segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Santíssima trindade de outubro

 

"Se Pelé não tivesse nascido gente, teria nascido bola"
A elegia de Armando Nogueira serve, também, para Garrincha, Maradona, Didi, Sivori, Falcão, Kopa. Gênios que nasceram neste mês. E, para Messi, que se nasceu em junho, foi 'fabricado' em outubro.

Mauro Pandolfi

A cor de outubro é rosa. A imagem é a bola. Não há nada tão perfeito como a bola. Não há lado, nem ângulos, nem arestas. Há o objeto que flutua entre o sonho e a poesia. A bola que rola macia, suave, rápida nos pés de gênios, magos, artistas que nasceram em outubro. Craques que acariciavam a bola como Didi. Ou, desfilavam a elegância com ela grudada no pé feito Falcão. Insinuante, ligeiros, fascinados pelo gol como Kopa e Sivori. Mas, é num trio que o futebol se explica, apaixona, encanta, dilacera, torna-se religião, literatura, arte. Pelé, Garrincha e Maradona. Sete dias em que a estrela brilhante no céu era uma bola. Pelé é do dia 23; Garrincha, de 28 e Maradona, dia 30.  A Santíssima Trindade! Os três poderiam ter nascido bola. Deram vida a bola. Tornaram a bola o Santo Graal dos tempos modernos.
Pelé! O nome que não precisa de adjetivo. É um adjetivo! Basta citar...Pelé! Você já sabe do que se refere. Ele não inventou o futebol. Nem a bola. Mas, virou símbolo, referência, sinônimo. Pelé é um nobre. Um rei coroado algumas vezes. A primeira, aos 18 anos, em 1958. A última, hoje 23 de outubro, dias dos seus 75 anos. Foi lembrado, muito pouco, quase nada, por alguns jornalistas, amantes do futebol e pelos torcedores do Santos. E foi chamado de Rei Pelé! Ele é um mito! Mitologia não se explica. É, e pronto! Édson Arantes do Nascimento nunca conseguiu ser um cidadão comum. Pelé nunca deixou. Pelé jogava feito prosa. Do passe medido, da tabela, do gol, do pulo com o punho cerrado, socando o ar. É a melhor frase do futebol!
Vi um só jogo de Mané Garrincha. O último! O da despedida com a camisa da seleção contra o time de estrangeiros que jogavam no Brasil. Foi em 73. Verdes anos, pouca coisa para contar, muitas para sonhar. Lembro do lance. Garrincha parado. Corpo arqueado, nada que lembrasse um atleta. A bola presa no seu pé. Negaceou. Foi e voltou. O uruguaio Bunuel foi. Na volta, virou mais um João. A bola passou entre as pernas. As 150 mil pessoas vibraram com o drible derradeiro de Garrincha com a camisa da seleção. Aliás, com Pelé e Garrincha em campo, o Brasil nunca perdeu. Garrincha é um poeta. O homem que sucumbiu as tentações, ao amor e a paixão. Garrincha é o maior fantasma do futebol. Esta sempre presente num campo. Está no desejo do torcedor, na saudade de um velho amante da bola, num drible, num passe cruzado, num corte, no chute certeiro...na ausência da alegria. Todo jogo burocrático, sem graça, sem alma é uma outra morte do Mané.
Diego Armando Maradona! Eu não era mais um garoto. Já tinha escapado no exército, de Brasília. em 79 Vi pela primeira vez um jogo de Maradona. Um amistoso contra Alemanha. Não lembro resultado, nem vou pesquisar no google. Há um lance que de tempos em tempos relembro. Em todos os jogos que joguei tentei repetir. Belo demais! Alguns fiascos. Quando deu certo, virou gol. O lance é magia pura. Bola lançada pela direita. Longa, quase escapando. Maradona domina. Cercado, da dois passos em direção à linha de fundo. E, de letra, com o pé esquerdo, passando por trás do direito, cruzou. Os alemães ficaram atônitos e Ramón Diaz perdeu o gol. Nunca mais perdi Maradona de vista. Acompanhei a sua carreira, a glória, a tragédia pessoal, os equívocos, os acertos, a canonização, a humanização. Maradona tem algo de Pelé e muito de Mané. Que falta faz!
O dia da poesia, 31, fecha o mês dos ilusionistas da bola que poderia ser definido assim: "Futebol se joga no estádio? Futebol se joga na praia, futebol se joga na rua, futebol se joga na alma" (pequeno verso de Carlos Drummond de Andrade também de outubro, uma espécie de Pelé, ou seria Mané, ou quem sabe Maradona, entre os poetas?).

