rotatividade, crise econômica, não permite que um jogador fique muito tempo num clube. E, vai se tornar ídolo lá fora. Aqui, viramos fãs de Messi e cia. Sem ídolos, o futebol é como um filme sem um grande astro; um show sem estrelas. Pode ser bom, fantástico, inesquecível. No entanto, faltará alguém para marcar como saudades. Ah, descobri o Hipólito: Douglas! Não?

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Pelé virou Édson



Mauro Pandolfi

O mito envelheceu. Ninguém ligou para o aniversário. No domingo, fez 76 anos. O que achava impossível, aconteceu. Nenhum grande jornal, site, tevê falou de Pelé. Parece que Édson Arantes do Nascimento entrou em cena. Pelé foi para o baú da memória, que fica entre a alma e o coração.  A data foi tratada como de um cidadão comum. Só Mílton Neves, na Rádio Bandeirantes, comemorou o aniversário do Rei do Futebol. Será que a realeza já pertence a outro?
Pelé é o maior mito do esporte. Nome mágico feito Muhamad Ali. Imponente. Glorioso. Onipresente. Pelé não é o inventor do futebol. É que transformou o futebol em algo que transcende ao esporte. Alguns, chamam de arte. Outros, de vida. O teatro de grama e paixão tem heróis, mitos, figurantes, coadjuvantes e uma plateia apaixonada. Nenhum tão importante como Pelé.
Pelé disse 'love, love, love'. Não ligaram. Como é piegas, o nosso Rei?, disseram. Só Caetano Veloso entendeu o discurso que virou canção. 'Cuidem das criancinhas", pediu, após beijar a bola do milésimo gol. Não atenderam. Bobagem demagógica, berraram os críticos, os pensadores de esquerda, de direita, os apologistas do Brasil Grande. Virou um flagelo a violência infantil. Nunca entenderam que um gênio pensa alguns segundos antes dos mortais. Pelé já foi chamado de 'poeta'. Quando calado! Pelé sobrevive nos sonhos de quem viu jogar, quem leu, ouviu ou sonhou. Está se tornando uma saudade. Como dói!

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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O segundo

 

Mauro Pandolfi

A vida, às vezes, é um belo engano. Noutras, uma certeza cruel. Pensei em largar o futebol. Lances me desiludiram, frustraram, deprimiram. A roubalheira disfarçada de erro humano. O teatro de grama e paixão tem os seus canalhas. Estragam, forjam, simulam situações que deixariam Nelson Rodrigues rubro de vergonha. Cheguei a escrever meio texto sobre os árbitros e a conf(l)usão do campeonato brasileiro. Desisti. Pensei em abandonar o blog. Deu de bola!. Mas, ontem ao chegar em casa, vi quinze minutos de Messi e Neymar amassando um time de Guardiola. Como é trágico, como é belo, o teatro de grama e paixão. Como é mágico um drible. E, aqui estou eu tentando imitar o talento que transforma sonho, poesia em um lance de gol.
Messi e a bola. Não dá mais para separá-los. Invade a área. O gol é uma questão de segundos. O quarto no time de seu mentor Pep Guardiola. A falta e o pênalti. Generoso, Messi deixa para Neymar. O olhar dissimulado de Capitu, uma certa arrogância, uma corridinha, a paradinha e...o goleiro defendeu.O único orgulho do Manchester City na partida..
Mas, o jogo só acaba quando termina.A câmera mostra o rosto  de Neymar contrariado, desafiado. Os comentários revelavam desdém e desconfiança ao craque brasileiro. Neymar tem que provar em todos os jogos o seu talento. No final da partida, busca a bola no seu campo. Toca para Messi. Recebe adiante. Inclina o corpo, negaceia, passa por um, invade a área, negaceia outra vez, reenquadra o corpo e marca um golaço. Na comemoração, Neymar mostra que um bom time de futebol é uma bela brincadeira de amigos.
Tostão é o meu mito favorito do futebol. As suas crônicas são tão geniais como os dribles e os gols do craque. Elas revelam toda a inteligência do jogador em campo. Há dias, numa entrevista para lançamento de seu livro, falou de Neymar.
"Ele tem tudo para ser o segundo melhor jogador da história no Brasil. Só não supera Pelé", disse. Para Tostão, Neymar é mais completo do que todos os outros. Analisa pelos fundamentos. "Dribla, chuta com a esquerda, a direita, bate falta,cabeceia. Tem tudo para ser completo", garante. Esperava reações furibundas, ríspidas, agressivas. Não ouvi, nem li nada a respeito. Eu concordo com Tostão. Neymar é o mais fantástico jogador produzido no país desde Pelé. Suas asas nas chuteiras - bela expressão de Chiko Kuneski - , seu bailado, sua irreverência, seu jeito moleque é o resgate de todo menino que bate bola na rua deste país. Neymar é o craque de seu tempo. O craque do Playstation!

