terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Estranho no ninho



Mauro Pandolfi

A  tabela é um lance forjado na rua. Artimanha para escapar dos carros e buracos. E foi um lance assim que deu a Wendell Lira seus quinze minutos de fama. Uma jogada rápida. Cercado, ele toca para Da Mata e procura o vazio. Da Mata domina com o pé direito. Com o esquerdo encobre a zaga. A  bola vai alta, ligeira. Wendell corre, passa da bola e, num átimo, lança o corpo no ar. Preciso! Feito um Van Damme acerta a bola e entra para a história. Igual a um gol de Neymar no playstation. O começo da glória de Wendell. Saiu do anonimato e. ganhou o premio Puskas. Virou estrela entre as estrelas. Tudo tão lírico, que parece um filme. O mesmo sonho de Rocky, o lutador. O perdedor, o comum que tem chance de conquistar o mundo. Wendell conseguiu  o que todo jogador de time pequeno, de final de semana, de um guri deseja: estar ao lado dos ídolos. É a magia do futebol. É o marketing do que o impossível não existe. Que o imaginário do videogame pode ser real. Eu posso ser o Messi. Quem disse que não?
A fé não costuma falhar já ensinou Gilberto Gil. Wendell é um homem de profunda fé.  Intensa fé! Usa a Bíblia como conselheira, auto ajuda, um escudo. Sempre soube que algo de bom estava reservado. A carreira é igual aos milhares que jogam futebol neste país. A doce ilusão que brilha nos olhos dos meninos. A dura realidade que mata a maioria dos sonhos. Passou por vários times, a maioria inexpressivos. E, foi num campeonato quase clandestino que ele reencontrou a esperança. Alguém da Fifa se encantou com a acrobacia lírica de Wendell. Entrou na lista e foi escolhido. Ganhou! Talvez, a primeira grande vitória no futebol.
Wendell Lira não ficou intimidado na festa. Não se escondeu dos grandes. Era um deles. Por instantes, foi tão reverenciado como a turma de Messi. A realidade era mágica, diferente do dia a dia. A luta é a sua parceira constante. Que a  vida é cheia de Davis. Enfrenta os seus Golias todos os dias. Wendell Lira é um deles. E, foi a história bíblica que usou para explicar a sua conquista. Wendell não é uma vítima do futebol brasileiro. É o retrato! Como ele, milhares trabalham três ou quatro meses por ano. "Trabalho muito e ganho muito pouco!", contou em uma entrevista. O prêmio Puskas é a sua porta da esperança. Boa sorte!
A Bola de Ouro é de Lionel Messi. Todos sabiam. A quinta!  Ele já olha para o lado para ver Pelé.

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