Vanguarda do atraso

 

Mauro Pandolfi

27 de janeiro. A data marcada para o confronto. Não é um duelo. Duelo pressupõe rivais. É mais um embate. A ideia de um novo, nem tão ousado, versus o anacronismo. A Primeira Liga definiu o dia para rodada inicial da Copa Sul, Minas, Rio. A CBF garante que isto não acontecerá. O futebol brasileiro precisa ser construído. Mas, já é ruína. Façam suas apostas. Eu jogo tudo no empate. Os jogos acontecerão, a Liga sobreviverá e a CBF resistirá para sempre. Afinal, o Brasil é a vanguarda do atraso.

A Federação Carioca ameaça Flamengo e Fluminense caso participem da competição.  Vai além, disse que recorrerá a CBF e a FIFA e pedirá  desfiliação dos clubes. Gostaria que resistissem, pagassem para ver até onde vai a  federação, apoiada pelos novos pequenos Vasco e Botafogo (eles correm o risco da grandeza ficar na história. E, só lá!). O que significa desfiliar o Flamengo? Se isto acontecer, a entidade acaba. O sistema que sustenta o futebol não enfrentará a maior torcida do Brasil, o signo do futebol. Torço pelas duas coisas. Desfiliação e resistência.  Continuo apostando no empate. Nada acontecerá.  O conchavo é mais que um conceito neste país.  É regra. Olhe o que acontece com o governo de coalizão..

A melhor  frase da semana foi do presidente do Cruzeiro, Gilvan Pinheiro, sobre a CBF. "O torneio vai ser jogado, com ou sem consentimento. Esperamos que a entidade honre o acordo feito e também tenha posição mais positiva para a moralização do futebol brasileiro. A CBF não está em condições de exigir nada. Se estivesse, não teria um ex-presidente preso e o atual sem condições de sair do país", afirmou ele. Foi uma resposta a Walter Feldman, o secretário geral. Figura curiosa, este Feldman. Já gostou do verde do meio ambiente (foi do PV. Afinal, o que significa PV?), tentou embalar-se na rede de Marina Silva e se rendeu as verdinhas americanas, tão ao gosto dos cartolas. Também, fico com empate nesta disputa. Os clubes pertencem a mesma estrutura que gerou as federações. É necessário uma revolução. No entanto, quem acredita em revolução? .

O futebol repete a estrutura do país. Com Getúlio Vargas, as federações se organizaram, sistematizaram o controle do futebol. Se impuseram politicamente,. parasitam o jogo da bola. Há cartolas de todas as espécies.  Militares, funcionários públicos, políticos, aposentados, picaretas. Quase nenhum que gosta de bola. De futebol, estou falando. A última excrescência é o coronel Nunes. Um medíocre presidente de federação que ganha R$ 15 mil mensais da Bolsa Ditadura. Aliás, Nunes nunca desafiou o regime. Apenas, uma única vez, contestou uma ordem. Nunca pensei que combater a ditadura fosse um investimento para o futuro.Em todo o caso, fico com a frase do Millôr Fernandes: "desconfio dos idealistas que ganham dinheiro com seu idealismo". Eu também!