Mauro Pandolfi
Sou
um herege. Vou contestar um ídolo. Da bola e das letras. O genial
Tostão, em sua coluna da Folha há duas semanas, afirmou que 'os
treinadores ignoram o acaso'. Ledo ivo engano (saudades do Planeta
Diário), Tostão!. Os técnicos, no Brasil, apostam no acidental, no
imprevisível, na sorte.
Traçam planos. Arquitetam sistemas. Treinam movimentos. Tudo planejado
nos mínimos detalhes. Sempre para defender. Tirar o espaço do
adversário. Anular o jogo. E, para vencer, o que fazem? O acaso nos
protege. Um erro do zagueiro. Uma bola rifada que torna-se um lançamento
que Gérson assinaria. Um drible. Um frango. Uma ajuda amiga da
arbitragem. Uma falta bem cobrada. Jogadas ofensivas, planejadas,
treinados, bem executadas? São raras. Nesta primeira rodada do
Campeonato Brasileiro não vi nenhuma. Agora, as linhas defensivas, os
quinze metros dentro do seu campo, a zaga enterrada, o atacante longe,
em quase todos os
jogos. Sem falar nas 'retrancas' dos últimos minutos.Balão para dentro
da área. A busca de uma cabeça. Dá-lhe sufoco! Para quem defende. Para
quem assiste.
14
gols em dez jogos. Duas goleadas de quatro. Cinco 1 a 0. Três 0 a 0.
Poxa! A 'tragédia' da Copa de 14 não passa. Não há evolução. A busca do
novo revela-se um pastiche. Os técnicos estrangeiros no país adoram um
futebol mais anacrônico que os brasileiros. Defender sempre. Atacar,
quando der. São Paulo e Atlético, pela Libertadores, fizeram um dos
piores jogos da temporada. Muricy Ramalho viajou para entender,
aprender, observar o futebol europeu. Esteve em Barcelona. Conversou,
ouviu, assistiu. Como um doutorado. Seu Flamengo é um arremedo.
Desorganizado, defende mal. Confuso, não ataca. Muricy não conseguiu
implantar o 'novo'. E, o pior, esqueceu do 'velho'. Em nada lembra o
treinador do São Paulo. Lá defendia bem e tinha uma rápida saída de bola
e velocidade para o ataque. Sem esquecer as cobranças de faltas que acabavam em
gols. Uso, Muricy, como referencia. Os técnicos tentam repetir os
grandes times da Europa. Assistem os jogos, estudam os sistemas. Mas,
não entendem a alma, a mente e o coração. Não é repetindo os esquemas
que há transformação. Tem que descobrir o motivo de jogar assim.
Decifrar a mentalidade. Senão, vira paródia.
O
moderno é muito longe daqui. Estou careca em dizer que o passado nunca
passa. Vivemos preso num imaginário de futebol. Uma visão idealizada,
lírica, idílica. O futebol como fantasia. Só fantasia. A fuga deste
imaginário tem revelado uma realidade triste, cínica e caótica. O 'novo'
é desconhecido. Guardiola, Luís Henrique, Jurgen Klopp, Sampaoli são
mais do que
nomes. São ideias, que talvez, por instantes apareçam nos campos
brasileiros. Quem será o modelo dos treinadores é Diego Simeone. O mais
tosco deles, Argel Fucks, deixou bem claro contra a Chapecoense isto.
Truncado, pegado, fechado, uma bola rifada, o acaso. E, o jogo fica
chato, monótono, sem graça, o estádio vazio, a vaia e eu troco de canal
em busca de um filme, de um show, de qualquer outra coisa. Como o diz o
meu
irmão Mário: 'o melhor que a tevê faria para o futebol brasileiro, é não
transmiti-lo'. Será?
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