quarta-feira, 8 de junho de 2016

Santo Graal



Mauro Pandolfi


O poster ocupava a metade da parede do quarto. Entre o beatle John Lennon e a bela Nídia de Paula. A rede, a bola, o gol, o Rei. Emaranhados. Poesia visual. Era a foto do milésimo gol de Pelé, em 1969. Ganhei do meu pai. Veio encartado na revista Veja. Ou, seria a Realidade? Ficou no meu quarto até ir embora de Lages. Aquela bola é o meu Santo Graal. Objeto de desejo. Símbolo de fé. A bola está em um leilão que Édson Arantes do Nascimento está fazendo em Londres dos pertences de Pelé. Pena que não ganhei na mega-sena. Iria buscar o meu Santo Graal. Admiraria todos os dias como um objeto sagrado, uma obra de arte, um tesouro. Poxa! Onde foi parar o poster? Foram tantas mudanças na vida. Se perdeu por aí. Foi junto com a infância.
O tesouro do Rei está à venda. Objetos pessoais, conquistas de jogos. Camisas benditas. Brancas, amarelas, verdes. Mantos sagrados. Medalhas, troféus, fotos, passaportes. Até a chuteira 'cult' que usou no filme "Fuga para a vitória" de John Huston. Este é outro objeto que compraria. Édson, o dono de Pelé, garante que o problema não é a falta de dinheiro. "Muitas coisas estão guardadas. As pessoas precisam conhecer, admirar", explicou. Espera-se arrecadar em torno de U$ 5 milhões. Parte será doado a um hospital pediátrico em Curitiba.
Édson cumpre o discurso de Pelé. Agarrado a bola, dando uma volta olímpica no Maracanã, cercado de microfones, o Rei falou: 'é preciso cuidar das criancinhas do Brasil'. O Rei previu. Não ligaram. Acusaram de demagogo. Não era demagogia. Antevisão, que só os craques tem, de um problema imenso. Hoje, crianças de dez anos andam armadas pelas ruas. Assaltam, matam, morrem. Não brincam mais. Fogem da escola. O estado fracassou. O país faliu. A sociedade se entregou.
Entre os objetos está a réplica da taça Jules Rimet. O legítimo Santo Graal do futebol é este troféu. Derretido ou nas mãos de um magano apaixonado por obras ou por futebol? Não sei! Às vezes, embarco numa teoria de conspiração. Sempre achei os deuses astronautas, que Elvis não morreu, e por quê não?, a Jules Rimet está intacta. Numa prateleira. Exposta como arte. Ou, escondida num cofre de um banco, protegida como um tesouro. Será que não é uma boa ideia para um filme de Indiana Jones? O trigésimo da série! Com o o neto de Harrison Ford no papel consagrado pelo avô. Bom, aí, quem vai assistir é o meu neto!


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