segunda-feira, 23 de maio de 2016

O mago

Mauro Pandolfi


No imaginário do teatro de grama e paixão há um mago. O criador de lances. O arquiteto das jogadas planejadas. O pensador. Aquele que a bola procura. Aconchega-se em seus pés. Obediente, desliza rápida ou lenta. Segue o rumo do coração e da mente. O craque desejado, suspirado, idealizado. Falam em mitos de um outro tempos. Tão distante que parece fantasia. Uma invenção. Mas, ele existe. O genial. Andres Iniesta Luján não é 'real'. É só o regente do Barcelona. O inspirado condutor do time mais vistoso do planeta. Quando olha para o lado vê Messi. Já Neymar e Suarez precisa virar a cabeça.
A bola sai reta da defesa. Ele recebe, dá um toque. Suave. Percebe o companheiro logo adiante. O passe é perfeito. Avança. Abre os espaço. Recebe a bola. Cabeça erguida. Lê o jogo. Observa a movimentação. Tem uma esquadra a sua frente. São muitos. A passada é rápida. O olhar atilado desvenda o mistério do jogo. Os parceiros sabem o que fazer e o que Iniesta fará. O jogo ensaiado. O passe é certeiro. O gol é uma questão de acerto do atacante. A jogada executada por um mago. Iniesta é o mais fantástico jogador do mundo. Sábio. O que torna o futebol uma arte simples, encantadora, eterna.
Domingo vi mais um titulo do Barcelona, a Copa do Rei. Iniesta e Messi desequilibraram. Neymar confirmou a vitória. Um jogaço! Não há um Iniesta por aqui. Uma multidão de Mathieu ocupa o futebol brasileiro. É a hora do café. A bola ainda preenche a tela da tevê. Buscamos o diferente, o esquecido, o perdido. Adeus, série A. Encontramos a C. Um clássico caipira paulista: Botafogo x Mogi Mirim. A bola tenta escapar dos maus tratos. Corre, derrapa, se perde. Um jogo monótono, fraco, sem graça. "Este é o real futebol do Brasil. Viramos isto. Iniesta e o Barcelona vivem em outro tempo, um outro jogo", define o meu irmão Márcio. Procuramos um Iniesta. Ademir da Guia, Zenon, Zé Carlos, Falcão são lembrados. Eu prefiro Carpegiani. Um maestro como ele.


Se eu fosse Caetano, diria que Iniesta é a mais perfeita tradução do futebol. Como não sou, acho que Iniesta é a síntese do jogo. Ele representa o todo. É, também, tudo o que o futebol é! Ou, o que sonhamos.

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