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Pep!



Mauro Pandolfi

Pep Guardiola! O nome que deixa nervosos os treinadores de futebol. Daqui e de lá. José  Mourinho tem alergias ao ouvir o nome. Sofre derrotas seguidas nos confrontos. Apanhou como o Real, o Chelsea,  recentemente, com o Manchester United.  Vanderlei Luxemburgo e Celso Roth tiraram o catalão para dançar. no final de semana. Criticaram  ferozmente o ousado técnico do Manchester City. 'Marketing", bradou o atual jogador de pôquer, profundo conhecedor de propaganda, de venda de carros usados e de outras vigarices da bola. "No lugar certo, na hora certa", afirmou o 'suposto' (como a imprensa gosta, quando há algo duvidoso) treinador do Inter. Guardiola deve ter tido problema de insônia com a  opinião dos dois.
No auge da decadência, Vanderlei Luxemburgo não respeita o seu passado. Tocou o trombone durante a semana em vários programas esportivos. Falou em corrupção na China, criticou Luís Felipe, brigou com Caio Ribeiro, Cléber Machado e atacou Pep Guardiola. Só faltou dizer que inventou o futebol. Foi por pouco. Mas, se considera o responsável pelo Penta. "Me tiraram de lá quando fazia um trabalho fantástico. Eu montei aquele time", disse Luxemburgo. A história contesta a versão. Como diz Mário Quintana, 'a mentira é uma verdade que não aconteceu'.
Sobre o catalão Guardiola, disse que ele é mais marketing do que técnico. "O que é conquista? Ganhou títulos na Espanha. O Luís Enrique também ganhou com o Barcelona. Foi para o Bayern, aprendeu a língua e ganhou menos que um treinador de 70 anos (Jupp Heynckes), que venceu a tríplice corroa e ele não ganhou", disparou. Luxemburgo foi um técnico inventivo, inovador, ousado. .Mítico, um Macunaíma da bola.  Formou um Palmeiras inesquecível. e um Cruzeiro demolidor. Há anos virou um colecionador de fracassos. Um mais terrível que o outro. A soberba não permite notar que o seu talento virou lembrança de almanaque.
Douglas Costa é um mísero item que diferencia Celso Roth de Guardiola. Garoto no Grêmio, Roth o chamava de ...'Douglas Bosta'. Guardiola o tirou da Ucrânia levou ao Bayern e o transformou no melhor jogador do campeonato alemão. Analisar trabalho, pensares, condutas, conhecimento é desproposital. Guardiola é sinônimo de futebol, uma síntese. Roth é só um antônimo, antítese, um nada..
Não sei se Pep Guardiola é um revolucionário. Não me interessa. Não ligo. Com Guardiola redescobri o jogo que encantava o Maurinho. A beleza do drible, das asas na chuteira, na bela expressão de Chico Kuneski, da tabela, dos passes, do jogo inteligente, da magia. Com Guardiola, o futebol é verso.  Poesia onde Messi é o meu autor favorito. Os times de Roth e Luxemburgo me lembram o programa 'Largados e pelados'. Não há beleza, encantamento, pensar. Só a insana sobrevivência,  o desespero, a rudeza, a luta que só termina com chegada da equipe de salvamento. Às, vezes é tarde. O time já respira o rebaixamento. E, eles vão em busca de um outro otário. Sempre encontram.

sábado, 1 de outubro de 2016

Viver é preciso

terça-feira, 27 de setembro de 2016

É mentira, Terta?



