sábado, 18 de junho de 2016

O mau exemplo

Chiko Kuneski

O cuspe. Para a maioria, nojento. Asqueroso. Uma  excrescência. No campo de futebol ato normal. Normal? Normal! Os jogadores cospem no campo, na grama, no chão por uma necessidade fisiológica. Lionel Messi, o maior craque do século XXI, costuma cuspir na grama depois de marcar um gol. Superstição? Não. Necessidade.

Está provado cientificamente que, quanto mais o jogador corre, faz esforço, mais produz saliva. Essa produção exagerada acontece pelo esforço físico intenso que exige maior absorção de oxigênio. Como as narinas não dão conta, o atleta respira pela boca provocando ressecamento. Como não é possível tomar água o sistema regulador central do corpo humano faz com que as glândulas salivares produzam líquido em excesso. O jogador cospe para se aliviar.

Cospe no chão, na grava, na terra, mas sem agredir nada nem ninguém. Mas a cusparada tomou no Brasil uma vertente não tão fisiológica. Virou a pior das agressões nas relações humanas. Um exemplo parece levar ao outro.

Este ano um midiático deputado federal, que recuso declinar o nome, pois o ato é o que importa, cuspiu na nuca de outro parlamentar, que também não merece ser nominado, em plena votação na Câmara dos Deputados no processo de impedimento da presidente. Foi um ato covarde. Primeiro por escarrar ódio, segundo por tê-lo feito pelas costas. Bastou o exemplo. Dias após um ator nacionalmente conhecido cuspiu no rosto de um desafeto em local público. Se tinha biografia; molhou-a. Reduziu-a a mera mancha.

No jogo entre Atlético-PR e Santos um torcedor da primeira fila da civilizada Arena da Baixada lançou seu ódio em forma de cuspe contra o goleiro adversário do time da vila. Foi cara na cara, a certa distância, e a saliva deve ter evaporado no longe do alvo, mas o metro não mede e nem apaga a gravidade do ato. O projétil aquoso não atingiu o rosto do goleiro Vanderlei. A intenção deve tê-lo ferido.

Feriu a honra humana com a mais covarde das agressões. Cuspir em outrem é sub-humano. É menos civilizado que um ataque físico, passível de defesa, também física. Demonstra o quanto o agressor é asqueroso e que se deixa levar pelo mais baixo nível que provoca o rastejar social do Homem.

Mas, quando um parlamentar, que deveria respeitar o eleitor que nele acreditou (o povo), cospe em outro no plenário. Agir repetido por um ator, que é idolatrado pelo povo, repete o baixo proceder, ambos não dão o respeito civilizatório em público. O mais grave dessas ações é que espelham o pior dos exemplos.  Inspiram pelo negativo o torcedor a repetir o lamentável ato.


O torcedor que cospe contra o adversário não se motiva pelo ídolo de campo. Aquele que vai aplaudir e torcer. Pelo atleta que expele contra a grama o excesso de líquidos que, fisiologicamente, o corpo produziu movido pelo esforço de dar a alegria do lance, do gol. Cospe agressivo encorajado pelo mau exemplo.


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