sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O prazer do futebol e o futebol do prazer

Chiko Kuneski

- E ai? Estás gostando do novo lugar que fostes morar?

A pergunta corriqueira feita para um jovem, franzino, vindo do Nordeste tentar vida nova no sul maravilha, (ainda existe?), entregador do mercadinho do bairro, talvez para me mostrar interessado e simpático, teve uma resposta surpreendente.

- Muito melhor do que onde estava. Tranquilo. Quieto. E já arrumei um lugar no time de futebol do bairro.

Ao me contar a novidade tinha um brilho intenso no olhar. Diferente do opaco de há duas semanas, quando, triste, cabisbaixo, me confidenciou quase em sussurros de medo que a tia e a família estavam sendo expulsas de outra localidade por marginais.

Era mudar ou morrer. Era a violência urbana dentro na minha casa narrada por um quase menino, já sem os dentes da frente, e, mesmo com sonhos aparentemente destroçados, de uma educação e simpatia cativantes.

- E que posição vais jogar?

- Gosto de ser zagueiro, mas...(agora notei uma timidez maior que a primeira vez que me entregou compras e mal falava) sou baixo.

- Zagueiro baixo no atual futebol não funciona. Brinquei.

- Pois é! Como sou rápido me colocaram como atacante. Mas o que importa é jogar futebol. Vou jogar com meu irmão, bom no meio. A gente fez presença e o “dono do time” nos escolheu.


Falava com uma alegria que fazia tempo não via sair da boca de um jovem. Mostrava uma ligeira ansiedade pelo fim de semana. O primeiro quando trocaria o medo da violência urbana pelo prazer pleno de jogar futebol. 

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