Mauro Pandolfi

"O futebol ainda mantém uma pureza. Mas, ao envolver-se em demasia, percebe-se como ele é  deprimente"..
Frase de Tim Wickery, o correspondente da BBC na América  do Sul, o jornalista que mais entende o futebol neste canto do mundo.

Qual é a função do treinador no futebol? Armar um time, descobrir jogadores, contratá-los, inventar um jogo? Todas! E, se levar uma comissão nos negócios é ético? Os ingleses estão discutindo isto. O técnico Sam Allardyce, do English Team, foi apanhado numa arapuca armada por jornalistas do Daily Telegraph que se passaram por empresários. Uma mentira para revelar a corrupção, o suborno, a verdade do futebol e  desmascarar um pulha. Quem foi mais canalha? O treinador ou os jornalistas? Tudo é válido por uma boa reportagem para desvendar um vigarista, uma fraude, que prejudique pessoas, entidades ou estados? Qual é o limite da ética? Este é  um texto com muitas dúvidas, incertezas e poucas - ou nenhuma - verdade.  Mas, o que é  verdade, mesmo?
Nenhum treinador da Seleção Brasileira passou por isto. É mais honesto ou é mais esperto? Esta é uma dúvida para todos os amantes do futebol daqui. No entanto, alguns deles tem dificuldade em explicar convocações. Alguém já esqueceu de Afonsão? Descoberta de Luxemburgo. Ou, Geferson, o menino lateral do Inter, inventado por Dunga? Ou, Jucilei, 'craque' do Corinthians chamado por Mano Menezes? Méritos observados pelos técnicos. Só por eles. Nenhum vingou, Há tantos exemplos na história. Dario é um deles. Não! Não! Aí foi uma convocação para agradar o tirano de plantão, Médici. Zagalo é inocente nesta. Porém, ele convocou César Prates. Inexplicável!
Forjar uma identidade. Na pele do Lobo. É uma situação do jornalista. É ético inventar um personagem ou levar alguém a confessar algo que não faria, a não ser iludido? É um dilema do jornalismo. É o vale tudo pela informação, pela história ou denúncia. Goulart de Andrade se transformava para fazer as suas matérias. A maioria inocente. Um trapezista, um garçom, um travesti. Tim Lopes é um personagem trágico. A identidade descoberta, a tortura, a morte. Vale a pena? Eu não gosto, nunca fiz, nunca iludi um entrevistado ou usei um artifício para uma reportagem. É só um pensar. O meu pensar sobre ética jornalística é igual a ética de qualquer cidadão.
A mentira é um sentimento que mexe com corações e mentes. Lenin considerava válida para conquistar os objetivos. Goebbels defendia a intensa repetição até torná-la verdade. O filósofo Kant a rejeitava sempre. Para ele, a verdade é o maior dever moral do indivíduo e sempre aniquila a mentira. Para salvar alguém ou a si próprio, Benjamin Constant admirava o mentiroso. Schopenhauer vê dilemas na mentira se causar uma injustiça. Senão, é só uma história.
O olhar poético  de Mário Quintana traz luz a discussão. Para ele, a mentira é só uma verdade que esqueceu de acontecer. Nunca antes na história deste país, um mentiroso, de lábia presa, perdeu o dom da mentira.  Porém, há os que se encantam com as suas lorotas. Bom, deixa prá lá...Tenho medo dos crentes! O olhar que me agrada é o de Pantaleão, o velho contador de história de Chico Anísio, que ao notar o ar incrédulo do ouvinte, perguntava a mulher: 'É  mentira, Terta?' Ela respondia certeira: 'Verdade!'

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Noite sem fim



Mauro Pandolfi

"Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer"
Os versos de Mário Quintana é um belo retrato de Marcelo Grohe, o goleiro que a torcida ama odiar. Ou, seria, que odeia amar?

