Mauro Pandolfi
O
Barcelona me lembrou Lages. Sei que o Copacabana é tão charmoso como a
Catalunha. Já o Vermelhão é uma quase miragem do Camp Nou. É o jogo da
turma de Messi que me levou no tempo. Feliz, alegre, lúdico. Idêntico
aquele da gurizada da rua Irmã Laurinda nos anos 70. Futebol como
prazer, brincadeira, festa. A amizade era mais importante que o
resultado. Brincar, melhor que vencer. Amigos de sair abraçados,
parceiros das festinhas, ombros nos momentos ruins. Éramos assim! Este é
o segredo do time de Messi. Não é só a maravilha do jogo. Passa também
pelo talento dos craques. Mas, é um encontro de ótimos amigos. Como se
procuram durante o jogo. Não gritam um com o outro. Não resmungam pela
bola não passada. Depois da vitória, com a taça, divertiram-se,
abraçaram-se, trocaram carinhos entre eles. A melhor definição para este
Barcelona: bons amigos futebol clube!
Messi
foi menos que Messi. Foi só genial! Neymar é um menino com 'asas nas
chuteiras'. Suarez é sinônimo de gol. Jogo bem jogado, bonito,
elaborado, inventivo. Não há novidade no Barcelona. No entanto, o
futebol é um engano. Uma doce ilusão do que é, do que foi, do que poderá
ser. Estou perplexo com jornalistas esportivos brasileiros comentando a
partida. Tirando os equívocos, as gafes, as desinformações de sempre,
não entenderam o que aconteceu no jogo e, muito menos, o 7 a 1. Ainda
acham que o futebol sul-americano é parelho com o europeu. As exceções,
segundo eles, são Barcelona, Bayern e Real Madrid. Tirando os gigantes,
tudo igual. Mistificamos tudo. Vivemos uma imensa fantasia. O futebol é
uma delas. A política, é outra. Somos reféns de velhos conceitos
anacrônicos. Mas...vamos lá tocando a bola!
Quem
são os equivalentes a River, Boca, Corinthians, Inter, Grêmio,
Cruzeiro, Flamengo na Europa? Os gigantes! Somos páreos para eles? Não!
Ou somos parceiros do Levante, Hannover ou Sassuolo? Jogamos pau a pau
com eles? Tenho dúvidas! Nos acostumamos a um futebol pobre, envelhecido
e chato. "O River fez uma grande partida, jogou no limite", repetem os
jornalistas. Foi medíocre. Como é medíocre o futebol daqui e um pouco
mais abaixo. Jogamos por uma bola, por um pontinho, uma falha do
goleiro, quem sabe, nos pênaltis. E as semifinais? Vitórias apertadas,
com gol chorado, encontrado. Sem esquecer os fiascos. Viva o 'todo
poderoso' Mazembe! Tentamos ser um espelho, aprendemos via tubo. Porém,
no enfrentamento nos entregamos. Não temos ousadia, força, coragem,
estruturação tática. Estamos muito distantes dos europeus. Não sei se a
medida é por quilômetros ou por tempo. Eu prefiro tempo. Nós estamos
ainda no século vinte. Eles...
Uma
tergiversação dos jornalistas. O Barcelona tinha seis sul-americanos.
E, daí? Ele jogam lá, são intensos lá, são decisivos lá. Qual grande
jogador sul-americano que atua na Europa repete o desempenho em sua
seleção? Tirando Vidal do Chile, nenhum! Messi é odiado. Neymar tem o
talento posto em dúvida. Qual o motivo? O jogo, os treinamentos, a
estrutura, o pensar. Daniel Alves passou por Dunga, Felipão, Mano
Meneses e nunca foi o do Barcelona. Aqui, tratam como um lateral dos
anos 80. Nunca entenderam que é um meia, que joga pelo lado, defendendo,
armando, atacando. O 7 a 1 será eterno. Nunca entenderemos. 'Foi só um
apagão'. O futebol brasileiro parou no tempo. É hora de recolher os
cacos, entender o que passou, aprender, estudar. Isto vale para todos
que vivenciam o futebol. Momento de uma revolução. E, os jornalistas não
estão fora disto. Precisam reformar os conceitos, as análises e a
linguagem. Ou, vão eternamente achar que uma coisa é uma coisa; outra
coisa é outra coisa.
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