sábado, 6 de fevereiro de 2016

O maestro

 

Mauro Pandolfi

Esqueça Rivelino. Ótimo! Superestimado demais. Lembre de Dirceu Lopes. Estupendo! Injustamente subestimado. Escolha Ademir da Guia. Mais divino que Rivelino. Porém, não tem o reconhecimento dele. Que tal Dicá? Maravilhoso! Descobriram já velho. Então, Tadeu Ricci! Só os gremistas e americanos sabem o seu valor. Pita e seus lances mágicos. Ilusão de agradar os olhos. E, a modernidade de Falcão? Um futebol de outro tempo e o melhor parceiro dele. O grande jogador dos anos 70 no Brasil foi Paulo César! O Caju? Não, este foi só uma fantasia, lirismo. Um outro Paulo César, inteligente. mais cerebral, intenso, de uma junção entre o antigo e o novo. Ficou mais conhecido como Carpegiani na Copa de 74, para se diferenciar do outro, o Caju! E, como foram diferentes! Hoje (06 de fevereiro), ele está de aniversário (67 anos). Zico, Junior e Sócrates foram geniais na outra década, a de 80.
Há jogos eternos na história. Ficam marcados na memória, nos arquivos e no you tube. Fluminense e Internacional fizeram uma partida inesquecível, no Maracanã, em 1975. A Máquina Tricolor de Rivelino, Paulo César, Carlos Alberto Pintinho encarou o Internacional de Figueroa, Falcão e Paulo César. A arte e a força. O talento e a garra. Os estereótipos em campo. Venceu a arte e o talento. Não, o do Fluminense. O Inter destroçou a máquina. Caçapava anulou Rivelino. Outros, sumiram. Carpegiani desestruturou o jogo, comandou a partida, classificou o time para a final e garantiu o título brasileiro de 75. "Te cuida, Beckembauer!" diziam os jornais gaúchos. Porem, o Inter tropeçou na Libertadores. Mas, é outra história.
Paulo César Carpegiani dominava o campo. Parecia múltiplo. Estava em todo lugar. Sempre próximo de um companheiro para o passe. Jogava desmarcado, o adversário, atônito, não sabia como impedir a movimentação. Mestre do passe curto, da triangulação, da chegada na frente para o chute. Talentoso no lançamento. Poucos faziam uma virada de jogo tão precisa. Tão espetacular, que fez dois laterais comuns, Cláudio e Vacaria, entrarem para a história do clube. Ele alternava o ritmo da partida. Cadenciava ou deixava rápido. O dono do meio-campo. Parecia ver o jogo do alto da arquibancada. Como diziam naquele tempo, um maestro!
Carpegiani foi o grande jogador da década de 70. Quase esquecido, pouco lembrado, vive um ostracismo. Faltou uma Copa do Mundo. Se tivesse vencido, estava no panteão dos heróis. Queres saber, mesmo, como ele jogava? Quando vejo Iniesta, vejo Carpegiani. O mesmo talento em ler o jogo, a imensa sabedoria em mudar as coisas, o mágico em descobrir saída onde não há. Geniais! 
Os joelhos não resistiram. Tornou-se treinador. No primeiro ano, ganhou a Libertadores e o Mundial de Clubes com o Flamengo de Zico. Um time que jogava como ele.  Brilhou numa Copa do Mundo dirigindo o Paraguai. Treinou tantos clubes por aí. Bons e discretos trabalhos. O técnico era igual ao jogador. Muito tático, essencialmente tático, numa atividade no Brasil, que pede mais motivação. Carpegiani era um  armador incrível e um ótimo artesão de equipes. Muito inventivo. Aqui, quando o torcedor e o jornalista não entendem uma opção tática, eles o definem como 'inventor', um professor Pardal! Este epíteto grudou em Carpegiani. Ele sumiu, está escondido em algum canto, longe da bola. Azar do futebol brasileiro!

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