quinta-feira, 2 de junho de 2016

As cores da bola



Mauro Pandolfi



"...Às armas cidadãos! Formais vossos batalhões! Marchemos, marchemos! Que o sangue impuro ague o nosso arado..."

Trecho do hino da França, A Marselhesa, que Benzema se recusa a cantar por considerar xenófobo.



A França é a seleção que mais gosto. Do futebol e das cores. O estilo vibrante, rápido, insinuante. Da bela camisa azul. Um tom de céu com tempestade. Um time envolvente, favorito a ganhar a Eurocopa. Ninguém entendeu tão bem a globalização como a França. Negros, brancos, árabes, armênios e...franceses.  Ganhou uma Copa assim. Mas, isto está ameaçado.  A Frente Nacional de Le Pen,  a direita reacionária francesa, quer a pureza de volta. O mito Eric Cantona denunciou a não convocação de Benzema por racismo. O treinador nega. Alega que o atacante do Real Madri fracassou na temporada. Além disso, Benzema está envolvido num caso de chantagem contra Valbuena.. A polêmica esta feita. O pais dividido, O futebol, derrotado!.

O futebol é um jogo democrático. Aberto a todos. Quem entendeu, deu-se bem. Falando em Copas do Mundo, o Uruguai foi primeiro perceber. Negros vestiam a linda camisa celeste. A turma da 'banda oriental' levou a primeira taça em 1930.. Os italianos compreenderam a lição. Usaram os 'oriundi' para o bicampeonato. Argentinos e brasileiros foram fundamentais para a  conquista. Estratégia usada pelo Brasil. Negros e brancos, descendentes de imigrantes, montaram alguns dos melhores times do mundo. O tri de 58, 62, 70 tem um 'Deus Negro' e uma corte multicultural.

Ninguém ousou tanto como a França. A equipe que ganhou a Copa de 98 é uma constelação global. O maestro tem origem argelina. Zinedine Zidane tornou-se um cidadão do mundo. Um embaixador da bola. Havia portugueses, espanhóis, armênio, basco e até um  argentino. Negros de várias origens. Campeão multicultural. A vitória sobre o Brasil, na final, é emblemática. A qualidade de futebol moderno, global, sobre um time já anacrônico. A França entrava na ordem dos melhores da bola. Descobriu que a alma da bola não tem cor única. Tem todas as cores da paixão.

O futebol tem cor. É multicolor. Nas camisetas, nas bandeiras, nos cantos. Há tempo, as chuteiras deixaram de ser botinas. De um calçado de 'operário' para sapatilhas de 'bailarinos'. As coloridas combinam melhor com os craques que cultivam as asas. Ate a bola abandonou o branco. Rola pelo gramado verde, enfeitada de laranja, azul, vermelha, laranja. Já vi até uma cinza quase invisível para um míope como eu. A alma de quem ama futebol é colorida. A minha é tricolor que pulsa ao ver a camisa celeste, branca, negra desafiar o vento.

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