Mauro Pandolfi
"...Às armas cidadãos! Formais vossos batalhões!
Marchemos, marchemos! Que o sangue impuro ague o nosso arado..."
Trecho do hino da França, A Marselhesa, que Benzema se
recusa a cantar por considerar xenófobo.
A França é a seleção que mais gosto. Do futebol e das cores.
O estilo vibrante, rápido, insinuante. Da bela camisa azul. Um tom de céu com
tempestade. Um time envolvente, favorito a ganhar a Eurocopa. Ninguém entendeu
tão bem a globalização como a França. Negros, brancos, árabes, armênios
e...franceses. Ganhou uma Copa assim. Mas, isto está ameaçado. A
Frente Nacional de Le Pen, a direita reacionária francesa, quer a
pureza de volta. O mito Eric Cantona denunciou a não convocação de Benzema por
racismo. O treinador nega. Alega que o atacante do Real Madri fracassou na
temporada. Além disso, Benzema está envolvido num caso de chantagem contra
Valbuena.. A polêmica esta feita. O pais dividido, O futebol, derrotado!.
O futebol é um jogo democrático. Aberto a todos. Quem
entendeu, deu-se bem. Falando em Copas do Mundo, o Uruguai foi primeiro
perceber. Negros vestiam a linda camisa celeste. A turma da 'banda oriental'
levou a primeira taça em 1930.. Os italianos compreenderam a lição. Usaram os
'oriundi' para o bicampeonato. Argentinos e brasileiros foram fundamentais para
a conquista. Estratégia usada pelo Brasil. Negros e brancos, descendentes
de imigrantes, montaram alguns dos melhores times do mundo. O tri de 58, 62, 70
tem um 'Deus Negro' e uma corte multicultural.
Ninguém ousou tanto como a França. A equipe que ganhou a
Copa de 98 é uma constelação global. O maestro tem origem argelina. Zinedine
Zidane tornou-se um cidadão do mundo. Um embaixador da bola. Havia portugueses,
espanhóis, armênio, basco e até um argentino. Negros de várias origens.
Campeão multicultural. A vitória sobre o Brasil, na final, é emblemática. A
qualidade de futebol moderno, global, sobre um time já anacrônico. A França
entrava na ordem dos melhores da bola. Descobriu que a alma da bola não tem cor
única. Tem todas as cores da paixão.
O futebol tem cor. É multicolor. Nas camisetas, nas
bandeiras, nos cantos. Há tempo, as chuteiras deixaram de ser botinas. De um
calçado de 'operário' para sapatilhas de 'bailarinos'. As coloridas combinam
melhor com os craques que cultivam as asas. Ate a bola abandonou o branco. Rola
pelo gramado verde, enfeitada de laranja, azul, vermelha, laranja. Já vi até
uma cinza quase invisível para um míope como eu. A alma de quem ama futebol é
colorida. A minha é tricolor que pulsa ao ver a camisa celeste, branca, negra
desafiar o vento.
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