domingo, 10 de maio de 2015

A punição do êxtase

Chko Kuneski

A definição de dicionário de “êxtase” é: “arrebatamento íntimo”. Mas, no futebol, o íntimo passa a ser coletivo. Tansmuta-se no gol. O arroubo particular sai das quatro linhas, escapa do gramado. Etéreo, inebria toda a torcida. A vibração individual coletiva-se.
      
Nesse êxtase uníssono nada mais justo que o abraço. A vibração do contato. Torcedores, desconhecidos, beijam as faces, como velhos amigos em comemoração única: gol.

A rede ainda balança. O goleiro ainda lamenta de joelhos. O zagueiro ainda pensa onde limitou a marcação. Racionalizam o momento e o erro. O artilheiro explode em emoção. Como sua torcida. Unifica o mesmo brado. A mesma alegria. O mesmo êxtase.

Esse sentimento mágico de dar e ter alegria é como sexo. O prazer maior vem do contato. Do toque. Da troca energética. Goleador e torcedores dividindo seus gozos individuais no êxtase coletivo. A comemoração suprema do futebol: o gol.

As limitações das linhas do campo somem. As limitações das cercas caem. As limitações do impossível desabam nas escadas das modernas arenas futebolísticas. Uma ponte entre os êxtases. O individual do gol e o coletivo do gol.

Mas, na descida dos degraus e no pisar do plano surge outro plano. O cartão amarelo que “amarela” a euforia. Uma regra de gélidos broxas burocratas cumprida ao rigor por rancorosos árbitros que parecem sentir prazer em punir o êxtase maior do futebol.

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