Teatro de grama e paixão. É a definição que mais gosto sobre futebol. Explica este belo jogo de vida e 'morte' - simbólica, apenas simbólica! . A guerra simulada entre facções. Um jogo poético, épico, glorioso. Um jogo de homens, meninos e deuses. A classificação do Grêmio na Copa do Brasil foi exemplar. Toda a mística do jogo. A bravura, os enganos, as dores, as tensões, os conflitos, os medos. Uma partida sem o brilho dos craques, a estratégia dos técnicos. Apenas os esforços dos mortais. Mas, que teve o dedo dos deuses. A crueldade com Marcelo Grohe. Depois, a generosidade. Quando Wewerton tirou bola de Juninho e bateu o pênalti foi castigado. Errou! Os deuses só admitem a soberba dos humanos iguais a eles. Dos comuns, a punição severa.  O herói virou vilão. O Atlético perdeu e o Grêmio ganhou uma sobrevida. Talvez, a redenção.
O torcedor odeia o futebol. Ama o clube e a vitória. Venera os ídolos ... do passado. Adora os vencedores. Grita por eles. Exibem faixas, elaboram cantos, demonstrando um fanatismo assustador. Há 15 anos que o Grêmio não ganha um título importante. O gauchão não conta. Neste período, a fogueira permaneceu acesa. Já foram incinerados grandes nomes, jovens promessas, comuns, cabeças de bagre. Poucos, quase nenhum, foram poupados.
Ontem parecia a noite da fogueira de Marcelo Grohe. O goleiro forjado no clube, que de tempos em tempos, o salva, esteve a beira do sacrifício. Igual ao que foi submetido Victor, Thiago, Jonas, Bruno... Escapou na defesa fantástica, no chão, na garra, de vergonha.
Ele não é Danrlei. Ontem, pareceu..Não tem os títulos e nem a aura. Danrlei era um torcedor em campo. Louco e apaixonado. A idolatria o tornou deputado e um aspirante ao governo do estado. Marcelo é só um espetacular goleiro. Para um gremista, é pouco, quase nada. O futuro de Grohe deverá ser longe da Arena. Caberá ao menino Léo enfrentar o fantasma de Danrlei.
Desculpem-me os seis leitores do blog ao escrever, mais uma vez, sobre o Grêmio. Afinal, deles, só o Mário é gremista. Era impossível não comentar a noite de Marcelo Grohe.  Vou tentar fugir do clichê, do lugar comum para terminar.  Não lembrarei o vilão que vira herói. E foi! Da profecia de Renato. O primeiro milagre? Acho, cada vez mais, que a religião comanda a vida. A fé em acreditar no impossível ou a maneira como os fundamentalistas lidam com a política, com o futebol, com a existência. Creem, creem, creem. A realidade é só uma fantasia para um fanático. Não acabarei o texto assim. Vou buscar 'um gauchismo' perdido para salientar  Marcelo Grohe. Em posição  de sentido, a mão no coração, a voz, embargada, solto o canto: 'Sirva a sua façanha  de modelo, de modelo, para toda a Terra'....! Oigalê!, Grato, Grohe!

