Mauro Pandolfi
Que cagada, Thomas?
Acho
que Muller ouviu isto ao sair do Estádio. O pênalti perdido derrotou o
futebol. Uma ideia de futebol. O Bayern usou o seu 'jogo de posição'.
Teve 75% de posse de bola. Mas, foi previsível, convencional,
burocrático. Nem parecia um time de Pep Guardiola. O Atlético foi o seu
retrato. Armado, fechado, rápido. Melhor do que em Madri, menos
retrancado. Um perfeito time de Diego Simeone. Raçudo, guerreiro,
marcador, tático até a medula. Simeone tem a cara da machonaria latina.
Brigou com adversários, com parceiros, empurrou o quarto árbitro,
esperneou. Tudo
fez para matar o tempo. Um comportamento para encantar Ratin.
Pep
Guardiola é um filósofo. Gosta do jogo pensado, planejado, executado, refinado.
Gosta da bola, da ocupação de espaço, da paciência para definir a
partida. Vencer é só uma parte do espetáculo. Há estética, beleza, um
balé em movimentos retilíneos uniformes. Há ciência em seu jogo. O seu
Barcelona era assim. O Bayern, também. Foi o Atlético que impediu isto?
Ou, foi a exaustão da ideia? Bayern teve a posse de bola. O controle foi
do Atlético. O ritmo foi estabelecido pelo time de Madri. Raras vezes o
Bayern impôs o estilo. Foi encaixotado pela marcação implacável dos
colchoneros. Talvez, se Muller marcasse o gol, tudo seria diferente. O
futuro só um vidente sabe. Vou perguntar ao meu amigo Rai Carlos o que
aconteceria.
O
Atlético de Madri lembra um time brasileiro tentando ser moderno. Muito
mais organizado! Joga em
trinta metros, preferencialmente na defesa, quase todos atrás da linha
da bola, e ataca com três ou quatro. Raramente tem seis na
frente. Duas linhas harmônicas, um dez (Saul) com cara de argentino, um
atacante rápido (Griezman) que lembra Claiton e um poste na frente
(Torres). Poderia ser de Minas, São Paulo ou do Sul. Fechado, joga no
erro,
na bola solitária, na força, na preparação física. O que diferencia é o
poder mental. É um time obcecado pela vitória. Joga para se defender
pensando em ganhar. Parecido assim, só o Corinthians de Tite. Ou, o
Grêmio de Felipão nos anos 90. É uma pena! O time é melhor que o
treinador. Poderia jogar mais, ousar mais, arriscar mais. Mas...
Guardiola
errou ao manter Lewandowski. Foi um centroavante de outro tempo do futebol,
adorado por estes lados do planeta. Aceitou a marcação, não flutuou para abrir
espaços para Muller, Ribery, Douglas Costa ou quem chegasse pelo meio.
Fez um gol. Poderia ter feito dois ou três. Os treinadores não gostam de
mexer em seus jogadores de confiança, nos medalhões. O Bayern teve a
bola, paciência, jogou com pés e a cabeça. Sentiu o gol, perdeu o
equilíbrio, se reencontrou e marcou o segundo. Outro equívoco de
Guardiola . Tirou Douglas e deixou Xabi Alonso. Faltou, o que sempre
sobrou em Guardiola: ousadia. Faltou coração. Buscar o desejo, no mais
íntimo, de vencer. Faltou alma. Isto o Atlético tem de sobra.
'Que
jogo é este!' É o chavão que mais gosto do futebol. Diz tudo sobre o
jogo. Gosto do meu que fala em teatro de grama e paixão. Futebol é a
melhor maneira
de entender a vida. Descobri isto quando menino, ao marcar um gol
contra no torneio municipal de futebol de salão, em Lages. O mundo caiu,
a derrota foi minha. Os olhares me culpavam...até o jogo seguinte,
quando fiz o gol da vitória. Entendi que nada é definitivo, nem vitória,
nem a derrota. Tudo é eterno na vida e na bola. A história, a memória, o
passado vão nos lembrar sempre. O Bayern de Guardiola
deu espaço para o Atlético de Simeone. Um outro olhar para o futebol.
Quem sabe, menos poético, menos encantador, mais épico, menos
envolvente.. Será cada vez mais complexo escolher um estilo, um olhar,
um sistema. Sempre haverá um time que desperte paixão, admiração, desejo
de derrotá-lo. Logo, em seguida, será outro,
mais outro..., como a vida!
E, Thomas escutará um elogio: Que golaço, Muller?
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