Mauro Pandolfi
Dois
dias!. O tempo para pensar, refletir, e entender a falta de lucidez da
vida. Usei o período para fugir do emocional, da poesia, do imaginário. A
vitória do Atlético de Madri sobre o Bayern de Munique não é só um
resultado de uma partida. É um divisor do futebol. É o momento, em
qualquer parte da história, que tudo se move. Como uma revolução, uma
evolução, ou a revelação de que as coisas sempre foram assim, apenas
estavam fora de lugar. O futebol ofensivo, ousado, belo, globalizado,
cantado por poetas, está saindo de cena. O pragmatismo, o resultado, a
bola solitária, vai vingando o tempo de obscuridade que foi submetido. É
a vitória de uma estética passadista sobre a fúria do gol. O futebol
se despedindo-se do futuro. Caindo nos braços do eterno jogo do medo.
Simeone encaixotou Guardiola. Anulou o pensar catalão. E, como se fosse
um personagem de Pedro Almodovar, foi 'o matador' épico de uma arena de
touros. Olé!. Desta vez, o 7 a 1 (metafórico) quem sofreu foram os
alemães.
Gosto
da defesa. Vejo os jogos prestando a atenção nas linhas. Encanto-me com
a sua movimentação. Avançando, recuando, transformando-se em saída
rápidas de bola. Defender é uma ofensa para quem fala de futebol neste
país. Aqui, o grande, e cultuado, time é o que ataca. O futebol é mais
vistoso no ataque..O drible é lírico. A troca de passes criam um jogo
matemático, envolvente, mágico.
É
o lado encantador do teatro de grama e paixão. Defender é um outro
olhar do futebol. Não significa abandonar o jogo. É a busca da vitória
com uma outra estratégia. A do espaço, do tempo e da velocidade. O jogo
da eficiência, da física.
Detesto
a retranca. Abomino o jogo deixado de lado. Abdicado, escondido,
segurado. Nas retrancas as linhas não se movimentam. São estáticas.
Reduzem o campo para menos de trinta metros. Entregam a bola ao
adversário. Quando a possuem, buscam o chutão, atrás de um velocista com
boa pontaria. Recusam o jogo. Buscam o fortuito, o acaso, o acidental.
Marcam, correm, lutam, não para impedir o gol, o passe, o drible. Para
anular o jogo. O segredo de uma boa retranca é o desespero do oponente. A
angústia em ver o tempo passar, as unhas roídas dos torcedores, a bola
que passa perto, o gol agoniado na garganta. O olhar dolorido do
'inimigo' é o êxtase do retranqueiro.
Simeone
foi um ótimo volante. Pegador, marcador, encrenqueiro. O mais típico do
volantes argentino. O próprio estereótipo do 'catimbeiro'. Como
treinador vai revelando ser um hábil artesão de equipes. Sua defesa é
sólida, segura, implacável. Godin é o líder. Há meias habilidosos. Saul
marcou um gol que Messi podia jurar que era seu. No ataque, tem o
eterno Fernando Torres. Está em segundo no espanhol, a beira da final
na Champions e eu tenho uma dúvida: qual o motivo de querer ser um Celso
Roth globalizado?
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