Chiko Kuneski
- E ai? Estás gostando do novo lugar que fostes
morar?
A pergunta corriqueira
feita para um jovem, franzino, vindo do Nordeste tentar vida nova no sul
maravilha, (ainda existe?), entregador do mercadinho do bairro, talvez para me
mostrar interessado e simpático, teve uma resposta surpreendente.
- Muito melhor do que
onde estava. Tranquilo. Quieto. E já arrumei um lugar no time de futebol do
bairro.
Ao me contar a novidade
tinha um brilho intenso no olhar. Diferente do opaco de há duas semanas,
quando, triste, cabisbaixo, me confidenciou quase em sussurros de medo que a
tia e a família estavam sendo expulsas de outra localidade por marginais.
Era mudar ou morrer.
Era a violência urbana dentro na minha casa narrada por um quase menino, já sem
os dentes da frente, e, mesmo com sonhos aparentemente destroçados, de uma
educação e simpatia cativantes.
- E que posição vais
jogar?
- Gosto de ser
zagueiro, mas...(agora notei uma timidez maior que a primeira vez que me
entregou compras e mal falava) sou baixo.
- Zagueiro baixo no
atual futebol não funciona. Brinquei.
- Pois é! Como sou
rápido me colocaram como atacante. Mas o que importa é jogar futebol. Vou jogar
com meu irmão, bom no meio. A gente fez presença e o “dono do time” nos escolheu.
Falava com uma alegria
que fazia tempo não via sair da boca de um jovem. Mostrava uma ligeira
ansiedade pelo fim de semana. O primeiro quando trocaria o medo da violência
urbana pelo prazer pleno de jogar futebol.
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