"A
carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião
em queda, mas que a gente sabe que um dia vai estabilizar."
Não sei qual é o time de Martha Medeiros. Torço que a frase fale sobre o Grêmio.
Mauro Antônio Pandolfi
Solidão!
Duas
da manhã. O sono nem chegou. Escuto pelo you tube os gremistas
comentando a partida, a derrota, o desespero, a segunda divisão batendo
na porta e, para ficar mais irritado, a diversão dos colorados. Há
semanas que as minhas noites, após os jogos do Gremio, tem este roteiro.
Começa com a raiva, passa pelos impropérios, flutua na tristeza e
termina na insônia, Descobri, neste momento 'terrível', que o futebol
ainda mexe comigo. Que a beleza poética do jogo embala os meus enganos,
equívocos, a minha tristeza, as frustrações, a esperança. Busco na
memória a frase de José Saramago que me ajudou no outro rebaixamento
tricolor: 'O lado ruim das vitórias é que elas não são eternas. O lado bom
das derrotas é que não são para sempre'. Assim vou vivendo, curtido de
'soledad'...
Queda!
O meu coração tricolor ainda pulsa. Bem
suave. Quase inaudível. Mexe nos meus pensares, nos escritos, nas
conversas, onde o Grêmio se perdeu. Em que momento, ou, quais momentos,
que a roda da vida girou? Na soberba das vitórias, na arrogância do
Renato, na complexidade do jogo (trocamos o xadrez tão bem arquitetado
por Roger de 2016 e 2017 pelo jogo de damas tão simplório de Renato de
19 e 20?), na incompetência passiva da direção, no olhar amador de
Romildo Bolzan sobre futebol? O Grêmio se enamorou de seus títulos, de
seu status de novo rico, que negaceou a realidade, vivendo num sonho que tropeçou na ilusão.
Foram
tantos os erros em contratações caras, dispendiosas, sem resultados,
indolência e fragilidade tática e física e não percebemos que as
vitórias eram conquistadas pela individualidade de Éverton e Pepe (nunca
jogaram juntos!), ou lance genial, cada dia mais raro, de Jean
Pierre. O Grêmio definhou, se desestruturou, tornou um arremedo de 16,
17 e nada foi feito. Renato estava lambuzado nas conquistas, em seus
sonhos de Flamengo e Seleção, nada fez. Parecia acreditar no encanto
de suas palavras mágicas, nos delírios de melhor futebol do Brasil, no
'meu grupo' capaz de vitórias impossíveis (nunca vou esquecer as
goleadas que machucaram o meu frágil coração tricolor: o 'quinteto
irreverente' do Flamengo e o 'quatrilho' do Santos), sua deificação como
mito e estátua.
Quando
jovem, em outro século, pensei em estudar psicologia ou, de
preferência, psicanálise. Li furtivamente Freud, Reich, Foucault (o meu
preferido) e Guatarri. Quase nada de Deleuze e dos modernos
psicanalistas franceses. Mas, não perdi a mania do olhar psíquico,
mental, comportamental dos fatos, das pessoas, da vida. Sou quase um
charlatão. Tendo entender o Grêmio, sua história, seus tempos áureos,
seus ciclos perdedores, pela ausência ou 'luto' tardio. Os três maiores
treinadores do Grêmio foram Osvaldo Rolla, Luís Felipe e Renato
Portallupi. Osvaldo Rolla ganhou doze títulos em treze anos e foi mandado
embora em 67, sem despedidas, uma demissão normal. De 69 a 76, o Inter
dominou. Em 76, tentando evitar o octa, o Grêmio buscou Osvaldo Rolla.
Durou pouco tempo. Dois ou três meses. O que era moderno em 61, 62,
tornou-se anacrônico em 76. Foi a sua despedida. 'O luto' reverenciado.
Em 77, André Catimba libertou o Grêmio.
Com
Felipão a mesma coisa. Saiu sem dizer adeus e logo em seguida, o Grêmio
foi rebaixado pela primeira vez. Só em 16, com Roger e depois Renato, o
Grêmio voltou ganhar títulos importantes. A Batalha dos Aflitos não
conta. É só uma epopéia, nada mais. Renato foi mandado embora, sem
despedidas, sem 'luto'. Felipão voltou e já foi. Desta vez, ganhou
homenagens e o 'luto', de certa maneira, 'curtido'. Falta o de Renato. Sem
'o luto' de Renato, o Grêmio escapa do tri rebaixamento? Ainda bem que
sou somente um charlatão!
Silêncio!
Nove
da manhã. Elaine já saiu para trabalhar e os meninos ainda dormem.
Estou sozinho. Divido o meu café com o silêncio, os pensamentos, a
melancolia, a tristeza. Olho pela janela e vejo um menino desfilando a
linda camiseta das três cores. Sorrio, com vontade de falar com ele, mas
fiquei calado. Pego o celular e vou ao Youtube e descubro que
Wagner Mancini é o novo treinador e que o tresloucado Denis Abrahão
(brigou a socos com Danrlei lá por 96. Apanhou!) é o cartola do
futebol. Entendi que a velha frase do Tiririca é uma farsa. O pior
sempre dá um jeito de piorar. No entanto, descobri uma frase de Paulo
Coelho, pode ser um sopro: "Existem momento na vida que a única
alternativa é perder o controle".
À
noite, vou assistir um jogo da série B. É para me acostumar. Afinal,
não creio em milagres e nem em bruxas. Aqui não é a Espanha.
Infelizmente.
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