sábado, 21 de outubro de 2017

O abismo



"...E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti".

O receio de Nietzsche jamais se aplicará ao futebol brasileiro.Ele rejeita olhar para fora e, muito menos, para dentro. O abismo beira a eternidade.

Mauro Pandolfi

Nunca se jogou tão bem o futebol como hoje. Todas as valências em campos. Estão lá a habilidade, a técnica, a força, a estratégia, o poder mental. As virtudes, os conceitos, a inteligência inundam os campos. Para vencer é necessário uma boa tática, lucidez, volúpia, estilo, refinamento, arte. É como se joga na Europa. Nos grandes clubes, nos clássicos, nos principais campeonatos. Talento que decidem jogos numa partida planejada em todos os detalhes, nem sempre definitivos.  Às vezes, o acaso feito a dribles, como poesia; outras, trocas de passes, tabelas, como uma prosa, definem uma partida. Um abismo nos separa. O futebol brasileiro está preso numa circular histórica, que num momento avança, no outro, regride. É refém de velhas ideias, de análises ultrapassadas, de uma mitologia encantadora, porém fantasiosa, que recusa a se transformar. Nem o 7 a 1 da Alemanha provocou a revolução desejada. O vexame tornou-se apenas um 'apagão'. Portanto, nada precisa ser feito. Apenas, entrar 'ligado' no jogo.
O futebol é o melhor produto do Brasil. É o mais cobiçado, desejado, consumido. Os grandes europeus pagam fortunas pelos garotos. Os médios, vão em buscas dos já formados. Os asiáticos querem o que tiver à mão. Perdemos craques, bons jogadores e, até bondes, todos os anos. Um clube no Brasil arma de três a quatro times por ano, um inferior ao outro. O poderio financeiro europeu, que forma seleções em cada clube, é devastador. Não é só isto. A estrutura ajuda. Há outras virtudes. O pensar influencia. São táticas ousadas, diferentes, ofensivas. Aqui, joga-se para não perder, buscar um ponto fora de casa, pelo regulamento, pelo mínimo. O esquema tático predominante é 4321. Raros times europeus o usam. O Manchester City de Guardiola varia no 352 ou 253. Neste país, um 352 é armado com três rebatedores, quebradores de bola, vagarosos na primeira linha. Guardiola usa os hábeis, os velozes, os que sabem jogar.  Há inúmeras variações usadas na Europa. Um bom ano de estudo, de acompanhamento, estágios modificaria. Porém, estudar é para os fracos
O décimo colocado do Campeonato Inglês ganha o brasileirão. O quinto e o sexto, de outras competições europeias, como alemães, italianos e espanhóis, disputam o título. Os líderes dos campeonatos português e francês beliscam o primeiro lugar. Já, os principais times brasileiros, num campeonato de ponta europeu, tentam fugir do rebaixamento. É só uma tese. Mas, quando assisto estes campeonatos na tevê, o abismo é mais do que profundo. É insofismável! A qualidade do futebol brasileiro está na seleção de Tite, que é formada.por jogadores que 'aprenderam' o pensar, agir, onde o novo não se esconde sob o sol ou a neve..
O futebol brasileiro é mágico. A mistificação criou um estilo, um conceito, fama. Um imaginário quase sempre divino e maravilhoso. O futebol brasileiro é uma invenção dos anos 40, glorificado nos 50, endeusado nos 60 e 70, arrogante nos 80, resistente nos 90 e sobrevivente no século 21. Nunca existiu a imensidão de craques contados em versos e prosa. Produziu lugares comuns, chavões, mantras, tudo falsificado por um olhar enganoso. O futebol sempre foi mais mítico do que real. Mais fantasia do que verdade. Mais poesia do que prosa.O futebol foi mais escutado, lido do que visto.
Há 'poetas' que recitam escalações de craques que nunca viram jogar. Alguns tão geniais, que nem um iconoclasta, como eu, renega o talento. No entanto, há jogadores superestimados por títulos ganhos. Outros subestimados, pela ausência de conquistas. O futebol brasileiro não sobreviverá em uma análise rigorosa, pragmática quando alguém resolver contar. 'a verdadeira história'.  Até lá, perpetuaremos as lendas. Afinal, neste país despedaçado, devastado, desmoronado, o futebol é o último reduto dos românticos. Afinal, para nós, os amantes da bola, o jogo é poesia, como esta de Carlos Drummond de Andrade:
"Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor".



quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Ainda não acabou!



"Não confie em ninguém com mais de 30 anos!"
Pichação nos muros de Paris, em 1968, que deveria valer para o futebol brasileiro que abusa dos sub-40 decadentes, inúteis, superados.

Mauro Pandolfi

Este texto é politicamente incorreto. Desconfio muito do politicamente correto. Está sempre num estreito fio entre a virtude e o moralismo. Um pouco para cá, dignidade; um pouco para lá, carolice. Talvez os sete leitores deste blog fiquem incomodados. Há, quem sabe, dependendo do olhar de cada leitor, preconceito explícito no que escreverei. Os velhos, os sub-40, os veteranos, os 'experientes' são os responsáveis pelo péssimo futebol jogado neste país. Ocupam lugar de jovens promissores, deixam lentos os seus times, passeiam a indolência no gramado e recebem polpudos salários. Não sei há exceção nesta regra. O Figueirense é a melhor representação desta regra. Está lotado de medalhões decadentes, de sub-medalhões e de veteranos de carreiras inexpressivas. Só um milagre, chamado Guarani treinado por Lisca, um Argel fake, o salva da série C. Como diria aquele outro da tevê: 'haja coração!'
Cheguei em casa, liguei a tevê na hora da escalação. Não vi a do Londrina. A do Figueirense ocupava a tela. Marquinhos, Ferreira e Leandro Almeida ocupam uma faixa do campo. Me caiu os butiás do bolso! Perplexo, não prestei a atenção no resto do time. Todo técnico medíocre, incapaz de armar um sólido sistema defensivo, apela para os três zagueiros. O incompetente esquece que esta linha precisa de jogadores móveis, hábeis e velozes. Os três colocados por Milton Cruz são o oposto. Quebradores de bolas, vagarosos, rebatedores. Não precisou de muito tempo para o Londrina marcar o seu gol, no meio dos três zagueiros. O autor foi Carlos Henrique. Ele e Pottker foram desprezados, desvalorizados, dispensados do Scarpelli. Ah, fico impressionado com Marquinhos. Sempre que o Figueirense se encontra encalacrado, meio sem saída, ele se machuca. Ô sujeito azarado!
Quem saiu do time para a 'surpresa' tática de Cruz foi Renan Mota. Autor do segundo gol contra o Santa Cruz. O mais rápido do meio-campo. Milton Cruz adora um 'craque fantasma'. Escalou três. Não sei se foi pelo passado, pelo bom comportamento ou por indicação de alguém. Mas, apostar em Marco Antônio na armação; Zé Antônio como volante e Jorge Henrique na transição ofensiva, é não querer vencer, chamar a derrota, arrumar desculpa na hora da entrevista. Marco Antônio está apto para o futebol americano. Parece um 'kicker',  Bate todas as bolas paradas. Faltas e escanteios. Nenhuma levou perigo ao gol. Zé Antônio foi o de sempre. Fora do lugar, atrasado, passes errados e um cartão amarelo. Já, Jorge Henrique correu, correu, correu...
Não há nada a dizer de Zé Love. Um lance o explica. Lançado pela esquerda, tentou livrar-se do zagueiro, preparou-se para o cruzamento, confundiu os pés, a bola escapou e ele caiu. Milton Cruz está perdido.Cada jogo um time, cada entrevista, uma justificativa diferente. Às vezes, aposta nos jovens. Em seguida, nos cascudos. Fica parado, mão no queixo, olha para o céu, procura uma solução. Não há Telê Santana ou Muricy Ramalho para orientá-lo. Tem de pensar por conta própria. parece que isto o atrapalha. No entanto, não é responsável por tudo. É apenas o pior treinador da temporada que teve Marquinhos Santos e Marcelo Cabo. Poupo Márcio Goiano pelo passado de beque e capitão.
 O Figueirense de hoje é uma construção de anos. De falta de planejamento, de boçalidade, de incompetência, de, como chama Chiko Kuneski, entreposto comercial, de parcerias duvidosas, onde o francês Alex Borgeouis já pegou a sua  baguete, colocou embaixo do braço, chamou um táxi, foi em busca de um outro trou..., quer dizer, parceiro. Ainda não acabou tudo. O Figueirense corre o risco de uma volta no túnel do tempo. Ir parar lá pelos anos 90. Será triste!

