Mauro Pandolfi
O
futebol é a mitologia moderna. Há os deuses, os semideuses e os
heróis. O supremo ser é Pele. Na sua órbita giram inúmeros titãs. O
mais próximo é Messi. Há uma gritaria que escuto ao fazer esta
observação. Não me incomoda mais. Na
sua escala vertical, a mitologia tem espaço para todos. Desde os eternos
até os grandes nomes
momentâneos. Gênios de um jogo, de uma temporada, de jogadas únicas.
Tem, também, lugares para aqueles que o tempo abandonou. Extraordinários
craques que poucos, ou
ninguém, lembra. Tantos estão no limbo, navegando como 'esquecidos'. Vou
lembrar de dois. Roberto Dias (São Paulo) e Marinho Chagas, (Botafogo,
Fluminense, etc). Poderia citar Iúra (Grêmio), Éverton (São Paulo e
Atlético Mineiro) e Pita (Santos e São Paulo). Estão tão esquecidos que é
necessário citar os clubes que jogaram para as pessoas 'refrescarem ' a
memória.
O
zagueiro arrepia. Joga bola para o mato. Afinal, é jogo de campeonato.
Limpa a área. Não sai jogando. O chutão é o seu jogo. Alguns são
sentimentais, sutis. Raros são elegantes. Rápidos, enérgicos. Não gosto
dos zagueiros de hoje. Busco na memória o melhor da minha infância.
Roberto Dias. Tão hábil, sutil e elegante. Gostava do chapéu. Até Pelé
levou o drible. Dias era um estilista. Um anjo e o dono da área.
Dias tinha a precisão de um meia. Raramente errava um passe. Chutão?
Amava a bola. Não conseguia tratá-la mal. Espetacular! Os gols do São
Paulo, na temporada de 67, começavam por ele. Inteligente e tático.
Ficou fora da Copa de 66. Preferiram os medalhões Bellini e Orlando e a
força bruta de Brito. E, o Brasil não passou da primeira fase. Parou por
dois anos. Problemas cardíacos. Jogou até 1978 no minúsculo Nacional de
São Paulo. Roberto Dias Branco faleceu, de infarto, em 2007. Foi menos
do que deveria ter sido. Um craque para o futebol de hoje.
Marinho
Chagas era como o vento. Liberdade, liberdade. Era o seu mote, seu
signo, seu desígnio. Flutuava pelo campo. Desfilava a bela cabeleira
loira rumo ataque. Ele destruiu a barreira da defesa para o lateral.
Preferia atacar. Chute poderoso. Ambidestro. O drible sempre por dentro.
Ás vezes, cortava para fora. Iludia o marcador. Marinho Cagas foi o meu
ídolo nos tempos de Vermelhão. Junto com Parraga, é claro!
Há
uma lenda sobre a habilidade de Marinho. Dizem, que numa festa, pediu
para Chico Buarque cantar. Chico riu, disse que cantava se Marinho
fizesse dez embaixadinhas com uma laranja. Marinho sorriu. Trouxeram a
laranja. Marinho fez 200 e entregou, com o pé, a laranja na mão de
Chico. Construção foi a música que cantou. É uma lenda! Fantástica! O
mais moderno jogador de seu tempo.
Marinho
peregrinou nos campos do mundo. Foi o melhor lateral da Copa de 74. Do
Fluminense foi para os Estados Unidos. Na volta para o São Paulo, não
era mais o lateral inovador. O tempo mostrava as garras. Marinho fez o
caminhos dos medalhões decadentes. Jogou em times pequenos até parar em
88 no Augsburg da Alemanha. Francisco das Chagas Marinho morreu em 1º de
junho de 2014, de hemorragia digestiva alta. O futebol tem saudade de
Marinho Chagas. Não vejo ninguém jogar como o vento.
São
dois nomes. Dois ídolos. Fazem parte da minha memória de futebol.
Talvez, eu exagere na análise, na qualidade do jogo, na descrição do
talento. São olhares de um menino. O adulto não quer destruí-lo. Quer
reverenciá-lo!
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