domingo, 13 de dezembro de 2015

O vazio do campo

Chiko Kuneski

Alquebrado, joelhos inchados, tornozelos sempre doloridos, dedos que mal fechavam nas palmas das mãos e que e dificultavam o laço das chuteiras, calçadas a um custo que somente a paixão explica, seguia o ritual. Cedo, entrava em campo.

Passos lentos. Já não tinha mais a velocidade dos jogos. Tentava deixa-los firmes, mas os infiltrados joelhos não obedeciam. Quase que perambulava sob o céu, às vezes de sol escaldante, às vezes da chibata da chuva. O inimigo não era o clima.

O maior castigo era o silêncio. As arquibancadas vazias. As traves sem véus. As linhas apagadas. Como sua história. Ninguém lembrava dele. Os garotos da escolinha olhavam apenas, sem imaginar sua gloria. Tinham os sonhos da fama, do deslumbre.


Mesmo assim tentava parecer viçoso. Ainda acreditava na descoberta de alguma chuteira com asas, do talento do drible, da fantasia do prazer de jogar. Precisava crer. Apenas as lembranças e essa crença o mantinham alí. Até que virasse um shopping center.

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