Mauro Pandolfi
A
bola escapa para a linha de fundo. O tempo vira ilusão. Os olhares são
de desespero. Atônitos e perplexos. As mãos juntas, entrelaçadas, oram
por um milagre, um descuido, um acidente. A bola volta ao campo. O
árbitro junta as mãos, ergue-as e assopra o apito. Fim da agonia. O
choro libera o desespero e a angústia. Não há o que fazer. Gritar,
espernear, xingar. É só catarse. Nada mais! O rebaixamento é um túnel
sem sinal de luz. Há só sombras, que se movem na escuridão. São
fantasmas? Zumbis? O futebol não é walking dead. É um jogo de vida. A
'morte' no futebol é só o recomeço da vida.
Há
um bom tempo, num encontro do pessoal que cursou História, meu querido
amigo Daniel, que partiu antes do combinado, questionou-me sobre o
rebaixamento. "O que sentiste quando o Grêmio caiu?", perguntou. 'Nada',
respondi. Daniel tomou um gole de conhaque e explicou: "Eu estou
nervoso, triste, quase deprimido com aqueda do Vasco. Nada do que faço
dá certo. Estou sem paciência". Tentei conformá-lo, dizendo que a
segunda divisão é maravilhosa. "Seu Vasco vai vencer mais do que perder.
Será campeão!' E, foi!
Fui
embora caminhando, pensando no temor do Daniel. Então, percebi. Futebol
é um pouco mais que nada. É só a vida. Lembrei-me do Grêmio na segunda.
Como foi dolorido aquele ano. Triste e pesado. Fiquei insatisfeito,
reclamão, brigava por qualquer coisa, qualquer motivo. Foi instintiva
tristeza. Não tinha percebido a magia e a 'desgraça' do futebol. Nunca
entendi o que aconteceu. A Batalha dos Aflitos me libertou. A vida volto
u. E, fiquei com medo do futebol. Adoro a poesia do jogo. Mas, estou
atento ao lado nefasto, perigoso. Afinal, Batalha dos Aflitos é só uma.
Não
vi os vizinhos do andar de baixo. Domingo, após a rodada, o apartamento
estava silencioso, escuro, triste como a queda do Vasco. A segunda
divisão é só um recomeço. Dolorido. Mas, é inevitável. Títulos,
rebaixamentos, vitórias, derrotas passam, são passageiros. A única coisa
eterna no futebol é a emoção, a vida. Afinal é um teatro de grama e
paixão.
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