Nestes tempos de cusparadas, o vômito de Chiko Kuneski é devastador. Uma porrada nos cornos do futebol. Estou atordoado. Nauseabundo, tento livrar-me dos resíduos espalhados na paixão pela bola. Está difícil encarar a 'sujeira'. O mundo do futebol é podre! Surpreso? Ora, que país eu vivo? Todos os dias o ventilador da mídia espalha a 'farofa' que envolve os poderes do Brasil. Gravações demolidoras. Situações criminosas são reveladas. Manobras para escapar, evitar, destruir a Lava Jato. Uma conspiração que vai do 'azulzinho viagra, passa pelo azul marinho, chega no rosinha suave e termina no vermelhão escarlate'. Toda a corja política envolvida. Qual o motivo do futebol escapar disto? A reverência ao teatro de grama e paixão? A mitologia dos ídolos eternos? O pão e o circo? Ricardo Teixeira, Lula, Del Nero, Dilma, Delfim, Temer, Marin, Jucá, coronel Nunes, Mercadante, Eurico Miranda, Delcídio, Andrés Sanches, Cunha, Noveletto, Renan são todos personagens de uma ópera bufa, na linha de 'O Poderoso Chefão', de 'Saló', de 'Ali Babá e os quarenta ladrões'. Alguns deles terão sorte. Intelectuais e historiadores contarão um conto do vigário e os transformarão em 'heróis'. Brecht tinha razão: 'pobre do povo que precisa de heróis'. Ainda mais, os falsos. Outros, ficarão esquecidos na lata do lixo da história.
Não sou poeta. Não consigo transformar secreções em 'poesia'. Não sou Bukowski e nem o seu discípulo, Chiko Kuneski. A virulência do texto atrapalhou o meu feriado. Li de manhã. Pensei, refleti à tarde. Agora, à noite, escrevo. Não há nada a contestar o que foi dito. Nem em estética, nem em conteúdo. Se há exagero, é a do amante. Do amor subtraído. Da paixão demolida. Do sonho de um menino de Brusque devorado pelo autoritarismo e roubalheira. Qual o sentido do futebol? Pensei nisto. O jogo democrático por essência. O mais plural e diversificado dos esportes coletivos. O jogo de Davi e Golias. Futebol é o que melhor representa a vida. As derrotas, que não são eternas. As vitórias, que não duram para sempre. Um jogo de superação e virtudes. Vence quem tem méritos. Mas, meritocracia é palavrão. O culto ao 'mata-mata' é o melhor desenho do acaso. O acaso é profundamente democrático.
O olho eletrônico é cruel com a arbitragem. O olho humano é uma ilusão de ótica. Os lances são rápidos. Boas desculpas se os erros fossem eventuais. Quando repetidos, há dúvida entre a incompetência e a desonestidade. Armando Marques, ao errar a conta dos pênaltis em 1973, pelo campeonato paulista, entre Santos e Portuguesa, foi burrice ou boçalidade? Ou, em 1995, Márcio Rezende Freitas tirou o título do Santos por ruindade ou roubalheira? Os dois passaram a vida 'errando'. Desonestidade não é só o roubar. É não cumprir a lei, desrespeitar os códigos de conduta, forjar situações, perder os escrúpulos. Os árbitros de futebol são a melhor representação política deste país. São déspotas. Coronéis autoritários que manipulam a 'lei', interpretam e a criam a sua própria 'lei'. Como pode um comentarista dizer que fulano apita bem na Libertadores e aqui em ' casa', não! Aqui, ele manda, desmanda, faz e acontece. Lá fora, a lei é cumprida. Simples assim.
No filme Boleiros há uma história de um árbitro comprado. Do escanteio, acontece o gol. Anulado. Confusão. É batido outra vez. Gol. Enérgico, anula. Mais confusão. Nova cobrança. Mais um gol. Ele para, olha para quem o subornou e faz um gesto com as mãos, como se pedisse desculpa. Na realidade, nem desculpas pedem. A arbitragem é a outra ponta amadora do futebol brasileiro. Ela e os cartolas. Sujeito a pressão de todos os lados, aos interesses, as vantagens. No Brasil, o trabalho é como se fosse uma rede. Quer progredir, ser reconhecido, não rompa a rede. Não se isole. nem tenha autonomia (palavra que sumiu do vocabulário nos últimos anos), siga a manada. Os árbitros se repetem nos erros, na arrogância, na prepotência. Deixam de ser erros. São práticas de conduta. Para ser um 'roubo', é só uma questão de olhar.
Pensei em não escrever mais sobre futebol ao ler o belíssimo texto do Chiko. Não quero ser cúmplice, testemunha de tantas falcatruas. Terminar o blog era uma possibilidade. Deixaria alegre um bocado de gente (os seis leitores!), que não perderiam mais seu tempo. Mas,de manhã, ao ver a cena do garoto torcedor do Figueira, aflito com a derrota, depois a vibração com o gol, é um alento. O futebol não morreu. Resiste na paixão. Vive no amor. Na estranha força que gera a alegria daquele menino. Vou resistir e continuar 'vomitando' a minha paixão, a desilusão, o ceticismo, a angústia do mundo da bola. O futebol passa pela minha vida. E, eu gosto de viver.
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