Mauro Pandolfi
Um
dia de fúria! Era assim que eu imaginava 16 de dezembro. .A ocupação da CBF.
Jogadores, Imprensa, torcedores tomando a praça. Clubes chegando ao
poder. A entidade caindo feito uma Bastilha. A revolução! Mas....Não
sei se sou um idiota ou um sonhador? Nada aconteceu. Os dirigentes de
clubes permanecem de quatro diante da CBF. Dos 40 clubes das séries A e
B, apenas Avaí, Figueirense Chapecoense votaram contra a eleição do
coronel Nunes. Convicção ou lealdade ao outro coronel, Delfim Peixoto?
Doze clubes fugiram, ausentaram-se, escaparam da 'revolução'. O que
esperar de Eurico Miranda, Roberto da Nova, Paulo Nobre e outros menos conhecidos?
São tão comprometidos com a estrutura canalha, são a própria estrutura,
do futebol brasileiro. A maioria das federações seguiram o 'pai', o
chefe, o líder ou o financiador. Só um idiota acreditaria na
transformação. E, para seguir o lugar comum, mais um gol da Alemanha!
Nos
anos setenta do século passado o futebol era controlado por militares.
Brigadeiro, almirante, general, coronel, capitães ocupavam cargos
diretivos, funções na comissões técnicas das seleções brasileiras. Na
CBD, antigo nome da CBF, até papagaio batia continência. Século 21, um
coronel retoma o poder na CBF. E, pelo voto! Uma manobra hábil de Del
Nero e Walter Feldman. Nunes é o dono do futebol do Pará. Lá, Remo e
Paysandu enchem o Mangueirão nos clássicos. Estão há muito tempo
longe da Série A. São clubes endividados e desorganizados. Os demais,
inexistentes. São 'profissionais' nos estatutos. Esta é a designação
exigida pela FIFA. O campeonato estadual do Pará é uma caravana da
miséria, iguais aos outros.
Coronel Nunes mantém o poder a base do chicote, do porrete. Este homem
comandará o futebol quando Del Nero for preso ou renunciar. Outra vez,
gol da Alemanha!
Marco
Polo reapareceu. Na CPI da CBF foi muito Del Nero. Esquivo, ligeiro,
soturno, cara de pau. Disse que "estava lá para contribuir com alguma
coisa. Modestamente, quero contribuir". Garantiu que não viaja com
seleção por orientação dos advogados, não por medo de prisão. Aposta que
o FBI pode ter provas equivocadas. O senador Romário o chamou de
'corrupto, ladrão e mentiroso'. Del Nero não ficou abalado. Apenas
comentou que "eu vou discordar disto tudo". Para ele, na CBF não há
corrupção e nem pretende sair da presidência. "Não sou corrupto. Não vou
renunciar", confirmou. Marco Polo Del Nero é destes homens que apegam
as coisas, ao dinheiro, aos cargos. Por vontade própria, não sai.
Precisa ser arrancado, puxado, destituído.
"Por
uma nova CBF" é o título do manifesto apoiado por mais de 100
personalidades pedindo a renúncia de Del Nero. Há desde o grande Tite
(que ao assinar abre a mão da seleção brasileira com a escória que
comanda o futebol), Bernardinho, Paulo Autuori, Alex, Rai, Fernando
Prass, Rogério Ceni, e outros atletas e treinadores. Há artistas, como
Chico Buarque, Dan Stulbach, Wagner Moura, Walter Salles. Alguns
jornalistas, entre eles Antero Greco, Mauro Cezar Pereira,PVC e Tostão,
são signatários do documento. Pelé e Zico assinaram. Estes dois, como
ministros do Esportes, tiveram oportunidade de modificar as estruturas
do futebol. Com a exceção da lei que acabou com o passe, nada fizeram.
E, um punhado de oportunistas de sempre. Não gosto de manifestos. Uma
vez, quando adolescente, os pais fizeram um para tirar uma professora
que gostava. Sempre tenho dúvida na hora de assinar. Olho com atenção
quem deixou a rubrica. Analiso o seu comportamento e a conduta. Discordo
de uma 'nova CBF'. Sou a favor da extinção dela, das federações e
criação de uma liga. A Seleção Brasileira que fique ao cuidado do
Ministério dos Esportes ou de um conselho, como antigo CND. Risco de
corrupção, cabide de emprego, nepotismo, aparelhamento? Sei disto! O
manifesto é uma bola na trave da Alemanha. Pena que não altera o placar.
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