quinta-feira, 22 de março de 2018

O tango à beira do lago

segunda-feira, 19 de março de 2018

O Baile!

 

"Foi nos bailes da vida...com a roupa encharcada e alma  repleta de chão, todo artista tem de ir onde o povo está..."
O time do Grêmio mostrou que o futebol se joga com a alma, coração, cérebro e tudo pode se transformar num baile da vida como o cantado por Mílton Nascimento.
  
Mauro Pandolfi

Dois prá lá, dois prá cá! São os passos mais comuns sugeridos para dançar. Há um jeito de corpo, de olhar, de movimento.  Quase todos conseguem bailar assim. Um jogo de futebol é uma dança. Não chega ser um balé. Há o improviso na organização tática. Gosto do tango. Da sensualidade do corpo em ação. Do entrelaçar de pernas, de olhares lânguidos, do 'levar' o outro. É belo este bailado! O segundo tempo do Grenal foi um tango. O Grêmio controlou o jogo, fez a bola rodopiar, tirou o adversário para dançar, enredou, encaixotou, encoxou o Inter,  bailou, desfilou bonito o seu jogo, amassou, goleou. Grêmio teve uma coisa que parece que a dança portenha não tem: a humildade, a compaixão, misericórdia. Poderia ter definido a vaga. Porém, deixou uma ponta de esperança, de sonho, agonia para o próxmio Grenal. Uma certa crueldade que o tango tem.
Foi um jogo primoroso, exemplar. Os dois times mostraram o seu melhor, seu potencial, seu jogo. No primeiro tempo, o máximo que o Inter pode fazer. Marcar, tirar espaço, especular uma bola, um lance. Tentou duas vezes. A bola aérea. Não consegue trocar passes. Se avança um pouco, revela toda a fragilidade e insuficiência técnica. O Inter é aplicado. Só! O segundo foi do Grêmio. Todo seu repertório apareceu. A posse de bola, o tempo, o espaço onde flutuou soberano, a movimentação ordenada, pensada, estruturada. Sólido, consistente, objetivo e poético. Foi o enfrentamento do conceito moderno de futebol contra o arcaico. O Grêmio saiu do Rio Grande do Sul. Fugiu da 'pegada', da bola para centroavante cabecear, do jogo ríspido, fechado e que explora um atacanrte de velocidade. O Inter está preso nas raízes gaúchas, o futebol do Texas, como diz o corneta RW, nem lembra que já teve um Falcão e um Carpegiani para orientar ao jogo. O 3 a 0 não refletiu a imensa diferença entre os dois. Ela é maior, é abissal. O Grêmio se credencia ao outro título da Libertadores. Enquanto que que o Inter vai lutar para evitar o rebaixamento.  Isto é o agora. Há o imprevisível, o inexplicável, o acaso. Esta é a tábua de salvação dos colorados.
Final do jogo. Me vi na Espanha, numa tourada. Touros e toureiros. O grito de olé dos espectadores. O Grêmio colocou o Inter na roda. A bola ia, voltava, retornava, atravessava o campo, de pé em pé. de gremistas tranquilos, felizes, hábeis, serenos, seguros feito toureiro. Os jogadores  do Inter corriam, perplexos, perdidos, sem noção, feito touros tontos numa arena. E, eu do meu sofá, lembrei de Lamartine Babo: 'eu fui as touradas de Madri...' Olé!!!



quinta-feira, 15 de março de 2018

D10S!!


"Não diga que a vitória está perdida. Tenha fé em Deus, tenha fé na vida."
Assim como Raul Seixas, a torcida do Barcelona não perde a fé em Deus. Ela sabe que Messi é capaz de tudo.


