Mauro Pandolfi
Era
um menino com cara de anjo, um moleque de cabelos enrolados, feliz com a
bola nos pés. Brincava com ela. Seus dribles eram versos livres,
soltos. E, os gols? Obras de arte! Foi um rei tão mágico, tão elegante,
tão contestador. Um rei rebelde, como são rebeldes todos os guris que
nasceram para jogar bola. Um rei de um povo apaixonado, que gritava em
coro o seu nome. Rei de um tempo distante, perdido no passado,
encontrado nas memórias de quem viu jogar, nos arquivos do you tube.
José Reinaldo de Lima está de aniversário neste 11 de janeiro (59 anos).
Estupendo jogador que disputava o 'trono' com Falcão e Zico. Um
guardanapo era um latifúndio para ele. Hábil e cerebral. "Ei, ei ,ei!
Reinaldo é nosso Rei!". Os gritos da torcida do Galo ainda ecoam quando o
Mineirão fica em silêncio.
O
punho cerrado da revolta. O braço erguido da contestação. A doce
corrida pelo gol. Reinaldo era um inconformista. Rebelde de gestos e
lances. Um atrevido! Tinha prazer em incomodar. O garoto sem meniscos,
sem medo, com talento. Abusado, desafiou a ditadura militar, pediu
eleições diretas, livres e anistia. Tinha um jeito anárquico de ser.
Leitor de Proudhon e Freud criticou o conservadorismo comportamental da
vida brasileira, da família, da imprensa. Um libertário! Reinaldo era
doce e melancólico. Tinha cara de anjo. No futebol, terminou como um
anjo caído
Aos 13 anos foi tirado de um treino após uma sequência de dribles em
zagueiro titular do Atlético. Medo da violência. Violência que o abateu
aos 15 (operou um joelho), aos 16 (cirurgia em outro joelho), sempre
bateram nele. Reinaldo não resistiu aos pontapés, as dores insuportáveis
nos joelhos. Jogou em alto nível até os 27 anos. Depois, perambulou
mais sete anos por aí. Era só uma lembrança do Rei.
Tornou-se
político nos anos 80. Um parlamentar comum, sem expressão. Tentou ser
técnico. Não conseguiu. Sumiu. Parecia um exílio. Até ser preso, acusado
de tráfico. Foi driblado pela vida. Não sei onde anda Reinaldo. O que
faz? Quem é hoje? No dia que escolhem o melhor do mundo, eu lembro dele.
Estou triste. Era um jogador para o planeta, para sempre, eterno. Não
foi! Guardo na memória o mais fantástico centroavante que vi jogar.
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