terça-feira, 20 de setembro de 2016

O passado não é longe daqui



Mauro Pandolfi

O passado me persegue. Seja num sonho ou no olhar do espelho. Não reconheço a imagem que vejo. Sou um outro eu. De um tempo contrário. Do passado, que nunca termina! No dia a dia me reencontro com a imagem idealizada. Ora, na conversa com os velhos amigos.  Somos todos jovens. O que me causa estranheza são os cabelos brancos deles. No abraço generoso do Mário, igual a de uma comemoração de um gol de um título. No sorriso de algum menino, num carrinho de bebê, vejo o Pedro  e o André.  Agora, são jovens, bonitos, grandes, forjando a juventude. Mas, a imagem que tenho deles é o olhar feliz, os braços abertos em minha direção  ao chegar em casa e o pedido para brincar. Poxa! Faz tempo! O passado é tão mágico, ilude o tempo. Há domingos, ao entrar na casa de minha  mãe, ouço  a risada gostosa de meu pai. Porém, é  so um engano.  Um triste engano. Assim é o passado. Já foi. Terminou. Ficou numa foto, numa lembrança. Sobrevive como saudade   Só como saudade!Num átimo, o presente me encara. A vida me cobra. E, a volta para o futuro é só um belo filme. Ao contratar Renato Portalupi e Valdir Espinosa, o Grêmio  disse adeus ao presente, abandonou o futuro e tenta reencontrar uma gloriosa era de vitórias. Que só existe nos almanaques, nas memórias ou num pensamento mágico de um cartola.
Aquela madrugada de domingo de 1983 é a felicidade no futebol. O dia eterno. Nunca terminará. Queria viver o 'feitiço do tempo' do filme. Todo dia o mesmo dia. Aquele onze de dezembro reviveria sempre.  Se a felicidade é o momento que desejamos eterno, que nunca termine, isto explica o nome Renato no meu filho. A vitória seria sempre lembrada, vivida, reverenciada. É só uma fantasia, o meu feitiço no tempo. O meu engano.
 Renato retorna mais uma vez. A terceira! Infelizmente, não como jogador.  A saudade, o passado não é uma fonte da juventude. Que pena!  Volta como técnico sazonal. O homem que resolveu tirar férias trabalhando.  Sempre é buscado no desespero, no medo, na incerteza. Ele foi um treinador ousado na primeira. Descobriu um talento em Jonas e transformou André Lima em um mortal artilheiro. Um mágico! Na segunda, foi um José Mourinho dos trópicos. Armou um moderno time defensivo. Compactado atrás, envolvente na saída de bola, rápido no ataque de poucos gols. Foi vice-campeão.  Nas duas vezes foi dispensado sem respeito, sem homenagens, com ingratidão. Renato só regressa pelo gremismo. Um louco e desvairado amor pelo Grêmio...e um polpudo salário, também! Espero que Renato preserve o belo jogo de Roger.  Não desmonte a ideia. Aprimore! Transforme Luan em um atacante poderoso. Afinal, é melhor que Jonas e André Lima. 
O passado que nunca termina é um signo do Brasil. Todas as soluções são catadas no que já passou. Nos acertos e, principalmente, nos erros. Acompanhe a propaganda eleitoral. Até o 'novo' busca inspiração nos 'morangos mofados'. Muitos falam em voltar a um tempo que julgam glorioso.  Nada mais fantasioso que isto. O passado é sempre melhor. É depurado, filtrado, escolhido a dedo as lembranças. Quando volta, como engano, revela o lado escondido, negado,  perverso. O passado nos condena. O futuro, nos engana. E, o presente não dá para devolver.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Deu prá mim!


Mauro Pandolfi

Dormi pouco. Varei a madrugada com rádio ligado. Atônito, não acreditava na notícia. Esperava o desmentido. Não veio. De manhã, os sites confirmaram o meu pesadelo. Roger Machado não é mais o treinador do Grêmio. Pediu demissão. Meu mundo tricolor caiu. O belo jeito de jogar terminou. Aliás, um hiato na nossa história. A bola bem jogada, o jogo planejado, as soluções  individuais, o moderno foi uma ilusão. Uma bela ilusão. Um engano que acabou. Agora, veremos o verdadeiro Grêmio. Fechado, truncado, chutões, marcação. Suor, lágrimas, calções sujos. O Grêmio que a maior parte da torcida sonha, deseja,  suspira. O Grêmio perdido da década de 90. Ainda bem que Celso Roth está  empregado. Mas, não custa fazer uma proposta. Acho que o Inter libera.
Largava tudo para ver o Grêmio de Roger.  Me fazia bem. Ficava alegre, risonho, feliz. Nada ganhou. Perdeu tudo. Gaúcho, Primeira Liga, Brasileiro. Estou acostumado com derrotas. Adorava ver o time jogar. A bola bem trabalhada, os. passes medidos, as trocas de funções. A beleza do jogo moderno. Vibrei em muitas vitórias como há  tempo não fazia. O menino, apaixonado pela bola, se encontrou com o velho cético, sem esperança, utopia ou sonho de um título. Via os jogos com o amor de um torcedor. Ficava ansioso. Nada me distraia. Me tiraram isto. É verdade que o bom jogo tinha sumido, desaparecido, sequestrado. Sempre achei que voltaria. É a fase da vida. O mau momento passageiro. Ainda não entendi a desistência de Roger. Faltou apoio da direção? Ou, medo de enfrentar uma grande crise? Não teve culhão para encarar a conservadora imprensa gaúcha? Ou foi um ato de bravura ao reconhecer que não mais tinha a oferecer? Como todos sabem, o tempo dirá!
Sei que os deuses da bola gostam de brincar, de provocar desafios. Será  que os gremistas estão  convencidos do novo jogo? Pelos comentários, conversas, depois das derrotas, descobri que estávamos com saudades de outros tempos. Da imortalidade, do jogo sofrido, da vitória  heroica, da alma castelhana. Estarão de volta conforme o novo treinador. Novo? Aposto em velhos conhecidos de outros tempos.
Roger cometeu os mesmos erros dos técnicos brasileiros. Criou um grupinho de jogadores. Os confiáveis, os que estabilizam os vestiários, os líderes. Fixou-se neles. Roger se agarrou a Marcelo Oliveira, Maicon e Douglas. Não  entendeu uma lição  do livro de Guardiola: 'Há  momentos que os melhores devem jogar. Jovens pedem o espaço.Tem de esquecer a fama, o dinheiro e a liderança' Roger ignorou. Caiu abraçado com eles. Não quis ver a ruindade de Oliveira, a soberba de Maicon e a lerdeza de Douglas. Os jovens,  como Lincoln, Tontini foram esquecidos. Outros, como Eric e Balbino, nem foram lembrados
O Grêmio faz 113 anos neste 15 de setembro. Estou triste. Roger Machado deu um péssimo presente para torcedores, como eu.  Ele.era a minha certeza do novo, do ousado. Um reencontro com a grandeza, a história fascinante das três cores. Roger era o rompimento com o passado derrotado.  Ele era a negação da machonaria,  tão ao gosto dos torcedores. Nada de berros ao lado do campo.  Nunca escutei uma bravata. Só  pensares lúcidos. Roger vai brilhar muito. O Grêmio segue o projeto armado por Guerreiro, Obino, passando por Odone, Koff, e está soterrando Bolzan, de apequenamento do clube. Virar um Ypiranga com grife. Sem esquecer que o Grêmio não é da bucólica Erechim..