Mauro Pandolfi

Pouco, quase nada, vi do jogo. A internet travou, parou, a tela escureceu, o jogo sumiu. Deu tempo de ver o primeiro gol. A tabela, a bola tocada, o domínio, o chute rasteiro, seco, preciso de pé direito de Lionel Messi. O ótimo Courtois não acreditou no lance. Parecia impossível um gol de pé direito de Messi, da linha de fundo, sem ângulo. A bola, caprichosa, passou entre as pernas do goleiraço. Não existe impossível para o 'D10S'. Courtois descobriu isto. Eu, também!
Hoje, de manhã, vi o teipe de jogo. Sem a emoção da partida ao vivo. Sem torcer. Vibrei em algumas jogadas. Tentei ser racional. Li sobre o jogo. Sabia o que aconteceu. Os adjetivos já estavam colocados. Não precisa nenhum novo. O que mais gostei foi 'colossal'. Há tempos que não lia esta palavra. Define bem a atuação. Registra com perfeição o que Messi fez no jogo. 'Destruiu!' foi o melhor verbo usado. Sintético. Messi estava leve, radiante, feliz. Dizem que era em homenagem ao filho recém nascido. Acredito! O dia mais feliz da minha vida foi quando André nasceu. Fiquei leve, eufórico, completo. Lionel estava assim. Tudo parecia tão fácil para ele. E, é! A bola adora os pés de Messi. O motivo? Não sei! Talvez, porque antes de ser Messi, ele é Lionel, o 'chico' que brincava feliz em Rosário. A bola reconhece os anjos, os sábios, os meninos. Isto explica Pelé, Garrincha e Messi.
Só Stephen Hawking entendeu o espaço e o tempo como Messi. O primeiro gol deve ter saído da prancheta de Hawking. A relação perfeita entre o espaço e o tempo.
essi não desperdiça um centímetro. Ocupa todo o espaço possível. Às vezes, inventa. Não há um segundo a mais em um lance de Messi. Preciso! Parece jogar com um relógio quântico, enquanto os outros jogam com ampulheta. Isto faz a diferença.
'D10S' é uma expressão do jornal Sport da Catalunha. Não há nada mais a dizer.. Lionel Messi, para provocar os nostálgicos conservadores da bola, para ver Pelé, já necessita olhar para trás.

sábado, 10 de março de 2018

Jogo perfeito



"Como a senhora explicaria a um menino o que é felicidade?
Não explicaria. Daria uma bola para que ele jogasse..."
Só uma teóloga, como Dorothee Solle, para entender a semelhança entre uma bola e Deus. Entre a fé e a paixão. A perfeição os une.

Mauro Pandolfi

A bola é bela. Elegante em sua forma esférica. Divina como a fé de seus apaixonados. Primorosa no seu desenho mágico. Não há lados, nem ângulos, muito menos arestas. Voa, pula, corre. Lírica, poética, lúdica.  Flutua como sonho, esperança, desejo. A bola é perfeita num jogo mais do que perfeito de tão imperfeito que é. O futebol deveria ser um adjetivo de vida. Em um estádio está tudo lá o que chamam de vida. Desde a dor até a alegria, do ódio ao amor.  A bola é precisa. O futebol não é preciso. A beleza do jogo não está só no sublime. O acaso o torna extraordinário. O improvável, o mais fraco, os perdedores podem vencer.. Mas, então, qual a necessidade de uma equipe perfeita, sem erros, avassaladora? É só um delírio do torcedor e do comentarista. Eles nunca perdem um jogo.
Poucas equipes estiveram tão perto da perfeição como a Holanda de 1974. Inventada pelo mais genial dos treinadores, Rinus Michels, foi chamada de 'Futebol Total'.   "Trabalhei com eles durante três meses. Eu os motivei e passei a forma básica do funcionamento da equipe, baseada no conceito de ocupar todo o campo, ganhando a bola do rival mais próximo da trave dele, produzindo rapidamente o ataque com homens necessários, sem distinguir o número da camiseta, e logicamente, fazendo as mudanças necessárias. os jogadores entenderam, deu resultados e vocês, jornalista, definiram como futebol total" , explicou Michels. O 'comum' muito bem jogado da Alemanha atropelou a revolução. Os fragmentos da Holanda sobrevivem até hoje.
O torcedor deseja a vitória. O apaixonado suspira por um drible, um passe, um golaço. O comentarista esportivo sonha com a perfeição. Há tantos jogos envolventes, de placares díspares, de muito ataque, muito envolvimento, vibrante, e o que é 'pago para dar opinião' resume: 'é emocionante. Mas, não é um bom jogo tecnicamente!'. Que raios é um jogo 'bom tecnicamente' que o jornalista almeja? Alguns dizem que o jogo perfeito é o 0 a 0. Defensivamente, sim! E, os gols, como ficam? . A beleza do futebol está no desenho tático, nos dribles, a improvisação, nos gols, nas defesas . A perfeição do jogo é a emoção que produz. O encantamento que causa. A tristeza que provoca. É o que se pode chamar de vida. É o que permite sonhar, recomeçar, continuar, viver, desejar, torcer outra vez.
Pelé continua, para muitos que amam a bola, a melhor definição de futebol. Marcou mais de mil gols, ganhou todos títulos possíveis, é o Rei. No entanto, seus lances mais lembrados são 'erros'. O chute lá do meio do campo, contra a Tchecosloivaquia, e o desespero do goleiro Viktor são imagens marcantes. Virou referência aos 'mortais'. Tantos fizeram o gol que Pelé não fez. O drible em Mazurkiewisc, a defesa esplendorosa de Banks, imagens eternas, vinhetas de programas esportivos, erros mais do que perfeitos. A perfeição é um engano doloroso. Tanto no futebol, como na vida.

