Chiko Kuneski
Às vezes acho que os deuses do futebol usam meus humanos
dedos e comandam o teclado. Profetizam. Não resultados, mas tragédias teatrais
do palco de grama e paixão. Em minha crônica, publicada no dia anterior a
decisão da Copa América Centenário por pênaltis entre Argentina e Chile,
escrevi sobre os segundos eternos vividos nessa roleta da bola. Roleta da vida.
Os segundos. Silva, um coadjuvante que veio do banco para
se consagrar. A câmera parada na feição congelada. Parecia chorar. Tremer.
Temer. Segundos eterno. Seria a glória,
ou o desprezo. Todo o peso em sua chuteira.
Acho que até maior do que na chuteira de Messi. Lionel o
melhor do mundo errou feio. Pouca distância da bola. Superestimou o goleiro
Bravo, companheiro do Barcelona, e buscou a batida inusitada. Dificilmente erra
uma cobrança de pênalti. Silva não sabia o que fazer. O olhar atônito. O Lábio
trêmulo. A lágrima interna da pupila dilatada pela responsabilidade do momento.
Nos eternos segundos de espera, com a câmera parada em seu
olhar parado. Uma angústia. É assim a decisão por pênaltis. Uma angustia que
vira festa. Uma angústia que vira choro. Não sou profeta. Sou um agnóstico que acredita nos deuses do futebol. Às vezes acho que comandam tudo, inclusive meus humanos dedos.
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