Chiko Kuneski
Alquebrado, joelhos
inchados, tornozelos sempre doloridos, dedos que mal fechavam nas palmas das
mãos e que e dificultavam o laço das chuteiras, calçadas a um custo que somente
a paixão explica, seguia o ritual. Cedo, entrava em campo.
Passos lentos. Já não
tinha mais a velocidade dos jogos. Tentava deixa-los firmes, mas os infiltrados
joelhos não obedeciam. Quase que perambulava sob o céu, às vezes de sol
escaldante, às vezes da chibata da chuva. O inimigo não era o clima.
O maior castigo era o
silêncio. As arquibancadas vazias. As traves sem véus. As linhas apagadas. Como
sua história. Ninguém lembrava dele. Os garotos da escolinha olhavam apenas,
sem imaginar sua gloria. Tinham os sonhos da fama, do deslumbre.
Mesmo assim tentava
parecer viçoso. Ainda acreditava na descoberta de alguma chuteira com asas, do
talento do drible, da fantasia do prazer de jogar. Precisava crer. Apenas as
lembranças e essa crença o mantinham alí. Até que virasse um shopping center.
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