Mauro Pandolfi
Há
gol de instante. Dura aquele momento que é comemorado. Há o gol que
vale uma temporada. Saudado no título de campeão. Há gols de sempre.
Viram vinhetas. Há o gol eterno. Hoje, faz trinta anos que Diego Armando
Maradona abandonou a mortalidade. A bola que Hodge deu o balão e a
direção foi contrária, e, no alto, Diego enganou Peter Shilton, é o
momento em que Maradona tornou-se eterno. Mais que mito. Um Deus. Um
jornal mexicano exclamou em manchete: 'La mano de dios' . E feito 'obra
de Deus', o gol é onisciente, onipresente, indissolúvel. O maior gol da
história. Nenhum é tão comentado, discutido, dissecado. Uma arte ou uma
farsa? Um gênio ou um malandro de rua? Apenas Diego Armando Maradona.
'El mas grande de todos!'
1986.
22 de junho. México é testemunha do último confronto da guerra das
Malvinas. O futebol como vingança. A Copa do Mundo é uma guerra
simbólica, alegórica, imaginária. A Inglaterra esperava um jogo. A
Argentina partiu para o conflito real. Fúria, gana, garra, desejo.
Maradona comandou a vitória. Um gol épico. Driblou toda a esquadra,
invadiu a área e na saída de Peter Shilton, expurgou a derrota nas
Malvinas. 'Me senti vingado pela morte de nosso jovens, de meu filho",
disse um homem em entrevista ao Clarin. Futebol é maior que a guerra. A
ilusão vivida pelos argentinos. Tempos depois, descobriram que as
ilusões estavam destroçadas.
Do
paraíso ao inferno. Uma viagem curta. Diego Maradona sabe o percurso.
Brilhou no futebol. Desafiou, com o pequeno Nápoli, o moderno futebol do
Milan. Venceu! Gordo, drogado, enlouquecido, parecia só uma lembrança.
Renasceu em 94. Magro, fino, elegante, genial. Tiraram-lhe da Copa,
roubaram o seu sonho, sua glória. Desapareceu dos campos. Quase da vida.
Tentou ser técnico. Fracassou! Vive de um passado glorioso, fantástico,
inesquecível.
Ontem,
vi Maradona em campo . Pequeno, cerebral, mágico. Mais triste. Mais
centrado. Nada polêmico. A falta. A bola viajando. Entrando no ângulo.
Golaço! Gol que Maradona gostaria de dizer que é seu. Foi de Lionel
Messi. Fiquei com uma dúvida. Acho que futebol é um jogo de fé, de alma,
de coração. Quando um craque se aposenta, a alma fica com ele ou migra
procurando alguém com o mesmo encantamento? Ontem, a alma de Messi era
idêntica a de Maradona de 86. Livre, leve, lúdica, lírica.
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