sexta-feira, 29 de abril de 2016

O ínfimo espaço

Chiko Kuneski

O vazio do espaço me encanta. É o pensamento ilógico do pintor, do arquiteto, do escritor diante da página, do pensador. O vazio do campo é a lógica do jogador ilógico, que confunde até os companheiros de time. O vazio é o desafio.

O jogo está no vazio. Fica no entre corpos. No antever o momento; enquanto muitos procuram o movimento. O futebol está e sempre estará no pensar e agir no vazio. No antever. No surpreender.

Impossível marcar quem preenche o vazio com o desenho mental de um lance completamente terminado. Pinta, na finta. Arquiteta a sequencia da construção. Escreve poemas não paginados nos retângulos demarcados por linhas imutáveis. Pensa enquanto age e age enquanto pensa.

O encantamento está nisso. No surpreendente preenchimento do vazio deixado. Lance de gênio. Lance de fora de série. Lance de craque. Lance de sorte. Chamem como chamarem. Será a imagem inapagável, a construção indestrutível, a frase inesquecível, o pensamento sempre lembrado.


O lance lançado no vazio, não visto por estar num vazio, é o grande detalhe do futebol, feito no curto espaço do tempo e eternizado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário