Chiko Kuneski
O cuspe. Para a maioria,
nojento. Asqueroso. Uma excrescência. No
campo de futebol ato normal. Normal? Normal! Os jogadores cospem no campo, na grama,
no chão por uma necessidade fisiológica. Lionel Messi, o maior craque do século
XXI, costuma cuspir na grama depois de marcar um gol. Superstição? Não.
Necessidade.
Está provado
cientificamente que, quanto mais o jogador corre, faz esforço, mais produz
saliva. Essa produção exagerada acontece pelo esforço físico intenso que exige
maior absorção de oxigênio. Como as narinas não dão conta, o atleta respira
pela boca provocando ressecamento. Como não é possível tomar água o sistema
regulador central do corpo humano faz com que as glândulas salivares produzam
líquido em excesso. O jogador cospe para se aliviar.
Cospe no chão, na
grava, na terra, mas sem agredir nada nem ninguém. Mas a cusparada tomou no
Brasil uma vertente não tão fisiológica. Virou a pior das agressões nas relações
humanas. Um exemplo parece levar ao outro.
Este ano um midiático
deputado federal, que recuso declinar o nome, pois o ato é o que importa,
cuspiu na nuca de outro parlamentar, que também não merece ser nominado, em
plena votação na Câmara dos Deputados no processo de impedimento da presidente.
Foi um ato covarde. Primeiro por escarrar ódio, segundo por tê-lo feito pelas
costas. Bastou o exemplo. Dias após um ator nacionalmente conhecido cuspiu no
rosto de um desafeto em local público. Se tinha biografia; molhou-a. Reduziu-a
a mera mancha.
No jogo entre
Atlético-PR e Santos um torcedor da primeira fila da civilizada Arena da
Baixada lançou seu ódio em forma de cuspe contra o goleiro adversário do time
da vila. Foi cara na cara, a certa distância, e a saliva deve ter evaporado no
longe do alvo, mas o metro não mede e nem apaga a gravidade do ato. O projétil
aquoso não atingiu o rosto do goleiro Vanderlei. A intenção deve tê-lo ferido.
Feriu a honra humana
com a mais covarde das agressões. Cuspir em outrem é sub-humano. É menos
civilizado que um ataque físico, passível de defesa, também física. Demonstra o
quanto o agressor é asqueroso e que se deixa levar pelo mais baixo nível que
provoca o rastejar social do Homem.
Mas, quando um
parlamentar, que deveria respeitar o eleitor que nele acreditou (o povo), cospe
em outro no plenário. Agir repetido por um ator, que é idolatrado pelo povo,
repete o baixo proceder, ambos não dão o respeito civilizatório em público. O mais
grave dessas ações é que espelham o pior dos exemplos. Inspiram pelo negativo o torcedor a repetir o
lamentável ato.
O torcedor que cospe
contra o adversário não se motiva pelo ídolo de campo. Aquele que vai aplaudir
e torcer. Pelo atleta que expele contra a grama o excesso de líquidos que,
fisiologicamente, o corpo produziu movido pelo esforço de dar a alegria do
lance, do gol. Cospe agressivo encorajado pelo mau exemplo.
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