domingo, 11 de setembro de 2016

Olhos nos olhos



Mauro Pandolfi

A dor nos olhos levou-me ao oftalmologista. Míope e com degeneração macular, me assusto com qualquer problema. A visão já é pequena. Tenho dificuldades na leitura noturna. Prefiro o livro a tela. Porém, a luminosidade da tela gera mais conforto, nitidez, clareza. No terminal urbano, sentado, olhando o vazio, levo uma cutucada na perna. "Perdido, meu querido Mauro! O que procuras no horizonte? A luz que te escapa? Ou, o tempo que passa sem você querer?". Era o meu amigo Rai Carlos, o vidente cego. Dei um abraço longo, como um desabafo, cheio de receio e contei a minha visita ao médico. 
'Preciso aprender a olhar sem os olhos. Entender como a alma vê melhor o mundo. Quero descobrir a cor do vento. Qual é a cor do vento, Rai?' Ele desarma a bengala. senta no banco e a gargalhada se espalha no terminal. "A memória está te enganando, Mauro? Já te perguntei isto. Acho que é azul. O vento esparrama tudo, varre tudo, não sobra nada.  Ele é livre. Descoberta a liberdade, vivida a liberdade, ninguém aprisiona mais. Vão os grilhões. Uma vez livre, sempre livre", me explica. Azul é a cor que adoro. Se tiver preto e branco junto é  paixão. Dolorida paixão.
Nunca entendi o olhar de Rai. Coração  e alma, disse-me uma vez. Tem dias que paro, fecho os olhos e encaro o nada. Procuro olhar como os olhos de Rai. Nada vejo. Só  um escuro que me incomoda. "Tu não  entendeste que os olhos são  como um televisor. Recebe a imagem. Ela não  produz a imagem. Comigo também  é  assim. A alma produz o que vejo. Vem das entranhas, da memória, dos sonhos. Não  tenho o televisor. Mas capto todas as imagens".  Escuto, penso, pergunto: 'então é tudo imaginação? Tu nada vé?' Ele ri, quase sussurrando, filosofa. "Nem toda a realidade é concreta. O real é  só  o lado sem graça,  duro do imaginário. Não é  uma invenção  e nem uma mentira. Houve um tempo que o real e o imaginário eram um só. Tudo era possível. Aí,  dividiram. Subjugaram o imaginário. Transformaram em fantasia e delírio.  Mistificaram. O real passou a ser só  certeza, o comprovado, o cientifico. Até as ideologias igualitárias  enganam todos com a baboseira da mudança  da realidade.  São farsescas ao não entender que a imaginação é que muda o real. Fracassam se totalizando, impedindo outros olhares, tornam-se ditaduras. A tecnologia esta reaproximando os 'mundos'. O Pedro não  caça  Pokemon? O encontro chama-se realidade aumentada. Bonito nome, não?", explica.
O ônibus estaciona. Pergunto se vai comigo. Disse que não. "Tenho problemas para resolver.  Para viver a realidade tenho que sair do meu imaginário. Vou trabalhar numa campanha para vereador", disse rindo. "O sujeito quer uma ajuda esóterica. Vou poder pagar as contas"., conta Raí. 'Então vais elegê-lo?', pergunto. "Eu não! Não voto aqui. Aliás, há anos que não voto. Sou um anarquista. O problema de quem é eleito, é de quem votou nele!" Rai é muito prático, concreto em muitas coisas. 
 O motorista abre a porta do ônibus. Antes de embarcar, Rai fala sobre a goleado do Coritiba. "Desabamos, outra vez! Sofreste muito, Mauro?" Na fila, quase entrando, respondo.'Não! Depois do terceiro gol, assisti sem paixão. Absorto, esperava mais e mais. Me vi outra vez diante da Alemanha. Nada mais me entristecia. O lombo, o coração, a alma se habituaram a dor, a derrota, ao infortúnio. Nem o procuro mais para desabafar. Entendi que é assim, será sempre assim, até que um dia tudo acabe'. Rai me abraça, nos despedimos. Rindo, contou-me: "Sete de setembro, independência. Cada gol, imaginava dom Pedro I, nas margens do Ipiranga, erguendo a espada e bradando: gol do coxa!", a bela gargalhada estremece o terminal. Na fila todos riram.  Ao passar na roleta, o cobrador se solidariza. "Tá feia a coisa, moço! Ainda bem que os vermelhos vão conhecer o inferno da segundona".  Não sei! Os deuses do futebol são cruéis, cínicos, impiedosos. E, para nosso azar, acho que são colorados.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Meio desligado