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

MESSI(AS)!


"Pai nosso, que estais no céu. Santificado seja vosso nome. Venha a nós o vosso reino. Seja feita a vossa vontade aqui na Terra como no céu..."
Sei que os argentinos, do Papa até a Mafalda, passando por Maradona, rezaram por um milagre, por uma salvação, pelos pés divinos de Lionel Messi. O milagre se fez.

Mauro Pandolfi


Acordes iniciais de um tango. O desespero aos 40 segundos no lance de Romário. O mesmo nome de um carrasco de outro tempo, de outra camisa, também, amarela. O espanto, o olhar vazio, a desesperança. Tudo estava perdido. Não havia mais saída. O torcedor mostrado na tevê, com as mãos para o céu, parecia pedir um 'salvador', um milagre, uma 'mano de Diós'. O Messi(as) apareceu. Uma, duas, três vezes. Carregou o time, a paixão, um povo em suas costas. Atravessou e chegou a terra prometida. Rússia é logo ali.  Não deu tempo do tango virar uma dança. Nas imagens do show do U2 em Buenos Aires, no delírio dos argentinos, parecia que o tango se tornou rock. Mas, desculpe a heresia, a da festa de Messi e seus seguidores no campo lembrou um carnaval. Uma farra libertadora ao som do samba sincopado de Lionel Messi.
E, Lionel sorriu. Mais que um sorriso vitorioso, de alma lavada, de alívio. De consagração. A extraordinária atuação o santificou. Ficou do tamanho de Diego Maradona. Finalmente, os hermanos se renderam. Messi foi canonizado, santificado, ou como um escreveu um pequeno jornal de Corrientes: "Salvo pelos pies de Diós". Messi vai tentar um façanha. Repetir Brasil de 2002. Transformar um time medíocre em campeão do mundo. Mas, Jorge Sampaoli precisa encontrar dois Ronaldos e um Rivaldo. No entanto, nada é impossível para Lionel Messi.
Um dia meu filho André me perguntou o que é o futebol? Tentei explicar. Usei sociologia, arte, psicologia, estratégia, física, história, paixão. Ele não saiu nada convencido. Agora, se ele perguntasse outra vez, a resposta seria bem simples: Messi! Messi! Messi! Messi! Messi! Messi! Messi! Messi! Messi! Messi! Messi!. O resto é pleonasmo.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O último tango de Messi?



"Os amigos não vêm nem sequer me visitar.
Ninguém quer me consolar em minha aflição"
Versos do tango mais famoso de todos os tempos, La Cumparsita, podem embalar a última noite de Lionel Messi com a camisa da Argentina. Eu torço que a frase fique só na voz desesperadora de Gardel.

