Mauro Pandolfi
"Aquele que vê o mundo aos 50 anos da mesma forma que o via aos 20, desperdiçou 30 anos de sua vida."
O maior de todos, o mais bonito, o Rei, o homem mau, o eterno Muhammad Ali.
A mão imensa. O punho fechado. Comparava a minha pequena mão com a foto. Ela sumia, desaparecia. Era a mão de Muhammad Ali. A foto foi a chamada da luta contra Jerry Quarry, mais uma esperança branca, em 1970, no jornal Diário de Notícias de Porto Alegre. No texto descobri que ele se recusou a matar e morrer no Vietnam. Eu, garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones, como na música dos Incríveis, me encantei com a ousadia, a desobediência, a rebeldia. Virei fã. Ali foi o meu primeiro ídolo que não chutava uma bola. Em 1971, assisti a luta contra Joe Frazier. Descobri o que Ali queria dizer com 'voar como borboleta, picar como uma abelha'. Mais do que violento, o boxe de Ali era uma arte. Dançava, bailava, 'voava', flutuava sobre o ringue. E, batia! Como batia! O tempo foi cruel com ele. O desrespeitou. Cortou 'as asas da borboletas' com o mal de Parkinson. Sobrou o ferrão da abelha nas frases lúcidas, provocativas das raras entrevistas. Ali descansou aos 74 anos. Jamais vai morrer. É eterno!
No começo era Cassisus Clay. 'Nome de escravo. Eu não escolhi. Eu sou Muhammad Ali. Um nome livre'. Foi só uma a das polêmicas. Recusou lutar na guerra, quase foi preso, multado, perdeu o título. Afinal nenhum 'vietcong o chamava de crioulo'. A luta não era dele. Ali 'bailava' entre Martin Luther King e Malcolm X. A doçura, a poesia da palavra; a fúria do olhar, a agressividade da palavra. A borboleta e a abelha. A frase que melhor o define. Ali usava a arrogância para se impor. "Tento ser modesto. Mas, às vezes, faltam argumentos". Campeão olímpico em 1960 e três vezes mundial (64,74,78). Se Pelé inventou o futebol, Ali criou o boxe. Reis eternos, de súditos fiéis. Únicos. Mágicos. Afinal, como dizia Ali: "o homem que não tem imaginação, não tem asas". Os dois continuam voando. Em vídeos, nas memórias, nas histórias.
1974. Faz tempo, eu sei! Parece outro século! Em Kinshasa, capital do Zaire (atual Congo) a imortal peleja entre George Foreman e Muhammada Ali 'The rumble and the jungle' foi a mais extraordinária luta de boxe da história. Foreman era um lutador agressivo. Não deixava o oponente pensar, respirar. Porrada, porrada, porrada! Ali bailou, desviou, flutuou, esquivou. Apanhou, também! No oitavo round, Ali foi Ali. Desferiu uma sequência de golpes. Direita e esquerda explodiram no rosto de Foreman. Quase final do round, Ali acertou um gancho de direita no queixo. O gigante Foreman desmontou, desabou, implodiu. O público delirava, gritava. "Ali Boma ye" (Ali, mate-o). Esta luta jamais terminará. Está no documentário "Quando éramos reis" e no livro 'A Luta" de Norman Mailer. Ele conta a história, como se fosse rounds, o perfil dos dois lutadores. Um texto, que este humilde escriba, gostaria de ter escrito. Mas, cadê o talento?
Alberto, meu amigo argentino, fala de boxe como se declamasse uma poesia. Cita nomes. Sugar Ray, Monzon, Joe Louis. Para em Ali. Faz um reverência. Emociona-se. 'Não há outro igual na nobre arte", diz ele. Boxe é a arte. Perdeu espaço. Há novos gladiadores. UFC é briga. No boxe, há a gentileza, por mais estranho que pareça. O lutador caindo, ninguém bate. Um cavalheirismo. No UFC, não! Caiu, chutou, dá joelhada, pula em cima. Amassa. A luta no boxe é pé. Com punhos protegidos por luvas. No UFC, vale tudo. São esportes do seu tempo. Não há mais Muhammada Ali nos ringues. Nem fora. Não o pensador. Só as provocações de brigões. Nâo o que prega a desobediência. Não há quem desafie o coro dos contentes. Isto termina com Muhmmad Ali. Uma frase como esta, só no passado: "O impossível é apenas uma grande palavra usada por gente fraca, que prefere viver no mundo como ele está, em vez de usar o poder que tem para mudá-lo, melhorá-lo. Impossível não é um fato. É uma opinião. Impossível não é uma declaração. É um desafio. Impossível é hipotético. Impossível é temporário. O impossível não existe".
Lindo texto meu amigo! Emocionante!
ResponderExcluirGrande abraço Mauro.
Alexandre Galiazzi.
Grato pelo elogio. Abraços
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