Mauro Pandolfi

Há dias que me sinto um mutante. Ando meio desligado. Não sinto os pés no chão. Estou aéreo. O mundo passa pelo tubo revelando imagens que formam um mosaico do nada. Atônito. Perdido. Confuso. Aplausos e vaias. Gritos e sussurros. Discursos desconexos, bizarros, tolos. Perplexo com armadilhas e artimanhas judiciais. Velhos e jovens histéricos nas ruas.  Parece um sono hipnótico, profundo. Dormi quanto tempo? Ou estive acordado neste pesadelo? É um país ou um ajuntamento? .A política é um hospício. Procuro a bola para fugir da minha lucidez que beirou a loucura. Encontrei a seleção de Tite. O time que renasceu em dois jogos. Euforia demasiada? Pode ser! Ou é o desespero de quem perdeu o imaginário que sempre venderam da camisa amarela?. Seria, também, muita saudade de um país que nunca foi, nunca será, preso num passado teimoso, que  vem embrulhado em fantasias vermelhas, coloridas ou furta cores?
Nem parecia o Brasil de algum tempo atrás. Livre e solto. Suave, sereno, lúdico. A 'pior geração de todos os tempos' brincou com a bola. Pareciam até 'craques'. Habilidade, técnica, confiança, talento. Enfrentou os fantasmas que os críticos avisavam, pediam cuidados, tremiam de medo: o pujante Equador, a altitude, a estreia de Tite. Estavam os 'bravos jornalistas', os profetas do acontecidos, acadelados. Queriam defesa, marcação, um empate é um bom resultado. Mas, havia Gabriel Jesus, Philippe Coutinho, Marcelo, Renato Augusto, Marquinhos, Casemiro e... a estrela da companhia: Neymar. Empate é para os fracos. Mais uma vez brilhou o craque do Playstation. Assumiu o jogo, controlou o ritmo, a bola, a emoção. Genial!
Veio a Colômbia. A nova rival de cor amarela. Um jogaço! Uma disputa em, cada palmo deste chão. Brigado, guerreado e muito bem jogado. Teve de tudo. Provocações, dribles, armadilhas táticas. O 'novo' time do Brasil se impôs, criou, buscou e inventou lances que levaram a vitória. Escutei comentaristas, que temiam a ausência na copa da Rússia, a proclamar que 'pintou um time para ganhar uma ou duas copas!' Exagero? A vitória permite. Afinal, há tempos que a derrota é a nossa companheira.
O que mudou na seleção? Os jogadores são os mesmos. Criou-se um sistema de jogo que não existia. Confiança e atitude. Mas, quem mudou foi Tite. Ele é um treinador. Dunga nunca foi. Era apenas uma relação de compadrio. Típica brasileira. Preste atenção em quantos 'companheiros' vão perder a boquinha. Farão falta? Nenhuma! Eram apenas encostos. A grande diferença é o lado humano. Tite é um agregador. Um homem simples e afável. Um líder que conversa em igualdade com os seus comandados. É só mais um! Não se comporta como o dono do pedaço. Tite é, detesto a expressão, 'gestor de pessoas!'. Um homem que parece com o cara que senta ao seu lado no ônibus.