Mauro Pandolfi

Quase não vi Pelé. Muito menos Garrincha e Di Stefano. Assisti Zico, Rivelino, Sócrates e Falcão. Li sobre Cruyff e Puskas. Acompanhei toda a carreira de Maradona, Romário e Ronaldo Fenômeno. A trajetória de Zidane, Platini, Boniek e Ruminegge passaram pelos meu olhos famintos de bola.  Renato Portaluppi é o meu ídolo maior. Largo, quase, tudo para assistir Cristiano Ronaldo e Neymar. Ando encantado com Mbappé e Arthur. Mas, neste tempo todo de futebol, de estádio e de sofá, nunca vi nada parecido com Lionel Messi. Nada, nada, nada! Habilidade, técnica, precisão, dedicação, garra, talento. No imperfeito mundo da bola, o mais que perfeito tem nome, sobrenome e genialidade. Lionel Messi é o sinônimo do futebol. Está a beira de um último tango. O derradeiro, terminal, com um ar de tragédia que todo tango tem. Não importa se é de Gardel ou Piazzola. Um adeus que deixará ferida, machucada, amargurada a minha alma moldada pela paixão no Vermelhão de Copacabana.
Os argentinos amam Diego Maradona. Veneram é a palavra exata. Há até uma igreja com seu nome. Desconfiam, duvidam, destratam Lionel Messi. Culpam pelo fracasso da Argentina nos últimos anos. Esperavam que a simples presença de Messi fosse garantia de vitórias, títulos, glórias. O time era só um detalhe. Num lance, num drible, numa falta, uma jogada primorosa, a vitória consagradora. Como disse estes dias um velho 'sábio', daqui mesmo, da bola: 'mentiram para mim dizendo que o craque ganha sozinho, que vence só na sua genialidade! Não é verdade!' Passou uma vida toda para perceber isto. É uma doce ilusão vendida neste canto do mundo. Nem Maradona, Garrincha ou Romário ganharam a copa sozinhos. No mínimo, ao seu redor, uma equipe organizada, competitiva, sólida e bons coadjuvantes. Messi nunca teve esta sorte. Sempre foi a estrela solitária, perdida entre vaidosos, de times desestruturados, defensivos, melancólicos.
Eu gosto do olhar de Messi. Meio profundo, meio aéreo, meio deslocado. No entanto, parece estar focado numa única coisa: a vitória. O olhar vai mudando durante o jogo. A bola na trave, contra o Peru, revelou um olhar desesperado, desencantado, desapontado. Messi corre feito um louco. Joga atrás, buscando o jogo, levando a bola ao ataque, criando situações de gols...e ele não ocorre! Faltou pouco para eu entrar em campo naquele jogo. Olha,  chutei algumas bolas imaginárias. Sofri com o empate. Não pela Argentina. Por Messi. Tenho pena de Messi! O talento colocado em dúvida, criticado, chamado de 'não argentino', de enganador, como escutei dias atrás na tevê - não consegui identificar o 'autor' da injúria. Por que Messi não preferiu ser espanhol? Ao invés de Biglia, trocaria a bola com Iniesta? Por quê?
Não vou cometer o erro de chamar, como vários jornalistas brasileiros fizeram com o time de Dunga, de que 'é a pior geração do futebol argentino'. Não acompanho o campeonato local, só alguns jogos da Libertadores. Gosto de Sampaoli e o jeito frenético de seu time. Porém, ele 'pilha' demais o time. Há um desespero latente, um medo, um pavor, do gol não acontecer. Correm, marcam, sufocam, criam e perdem gols. Para ir a Copa, a Argentina precisa de um pequeno milagre. Da mão abençoada do Papa Francisco, do deus Maradona, da angústia de um tango de Gardel, do suspiro da Mafalda e de um lance, um só!, de Lionel Messi. Com ele na Copa, quem sabe eu consiga cumprir a promessa ao Maurinho - de ver um jogo do mundial. Sem Messi, fico devendo, outra vez, ao Maurinho.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Volver aos 14



'O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...'
A suavidade de Mário Quintana e a espiral da história que comanda, rege, e torna a vida um prazer sem fim.

