Mauro Pandolfi
Magos
do mesmo espaço. Nunca se encontraram .O tempo não deixou. Sempre se
entenderam. Foram
reis. Um, admirado em preto e branco. O outro, via satélite. São
pequenos. Foram
gigantes. Brilharam, conquistaram o mundo, viraram mitos. Sinônimos de
arte (eu nem gosto desta expressão!) Símbolos de um jeito de jogar bola.
Inteligência e movimentação. O fato de serem aquarianos talvez explique
a
genialidade. Um jogou pouco, parou aos 26 anos. O outro, desafiou o
tempo. Passou dos 40.Tostão e Romário são mais que centroavantes. São
deuses da bola. Com Reinaldo
formam a trindade dos goleadores nascidos em janeiro (Reinaldo, dia 11; Tostão, 25; e Romário, 29). Uma espécie de
clube da esquina. Não há muitos sócios nesta entidade. Careca,
Batistuta, Marco Van Baste, Ronaldo - nenhum aquariano - frequentam o
clube.
1969.
A bola amenizava a dor no país. Ou, a distraía. Sala de minha casa. A
tevê, com uma placa azul na frente, cheia de chiado, mostra um jogo. Sou
apenas um guri de nove anos. Estou ansioso. É o Brasil em campo. Tem
Pelé! Mas, não era ele que me interessava. Era Tostão!. "Se eu fosse
Pelé, tomava café. Se fosse Tostão, tirava o calção", cantávamos nos
recreios da escola. Me impressionava a habilidade, o controle da bola,
os gols que tentava repetir nas minhas peladas e na imaginação. Tostão
foi fundamental no México. Tão inteligente, que desarticulava defesas
com a sua movimentação. Queres conhecer Tostão? Há um filme, de 1969,
que o revela por inteiro: 'Tostão, a fera de ouro'. Vale a pena ver!
10
metros. O espaço é quem melhor define Romário. Uma área do tamanho de
guardanapo, tinha a dimensão de um latifúndio. O impossível não existia
para ele. Descobria furos nas retrancas adversárias. Parecia distraído.
Ausente do jogo. Um blasé! De repente, a bola era lançada. Era do
zagueiro. Todos viam isto. Mas, Romário surgia do nada, um toquinho
suave, a bola ia na frente no beque. Desesperado, o goleiro abandonava a
meta. Romário e o gol. De cobertura, com um drible, um jogo de corpo ou
o bico. Romário 'roubou' o bico dos bondes. Deu charme e classe ao
tosco lance. Há jogos inteiros de Romário no you tube com tantas camisas
diferentes. Vale a pena ver de novo!
O
tempo, a dor, o descolamento na retina. A vida foi rápida para Tostão.
Ele saiu de cena. Entrou Eduardo Gonçalves de Andrade. Tornou-se médico,
esqueceu o futebol. Virou um exilado, alguém que tentou superar o
passado. 'Rasgou tudo. Queimou os troféus, as camisas, as glórias.
Rejeita o futebol', espalharam a mitologia por aí. Até que um dia,
surgiu brilhante nos comentários da tevê e dos jornais, um iluminado
analista. Crítico e poético. Alguém que entende a dinâmica da vida e do
tempo. Não é um refém da glória, do passado, do prestígio. Dr Eduardo
cedeu o espaço para Tostão. O mais lúcido articulista do jornalismo
esportivo. Queres entender o futebol? Leia Tostão!
Romário
insistiu. Mudou o jeito de jogar. Virou o dono da grande área. Um
artilheiro mortal. Qualquer vacilo...gol de Romário! Jogou em todos os
grandes cariocas. Parou depois de marcar o gol mil. Uma contagem
duvidosa, cheia de interpretações. Só tem mais credibilidade que a lista
do Túlio. Romário não saiu de cena. Mudou o palco. Virou um deputado
presente, crítico e com bons projetos. Agora, como senador, preside a
CPI da CBF. Já enquadrou Del Nero e fustiga os outros cartolas, como
fazia com os zagueiros. Que Romário faça muitos gols nesta batalha.
Detonar a CBF é uma glória igual a Copa de 1994.
Em
uma coluna, Tostão colocou Romário no seu lugar na Seleção de 70.
"Melhor do que eu", resumiu. Não sei, nunca li, ou ouvi, Romário
comentar isto. Mas, fico pensando, matutando, divagando, se Clodoaldo
não seria um bom zagueiro?
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