Mauro Pandolfi
O
futebol tem seus mantras. Palavras, frases, pensamentos repetidos feito
uma oração. São verdades absolutas que nem o tempo desmente. Repetidas
por veteranos ganham um ar de sabedoria. Pelos jovens, revolução
conceitual. Às vezes, uma palavra cai em desuso. É substituída por
outra, moderna, que não esconde a velha filosofia. O que mais me
incomoda é o 'pontinho fora'. É abandonar a vitória, o jogo, a convicção.
É o medo que medra, que apavora, que amarela. Até o Real Madrid, do
genial Zidane, praticou este mantra contra o Manchester City. Jogou
pelo empate, de 'freio de mão puxado', como diz um filósofo da bola,
para manter a vantagem, tentou um golzinho fora, num lance isolado.
Triste, muito triste. Lamentável. Eu que suspiro por um bom jogo,
perdi a tarde e, também, uma certa alegria pelos merengues.
"Empate
fora é sempre um bom negocio". É uma frase que repetem em mata-mata. "É
preciso cautela, sabedoria". É outro conselho que escuto. "Jogar no
erro". Este é o que mais me desespera. O dito, que tenta sustentar
inteligência e perspicácia, é 'jogar com o regulamento embaixo do
braço'. São palavras de técnicos, jogadores, jornalistas e, para minha
tristeza, torcedores. Formam um sindicato mais poderoso que a Cut. O
futebol que se exploda! Bom é o empate. Ou pior, fazer pelo menos um
golzinho. Esta é a outra praga: o gol marcado fora, valer o dobro. Matam
o jogo, armam a retranca, seguram com chutões, com passes laterais e
numa escapada encontra um golzinho por acidente, num erro do adversário e
vira uma epopeia. Vencem
com o mais moderno sistema de atacar com covardia. Nem os fantásticos
times escapam deste mantra. Qual o motivo? Mistério do teatro de grama e
paixão.
"Do
Grêmio, que recebe o argentino Rosário Central, exige-se os três
pontos. Do Galo e do Corinthians, que jogam em Buenos Aires e
Montevidéu, contra Racing e Nacional., um ponto para cada um estará mais
que suficiente; se empatarem com gols, então, será uma beleza". Foi o
comentário matutino, desta quarta, na CBN
do 'cultuado' defensor do 'futebol arte', Juca Kfouri. O sindicato do
pontinho fora é mesmo invencível. Depois, os jornalistas esportivos
surpreendem-se com estádios vazios, jogos ruins, e um 7 a 1 que nunca
termina. Não
sou um sonhador, nem um nostálgico de um futebol mítico, que nunca
existiu. Gosto da vitória. Da busca pelo vencer. No entanto, nos
habituamos com o mínimo, com a sorte, com o 'sem querer querendo'. E
entendo, cada vez mais, porque a meritocracia é tão detestada neste
país. O acaso
sempre nos protege.
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