Mauro Pandolfi

Terça de conversas. Como é bom rever os amigos. Refaz a alma, alivia o coração, fortalece a mente, abre as ideias, torna mais humana a vida que anda mais virtual do que real. Encontrar o Sandro, Paulinho e o Chiko é um sopro de sabedoria, um acalanto em histórias que parecem sempre novas. Esqueço a idade, o tempo, quando nos reunimos. Ainda temos os vinte e poucos anos, tomamos um café no bar do básico, embalado ao som do rock and roll e de uma bola chutada por Zico. Ah, os amigos! Eternos amigos! Extraordinários amigos! A chegada em casa deixa-me um pouco melancólico. Todos dormem. Na solidão da sala, o brilho da lua engana a fresta da cortina e me faz companhia. Saudoso de outros amigos que o tempo afastou. Gente que não vejo desde a adolescência. Gostaria de voltar aos 14 e jogar uma partida sem fim no meu campo dos sonhos, o Vermelhão de Copacabana. Nostálgico, cansado, deito, durmo, sonho...
'Dona Lídia, chama o Maurinho?' Reconheço a voz. É do Bolacha. Dei um beijo na mãe, desci a escada, cheguei na rua e vi todos. Quase não reconheci e nem fui reconhecido. Foram gargalhadas, gozações, muitos abraços. Poxa! Eles também não tem mais 14 anos. O Bolacha virou bombeiro e mantém a forma física. A longa cabeleira loira deu lugar a careca vistosa. O bigode era a maior novidade. Abel lembrava bem o que era. Ainda magro, sem cabelo, mantinha o bom humor dos velhos tempos. Os irmãos João e Tonho estavam bem parecidos. Fortes, robustos, cabeça raspada para disfarçar a calva. O pequeno Serginho cresceu, ficou barrigudinho. Mas, manteve os cabelos. Carlinhos continuava igual. Enganou o tempo. Partimos para o futebol.  Será que estão assim? Bom, usei o espelho como referência. Só então notei que a casa onde morava era um terreno baldio. Como desci a escada? Feitiço do tempo.
Chegamos na frente do Vermelhão. A decepção. Nem vestígio do estádio. Agora é um hospital. Decidimos ir até o Boldo.  Um supermercado ocupava o espaço. Um dos gols do antigo campinho ficava no meio do estacionamento. Vazio, naquele instante, achamos uns tijolos, tiramos as camisas, ajuntamos umas caixas, estavam prontas as traves e o campo. A bola rolou mágica. Éramos os mesmos de sempre. Repetimos dribles, chutes, passes, gols, resmungos, gargalhadas, abraços, lágrimas...o tempo é mesmo uma ficção de Einstein ou de Philip K Dick?
Hora de ir embora. Fomos todos juntos. Nada lembrava a velha rua Irmã Laurinda. Não vi o armazém do Seu Jeremias. O Bar do seu Chico deu lugar a uma loja. Até o Juvenil não era mais o Juvenil. Onde bailavam os jovens desta rua? Notei que estava sozinho. As casas dos meus amigos não existiam mais. Nem eles. Olhei, lembrei da última cena de Lages, na noite que fui embora, eles partiram, desaparecendo na noite escura como aquele domingo de julho de 75.  Até eu parti...
Tocou o despertador. Foi num sonho que 'matei' a saudades dos belos amigos, daquele tempo que de tempos em tempos invade a minha memória e tenta reviver como mágica aquilo tudo outra vez. E, vivo! Afinal, o sonho foi tão intenso, mais real do que virtual, que tornou-se um crônica nostálgica, simbólica, melancólica, sem nexo. Apenas ameniza a saudades de certos amigos que embarcaram na 'navilouca', que é a vida. Então, entendi a lição de Toy Story:  "...O tempo vai passar, os anos vão confirmar. As três palavras que proferi. Amigo estou aqui..."