quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O coronel, o fugitivo e o manifesto

 

Mauro Pandolfi

Um dia de fúria! Era assim que eu imaginava 16 de dezembro. .A ocupação da CBF. Jogadores, Imprensa, torcedores tomando a praça. Clubes chegando  ao poder. A entidade caindo feito uma Bastilha. A revolução! Mas....Não sei se sou um idiota ou um sonhador? Nada aconteceu. Os dirigentes de clubes permanecem de quatro diante da CBF. Dos 40 clubes das séries A e B, apenas Avaí, Figueirense Chapecoense votaram contra a eleição do coronel Nunes. Convicção ou lealdade ao outro coronel, Delfim Peixoto? Doze clubes fugiram, ausentaram-se, escaparam da 'revolução'.  O que esperar de Eurico Miranda, Roberto da Nova, Paulo Nobre e outros menos conhecidos? São tão comprometidos com a estrutura canalha, são a própria estrutura, do futebol brasileiro.  A maioria das federações seguiram o 'pai', o chefe, o líder ou o financiador. Só um idiota acreditaria na transformação. E, para seguir o lugar comum, mais um gol da Alemanha!
Nos anos setenta do século passado o futebol era controlado por militares. Brigadeiro, almirante, general, coronel, capitães ocupavam cargos diretivos, funções na comissões técnicas das seleções brasileiras. Na CBD, antigo nome da CBF, até papagaio batia continência. Século 21, um coronel retoma o poder na CBF. E, pelo voto! Uma manobra hábil de Del Nero e Walter Feldman. Nunes é o dono do futebol do Pará. Lá, Remo e Paysandu enchem o Mangueirão nos clássicos. Estão há muito tempo longe da Série A. São clubes endividados e desorganizados. Os demais, inexistentes. São 'profissionais' nos estatutos. Esta é a designação exigida pela FIFA. O campeonato estadual do Pará é uma caravana da miséria, iguais aos outros. Coronel Nunes mantém o poder a base do chicote, do porrete. Este homem comandará o futebol quando Del Nero for preso ou renunciar. Outra vez, gol da Alemanha!
Marco Polo reapareceu. Na CPI da CBF foi muito Del Nero. Esquivo, ligeiro, soturno, cara de pau. Disse que "estava lá para contribuir com alguma coisa. Modestamente, quero contribuir". Garantiu que não viaja com seleção por orientação dos advogados, não por medo de prisão. Aposta que o FBI pode ter provas equivocadas. O senador Romário o chamou de 'corrupto, ladrão e mentiroso'. Del Nero não ficou abalado. Apenas comentou que "eu vou discordar disto tudo". Para ele, na CBF não há corrupção e nem pretende sair da presidência. "Não sou corrupto. Não vou renunciar", confirmou. Marco Polo Del Nero é destes homens que apegam as coisas, ao dinheiro, aos cargos. Por vontade própria, não sai. Precisa ser arrancado, puxado, destituído.
"Por uma nova CBF" é o título do manifesto apoiado por mais de 100 personalidades pedindo a renúncia de Del Nero. Há desde  o grande Tite (que ao assinar abre a mão da seleção brasileira com a escória que comanda o futebol), Bernardinho, Paulo Autuori, Alex, Rai, Fernando Prass, Rogério Ceni, e outros atletas e treinadores. Há artistas, como Chico Buarque, Dan Stulbach, Wagner Moura, Walter Salles. Alguns jornalistas, entre eles Antero Greco, Mauro Cezar Pereira,PVC e Tostão, são signatários do documento. Pelé e Zico assinaram. Estes dois, como ministros do Esportes, tiveram oportunidade de modificar as estruturas do futebol. Com a exceção da lei que acabou com o passe, nada fizeram. E, um punhado de oportunistas de sempre. Não gosto de manifestos. Uma vez, quando adolescente, os pais fizeram um para tirar uma professora que gostava. Sempre tenho dúvida na hora de assinar. Olho com atenção quem deixou a rubrica. Analiso o seu comportamento e a conduta. Discordo de uma 'nova CBF'. Sou a favor da extinção dela, das federações e criação de uma liga. A Seleção Brasileira que fique ao cuidado do Ministério dos Esportes ou de um conselho, como antigo CND. Risco de corrupção, cabide de emprego, nepotismo, aparelhamento? Sei disto! O manifesto é uma bola na trave da Alemanha. Pena que não altera o placar.

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