sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O goleiro do gol

Mauro Pandolfi

O medo do goleiro diante do pênalti.  São onze metros para um 'fuzilamento'. Ele está sozinho. A rede não o protege. A rede espera ansiosa a bola. É um lance de olhares. De um predador. De uma vítima. Preparam-se. O goleiro mede o espaço da trave. Coloca-se no meio. Curva-se levemente. É uma preparação para o voo. O matador acaricia a bola. Caminha alguns passos. Prepara-se. Corre, bate e...! Uma cena banal do futebol. Quase todos os jogos acontecem. Mas, poucos vivem este momento nos dois lados. Rogério Ceni é um deles. Ele marcou mais gols do que defendeu  pênaltis. Não sei se é o melhor goleiro da história do futebol. É o mais fantástico.  Aos 42 anos está dizendo adeus a bola. Que pena!
O maldito. O anti-herói de um lugar que não nasce grama. O goleiro é a negação do futebol. Sempre foi tratado assim. Só é reverenciado nos milagres. É destruído no fracasso. Falhou uma vez e o time perde.  Acabou! Não há uma segunda chance. O centroavante desperdiça o gol. Chuta nas nuvens. Perde uma, duas, três. Aí, aproveita uma falha do goleiro, marca o gol da vitória. É herói. Rogério Ceni modificou a história do gol. Descobriu que o goleiro faz parte do jogo. Que o campo não é apenas a área. E, a trave não é o espaço solitário de um homem.  Inventou, criou, ousou. Virou artilheiro. Primeiro, os pênaltis. Conhece os segredos, os medos, as manias dos goleiros.  Foram poucos pênaltis perdidos. Depois, as faltas. Bolas rápidas, vigorosas, que subiam e  aninhavam na rede. Gols espetaculares. E, pensar que teve treinador que impediu Rogério de cobrar faltas. Um mágico!
Rogério Ceni é articulado e articulador. Líder e dono do vestiário. Enquadrou jogadores, técnicos e cartolas.  A sua personalidade foge do padrão brasileiro. O talento legitima as ações. Os títulos fortalecem o comando. Ele assustou os donos do jogo da Seleção. Nunca foi titular.  Só 17 partidas e pouco mais de quinze minutos numa Copa do Mundo. Mas, tornou-se um mito no São Paulo. Está no panteão dos grandes, ao lado de Yashin, Banks, Mazurkiewski, Buffon.... E, para  um gremista, Danrlei!
Rogério Ceni não é um goleiro que sabe jogar na linha. É um armador que preferiu o gol. Uma saída de bola precisa. Passes milimétricos. "O mais habilidoso dos goleiros", escreveu Tostão na Folha de São Paulo.  Um quase líbero. Esbarrou na mediocridade e covardia dos treinadores brasileiro que não aproveitaram a sua técnica. Deixaram restritos as bolas paradas. Rogério Ceni foi preterido por bons goleiros na Seleção. Normais, comuns, que não acertavam um passe de cinco metros. Rogério Ceni é um artilheiro fabuloso. Marcou mais gols, 131, do que a maioria dos atacantes que jogam no Brasil.  Eu sou fã de Rogério Ceni. O mais moderno jogador  dos últimos tempos.

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