Mauro Pandolfi
Neymar
é um babaca. Um boçal! Um adulto que ainda não percebeu que o
garoto já é passado. Nem quando olha para o filho parece entender a
passagem do tempo. Não acompanho a sua vida. Não me interesso pelas suas
festas, seus carros, suas namoradas. Que aproveite bem a vida. Só
acompanho os seus jogos. Neymar é o grande ídolo do futebol brasileiro. O
maior nome. A estrela, solitária?, da companhia. Nas vitórias, o herói.
Nas derrotas, nem quando não joga, o vilão. A dualidade que persegue os
mitos do futebol brasileiro. Ele já conhece a fogueira das vaidades.
O
ídolo não existe. É só uma projeção. Um produto do imaginário.
Coletivo ou não. Representa o desejo, o sonho, a esperança. Idealizado,
perfeito, sem reparos. Cultuado em prosa e verso. Em fotos, camisetas,
jogos. O ídolo é o que todos gostariam de ser. Há duas coisas que
'matam' o ídolo: o tempo e a realidade. A eternidade é para poucos.
Quando chega no real, a idolatria acabou. Só o comum suporta a
realidade.
A
sociedade cultua imagens. Necessita dos 'vencedores', dos mártires, dos
gênios, dos perdedores. Vai desde a religião, passa pela política,
chega nas artes e nos esportes. Os ídolos são novos mitos, deuses e
santos. Produzidos pelo talento, carisma, marketing, por um astuto
picareta. São substituídos a todo instante. Sempre surge um novo, um
outro novo, mais um outro...e, assim vai. A indústria cultural não pode
parar.
O
livro 'Cidade das Redes', de Otto Friederich, relata a vida dos mitos
de Hollywood nas décadas de 20, 30, 40. A luxúria, a ostentação, a dolce
vita dos astros. O mundo paralelo que vivem. Uma outra dimensão. Fora
do real. A vida era uma continuidade da tela. O contato com a realidade
geralmente acontecia com a polícia. Escândalos com drogas, estupros,
assassinatos. A realidade aniquilou talentos, vidas. As estrelas não
suportam a vida fora das constelações, do neon, do sonho.
Reparem
como os ex-jogadores são tristes na televisão. Vivem querendo um
passado. Suspiram por um outro tempo. Diego Maradona é o melhor exemplo.
Atirou em jornalistas, engordou, quase enlouqueceu, infartou, tentou
ser mito como técnico, fracassou e volta aos holofotes para falar
bobagens. Ou, merda, como diria Neymar.
Neymar ocupa um vazio imenso no futebol brasileiro. O que fala,.
escreve, repercute mais do que qualquer outro. O post chamando de babaca
é o exemplo. Ele não foi o líder da companhia. Foi o que falou pela
corporação. A reação foi, também, corporativa. Jornalistas não reagem
bem as críticas. Especialmente, quando dita por um 'ídolo fabricado por
eles'. Parece uma traição, um abandono, uma sacanagem.
A
crítica de Neymar me lembra o Manifesto de Glasgow de 1973. Numa
excursão da seleção brasileira, irritados com as críticas, os jogadores e
comissão técnica, fizeram o manifesto e uma greve de silêncio com a
imprensa. Mitos assinaram o documento. Entre eles, Zagalo, Rivelino,
Paulo Cesar, Leão. A resposta do O Estado de São Paulo foi criativa.
Passou a escrever a escalação assim: "goleiro do Palmeiras: lateral do
Corinthians, zagueiro do Flamengo...". Todos os ídolos acham-se
intocáveis. Claro, não são reais.
O
texto de Chiko Kuneski é ácido. Cirúrgico. Um pouco cruel. Bem escrito.
Gosto da imagem de Neymar e o playstation. A melhor tradução do jogo.
Neymar não tem a poesia de Mané. Nem a liberdade do pássaro Garrincha.
Possui as asas nas chuteiras. Os dribles parecem controlados por
consoles do jogo. Mas, é genial! Sou fã de Neymar. Talvez, também, até
um pouco babaca. Afinal, acreditei em tantas coisas. Em ver a banda
passar e não ter medo de ser feliz. A banda atravessou na avenida e a
felicidade está nos olhar de meus dois filhos.
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