domingo, 28 de agosto de 2016

Alcindo, adeus!


Mauro Pandolfi

"Minha pátria  é minha infância: por isto vivo no exílio".
O verso de Cacaso me anistiou para chorar por Alcindo.

Domingo triste. O menino de Lages, que aprendeu amar o futebol no Vermelhão,  chorou com a morte do  centroavante que o transformou em gremista. O velho, que nunca perdeu o amor da bola, ficou emocionado. Melancólico todo o dia. As lágrimas  escaparam no minuto de silêncio na Arena. O empate contra o Galo não significou nada. Foi o dia de lembrar de Alcindo Martha de Freitas. O Bugre que demolia defesas, o maior goleador nos grenais e o último  parceiro de Pelé. Aos 71 anos, de diabetes, Alcindo deixou a vida. Agora, vive como lenda.
Foi lá  por 67. No Vermelhão que descobri o Grêmio.  Fui  ver o treino do time que enfrentaria o Guarani. Queria conhecer Alcindo. O goleador destemido, que jogou na Copa de 66. Como todos, fracassou. Mas, era ídolo em Lages. O Vermelhão  estava lotado. Olhares atento ao pequeno João  Severiano, no lageano Áureo  e em Alcindo. Atravessei a multidão, cheguei no alambrado e vi todos os jogadores de camisetas brancas. Batiam bola, faziam bobinho, trocavam passes. No entanto,  um jogador vestia uma c amisa diferente. Linda. Três cores em listras verticais. Azul, branca e negra. Uma combinação magnífica. Conhecia o Grêmio só de ouvir falar. Número  13 nas costas. Perguntei  quem era aquele. 'Alcindo!', me responderam.  Os meus olhos distraídos voltaram a olbar o campo. Foi o tempo de ver a matada no peito, a girada do corpo, o chute forte, seco, certeiro e o balançar  do travessão.  A pequena multidão  aplaudiu. Sorri ao ver o chute de Alcindo. A alma em excitação e o coração  que escolheu um time para sempre: Grêmio! Grato, Alcindo!
O tempo voou. Mudei, mudamos todos. A vida tem os seus caminhos  os segredos, os mistérios. O teatro de grama e paixão continuou mágico, envolvente, amoroso. Virei jornalista. Fui cobrir o Mundial de Seniors em 87. Vi Pelé, Rivelino e Babington. Deixei de ser jornalista, virei torcedor ao ver Alcindo. Fiz uma entrevista emocionada, ganhei um abraço, e, no meio de todos os jornalistas, pedi um autógrafo. Um troféu que está em algum canto da casa da mãe. 
No início de outubro de 98, a melhor notícia de toda a vida: Elaine estava grávida.  Se for menina uma dúvida entre Ana Lydia e Maria Carolina. Menino, pensei rápido. Tem que ter Renato, o maior de todos os gremistas. O outro nome, já que gosto de dupla, Alcindo. Nem conversei com a Elaine. A poesia entre Alcindo e Renato só rimava no campo. Alcindo era um nome de outro tempo. A sonoridade de Renato combinava com André. Queria um ataque com três. Elaine vetou Éder. Ficou André Renato.  Hoje, o meu ataque dos sonhos detesta futebol. Quem sabe um neto se torne Alcindo. Porém, é uma outra história, outro tempo. E, quem sabe, o futebol se torne só uma lembrança de um velho sem memória?