terça-feira, 6 de março de 2018

O colibri de chuteiras


Chiko Kuneski

“Somente três coisas param no ar: helicóptero, beija-flor e Dadá Maravilha.” Frase irônica de um dos grandes, se não um dos maiores, atacantes do Brasil, Dadá Maravilha.

Dadá brincou com seus gols de cabeça na década de 70. Não podia prever que no século XXI um português também voaria com asas de colibri nos gramados do mundo. O corpo flutua em linha reta no ar e para. Os olhos atentos sobre a cabeça do zagueiro. A mira no gol. O radar na bola. A imagem parece congelar, a dele pelo menos, em pleno ar parado longilíneo, esperando.

Tudo ao seu redor se move. Ele não mais. Somente os olhos, um de radar; outo de mira, certeira. As chuteiras de colibri aceleram. Mantem o corpo, mantém os olhos, mantém a cabeça erguida. Segundos. Para a cabeça ir de encontro à bola e a bola ir de encontro às redes. Implacável. O corpo pousa já com braços erguidos. Dessa vez, nem mesmo olhou para o plasma do placar do estádio.

Cristiano Ronaldo, ou CR7, afinal o marketing é fundamental para o futebol do século XXI, sabia que ali a batalha contra o PSG estava ganha. O ídolo de plasma materializou-se na plenitude da leveza do voo. Parou no ar. Tirou o ar. O guerreiro rompedor de defesas achou a leveza do ser, fez-se colibri de chuteiras.

O teatro de grama e paixão

 

"A vida é uma peça de teatro que não admite ensaios. Por isso cante, ria, dance, chore, viva intensamente cada momento de sua vida, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos".
Charles Chaplin brincou com a bola em O Grande Ditador e encantou a alma, a mesma que 'sofre' com o futebol, como poucos.

Mauro Pandolfi

O futebol é o teatro de grama e paixão. Lá é 'encenado' a ópera da vida. A dor e a alegria. O encantamento e a desilusão. O desespero e a esperança. O exagero e a felicidade. Angústia e êxtase.Os conflitos tribais que terminam em festa ou em drama. A morte é um personagem que se tornou corriqueiro no 'teatro'. Em conflitos de imbecis fantasiados, organizados em células fascistoides, que guerreiam por cores, nomes e muita estupidez. As tragédias coletivas, como a da Chapecoense e do Manchester United, ou as individuais, como as mortes de Serginho e Davide Astori, tornam humanos os 'deuses da bola'. A dor é repartidas entre todos os amantes, os personagens, os atores do teatro, revelando algo perdido, esquecido, desconhecido: a solidariedade.
O futebol é um jogo de amigos. Pode ser jogado no maior estádio do mundo, no mais moderno, assistido por milhões de pessoas. Pode ser jogado num terreno baldio, com traves feitas com tijolos, sem ninguém olhando. Sempre será, disputa de títulos ou uma pelada, um jogo de amigos. A carta  de Riccardo Saponara, jogador da Fiorentina,  publicada nas redes sociais, lembrando dos momentos vividos com o capitão Davide Astori, encontrado morto na manhã de domingo, é um exemplo da amizade de quem corre atrás da bola, do jogo da vida. Aliás, futebol é um sinônimo de vida. É emocionante, carinhoso e sublime o texto.
"Meu capitão. Por que você não veio tomar café de manhã com todos nós? Por que você não veio beber seu suco de laranja habitual? Agora ele nos dirão que a vida segue, que teremos que olhar para frente e nos levantar, mas qual será o seu sabor? Quem chegará todas as manhãs na cafeteria para aquecer o ambiente com aquele sorriso? Quem nos perguntará curioso o que fizemos na noite anterior para rir? Quem vai repreender os mais jovens e quem fará os experientes serem mais responsáveis? Quem formará o círculo dos 'dois toques' em campo? Com quem vamos debater os episódios do Masterchef, restaurantes florentinos, séries de tevês? Sobre quem apoiarei meu ombro no almoço após um treino cansativo? Volte!"