Mauro Pandolfi
Canal
100. "Que bonito é... ver a rede balançando..." O samba embalava os
lances bonitos do futebol antes dos filmes no cinema. Uma festa de
olhares, cantos e gritos na sala escura. Um quase estádio.
Cada golaço de ficar preso na memória. Sábado, no final da tarde, vi
dois gols de Canal 100. O pequenino Audax revelou a sagacidade, o
talento, a inventividade, a organização na arte de jogar futebol.
Eliminou nos pênalti o poderoso Timão. Mas, foram os gols de Bruno Paulo
e Tchê Tchê que encheram de alegria os adoradores de golaços, fetiche
dos amante da bola. Há tempos que no futebol brasileiros, de nomes
compostos, não tinha um apelido tão mágico, criativo e sem sentido
algum: Tchê Tchê. É um só um velho resgate. A sorte de um tal Édson foi
um período que ele pode ser Pelé. Hoje, seria um Édson Arantes ou
Nascimento. O jogo seria de Pelé. O que não mudaria nada. Apenas que
Pelé é eterno.
Que
time é este Audax? Ousado, criativo, complexo. Foge do trivial, da
preguiça
brasileira. Há a troca de passes, o controle da bola, movimentação,
recomposição rápida. O
desenho do moderno. Porém, há algo que transcende isto: a inversão de
funções. O comentarista da Espn Brasil, Zé Elias, explica: "Teve um
jogo que o
Fernando Diniz começou com um centroavante fixo. O cara terminou o jogo
como lateral direito. É muito comum a mudança tática e de função no
jogo". O time é armado baseado numa certa geometria. O
futebol é muito matemático. O sistema é inspirado em triângulos. Sempre
três jogadores perto da bola. São móveis, o que elimina os chutões,
aceleram ou reduzem o ritmo. Lembra uma orquestra de baile. Simples,
bonita e afinada
É
uma equipe de dois anos de trabalho. Você, torcedor de equipe grande,
teria a paciência de esperar este tempo para um título? Ou, gritaria
fora para o professor Pardal após o meia virar zagueiro? A imprensa
esportiva levou três anos para descobrir Fernando Diniz. Poucos,ainda,
entenderam a sistemática funcional do time. Quanto tempo terá este
Audax? A duração de uma equipe bem montada no Brasil. Dependerá dos
interessados nos jogadores e no técnico. Será um intenso feito um
cometa.
Fernando
Diniz foi um meia atacante superestimado. Jogou em grandes clubes,
considerado muito inteligente e dono de uma boa leitura de jogo. Nunca
confirmou a fama. "Me sinto mais feliz como técnico do que jogador. Acho
que era meio treinador quando jogava", falou antes da partida contra o
Corinthians. A primeira vez que ouvi falar em Fernando Diniz foi numa
entrevista ao comentarista Paulo Calçade na rádio Estadão Espn. Fiquei
impressionado com a loucura lúcida dele, de seus conceitos sobre espaço
e tempo, da arte jogar futebol. Navegava entre a arrogância e a
felicidade de criar uma equipe. Diniz treinava o Red Bull. Depois da
conversa, vi vários jogos e percebi a diferença aos outros treinadores.
Fugia da norma. Pensei que seria contratado por um grande time. No
entanto, não estranhei ficar em times pequenos. É um técnico de tempo.
E, tempo não há no
apressado futebol brasileiro.
"Ele
é muito louco. Grita, fala palavrões de a a z. É a maneira de mostrar a
importância e como se importa com os jogadores. Xinga, logo em seguida
abraça, para o treino e explica como quer a jogada. É perfeccionista", contou Zé Elias, no
programa Resenha da Espn Brasil. Fernando Diniz é formado em
psicologia. Entende e tenta decifrar o comportamento humano. Gosta de
lidar com os refugos dos grandes clubes. Dá chance, convence os
jogadores da maneira de jogar, 'vende' a ideia, os conceitos, a prática.
Escapa do normal. Às vezes, escorrega na loucura. Diniz não é discípulo
de Guardiola. Prefere um bom pensamento de Carl Jung: "Quem olha para
fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta!" É a ousadia de ser
gigante, a arma do Audax, que recusa ser um Davi.
Efeito
Leicester no Brasil. Além do Audax, América Mineiro e Juventude
desafiaram a chatice dos estaduais. O América é conservador no jogo.
Correto, discreto, aproveita as falhas. O técnico Givanildo é um hábil
artesão de times médios e colecionador de acessos; Já Antônio Carlos
Zago armou o Juventude como todos os treinadores de times pequenos. Atrás,
fechado, uma bola, um pontinho e um goleiro, Elias, inspirado. Adoráveis
intrusos? O Audax e o América, sim. Para um gremista, o Juventude é só
uma parte do pesadelo que nunca termina.
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