'Grenal é Grenal!'
Sempre foi assim desde antes do inicio dos tempos e será assim até o fim da eternidade.
Mauro Pandolfi
Foi
como se não tivesse amanhã. O último jogo de nossas vidas com estádio
lotado, gente cantando nas arquibancadas, sorrindo, sofrendo, vibrando
com a bola em jogo. O Grenal contou, revisitou a sua história em pouco
mais de100 minutos. Do brilho do drible, a
emoção do gol perdido, a bola que estoura na trave e a pancadaria que
torcedores adoram contar para quem não viu. Foi assim no Grenal de
Urruzmendi, o genioso uruguaio que acabou com jogo na inauguração do
Beira-Rio. A lenda conta que o goleiro Alberto, do Grêmio, e o meia
Dorinho, do Inter, ficaram lado a lado conversando enquanto os demais
faziam uma batalha campal. A imagem é bonita.`Mas, é só uma lenda. Como
vocês sabem, quando a verdade não tem o 'charme' da lenda, a verdade
desaparece. Outros brigões entraram para a história. André, de chinelos
nas mãos, desafiaou o beque colorado Gardel para uma luta de capoeira.
No Grenal da Libertadores, Paulo Miranda e Moisés ficarão marcados. Não
como medíocres jogadores. Mas, como maus lutadores de MMA. Porém,
entraram no imaginário dos 'guerreiros' do Grenal. O mais belo e
colorido clássico que, às vezes, até lembra uma partida de futebol
E,
até foi um bom jogo. Mais disputado do que bailado. Fiquei surpreso com
o Inter. Não tem mais a retranca tosca de Odair. Coudet é mais
sofisticado. O sotaque castelhano ajuda. Quem olha de relance percebe
um time que gosta do ataque. Até parece ofensivo. Mas, a solidez da
defesa é a sua marca. Foi assim no Rosário Central e no Racing. Coudet
não é Sampaoli. Não tem a inventividade e nem 'loucura' do Jorge. É mais
sóbrio. Resta saber se os resultados serão os mesmos. Coudet tem o
mesmo defeito dos treinadores deste canto do mundo: adora um 'bruxinho'.
Musto é o seu fiel cão de guarda e D"Alessandro o seu maestro. Como
dizia aquele velho 'maluco colorido', o tempo é o senhor da razão.
O
melhor Grêmio que vi na vida não existe mais. Normatizou, virou comum,
idêntico aos times que jogam neste país. O Grêmio está tão longe do
Flamengo como Renato está de Jesus. Não há mais o fino toque de bola, as
linhas sendo quebradas, a movimentação que desafia o espaço e o tempo.
Mal treinado, sem soluções de ataque, lento na saída de bola, dispersivo
e desorganizado, sobram a 'mitologia de Renato e as individualidades.
Às vezes, insuficiente para definir um jogo. Maicon tem o domínio da
bola, o pensar do jogo, só não tem quem rompa as linhas como Luan fazia
para as tabelas. Pena que o tempo não poupa ninguém. Maicon é só uma
saudade do que já foi. Lucas Silva é só um volante e Matheus Henrique
precisa
carregar a bola, pois o ataque é estanque. Éverton está preso na
esquerda, sem espaço para desobstruir o jogo. Alisson tem função
defensiva e Diego Souza é um poste sem luz. E, Pepe vê o jogo do banco.
Exatamento como Arthur, Éverton, Pedro Rocha, Matheus Henrique já
fizeram. Ousadia, a palavra que Renato esqueceu, quem sabe, nos manuais
dos cursos da CBF.
Estranho ver o jogo na tela de um celular.
Não há amplitude do campo.
Espaço e tempo demarcados num objeto que cabe na mão. Travado, xinguei a
internet. Quase desisti e fui para o rádio. A paixão foi maior. Tentei,
esperei e achei a transmissão. Meus olhos degenarados macularmente
reclamaram após a partida. Doloridos, inchados e, que diabos!,
vermelhos. A alma também reclamou da machonaria gaudéria. Guapos guascas
num entrevero sem nexo, sem sentido, como a maioria dos entreveros. Um
clássico com o 'requinte' deste tempo que flerta perigosamente com a
barbárie. 'O Tempo e o Vento', de Érico Veríssimo, construiu a história
de luta do Rio Grande do Sul e o caráter beligerante dos gaúchos que
culminou na Revolução Farroupilha. Guerra, paz, força, mitologia,
mitomania, machonaria fazem parte deste mosaico. Tudo reforçado pelo hino
riograndense que comemora a derrota pensando
que empataram quando perderam de goleada, como diz o grande Peninha.
"Sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra...
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